Ícone alego digital Ícone alego digital

Simeyzon Silveira enfatiza importância do Diário da Manhã para a democracia

09 de Março de 2015 às 20:30
Discurso proferido pelo deputado Simeyzon Silveira (PSC) durante sessão especial que presta homenagem ao 56 anos do jornal "Diário da Manhã". (09.03.2015).

"A liberdade é um dos mais caros direitos civis que podem existir.
E se a temos hoje no Brasil e no mundo é porque existiram aqueles que ousaram desafiar as estruturas de poder.
A liberdade, é bom lembrar, não nos foi dada. Ao contrário, a cada momento histórico tomamos um pouco dela. Nós, de fato, a conquistamos. 
A história da imprensa se confunde com esta luta em busca de direitos fundamentais. É a liberdade de imprensa o principal motor das transformações sociais.
Para ser mais exato, eventos como a Revolução Francesa teriam outro desdobramento no mundo não fosse um dos seus motivos centrais o direito de informar e de exercer as liberdades civis.
Lembremos: o monarca não permitia a liberdade de expressão. Nem tampouco a liberdade de escrever e falar o que se pensava.  
Uma rápida consulta aos eventos determinantes do período vai revelar a importância central da imprensa como a locomotiva das ideias, que alastrou o sentimento de indignação do povo.

Graças à imprensa é que se forma uma opinião pública decidida a reivindicar a dignidade que era negada na França absolutista. O episódio da revolução, assim, serviu para situar na história o aparecimento de uma atividade nobre e de necessidade fundamental para o ser humano.

Filósofos contemporâneos como Habermas chegam a classificar a imprensa como uma das mais destacadas esferas públicas. Ou seja, esfera de discursos e de encontro para o debate das questões públicas.

O mesmo que foi a ‘agora’ da democracia grega. Ou mais exatamente: as praças centrais em que os gregos se reuniam para decidir os assuntos públicos através da democracia deliberativa.

Faço esta introdução, que perpassa momentos históricos, da Revolução Francesa ao nascedouro das democracias na Grécia, para lembrar que existe em Goiás, em nosso Estado, aqui, diante dos nossos olhos, um jornalista que ousou criar algo completamente inédito. Diria: algo que não existe em lugar nenhum. E que se existe, por favor, tragam a experiência aqui, que é para compararmos e aprimorarmos cada uma das ideias.Mas volto a repetir: temos aqui em Goiás alguém que radicalizou as liberdades. 

O criador do caderno OPINIÃO PÚBLICA, do jornal DIÁRIO DA MANHÃ, já havia entrado para a história por muitas coisas. E ninguém mais esperava que elefosse trazer para a sociedade uma experiência tão marcante.

O caderno OPINIÃO PÚBLICA, senhores, é o único espaço na imprensa do mundo em que qualquer pessoa da sociedade tem o direito de se manifestar. É o único local onde se encontram os pensamentos de adolescentes, adultos; policiais e médicos, jornalistas e advogados, profissionais liberais, empresários, homens do povo e elites, protestante e umbandista, católicos romanos e ortodoxos, espíritas e ateus.

Experimente tentar escrever e enviar suas ideias para outros veículos de comunicação e terá a medida do que se está sendo dito aqui nesta noite.

Todos sabem a dificuldade que existe de encontrarmos espaço para publicarmos nossas ideias. Antes das redes sociais abrirem espaço digital para que todos se manifestassem, esse homem que inventou o caderno Opinião Pública já nos havia ofertado o direito à informação - que é o de informar e ser informado. E a diferença, claro, está no alto nível: somente no Opinião Pública podemos encontrar as mais diferentes matizes de pensamento, escritas com esmero e conhecimento.

Senhoras e senhores, estamos aqui hoje diante da história.  Ao falarmos da criação deste jornalista estamos falando de um direito fundamental. Estamos diante de alguém que nos garante parcela do artigo 5º da Constituição Federal, no tocante às liberdades civis e aos direitos individuais da livre manifestação do pensamento.  Tenho imensa consideração por falar o nome de quem pensou tudo isso:  BATISTA CUSTÓDIO.

O Batista que foi preso na ditadura, o que foi injustiçado na década de 1980 logo após a criação do Diário da Manhã, o Batista que enfrentou de peito aberto os efeitos nefastos daqueles que tentaram destruir seu jornal. O Batista – enfim – da imprensa de verdade.

Em Goiás,  ou no Brasil, seu nome é o jornalismo.  Falo isso para tecer comentários sobre liberdade, democracia, sociedade da informação e algo que nos é sempre necessário: caráter. Batista surge em nosso cenário diante dos turbulentos anos 1950 e 1960. Será ele o catalisador dos anseios dos movimentos estudantis, dos jovens secundaristas, que clamaram por liberdades  civis e direitos sociais.

O jornal CINCO DE MARÇO, de onde surgiria o Diário da Manhã, uma criação dos destemidos Batista, Consuelo Nasser e Telmo de Faria, é um grito dos estudantes que explode na aurora de novos tempos.Após uma manifestação...um protesto contras as péssimas qualidades, vejam bem, meus amigos, do transporte coletivo, o jovem Batista Custódio e outros jornalistas vão canalizar toda a insatisfação dos jovens de seu tempo.

O CINCO DE MARÇO surge em 1959 diante de enormes desafios sociais e civis.

Convido a todos um dia reservarem tempo e buscar o acervo DO CINCO DE MARÇO na Pontifícia Universidade Católica (PUC). Estão ali microfilmados os exemplares de um jornal que registrou a realidade de Goiás como nenhum outro impresso. Esta ali microfilmado um jornal goiano que  venceu pela primeira vez um prêmio Esso  e que tinha um bordão bem humorado de que os corruptos não dormem às segundas-feiras, justamente o dia em que ele chegava nas bancas, com tamanha força e capacidade de repercutir socialmente.

Conhecer o Cinco de Março é ler parte significativa da história de Goiás. É perceber que o jornalismo tem o poder de mexer com as estruturas e renovar esperanças. No Cinco de Março, os corruptos ganhavam espaço  de destaque na primeira página. O Cinco de Março nunca se furtou a revelar o nome e a imagem daqueles que se locupletavam do poder.

Não poupava empresários nem mesmo governantes. Por isso mesmo que as reações eram as mais absurdas possíveis, caso do empastelamento enfrentado durante um ataque de forças antidemocráticas. Apesar do empastelamento, da destruição das máquinas, como fênix o jornal estava nas bancas dias depois com o mesmo  ímpeto dos estudantes que abriram espaço para que os trabalhadores protestassem contra a qualidade do transporte público naquela noite de 5 de março de 1959.

Por ironia, temos hoje os mesmos estudantes pedindo transporte digno, catalisando os mesmos movimentos de outrora e que fundaram o Cinco de Março.

Neste dia, nesta Casa, gostaria de deixar registrada minha algeria como cidadão de saber e conhecer um pouco da história deste jornal destemido e corajoso que tinha coragem de deixar as páginas em branco quando escrevia sobre as obras de um ou outro governante que nada tinha a mostrar.

A irreverência deste jornalismo estava à frente do seu tempo exatamente por trazer o olhar da juventude, que não raro enxerga as injustiças sociais e as contradições públicas.  Antes de finalizar, gostaria de dizer que o Cinco de Março permanece vivo e atualizado no jornal Diário da Manhã.

A função social é a mesma.  Ao comemorarmos o aniversário do DM estamos celebrando o direito a incluir nossas ideias na história, a registrar nossos sonhos e ansiedades  no suporte mais nobre que existe, que é o papel. O DM - que é um dos sites noticiosos mais lidos no centro oeste brasileiro - é mais do que sua plataforma digital. Trata-se de um suporte físico que carrega sonhos e materializa a realidade. Como a reportagem da semana passada, em que denuncia como são tratados os professores no Brasil ou quando resolve publicar  histórias de coragem e determinação, como a de uma senhora de 98 anos que após se formar em direito já quase centenária optou em realizar o Exame da Ordem.

Estas histórias, meus amigos, mexem com nosso emocional, nos motivam, nos fazem mais humanos, nos levam para longe, nos fazem sonhar e realizar o impossível. 

E estas reportagens, amigos, vocês verão apenas no Diário da Manhã, e de forma sempre peculiar, com o estilo de Batista, um intelectual  que tem construído em sua Área de Preservação Permanente (APA) no Encantado uma das maiores bibliotecas privadas do estado.

Esse homem da literatura, da espiritualidade, esse criador do Diário da Manhã, é o que o poeta Ezra Pound chama de antena da raça. É a própria representação do jornalismo. E de todos grandes jornalistas que escreveram no DM, com certeza, é um dos mais acessíveis e de fácil compreensão: ouví-lo é sempre uma aula da vida e sabedoria.

Agradeço a Deus pela oportunidade de várias vezes tê-lo como interlocutor e poder aprender com você.

Obrigado, meu Deus pelas oportunidades da vida. E obrigado, Batista.   

 

Compartilhar

Nós usamos cookies para melhorar sua experiência de navegação no portal. Ao utilizar você concorda com a política de monitoramento de cookies. Para ter mais informações sobre como isso é feito, acesse nossa política de privacidade. Se você concorda, clique em ESTOU CIENTE.