Notícias dos Gabinetes
Inflação e conquistas sociais
O Comitê de Política Monetária do Banco Central decidiu por nova elevação da taxa Selic. A tendência é de que os juros continuem a subir. Depois de meses de boas notícias em série, o fantasma da inflação e os remédios amargos que o governo está tendo de ministrar para combatê-lo trazem inquietação aos brasileiros.
Mas são as camadas mais pobres da população que sentem com maior intensidade os efeitos de uma inflação mais alta e de taxas de juros maiores. O aumento dos preços corrói os salários e reduz consideravelmente o poder de compra. Taxas mais elevadas de juros, por sua vez, dificultam o acesso ao crédito que tornou possíveis sonhos de consumo de grande parte dos brasileiros como eletrodomésticos e até mesmo a casa própria.
Os primeiros reflexos dos aumentos dos preços – especialmente dos alimentos – já podem ser sentidos na economia brasileira. Pesquisa realizada pela LatinPanel mostrou uma retração no consumo, para as classes C, D e E, que têm renda inferior a 10 salários mínimos, de 7% no primeiro trimestre em relação ao mesmo período de 2007. O aumento dos preços de alimentos básicos como arroz, carne e o pão francês é mais perverso para os mais pobres, que gastam mais de 40% dos rendimentos somente com alimentação.
Em abril, a quantidade de recursos emprestados ultrapassou a marca de R$ 1 trilhão, o que corresponde a 36,1% do Produto Interno Bruto (PIB). O Banco Central espera que esse porcentual chegue a 40% de todas as riquezas produzidas pelo País no final do ano. O aumento do volume de crédito disponível foi fundamental para que os brasileiros menos abastados tivessem acesso a bens de consumo duráveis.
Até bem pouco tempo, os financiamentos tinham prazos curtos, taxas elevadas de juros, o que tornava o valor das parcelas inacessível. Hoje, muitos brasileiros estão conseguindo fazer com que parcelas menores caibam em seu orçamento. O aumento da taxa de juros e possíveis medidas de restrição ao crédito podem tirar de milhões deles o direito de viver com mais dignidade e conforto.
A pressão inflacionária é mundial e não pode ser ignorada pelo governo. O Banco Central tem prescrito de forma impecável os tais remédios amargos. O tempo provou que a rigidez com as metas inflacionárias tem sido um grande acerto. É preciso ter pulso firme para conduzir a política monetária.
Mas também é temerário tomar medidas que afetam a vida de milhares de pessoas com frieza matemática. Não é justo tirar de milhões de brasileiros o direito de viver com dignidade.
Helder Valin é deputado estadual (PSDB) e líder do Governo na Assembléia Legislativa.