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Acidente com o Césio 137

26 de Setembro de 2017 às 12:16
Crédito: Carlos Costa
Acidente com o Césio 137
Audiência pública sobre os 30 anos do Césio 137
Assembleia volta a debater o acidente com o Césio 137 e suas consequências. A iniciativa, desta vez, foi do deputado Henrique César que trouxe depoimentos que enriqueceram o evento.

A tragédia com o Césio 137 continua sendo tratada na Alego. Hoje a iniciativa foi do deputado Henrique César (PSDB) que trouxe para debate a história e o legado que o acidente deixou para Goiás. A audiência pública ocorreu no Auditório Solon Amaral, da Casa de Leis.

A mesa foi composta, além do propositor do encontro na presidência, o parlamentar Henrique César, pelo Procurador Geral da República em Goiás, especialista em direito e gestão ambiental, Ailton Benedito de Souza; o Diretor Geral do Centro de Assistência dos Radioacidentados (C.A.RA), André Luiz De Souza; e a jornalista e gerente da Mac Editora, Mirian Alves Tomé Rezende.

Também participaram da mesa o secretário da Associação das Vítimas do Césio 137, Odesson Alves Ferreira; o prefeito municipal de Abadia de Goiás, Romes Gomes e o assessor especial da Governadoria, representando o Governador, Marconi Perrilo, Deivison Costa.

Secretário da Associação das Vítimas do Césio, Odesson Alves Ferrreira, também é tio de Leide das Neves, ele participou da audiência e afirmou que as vítimas perderam o direito de ir e vir.

“Eu era motorista de ônibus, aos 32 anos de idade, e fui obrigado a me aposentar pois tinha sérias lesões nas mãos”, contou, lembrando que transportava pessoas no ônibus, ou seja, "transmiti muita radiação a todos”, contou.

Ele falou sobre os problemas enfrentados até os dias atuais pelas vítimas, que segundo ele, até hoje sofrem preconceito. Mas, Odesson afirma que a tragédia não deve ser esquecida para não ser repetida. “Isso não vai acabar com 30 anos não. Até hoje somos discriminados. Porém, não podemos esquecer dessa tragédia pois isso não pode se repetir”.

Para Odesson há falta de vontade do Governo para resolver a situação precária das vítimas do Césio. “Nós estamos desde outubro de 2010 sem receber medicamento. Eu perdi a próstata recentemente por falta de medicamento. Estamos recebendo 788 reais pois não atualizaram o nosso salário”, falou. 

Ministério Público Federal

Na oportunidade, o Procurador Geral da República em Goiás, especialista em direito e gestão ambiental, Ailton Benedito de Souza, aproveitou para tratar sobre as ações do MPF em relação a tragédia que completou 30 anos.

“Ajuizei uma ação em 2010 por conta da demora da tramitação dos processos administrativos para a obtenção da pensão que estavam demorando muito a tramitar”, ressaltou.

De acordo com ele, entraram com essa ação para obrigar o Estado de Goiás para agilizar a tramitação desses processos em até 60 dias com uma junta médica especializada para avaliar os males que essas pessoas tiveram por ter entrado em contato com o material radioativo.

Ailton Benedito frisou ainda que no dia 12 de setembro desse ano, o MPF lançou um hot site com todas as ações que já fizeram em relação ao acidente e as ações que o Poder Público deve desenvolver.

O procurador ressaltou que o memorial da tragédia deve ser construído para que a história dessas vítimas não seja apagada. “Todos nós devemos revisitar esse evento todos os anos, sempre. O memorial deve ser construído, pois é direito da sociedade saber o que de fato aconteceu. O acesso à história é direito do cidadão. O Poder Público não pode apagar essa história, de certa forma isso está ocorrendo”, assegurou.

Depoimento de quem viu de perto

Outra integrante da mesa de trabalhos, a jornalista Mirian Tomé contou sua história em relação à cobertura jornalística que fez para a TV Anhanguera na época do acidente.

“Nós entramos no ferro velho e perguntamos o que eles estavam sentindo e ele disse que estava se sentindo mal. Naquele momento eu só não me tornei uma vítima do grupo 1 porque estendi a mão para o entrevistado e ele tirou a mão e disse que estava com a mão machucada e sentia muita dor”, contou, lembrando que é espiritualista e que acredita que teve, naquele momento, uma proteção de Deus.

A jornalista declarou ainda que no outro dia ela foi dar continuidade à matéria e quando chegou na Vigilância Sanitária encontrou com o físico José Júlio Rosenthal, da Comissão Nacional de Energia Nuclear (CNEN) que tinha chegado em Goiânia e disse a ela que havia visto a matéria dela no dia anterior e que ela poderia estar contaminada. Ela disse que ele providenciou o monitoramento e concluiu que ela não tinha sido contaminada.

“Os médicos me diziam que eu poderia ficar estéril, mas eu apenas fui irradiada. Oito meses depois eu engravidei, graças a Deus, e tive uma filha que está hoje com 24 anos, mas ela teve uma doença congênita e se curou aos 5 anos”.

Por fim, a jornalista sugeriu que fosse fixada uma data para encontros na Alego para debates sobre o Césio 137.

Assistência às vítimas

Em sua participação, o diretor geral do Centro de Assistência dos Radioacidentados, André Luiz de Souza, disse que desde 1987 o Centro de Assistência presta ajuda as vítimas do acidente.

“O centro atendeu na época do acidente, aproximadamente 112 mil pessoas que passaram por avaliações e destas 112 mil pessoas, 249 apresentaram algum tipo de problema de saúde. No final, um grupo de 129 pessoas foram acompanhados e ainda são pelo Centro de Assistência dos Radioacidentado”, explicou.

Ele, assim como os outros debatedores, também acredita na importância de se manter viva a história do Césio 137 em Goiás. “Ao lembrar os 30 anos do acidente Césio 137, gostaria que essa data fosse relembrada como um ato de prevenção e não de comemoração de aniversário e felicidade. É uma data que temos que refletir e conscientizar as pessoas sobre o risco desse tipo de acidente”.

Depósito do Césio em Abadia 

O prefeito de Abadia de Goiás, Romes Gomes e Silva (PSDB), falou em nome da cidade onde está instalado o depósito de lixo e rejeitos do acidente do Césio 137.

“De 20 anos para cá o depósito com o lixo e rejeitos do acidente do Césio 137 foi instalado na cidade Abadia de Goiás. Antes esse lixo estava guardado em Goiânia e durante 10 anos os rejeitos químicos ficaram ao ar livre esperando uma solução”, disse.

Aproveitou para pedir a mobilização dos parlamentares da Casa de Leis em prol do crescimento da cidade. “Gostaria de pedir a mobilização de todos os parlamentares na busca do crescimento da cidade de Abadia de Goiás. O município se sente muito desprestigiado, queremos ajuda não apenas por acolher resíduos do acidente do Césio 137, queremos crescer financeiramente”.

Ele contou que durante esses 20 anos o município passou por um grande período de discriminação, sendo isolado por toda a sociedade. “Nossos produtos agrícolas eram rejeitados, toda a população sofreu com isso. Hoje contamos com 20 mil habitantes no município, mas o IBGE reconhece apenas 7 mil habitantes”, disse.

Por fim, o representante do Governo do Estado de Goiás, Deivison Costa, afirmou que o básico para os acidentados sempre foi atendido. “O remédio é distribuído e queria fortalecer o pedido para criação de um dia em memória às vítimas do acidente”.

 

 

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