Projeto Mulheres no Legislativo
A ex-deputada Denise Carvalho (PC do B) concedeu entrevista na Assembleia Legislativa à repórter Jéssica Campos, da Agência Assembleia de Notícias, que também foi gravada por Bruna Mastrella, da TV Assembleia. O projeto Mulheres no Legislativo é uma produção dessas seções em parceria com as seções de Assessoramento Temático e de Publicidade, Imagem e Identidade Corporativa deste Poder. A série foi criada para homenagear as célebres trajetórias de todas as mulheres que cumpriram mandatos nesta Casa de Leis. Lançado no dia 12 de abril, o programa reflete nova produção da Assembleia Legislativa de Goiás (Alego). A ação reforça o caráter integrado de todo o projeto, uma marca forte nos trabalhos da Alego.
Nessa conversa longa com a ex-deputada Denise Carvalho, Jéssica extraiu histórias interessantes do início da carreira política dela, desde a época de estudante, e inspirada nas palavras e referências de Denise, a repórter dividiu a trajetória nas quatro estações do ano.
Primavera – o inicio
“Podem pisar os jardins, destruir as flores, mas não são capazes de deter a primavera”, nos afirmou a ex-deputada Denise Carvalho durante nossa conversa na mesa redonda da sala da Agência de Notícias na Assembleia Legislativa. Dona de um sorriso aconchegante, olhos esperançosos e um idealismo incurável, ela se filiou ao PC do B ainda quando o partido agia na clandestinidade, antes mesmo da redemocratização do país – ela se filiou em 1981 e o partido saiu da clandestinidade em 1985.
Denise era estudante de engenharia quando se envolveu com o movimento estudantil no início da década de 1980, época em que o Brasil transpirava – principalmente dentro dos muros universitários e nos corações de jovens idealistas- vontade de democracia. “ Os anos 80 respiravam a luta democrática. Eu entrei na universidade na década de 1980 num curso de engenharia civil e logo fiz o contato com o movimento estudantil. Na universidade nós descortinávamos para a juventude aquilo que era proibido de ser dito pelos meios de comunicação. Não se falava da luta democrática, da tortura que existia naquela época, da censura que havia nos órgãos de imprensa. O Brasil vivia o final da ditadura militar, mas ainda era uma ditadura, e nesse contexto a universidade era o grande espaço da democracia. Ali nós podíamos assistir os filmes, ler todos os livros, debater ideias...” conta.
Nesse ambiente fértil floresceu em Denise a vontade de mudar o mundo, ao menos no espaço em que ela podia alcançar. Assim, inspirada por mulheres e homens de luta, logo ela se torna líder no movimento estudantil, assumindo a vice-presidência do DCE –UFG, 1981 até 1983, quando se torna presidente, a primeira mulher a assumir o cargo. Também presidiu a União Estadual dos Estudantes (UEE) , e foi coordenadora Regional da União da Juventude Socialista. Nesses lugares de liderança ela passa a inspirar outras mulheres.
No início da conversa ela conta de seus heróis quando começou sua vida política, de sua identificação com as mulheres que, naquela época não ocupavam cadeiras no Parlamento goiano, mas ainda assim, não fugiam do dever com a liberdade. “Naquele início me inspiravam muito as histórias de Aldo Arantes, Pedro Wilson, e o Santillo que era um baluarte para a luta democrática no Congresso Nacional. Eram vistos, os três, como os ‘irmãos coragem’. E haviam as mulheres, também: como a Conceição Gayer, que foi uma deputada aguerrida, combativa no Parlamento estadual. Lembro que ela já era delegada de polícia quando eu estava no movimento estudantil. Nós tínhamos, também a Nadir Cordeiro, a professora Lucia Rincón, a Consuelo Nasser. Então eram mulheres que estavam iniciando, desbravando um território novo, ainda proibido para as mulheres. Mas eu participei, com muita alegria, desse início com o desabrochar dessa luta democrática em Goiânia", recorda.
Nesse contexto de militância estudantil, ela se lembra e fala com carinho do movimento ‘Pula Catraca’- na sua presidência no DCE- que foi embrião do projeto transformado em lei que concede meia entrada para estudantes em espetáculos culturais e no transporte coletivo, de sua autoria em sua passagem pelo Legislativo do estado. “Esse movimento foi muito legal, nós íamos para a delegacia todo santo dia (risos) por termos pulado catraca. Chegou um tempo em que os policiais nem nos fichavam mais, porque, segundo dados do governo, nós éramos mil estudantes pulando catraca todo dia. A gente pulava catraca cantando uma musiquinha que eu não esqueço, era assim ‘Pula catraca que eu quero ver/ pula catraca que eu quero ver/ pula catraca que eu quero ver/ ficar pagando 100 aqui não pode ser.’ Isso porque a passagem de ônibus chegou a 100 dinheiros da época, que eu não lembro mais qual era. Isso durou 3 meses”, afirmou.
Em seguida o DCE deflagrou um movimento que erguia a bandeira da meia entrada nos ônibus para os estudantes, “era até uma forma de fortalecer as entidades já que eram os Diretórios que faziam as carteirinhas e não tinham nenhuma fonte de renda”, frisou. “Quando o movimento foi deflagrado”, conta: “houve uma grande queima de ônibus no Campus da UFG, porque a polícia estava tentando impedir que os estudantes pulassem a catraca. Por conta desse quebra-quebra a diretoria do DCE rachou, porque parte achava que deveríamos repudiar a queima dos ônibus, enquanto os outros, como eu, defendíamos que deveríamos apoiar os estudantes. Por fim, depois do DCE recomposto, em 1983, nós conseguimos a meia entrada porque a população aderiu ao movimento. Nós também brigamos e conseguimos a meia-entrada nos cinemas, pulamos muita catraca dos cinemas. Era muito divertido”. Ri sonoramente, um riso nostálgico de quem, se pudesse, faria tudo novamente.
Ela também se lembra da greve geral dos estudantes, quando era vice-presidente do DCE, movimento que mobilizou 15 mil alunos, “imaginem vocês 15 mil alunos da UFG, ou seja, quase 100% dos alunos não irem assistir aula por um motivo político. Foi muito bonito”, disse.
Ainda assim, mesmo que em um ambiente libertário, as mulheres não estavam livres do machismo estrutural, enraizado na sociedade. Denise nos relata que desde que entrou no curso de engenharia existia uma mentalidade de que ela não seria boa o suficiente porque “um curso de Exatas que exigia muita matemática era predestinado para homens”. “Tem muita coisa que eu só enxergo hoje, com esse feminismo de hoje que não pede licença para os homens, nem permissão. Quando olho para trás vejo quanto machismo eu passei achando que era tudo natural”, afirma.
Verão – a carreira política
Em 1988, Denise foi eleita vereadora por Goiânia, onde contribuiu com a Lei Orgânica do Município, em 1990 ela venceu as eleições para o cargo de deputada estadual se tornando a primeira mulher comunista a conquistar uma cadeira na Assembleia Legislativa de Goiás, onde permaneceu por três mandatos consecutivos – da 12ª a 14ª legislaturas. Trazendo para a Casa de Leis a revolução que corria em suas veias. Alguns projetos marcaram a memória de Denise e ela explanou a importância de cada um.
Ela começa lembrando que, junto com outras deputadas, criou uma comissão especial de mulheres para se prepararem para a IV Conferência Mundial da ONU sobre a Mulher em 1995, realizada em Beijing [Capital da China, equivalente a Pequim em línguas latinas], em que o tema central foi “Ação para a Igualdade, o Desenvolvimento e a Paz”.
“Existia uma solidariedade muito grande entre as deputadas na Casa, tanto que nós formamos uma Comissão Extraordinária que passou um ano discutindo o que seria levado para a Conferencia em Beijing. A Assembleia estava lá, participou oficialmente, e eu representei o legislativo de Goiás nessa conferência. Nós levamos um caderno de Goiás para a China”, conta orgulhosa enquanto toma café. Entre um gole e outro ela nos olha com brilho nos olhos, como alguém que se sente representada por ver mulheres interessadas em contar a história de outras mulheres.
- “Esse projeto de vocês vai começar pelas mulheres? ” – pergunta
- “É um projeto de mulheres e sobre mulheres, apenas” – responde Jéssica.
- “Nossa, que importante. A história das mulheres precisa ser contada”- replica entusiasmada.
Denise Carvalho se afirma feminista, se posiciona como tal – "mulheres falando sobre mulheres"- e olha as repórteres como se a esperança da nova primavera estivesse nas mãos delas. "E é na inspiração vinda da mulher, que pulava catraca com o filho de um ano no colo, que nós enxergamos as flores".
Denise também propôs e presidiu a Comissão Parlamentar de Inquérito (CPI) que investigou a esterilização em massa de mulheres em Goiás. Na época havia um grande número de mulheres que faziam cirurgia de laqueadura no Brasil. “O movimento feminista decidiu, como estratégia de luta, puxar CPIs nas Assembleias para entender o fenômeno. Conseguimos instituir o inquérito aqui e no Rio, mas os estados que eram líderes de esterilização de mulheres eram o Ceará e Goiás. Então nós fomos investigar a causa”, lembra.
“Os índices eram muito acima do padrão estabelecido pela OMS, essa CPI funcionou por dois anos, eu como presidente e o Marconi [Perillo] como relator. Identificamos que, primeiro, existia no Brasil uma política, desde os anos 1970, de controle da natalidade imposta pelos mecanismos dos EUA. Nós reunimos muitos documentos sobre isso, e a mentalidade de como os filhos da população pobre precisavam ser diminuídos como forma de conter a pobreza”, diz.
“Mas nós sabemos que isso é um absurdo, porque a causa da pobreza é a má distribuição da riqueza e não o número de filhos das famílias”, enfatiza.
A CPI também documentou que no Nordeste, segundo relato da própria ex-deputada, muitas mulheres tomavam pílula anticoncepcional orientadas que eram vitamina. “Defendíamos na CPI uma política de planejamento familiar, onde a decisão do número de filhos era da família consciente e que fosse dado a ela os mecanismos para essa tomada de decisão. Goiás foi pioneiro no Programa de Atenção Integral à Saúde da Mulher”.
Denise fala saudosa da parceria entre a Comissão de Mulheres e o grupo ‘Transas do Corpo’ em busca da implementação de educação sexual nas escolas públicas nas quais os diretores concordaram. Denise se lembra com frustração de que nunca conseguiram aprovar um projeto de lei sobre educação sexual nas escolas, “nós nunca conseguimos vencer esse fundamentalismo que acha que educação sexual estimula a pratica sexual, sendo que faz exatamente o contrário”, disse.
“Nós criamos esse projeto piloto e o implantamos experimentalmente em cinco escolas estaduais. Gente, a análise de relatório dos resultados desse projeto foi tão sensacional, o quanto diminuiu de vandalismo, de violência, intolerância e assedio dentro das escolas, só pelo fato de conversarem sobre o assunto”, falou.
Outono – A participação Feminina
“Eu fui a sexta deputada estadual. Entrei aqui na década de 1990, vejam como poucas mulheres estiveram na Alego”, lamenta ela ao falar sobre a pequena participação feminina no Legislativo. Denise foi vanguardista em muitos aspectos durante sua trajetória política, sendo a primeira presidente mulher a presidir o DCE, sendo a primeira integrante feminina do PC do B na Assembleia, depois de mais de 20 anos – época da ditadura militar- sem nenhuma mulher no Parlamento.
Denise se lembra de que não existia nem banheiro feminino na estrutura da Alego o que mostrava como aquele “não era um lugar de mulher”. Outro ponto importante foi que quando ela engravidou de seu filho mais novo, Fernão, percebeu que não existia a menção de licença maternidade para deputadas, reforçando que o legislativo não foi estabelecido pensando na participação ativa das mulheres, bom lembrar que mesmo hoje, em 2019 quase trinta anos após o nascimento de Fernão, ainda não existe Licença Maternidade na Alego para deputadas.
A participação feminina na Assembleia alcançou seu ápice na 15ª Legislatura com a participação de 9 mulheres – pouco mais de 20% do total de vagas. Na 19ª Legislatura apenas duas mulheres foram eleitas, preenchendo 5% das 41 vagas. Denise se mostra muito angustiada com a situação, já que as mulheres são mais de 50% do eleitorado.
“Eu fui presidente do DCE de 83 a 84 e fui a 1ª mulher a presidir o Diretório Central de Estudantes da UFG, e logo em seguida eu fui presidir a UEE onde também fui a primeira mulher a alcançar essa posição. Depois eu fui eleita vereadora de Goiânia e em 88 eu vim para a Alego como a 1ª mulher comunista depois de 43 anos que o PC do B não tinha participação no parlamento goiano. Quando eu cheguei aqui tinham passado apenas cinco mulheres. Então vejam como é recente isso. Em todo o período da ditadura não houve mulheres deputadas. Eu fui alçada a pioneirismo, vamos dizer assim. Desbravar caminhos como primeira mulher em vários espaços. E vim de um curso que era composto quase que só de homens. Fui a primeira monitora de cálculo do curso de Engenharia Civil da UFG. Então eu acabei ocupando posições pioneiras como mulher durante essa trajetória toda. E eu sempre abracei esse pioneirismo com muito gosto, porque não faz sentindo termos mulheres ocupando qualquer que seja o espaço se esse espaço não servir para abrir portas para que outras venham”, disse, agora deixando o sorriso afável de lado e impondo à voz um tom mais forte.
Como feminista, Denise acredita que os lugares de poder devem ser preenchidos por mulheres como sinal de equidade na sociedade. “Porque nós não vamos ter democracia se não tivermos metade dos espaços de poder ocupado por mulheres. Isso é pedir muito? Não! Nós somos metade da sociedade. Não estamos pedindo nada. Nós estamos reconhecendo que uma sociedade só evolui se todos aqueles que a compõem tem direito de voz”, completou.
A ex-deputada também lembrou que ajudou mulheres na luta para ingressarem na carreira militar, e depois para poderem alcançar todos os estágios da carreira – as mais altas eram vetadas às mulheres. Ela mostra uma preocupação com a desproporcionalidade numérica entre os gêneros, onde homens ocupam muito mais lugares que as mulheres.
“Essa desproporção desarmoniza a sociedade, agrava os conflitos, essa desigualdade é prejudicial a sociedade, o que nos leva a dispor de uma situação dessa. Eu acho que há nisso um fator histórico. Nós vivemos numa sociedade machista, que teve a sua origem fundada em relações muito desiguais e violentas de poder. O processo de miscigenação da sociedade brasileira se deu na violência de gênero e contra os negros. E isso é uma herança que se transformou no silêncio das famílias, as coisas que não podem ser ditas. O mito de nós vivemos num Brasil de igualdade de gênero. Quer dizer, no Brasil as mulheres são livres? Não são! Ou que vivemos num pais em que não há preconceito racial, ou como se no Brasil vivêssemos numa democracia racial. Esses são mitos e por isso a opressão sempre ficou historicamente acobertadas, disfarçada, não dita. É o espaço do silêncio que está dentro das famílias e na sociedade como um todo. Há uma razão histórica, cultural e ideológica, há uma razão que está na obra política, e que pode ser até consequência dessa. Para as mulheres é muito mais difícil exercer suas atividades políticas, parlamentares ou mesmo de liderança”, afirma contundentemente.
“Eu mesma, quando comecei a assumir a liderança no movimento estudantil, não conseguia falar em sala de aula, eu entrava para dar um recado e ficava muda. Agora olha o tanto que falo hoje (risos). Isso é treino. É porque para as mulheres o exercício da palavra é mais difícil. A gente não é treinada para isso. Para exercer liderança pior ainda, desde criança a gente não é treinada para ter iniciativa. Pelo contrário a menina mais quieta, mais obediente é a mais bonitinha”, completa.
Inverno – Atualidade
Denise Carvalho, mulher forte, que não foge de briga ideológica, que é dona de suas verdades e desbravadora de muitos caminhos, não esconde sua frustração e preocupação com a ascensão da extrema direita e das ideias conservadoras que têm abocanhado cada vez mais lugares na política mundial. É como voltar, andar de marcha-ré. Ela enfatiza falando da importância do método cientifico, “Como se chega à conclusão de que uma coisa é uma coisa e não outra? Existe um método para isso que foi desenvolvido no final da idade média. Estamos regredindo. Temos que lidar com coisas que já tinham sido resolvidas no iluminismo”
Ela fala que os conservadores nunca saíram de fato do poder, mas ultimamente eles têm encontrado mais oportunidade de se colocar. Ela também falou sobre a fragilidade da democracia brasileira, e de como ela foi afetada pelo que ela chamou de “golpe de 2016 e volta do obscurantismo”.
“ Nossa democracia é jovem e instável, houve muitos golpes no Brasil. Esse golpe de 2016 foi uma temeridade, porque quando você quebra com a democracia, por qualquer que seja o motivo que tenha levado a isso, você abre espaço para o obscurantismo. Então com o golpe de 2016, a destituição sem crime de responsabilidade da presidenta Dilma, foi um golpe pautado pela misoginia. Esse golpe abriu espaço, não para que as forças de oposição a Dilma chegassem ao poder. Mas para que o obscurantismo voltasse à tona. Quando você quebra a democracia o obscurantismo volta. Essa é uma lição que precisa ser aprendida. A democracia, por pior que seja a pessoa que esteja governando, é o melhor que podemos ter. Se você é contra aquele projeto, dispute a eleição seguinte e ganhe, sem precisar que ocorra essa quebra. A volta do obscurantismo vem associado ao interesse do grande capital financeiro”, explica.
Como boa comunista que é, ela tece críticas afiadas ao capitalismo voraz, culpando o interesse da mais valia, inclusive, pela epidemia de notícias falsas que cresceram nas últimas eleições, sem medo – coragem parece ser a maior característica de Denise- ela explica seu ponto de vista, dando nome aos personagens, inclusive.
“Então Stiven Benon, que financiou essa desinformação que há no Brasil, e que resultou também na vitória de Bolsonaro, e que já tinha resultado antes da vitória de Trump nos EUA, está promovendo mudanças de regime pelo país e pelo mundo. E isso porque eles precisam implementar um projeto econômico mais concentrador da riqueza do mundo e para que esse projeto seja implementado vai haver o sacrifício de populações inteiras. Sacrifício esse que não se faz convivendo em democracias. Então o regime, o sistema mundial de opressão dos povos, precisa do que a gente chama de regime fascista. Por isso financiaram abertamente as fake news no Brasil, que resultaram nesse processo”, continua. Mas não apenas o lado de lá é alvo das críticas de Denise, então, fala sobre a esquerda.
“Houve erro na esquerda”, afirmou contundente. “Mas houve também, fundamentalmente, insuficiência de tempo. Porque a mudança na sociedade estava se dando a passos lentos, não por meio de guerra. Os costumes, os padrões, a visão estavam mudando. Então o regime que nós estávamos tentando implementar até aqui foram feitos só de 13 anos de experiência. Isso é um tempo histórico muito reduzido, nós temos só pouco mais de 30 anos do fim da ditadura militar, é um período histórico muito pequeno para a gente tentar consolidar uma nova consciência. Então eu acho que mais do que erros da esquerda, houve insuficiência de tempo histórico para que o nosso povo se organizasse melhor. Para que a consciência se elevasse, que o nosso povo, que ainda é analfabeto político e cientifico, não ficasse em dúvida se a Terra é plana ou redonda”, critica.
Mas mesmo diante da neblina, Denise não deixa apagar um raiozinho de esperança de quem já lutou na linha de frente de muitas batalhas e ganhou a maioria. Se lembra de sua mãe, professora, que a ensinou – e suas duas irmãs- o valor da liderança e da educação, “Vocês não vão ser donas de casa vão estudar”, relembra, dando tapinhas na mesa como sinal da ordem da mãe. Assim ela obedeceu, estudou engenharia, jornalismo e museologia. E afirma que o obscurantismo não se sustenta, “Eu acredito muito que a primavera virá e muitas gerações serão capazes de usufruir da beleza e da diversidade da harmonia das cores que estão por vir”, concluiu.