Notícias dos Gabinetes
Um País de todos
Vejam o que está acontecendo em Goiânia e em muitas outras cidades do Brasil. Administradores públicos literalmente expulsam pedintes e mendigos de “seus” municípios, devolvendo-os, de forma forçada, ao local de onde saíram. Ora, eles saíram de lá porque a situação não era boa. E com um detalhe, eles têm todo o direito de viver em qualquer canto deste País. As condições de vida na cidade de origem eram desfavoráveis, e por essa razão, por total falta de perspectiva, essas pessoas foram em busca de algo melhor. Infelizmente não encontraram. Mas não é por isso que podem ser considerados fracassados, “lixos” humanos a serem despachados como uma mercadoria para o local de onde saíram atrás do sonho de uma vida melhor.
Fico imaginando se esses mesmos mendigos que estão sendo “deportados” fossem ricos empresários e anunciassem que iriam embora de Goiânia. Com toda certeza o poder público faria das tripas coração para mantê-los na cidade. Imploraria de joelhos. Gastaria até dinheiro público para “segurar” os endinheirados na Capital. Mas como se tratam de pobres mendigos, a saída é dar um pontapé no traseiro de cada um e mandar pra bem longe. É mais fácil, mais barato e tem o apoio de uma pequena parcela da população que pensa que pobre bom é pobre longe.
Certa vez, no programa que faço diariamente na Rádio Difusora, das 10h ao meio-dia, uma mulher oriunda do Rio Grande do Norte me procurou. Vivendo na total miséria, queria dinheiro para ir embora, deixando os dois filhos pequenos com famílias goianas. Não aguentava mais o sofrimento provocado pela fome, a falta de apoio e de esperança. Em vez de dar a passagem e dinheiro, fizemos uma campanha na rádio e, graças ao bom coração do povo goiano, essa mãe conseguiu – através de doações – construir e mobiliar um modesto, mas aconchegante barraco. Também conseguiu um emprego e felizmente não precisou dar os filhos pequenos a outras famílias. Com um pouco de ajuda, conseguiu recuperar a dignidade e tocar sua vida adiante no local que escolheu para viver.
É isso que falta a esses mendigos e pedintes que chegam a Goiânia e a tantas outras cidades, sonhando encontrar a felicidade. Se tiverem apoio, emprego e a perspectiva de uma vida melhor, certamente não vão ficar nas ruas atrás de esmolas. O brasileiro é trabalhador e quer manter a família com o suor do rosto. É só o poder público “dar a vara” que as pessoas pescam. Em vez de tratar essa gente como um “entulho”, o poder público precisa é dar o apoio que eles necessitam para se estabelecer e crescer. Mas apoio de verdade. Sem enganação ou projetos “meia-boca”, que servem apenas para a promoção do governante. Se houver boa vontade e respeito à dignidade humana, qualquer administração resolve facilmente – e de forma cristã – o problema dos mendigos e pedintes. Basta querer e ter em mente que este País, este Estado e a nossa Cidade são, indistintamente, de todos nós. Humberto Aidar é deputado estadual (PT)