Ícone alego digital Ícone alego digital

Violência nas escolas

20 de Novembro de 2017 às 07:00
Crédito: Denise Xavier
Violência nas escolas
Audiência pública sobre violência nas escolas, tendo como foco o episódio da Escola Goyazes
Audiência pública na sexta-feira, 17, debateu o tema, por iniciativa da deputada Delegada Adriana Accorsi e a pedido de famílias de vítimas dos crimes ocorridos no Colégio Goyases, em outubro.

A Assembleia Legislativa promoveu, ao longo toda da tarde de sexta-feira, 17, no Auditório Solon Amaral, intenso debate sobre o tema da violência e seus reflexos na vida escolar. A audiência pública foi proposta pela deputada Delegada Adriana Accorsi (PT) e teve como motivação principal o crime ocorrido no Colégio Goyases, em 20 de outubro, no qual um adolescente atirou contra colegas de classe, deixando dois estudantes mortos e outros quatro feridos. A reunião realizada nessa Casa de Leis atende solicitação feita pelos familiares das vítimas.

Participaram do debate autoridades da área da segurança pública e outros setores governamentais, educadores, estudantes, militantes pela juventude e membros da sociedade civil em geral, com destaque para os familiares das vítimas do atentando ao colégio.

Compuseram a mesa de trabalho, juntamente com a parlamentar, o juiz do Juizado da Infância e Juventude do Tribunal de Justiça do Estado de Goiás (TJ/GO), Lionardo José de Oliveira; o representante do Sindicato dos Trabalhadores em Educação de Goiás (Sintego), professor Marcos Pedro da Silva; o representante do Conselho Regional de Psicologia de Goiás, professor Divino de Jesus da Silva Rodrigues; o representante da Secretaria da Educação, Cultura e Esporte, professor Rafael Vieira de Araújo; e o idealizador da Campanha Nacional Contra a Criminalidade, Ivan Aragão Macedo, também tio da estudante Marcela Macedo, baleada durante a tragédia.

Na abertura da audiência, Adriana Accorsi defendeu a ideia de união em torno do combate à violência na sociedade e afirmou que a reunião tinha por objetivo levantar propostas e encaminhar possíveis soluções para o alcance da segurança na educação. Ela discorreu sobre esse momento em que a sociedade está adoecida pela violência, pelo desrespeito ao direito das outras pessoas, pelo ódio.

"E, infelizmente, isso está atingindo não só os lares, mas também lugares que a gente sempre acreditou que nossos filhos, crianças e adolescentes estariam protegidos, como as escolas, mas que não é verdade. Porque, se a sociedade está adoecida pela violência, ela vai nos atingir, onde nós estivermos”, alertou a parlamentar.

Desde a tragédia no Colégio Goyases, a Alego já realizou outras reuniões públicas para discutir questões relacionadas à garantia da segurança nas escolas da Capital e do Estado. Destacam-se, nesse sentido, as audiências ocorridas nos dias 31 de outubro e 14 de novembro. A primeira foi uma iniciativa do deputado Jeferson Rodrigues (PRB) e teve como objetivo verificar a possibilidade de implantar sistema de detectores de metais na entrada das unidades de educacionais. A segunda foi promovida deputado Francisco Jr (PSD) e versou sobre o Projeto de Lei  nº 3253/17, que dispões sobre a obrigatoriedade de psicólogo escolar na rede pública de ensino fundamental e médio de Goiás.

Juventude e violência

Segundo Atlas da Violência 2017, recentemente divulgado pelo Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada (Ipea), mais de 300 mil jovens, com idades entre 15 e 29 anos, foram assassinados no país. O documento mapeou os homicídios ocorridos no Brasil entre os anos de 2005 e 2015. Em relação aos números da violência contra a juventude contidos no relatório, os índices nacionais registrados representaram um aumento de 17,2% em relação à década anterior.

Goiás ocupa, conforme o documento, a quinta posição no ranking nacional de homicídios. Os dados referem-se tanto à violência que assola a população, em geral, quanto à juventude, em particular. O juiz Lionardo José de Oliveira mostrou-se preocupado com aumento dos números da mortandade de jovens no Estado e com o que chamou de “alimentação do sistema de violência”, que vem sendo gerado a partir da má aplicação de medidas socioeducativas para a juventude.

Lionardo falou de sua experiência no juizado, onde são julgamos semanalmente casos de homicídios. "O que vejo é que os jovens estão morrendo nas periferias da cidade. O nosso jovem está extremamente vulnerável, suscetível a ser recrutado para a guerra do tráfico, que é o que realmente mata em Goiânia. Nosso sistema socioeducativo está em situação lamentável e tem muita gente falando em redução da maioridade penal, mas o há hoje é um sistema punitivo, uma cadeia juvenil medieval, onde os adolescentes ficam 23 horas na ‘tranca’, como se fala, sem estudar, sem profissionalização, sem nenhuma perspectiva, sendo pouquíssimos os casos daqueles que se recuperam ao final do regime.”

Para tentar solucionar o quadro o juiz defendeu o pagamento melhores salários aos professores, uma melhor estruturação da polícia, a criação de uma rede de profissionalização e estudo para ressocializar jovens que estão atualmente cumprindo medidas socioeducativas. “Precisamos ser mais atrativos do que o crime para o jovem e não oferecer a punição somente.”

A sansão pedagógica prevista pelo sistema socioeducativo foi primeiramente assegurada pelo Estatuto da Criança e do Adolescente (ECA), Lei nº 8.090 de 1990. Sua regulamentação veio posteriormente, com a promulgação Sistema Nacional de Atendimento Socioeducativo (Sinase), nº 12.594/2012.

Segurança nas escolas

Ivan Macedo afirmou que o Brasil precisa investir em um Plano Nacional de Educação que priorize a Psicologia para tratar preventivamente as crianças e adolescentes. “Não é colocando seguranças e detectores de metais dentro das escolas que se vai resolver o problema, mas sim tratando as crianças dentro do contexto da sala de aula. É preciso investir em Educação e não na construção de presídios”, disse.

Ele lamentou a atuação de alguns parlamentares, como a da deputada federal Magda Mofatto (PR-GO), que defende a comercialização e liberação do porte de armas no Brasil. Tal medida, diz, é inapropriada para tratar a questão do aumento da violência no país. Ao final, o ativista pediu o apoio dos legisladores em nível estadual e federal para a campanha contra a violência que vem liderando em Goiânia.

O professor Divino de Jesus proferiu palestra sobre o tema do debate, destacando a interpretação da Psicologia. Ele apresentou um estudo de sua autoria que investiga a violência como um produto constitutivo da sociedade, e mostrando como este mal se institui dentro da escola. O professor fez um histórico da violência no ambiente escolar, como a prática dos castigos físicos (palmatória, etc.) e como a violência chega aos dias atuais.

O palestrante defende a instituição da função do psicólogo escolar pelo Plano Nacional de Educação, com o intuito de preparar o emocional dos alunos, identificar e tratar as consequências de eventuais conflitos entre eles ou com os professores.

Mãe da estudante baleada em tiroteio na Escola Goyases, Isabel Morais fez depoimento emocionado sobre a tragédia e sobre a situação de sua filha Isadora, de 14 anos, que ficou paraplégica. Ela opinou sobre o que deve ser feito para evitar que atos extremos como este voltem a acontecer.

“Temos que fazer alguma coisa, porque isso não pode voltar a acontecer. Não comparo minha dor com a dor das mães que perderam os filhos, mas minha filha foi a única que ficou presa. Minha filha não vai voltar a andar, e vendo a dor dela, tomando morfina diariamente no hospital, não podemos cruzar os braços", disse.

Para ela, o que aconteceu no colégio não foi fruto de bullying, mas uma falha da família do atirador. "Tudo por conta de uma desestrutura social e familiar. Não é justo o que esses meninos estão passando. Precisamos de uma política pública de qualidade voltada para a Educação, que inclua psicólogos nas escolas”, declarou.

Como resultado da audiência, a deputada Adriana Accorsi informou que um relatório contendo todas as propostas apresentadas seria encaminhado para a Secretaria de Educação, Cultura e Esporte do Estado de Goiás (Seduce) e para demais autoridades relacionadas ao assunto.

Compartilhar

Nós usamos cookies para melhorar sua experiência de navegação no portal. Ao utilizar você concorda com a política de monitoramento de cookies. Para ter mais informações sobre como isso é feito, acesse nossa política de privacidade. Se você concorda, clique em ESTOU CIENTE.