Notícias dos Gabinetes
A hora da qualificação profissional
Ao ler a manchete do POPULAR no domingo, 27 de janeiro, não pude deixar de me perguntar se estava diante de mais uma notícia ruim, ou de um fato bastante promissor. A reportagem trouxe um mapa bem delineado dos profissionais que estão faltando no mercado de trabalho goiano, e em que municípios a ausência desses trabalhadores se faz sentir com maior intensidade. Mais do que isso, o texto preciso da jornalista Mariza Santana revela que o crescimento acelerado da industrialização no Estado e a impressionante recuperação do setor de construção civil estão por trás desse fenômeno.
Enquanto países desenvolvidos têm se mostrado incapazes de reduzir as alarmantes taxas de desemprego, e trabalhadores de regiões industrialmente consolidadas do País como São Paulo sofrem com a saturação do mercado, em Goiás há vagas. Infelizmente, nem todos os goianos estão prontos para ocupá-las. Alguém que não conheça a realidade do Estado pode até ficar intrigado.
Um desavisado perguntaria: como é que o crescimento da economia, que deveria ser comemorado, acabou se tornando um problema para os goianos? Ainda carregamos a nódoa de anos de isolamento e de descaso dos governantes para com a educação. Mas se é certo que levamos nas costa uma cruz histórica, também não se pode ignorar o esforço que governo e sociedade têm feito para superar esse atraso histórico. O poder público, em todas as esferas, tem investido na universalização e na melhoria da qualidade do ensino. A iniciativa privada tem feito a sua parte, e não têm poupado esforços na formação dos trabalhadores.
As pessoas acordaram para essa realidade e estão buscando qualificação. Porém, enquanto os investimentos em educação foram de bicicleta, a economia goiana seguiu de trem-bala. Os números não deixam dúvida. A indústria, que respondia por 28,7% do PIB goiano em 1999, em 2004 passou a participar com 35,5%. O cenário econômico que se delineia no horizonte para o Estado é alvissareiro. Oc crescimento é contínuo, sustentado, e não fica circunscrito a duas ou três regiões. A indústria de alimentos se consolida, lastreada na grande produção de grãos que durante muito tempo foi o sustentáculo da economia do Estado. Estamos verticalizando a produção, agregando valor. Abastecendo o mercado interno e exportando muito. Em 2007, exportamos US$ 994 milhões em carnes, e US$ 880 milhões em soja. Pela primeira vez, as exportações de carnes superaram as do complexo soja.
Na construção civil, juros mais baixos e prazos mais longos de financiamento fizeram com que o setor crescesse 9% em 2007 em relação ao ano anterior. O crescimento projetado para este ano é ainda mais surpreendente: 12%. No segmento de bioenergia, outra dose de boas notícias. Goiás tem 20 usinas de açúcar e álcool implantadas, outros 79 projetos já foram aprovados pelo Programa Produzir, com previsão de investimentos da ordem de R$ 12 bilhões. Mais de 20 usinas já estão em construção e devem ser implantadas até 2013. Mais, todo esse crescimento tem sido garantido somente pelo mercado interno, que absorve toda a produção. A frota crescente de carros bicombustível vai garantir o crescimento da indústria de álcool até 2016.
Com a conclusão de obras fundamentais para o Estado como a Ferrovia Norte Sul e o alcoolduto até Senador Canedo, vamos superar barreiras logísticas e ganhar mais competitividade para brigar pelo mercado externo. Até lá, as barreiras tarifárias e ausência de marcos regulatórios – que hoje dificultam a exportação de etanol – já serão problemas do passado, uma vez que o mundo não pode abrir mão de fontes de energia limpa.
A indústria farmacêutica prevê investimentos de R$ 100 milhões na ampliação da sua capacidade produtiva somente para este ano. O setor mineral também esbanja fôlego, dos US$ 3,184 bilhões que exportamos no ano passado, o segmento respondeu por 22%. Não podemos esquecer o setor automobilístico em franca expansão no Estado. E com todos esses bons números ainda temos um problema? Sim, e um problema grande. Sem qualificação, milhares de goianos estão ficando à margem de todo esse processo de desenvolvimento. Cidadãos são privados do direito de ter uma vida digna, de não precisar de ajuda estatal para viver.
Buscar culpados é compreensível, mas não é atitude mais inteligente. Temos problemas, mas já sabemos qual é a solução e estamos caminhando para ela. O governo de Goiás, por exemplo, fez muito pela qualificação dos goianos ao criar a Universidade Estadual de Goiás (UEG). A instituição tem levado ensino de qualidade aos mais diversos municípios, levando em consideração a vocação de cada região. A Secretaria do Trabalho também tem contribuído promovendo uma série de cursos de qualificação profissional. Temos de mencionar ainda o Bolsa Universitária, programa do governo estadual que já garantiu o acesso de 80 mil estudantes pobres ao ensino superior. É claro que vamos precisar acelerar o passo, e isso implica em coordenação de ações. Mais do que isso, em vez de somente lamentar o déficit educacional da nossa gente, temos de partir para a ação, motivados pela força da nossa economia.
Helder Valin é deputado estadual (PSDB) e líder do Governo na Assembléia Legislativa