O infectologista Boaventura Braz e o presidente da Comissão de Saúde, Gustavo Sebba falam sobre coronavírus

Diante da situação de alerta provocada pela ocorrência do surto do coronavírus na China, o médico infectologista Boaventura Braz falou sobre a doença, avaliando como a situação tem sido tratada no Brasil, além de orientar sobre sintomas e prevenção. Conforme explicou o especialista, o coronavírus tem como hospedeiro natural o morcego, “que não adoece, o que propicia a replicação contínua do vírus dentro do animal, e a geração de novos tipos de coronavírus”, definiu. Tal característica do morcego, “propiciou o aparecimento de um vírus tanto com a capacidade de infectar o ser humano, ao agredir a parte pulmonar, quanto também de ser transmitido de um ser humano para outro”, disse.
Boaventura alertou também para o fato de as circunstâncias da transmissão da doença ainda não estarem totalmente esclarecidas, o que na opinião do médico pode ter ocorrido tanto a partir da manipulação do morcego ou com a participação de um outro animal.
Cenário
O médico esclareceu ainda que a doença pode ser propagada por meio das gotículas de saliva da pessoa infectada. Segundo ele, dentre os sintomas, o paciente apresenta febre contínua, por um período entre três ou quatro dias, tosse e desconforto respiratório, “a pessoa sente falta de ar, quadro que evolutivamente vai piorando, porque esse paciente tende a caminhar nos casos mais graves para uma pneumonia. E nessa situação é que existe o risco de ter um índice de letalidade maior, como a que estamos assistindo em torno de 2%”, explicou.
Boaventura alertou também para o fato de que os sintomas são como de várias doenças virais, como por exemplo o influenza. “Não tem nenhuma diferença”, disse. “A diferença se dá por meio da epidemiologia, Nesse caso, a pessoa tem que ter passado na China e estava assintomático ou tido contato próximo com alguém tenha vindo da China e estava assintomático. Hoje, seis de fevereiro, praticamente 100% do brasileiro não está nessa situação. Se apresentar os sintomas, certamente é por outros vírus”, esclareceu.
Na opinião do especialista, a doença em si não se configura como grave, “se configura como uma doença nova que tem um poder de impacto na população muito grande. Se a gente não conseguir bloquear esse processo onde ele começou”, orientou.
Segundo Braz, “se as autoridades, OMS, governo chinês não tiverem êxito ao contê-lo. Se os outros países também não conseguirem bloquear as entradas que existem, nós teremos o risco, sem dúvida nenhuma, de uma pandemia. Esse é o pior cenário. O melhor cenário é que haja uma contenção desse vírus”, ressaltou.
O infectologista citou ainda que apesar de casos em outros países como Estados Unidos, Alemanha e Austrália. “Já existem casos em 28 países. Nesses outros países estão sendo bem monitorados”, lembrou.
Etiqueta respiratória
Boaventura recomendou ainda que a fim de não correr o risco de se contaminar as pessoas precisam tomar os mesmos cuidados adotados para evitar qualquer infecção respiratória. Segundo ele, a melhor opção é adotar a etiqueta respiratória, na qual “sempre que você estiver num ambiente, onde pegar em uma maçaneta, cumprimentar uma pessoa, antes de pegar qualquer alimento, aproveite e passe álcool gel na mão, ou se estiver dentro da sua casa, lave a mão. Evite se contaminar e não fazer a higiene”, orientou. “Em casos excepcionais se apresentar quadro clínico respiratório, febril, deve usar uma máscara para procurar atendimento”, completou. No caso de espirrar, o médico explicou que o ideal é utilizar um lenço descartável, preferencialmente.
Comissão de Saúde da Alego
O presidente da Comissão de Saúde e Promoção Social da Assembleia Legislativa de Goiás (Alego), deputado e médico Gustavo Sebba (PSDB) disse, “considero que o Brasil tem enfrentado bem esse desafio. Ainda não temos casos confirmados, mas as suspeitas estão sendo tratadas com toda a cautela necessária até a hipótese ser descartada em definitivo”, afirmou.
Segundo a Organização Mundial de Saúde (OMS), até o momento, a doença respiratória provocada pelo vírus matou 425 pessoas; existem mais de 20 mil casos relatados na China e 158 casos fora do país. Em Goiás, até o momento da publicação da matéria só possuía casos suspeitos.
Sebba prosseguiu ao afirmar que, “por enquanto, o vírus vem sendo identificado de forma mais efetiva por exclusão, ou seja, primeiro são feitos testes para identificar outros tipos mais comuns de gripe e, se não corresponder, é feita a tentativa de identificar o coronavírus. Até o momento, mais de 20 casos suspeitos foram descartados e cerca de 10 ainda estão sendo acompanhados com maior cuidado”, explicou o parlamentar.
O presidente do colegiado ressaltou que, “esse primeiro momento é fundamental para garantir que o vírus não se alastre, pois a ciência ainda não avançou o suficiente no sentido de identificar os melhores tratamentos”, diz. Sebba prossegue, “porém, já existe um esforço global para encontrar a melhor forma de responder aos sintomas e produzir vacinas eficazes. Tenho fé de que as medidas de contenção serão eficientes e quando o vírus desembarcar por aqui efetivamente já teremos como responder a ele”, pontua.
Mas a falta de um tratamento definitivo não é motivo para assustar a população. Nos países que já enfrentam essa situação de forma mais direta, temos identificado resultados positivos no uso de medicamentos que fortalecem o sistema imunológico, em conjunto com outros remédios que combatem os sintomas da gripe comum.
Comissão
O parlamentar prosseguiu ao ressaltar que, apesar de Goiás receber a quarentena dos brasileiros e familiares que serão repatriados da China, acredito que não gerará riscos a população. Mas é uma situação que merece atenção especial”, afirmou.
De acordo com Sebba, “a Comissão de Saúde está comprometida em acompanhar os procedimentos e cobrar que sejam obedecidos todos os protocolos. Estaremos em contato direto com a Secretaria de Estado de Saúde para termos o máximo de informações possível”, ressaltou.
O presidente do colegiado salientou ainda que “também vamos acompanhar in loco os esforços da Secretaria no sentido de preparar Goiás para uma eventual proliferação do vírus, principalmente garantindo que as cidades do interior recebam estrutura e pessoal qualificado para identificar casos suspeitos e encaminhar os pacientes para um centro mais preparado”, garantiu.
O compromisso da comissão, segundo o deputado, é de contribuir com a promoção de campanhas informativas sobre o coronavírus, para combater o pânico e a desinformação.