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Arte e história na Assembleia

24 de Julho de 2018 às 10:47
Crédito: Sérgio Ricardo Sandes Rocha
Arte e história na Assembleia
Galerias de arte da Assembleia Legislativa
Obras de arte nas paredes da Assembleia mostram a história de Goiás e de Goiânia retratadas por artistas plásticos que se radicaram no Estado. A Casa é uma grande galeria de arte, com painéis, quadros e esculturas em suas dependências.

Quem frequenta a Assembleia Legislativa do Estado de Goiás pode constatar como arte e cidadania podem andar juntas. A Casa é uma grande galeria de arte, com painéis, quadros e esculturas espalhadas em sua fachada, no saguão, nos gabinetes dos deputados, jardins e outras dependências. As obras abordam a cultura, a natureza e a história goiana, além de temas mais universais.

O banho de arte começa logo na entrada. O visitante é recebido por um grande painel do artista plástico Luiz Olinto instalado na parede ao lado da porta principal. Pode apreciar também um busto do ex-deputado e ex-senador Alfredo Nasser. No saguão principal, estão grandes painéis que retratam Goiás e sua história. Onze deles foram criados a quatro mãos, pelos artistas M. Cavalcante e Gomes de Sousa. O outro é de Fabiola Moraes. No auditório Solon Amaral, bem ao lado do Plenário, um painel de J. Bento se destaca na parede do fundo. E assim, em todos os locais é possível descobrir obras de artistas goianos.  

O projeto de incorporar arte ao prédio da Assembleia foi criado durante a gestão do então deputado Luiz Bittencourt, entre 1996 e 1998. Em entrevista à Agência de Notícias da Assembleia, ele conta que a ideia surgiu quando fez uma viagem ao Parlamento do Rio Grande do Sul, onde foi conhecer o projeto de TV que começava a funcionar naquela Casa.

“Nós fomos a Porto Alegre conhecer a primeira TV Assembleia instalada no País, para fazer o mesmo também em Goias. Lá, nós vimos, no prédio histórico onde funciona o Poder Legislativo, vários painéis que mostram temas como a Batalha Farroupilha, Bento Gonçalves e várias cenas da história política do Rio Grande do Sul. Por comparação, constatamos que não tínhamos isso em Goiás. Não havia nem no Palácio das Esmeraldas. E voltamos com essa ideia na cabeça. Eu, o engenheiro Pedro Batista, Paulo Bittencourt e o deputado Carlos luz”, relata o ex-deputado.

Segundo Bittencourt, aproveitando que estava ocorrendo uma reforma da estrutura física da Assembleia, a ideia evoluiu. Em conversas com os artistas surgiu a possibilidade de trabalhar os painéis com temas como a residência provisória do governador em Goiânia, a primeira sede da Assembleia, os líderes da época, mulheres da história Goiana, a visão futurista do Estado e a caneta que assinou a transferência da Capital.

O ex-presidente da Casa se refere à primeira obra instalada na Assembleia, "A Grande Saga Goiana", constituída pelos 11 painéis de Gomes de Souza e M. Cavalcante, realizados em acrílico sobre madeira, que retratam o processo de mudança da capital da antiga Vila Boa para Goiânia. Cada obra conta um pedaço dessa história, em temas como “Campininha das Flores”, município que hoje é o bairro de Campinas; “Tijolos, Suor e Lágrimas”, cujo tema são os trabalhadores que atuavam na construção da nova Capital; e o prédio onde foi instalada a primeira sede da Assembleia Legislativa do Estado de Goiás.

Para Bittencourt, os painéis têm esse viés de tentar traduzir, através da arte, da ótica cultural, vários momentos da transferência da capital da antiga Vila Boa para Goiânia, manifestações culturais e personagens importantes da história goiana. “Enfim, é um acervo meio pedagógico da história política de Goiás e da história da transferência da capital de Goiás Velho pra Goiânia”, resume. 

Luiz Bittencourt comenta que a legislatura de 1996 a 1998 teve um papel muito importante, pois refletia uma nova realidade política econômica de Goiás, onde se destacaram pontos como a reforma administrativa e valorização do servidor. “Começava a se consolidar a ideia do fortalecimento do Poder Legislativo, com independência, com coragem, com representatividade e, acima de tudo, com o Palácio Alfredo Nasser como grande canal de comunicação, de representação política e de manifestação popular. Havia uma ebulição muito grande", afirmou.

Os artistas e suas obras

Segundo Gomes de Souza as pinturas tinham realmente essa finalidade didática também. Ele conta que quando as obras foram inauguradas havia um rodízio de estudantes, que, quase toda semana, visitavam a Assembleia para conhecê-las. “Os colégios traziam e a gente vinha e contava a história de cada painel, ilustrando a história goiana de uma maneira diferente, lúdica que é a das artes plásticas. Claro, nos livros essa história está contada, está documentada. Mas com esse viés das artes plásticas para falar do tema, você enriquece a capacidade de aprendizagem do aluno. A imagem às vezes fala mais do que o texto. Depende da contextualização."

M.Cavalcante e Gomes de Souza contam que a parceria a quatro mãos nas artes plásticas era inédita até então em Goiás. Segundo Gomes, também representou uma novidade contar a história de Goiânia por meio de pinturas. “O tema já tinha sido abordado em literatura, poesia e outras mídias, mas não existia em artes plásticas, que era o grande filão da cultura na época. Os artistas goianos estavam fazendo sucesso com vários quadros espalhados por São Paulo e Rio de Janeiro”, lembra.

Cavalcante explica que, como se tratava de uma obra pública, extrapolou a questão do atelier como espaço individual. “O conjunto desses painéis executados a quatro mãos é um projeto de grande envergadura, onde a escolha dos temas de cada um deles é também de grande importância, pois refletem o que nós pensamos e registramos pictoricamente dessa história. Então foi um trabalho que demandou tempo, com leituras, pesquisas, desenhos e consultas com pessoas importantes ligados à história de Goiás”, explica.

Cerâmica

A obra de Luiz Olinto instalada na entrada da Assembleia utiliza uma técnica que é pioneira em Goiás na utilização de cerâmica para construção de painéis. “Aquela obra retrata as coisas de Goiás na parte da arquitetura histórica, alimentação, nosso pequi, o meio ambiente, a fauna e a flora e as pinturas rupestres. Eu peguei fragmentos desses elementos e coloquei na cerâmica”, explica o artista.

Olinto afirma que quis demonstrar o amor pelo Estado que o acolheu tão bem quando veio de Uberaba (MG). “Já viajei pelo mundo, fui em lugares muito lindos, mas aqui parece que existe um equilíbrio de tudo, da temperatura, das pessoas, nada é exagerado, enfim eu acho que Goiás é privilegiado."

Outros trabalhos seus são um painel com flores instalado no estacionamento da Assembleia, com muitas cores e movimento, como ele próprio define. No jardim ao lado do saguão, há outro painel, cuja parede foi feita com terra vermelha encontrada em Goiânia e um buriti estilizado que homenageia o bosque onde está instalada a sede do Poder Legislativo goiano.

Os artistas

M. Cavalcante

Com dezenas de exposições no Brasil e no exterior, M. Cavalcanti é um dos mais conceituados artistas plásticos contemporâneos do Estado. Mineiro de Uberlândia, onde nasceu em 19 de novembro de 1956, Oswaldo Maranhão Cavalcante Júnior reside em Goiânia desde 1960. Já realizou dezenas de painéis, inclusive na sede nacional da OAB, em Brasília, além de esculturas e murais. Obras de sua autoria compõem acervos, entre outros, da University of Wyoming Art Museum, em Laramie (Estados Unidos); Banco Interamericano de Desenvolvimento (BID), em Brasília; Palácio das Esmeraldas (Goiânia); Unesco, no Rio de Janeiro; Museu de Arte de Goiânia, Fundação Jaime Câmara e Fundação Cultural de Brasília. Participou de cerca de 50 exposições (entre as principais), nos Estados Unidos, na França, em Goiânia, Brasília, Paraná, São Paulo e Minas Gerais.

Gomes de Souza

Artista plástico atuante no mercado de arte desde 1975 com participações em salões, concursos e exposições no Brasil e em outros países como: Espanha, França, Itália e Estados Unidos onde viveu na Califórnia entre 2003 e 2005. Publicou em 1998 o romance Objetos do Riso e, com a Banda Arranha Céu lançou em 2002 o CD Eu também já plantei tomates . Graduado em Filosofia pela Universidade Católica de Goiás (2000). Mestre em Cultura Visual pela FAV/UFG (2010).

Luiz Olinto

Artista plástico e escultor ceramista, Luiz Olinto nasceu na cidade de Uberaba -MG. Reside em Goiânia-Goiás desde 1979. Trabalhou até 1990 como Design de Móveis e a partir desta data dedica-se integralmente a Arte Plástica como auto-didata. A luz intensa que irradia o trabalho do ceramista Luiz Olinto transmite a riqueza das cores típicas do cerrado. Além de Goiânia, já realizou exposições em cidades como Brasília, Rio de Janeiro e São Paulo. Também mostrou seu trabalho em outros países, como Itália, Portugal e Estados Unidos.

J. Bento

Com obras já expostas em acervos de países como Japão, Alemanha, Equador, Áustria, Kwait e Chile, o artista plástico José Bento Alves de Souza, o J. Bento, é servidor aposentado da Assembleia Legislativa do Estado de Goiás. Nascido no município de Piranhas, J. Bento desenvolve suas pinturas refletindo um olhar de simplicidade, com registros sociais e abordagem de temas relacionados à natureza e ao povo goiano. Seu trabalho é elogiado por críticos e colecionadores de Goiás e de todo o País. As obras de J. Bento representaram o Estado de Goiás no livro "Artistas Plásticos Brasileiros", que destacou os principais artistas plásticos do País. O artista participa de exposições desde o ano de 1968, quando apresentou seus trabalhos no município de Barra do Garças, no Estado do Mato Grosso. O Senado Federal e o Centro de Convenções de Brasília também foram palcos de exposição das suas obras. De acordo com J. Bento, é uma característica de suas obras mostrar o cotidiano e a vida social, mas, ele tem telas abordando diversos temas. E revela que, quando expõe no exterior, as telas de maior sucesso são as que retratam o Brasil Tropical.

Fabíola Morais

Graduada em Arquitetura e Urbanismo pela PUC Goiás, é pintora, desenhista, videoartista, pesquisadora e professora nas áreas de design, história da arte e desenho expressivo. Obtive o título de Mestre em Gestão do Patrimônio Cultural tendo feito especialização anterior em Cultura, Memória e Linguagem.

Já participou de exposições em locais como o Museu de Arte Contemporânea de Goiás (MAG), Galeria de Arte Contemporânea Marina Potrich e apresentou videoartes em festivais de Alto Paraíso e no Goiânia Mostra Curtas, em Goiânia. Entre outras atividades, prestou assessoria em Legislação Urbana para reformulação das leis municipais com vistas à implementação da atividade ecoturística nos municípios goianos de Pirenópolis, São Domingos, Alto Paraíso e Três Ranchos pelo Ministério do Meio Ambiente em 1999.

“Meu trabalho artístico tem origem na prática do desenho, linguagem que desenvolvi tecnicamente a partir da faculdade de arquitetura e com a qual me dedico a explorar os contextos visuais que me envolvem”, define Fabíola.

Suas influências no trabalho gráfico transitam entre paisagens urbanas, obras consagradas pela história da arte ou a iconografia indígena. “Algumas incursões pela tipografia e aplicação de desenhos a produtos me mantém próxima aos limites do design, região onde me sinto mais à vontade para posicionar conceitualmente o que faço”, explica a artista.

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