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Thiago em O Popular: Educação precisa ser repensada
A sorte irlandesa
Como economista, sei que a chave para o desenvolvimento é a educação. Como político, ouço os colegas dizerem que a educação deve ser prioridade. Apesar dos economistas, dos políticos e de quase toda a sociedade concordarem, a verdade é que a educação não é prioridade no País.
Neste mês estive na Irlanda, país onde economistas, políticos e toda a sociedade também colocam a educação como prioridade. Com a grande diferença de que, por lá, realmente ela é prioridade máxima e não apenas conteúdo de discursos.
Uma rápida conversa com qualquer irlandês sobre o seu país e será possível ouvir dele que o fator principal do desenvolvimento econômico não é a taxa de juros, a balança comercial ou qualquer outro jargão do "economês" que vemos sempre nos noticiários. Por lá, é consenso geral: se há desenvolvimento, este se tornou realidade por meio da educação. É a famosa economia do conhecimento.
Na Irlanda, pude participar de reuniões com líderes que transformaram uma ilha sem muitas potencialidades em uma nação desenvolvida e moderna. Tais especialistas, que vivem em um país marcado pelo misticismo, não revelaram poções mágicas ou algo do tipo, mas compartilharam boas práticas educacionais que tornaram a nação um dos maiores referenciais neste setor.
Na bagagem, de volta ao Brasil, destaques como o valor que a educação tem para a sociedade irlandesa. Existe ali uma forte tradição onde os pais entendem que a educação é o que há de maior – e melhor - a ser oferecido aos filhos e que o sucesso individual, econômico e social dependem completamente da oportunidade educacional.
Uma grande coalizão formada entre governo, setor produtivo, sindicatos, igrejas e outros setores que usam o interesse social – e a educação, naturalmente - como norte de suas atividades também merece destaque.
Há também que se ressaltar a qualidade do ensino e do trabalho dos professores. A profissão é muito reconhecida em todos os aspectos, inclusive o financeiro. Para se ter ideia, de todos os alunos que entram em uma universidade, aqueles que estudam para ser professores estão entre os 20% melhores de todo o quadro universitário.
Outros destaques são os currículos e avaliações adotados pelas escolas – dois pontos determinados nacionalmente. O currículo é único em todos os colégios – alunos que estejam no mesmo nível têm acesso ao mesmo conteúdo de conhecimento em qualquer escola do país. Quanto às avaliações, seus resultados são os termômetros da qualidade educacional. Com base em seus dados que se estabelece todo um rigoroso planejamento de cada unidade escolar e até para cada aluno.
A Irlanda percebeu há 40 anos que a única ferramenta que a elevaria ao status de nação com desenvolvimento social e econômico respeitável era a educação. Um país que não tem consideráveis riquezas naturais nem um sistema industrial sólido, mas que formou o que a sociedade do século 21 mais valoriza: capital humano.
Voltei ao Brasil fazendo uma inevitável análise. É incomparável a quantidade de riquezas e oportunidades que nosso país oferece em relação à quase todos os países do mundo. Imaginem se somássemos nossas potencialidades e se fôssemos fortes agentes na economia do conhecimento? Isto é possível: bastar transformar nosso pensamento unânime de que educação é prioridade em uma urgente ação.
Thiago Peixoto é economista e deputado estadual (PMDB).