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Mulheres no Legislativo

07 de Fevereiro de 2020 às 14:43
Crédito: Denise Xavier
Mulheres no Legislativo
Ex- deputada Gracilene Batista
O projeto Mulheres no Legislativo traz, nessa semana, entrevista com a ex-deputada Gracilene Batista. Ela fala de sua atuação e superação. Relembra a luta enfrentada contra a discriminação racial e fala sobre seu trabalho à frente de Assistência Social.

“Precisamos entender que a nossa condição de mulher não nos desqualifica a alcançar espaços na política e em nenhum outro lugar. Sejamos fortes e corajosas, porque a realidade é difícil mesmo, mas nem por isso vamos abaixar a cabeça e deixar que nos falte a legítima representatividade no meio político e social”.

Eis aqui registradas as palavras de uma mulher que fez da superação sua grande bandeira. Ela já foi feirante, empregada doméstica, vendedora, professora primária, oficial de justiça, secretária municipal, deputada estadual e atualmente é advogada. Estamos falando de Gracilene Batista, suplente, por um ano, durante a 17ª Legislatura da Assembleia Legislativa (Alego). Exerceu seu mandato parlamentar, pelo PTB, na vaga aberta por Henrique Arantes, quando este se licenciou para ser secretário de Estado (ele permanece como deputado na Casa, cumprindo agora seu 3º mandato, agora filiado ao MDB). Hoje, integra o PL Goiás [antigo PR, a legenda tem entre seus quadros a deputada federal Magda Mofatto, que antecedeu Gracilene na Alego, tendo exercido seu mandato durante a 15ª Legislatura].

Por ter sido curta a sua passagem pelo Parlamento goiano (ela assumiu como deputada estadual em 02.01.2013 e retornou à suplência em 01.01.14), Gracilene lamenta não ter podido contribuir mais para o progresso das políticas públicas no estado. Por outro lado, a ex-parlamentar encontra profunda satisfação nas memórias do período em que foi secretária municipal de Assistência Social, em Niquelândia, sua cidade de criação [ela é natural da vizinha Uruaçu]. É dali que ela extrai, com modesto orgulho, as mais notáveis experiências vividas em sua trajetória política. 

O feito se deu na ocasião em que seu marido, Ronan Batista, figurou como prefeito do referido município (2006 a 2012). Gracilene permaneceu, no entanto, no cargo, apenas até o início de 2010, quando assumiu, por nomeação direta do então governador Marconi Perillo, a assessoria especial da Governadoria do estado de Goiás. Também ocupou, posteriormente, a vaga de conselheira da Casego (Companhia de Armazéns e Silos do Estado de Goiás), onde ficou até dezembro de 2012, quando se deu a sua entrada na Alego. 

Filha de pais lavradores e feirantes, a 12ª entrevistada do projeto Mulheres no Legislativo revela, nesta entrevista especialmente concedida à equipe de reportagem da Agência Assembleia de Notícias, histórias memoráveis de um passado de dificuldades e um presente repleto de superações. Vinda do nordeste do estado e tendo enfrentado desde a mais tenra infância as duras lidas impostas por uma vida farta de privações econômicas, Gracilene se destaca, hoje, na história deste Parlamento. 

Primeira e, até o presente momento, única mulher negra a ocupar uma cadeira no Plenário da Alego, ela lembra as dificuldades enfrentadas em decorrência de sua condição racial e de gênero. “A minha base familiar me ajudou muito a ter mais autonomia e autoconfiança. Mas eu passei por diversas situações bastante complicadas, por sinal, como acontece com qualquer mulher negra, em especial, no Brasil. A realidade que enfrentamos é repleta de preconceitos, de todas as formas”, desabafa.

Coerente com a sua trajetória de vida, ela se esmera no seu advogar em favor dos direitos humanos e das causas sociais. “Tudo tem o seu devido contexto. Eu sou mesmo verdadeiramente apaixonada pelo ser humano, em si”, conclui, em certa altura, imediatamente após registrar profundo desacordo com a pauta referente à redução da maioridade penal. A medida visa, em linhas gerais, reduzir de 18 para 16 anos a idade mínima exigida para penalização criminal no Brasil. 

A posição defendida por Gracilene vai de encontro, no entanto, à sua própria orientação partidária, uma vez que a PEC 171/1993, que trata sobre o tema, recebeu a aprovação do Plenário da Câmara Federal com a ampla aceitação da bancada do PR. Inserida na pauta de votações da sessão extraordinária realizada no dia 19 de agosto de 2015, ocasião em que se fizeram presentes 474 dos 513 parlamentares da Casa, a matéria arrebanhou 320 votos favoráveis contra 152 contrários e uma abstenção. 

Do total de votos computados em favor da proposta, 32 manifestações viriam a ser registradas pelos então deputados do PR, a quem a ex-deputada da Alego havia recém se tornado correligionária (Gracilene se filiou à legenda exatamente no ano em que se deu a referida votação). A matéria foi encaminhada à apreciação do Senado Federal, onde aguarda agora a designação de relator junto à Comissão de Constituição, Justiça e Cidadania

Por seu idealismo e profunda empatia com os mais vulneráveis, Gracilene Batista tem, não raro, recebido críticas, que, em alguns casos, advém até mesmo de amigos próximos. Ela conta que, para eles, seus posicionamentos passam, às vezes, por demasiado utópicos. “Não é bem assim. Eu acredito mesmo é que as pessoas acabam se desviando do caminho por algum motivo. E, por isso, podem se tornar até mesmo irrecuperáveis, socialmente falando. No mais, eu parto sempre do princípio de que todos nascemos para ser bons”, defende-se, com o brio que lhe é característico.

Um pouco mais sobre o perfil dessa aguerrida mulher pode ser encontrado nas linhas que se seguem. Na conversa, além de trazer memórias da infância e outros episódios marcantes de sua trajetória pessoal, Gracilene também relembra fatos igualmente memoráveis de sua carreira pública e de suas experiências políticas, o que inclui o breve período em que figurou como deputada na Alego. Na ocasião, ela dividiu o espaço do Plenário com outras três companheiras parlamentares: Adriete Elias, Isaura Lemos e Sônia Chaves. 

Gravada em 5 de novembro passado, a matéria aproveita a data desta divulgação para prestar uma simbólica homenagem à entrevistada e, em seu nome, celebrar conquistas alcançadas pelo povo negro no Brasil e no mundo. Para tanto, apresenta-se aqui importantes acontecimentos inseridos no Calendário Internacional da Cultura Negra, conforme divulgação elaborada pela Fundação Cultural Palmares. Vinculada ao Ministério da Cultura e instituída pela Lei Federal nº 7.668/1988, a entidade se destaca por seu notável trabalho voltado à “preservação dos valores culturais, sociais e econômicos decorrentes da influência negra na formação da sociedade brasileira”.

Dentre alguns dos feitos históricos mais marcantes deste início de mês, o documento lista: os 85 anos do nascimento da antropóloga, filósofa, intelectual e militante da causa negra, a mineira Lélia González  (dia 1º); e os 32 anos da aprovação, pelo Plenário da Assembleia Nacional Constituinte, da emenda, de autoria do então deputado federal Carlos Alberto Caó Oliveira, que estabelecia o racismo como crime inafiançável e imprescritível (dia 2).

Confira agora, na íntegra, os diversos assuntos abordados durante a entrevista com a ex-deputada Gracilene Batista.

Você é natural de Uruaçu, no norte goiano. Como foi sua infância e juventude, no interior? Como era o norte goiano naquela época? E a sua realidade familiar, naquele contexto?

Bem, eu apenas nasci em Uruaçu, porque, na época, Niquelândia não possuía maternidade. Tenho muitos familiares ali, porque minha mãe é de Niquelândia, mas meu pai, de Uruaçu.  Além disso, são cidades bem próximas: apenas 80 km separam uma da outra [a GO-237 é a rodovia que conecta ambas]. Há 40 e poucos anos, Uruaçu era bem mais avançada do que Niquelândia nessa questão de saúde. Hoje, embora Uruaçu ainda continue sendo sede de várias regionais na área, Niquelândia já a superou bastante nesse aspecto, porque tem uma economia mais pujante, graças à força da mineração e do turismo, bem como pela maior facilidade de acesso à capital [Goiânia está conectada à Niquelândia pela BR-414]. Mas acaba, ao final, que uma complementa a outra, em vários sentidos.  

Eu sou a filha mais velha. Tenho uma irmã e um irmão mais novos. Meu pai, que faleceu há 12 anos, era lavrador assim como a minha mãe. Eu vivi até os 10 anos na zona rural e, posteriormente, eu fui morar na cidade de Niquelândia para estudar. Fiquei um bom período morando na casa de familiares, de tios. Oito anos depois, quando minha irmã alcançou idade para estudar também, foi que minha mãe veio para a cidade. Meu pai continuou na zona rural, vindo apenas aos finais de semana nos visitar. Tirou todo o nosso sustento de seu trabalho na terra. Eu guardo maravilhosas recordações da minha infância e juventude. Venho de uma excelente estrutura familiar, embora de origem muito humilde, financeiramente falando. A minha mãe e meu pai eram pessoas de uma sabedoria incrível, algo que, hoje, eu tento transmitir da melhor maneira para o meu filho. Mas eu cresci em condições bem precárias. Sem água encanada… Energia era um sonho muito distante da minha realidade! Mas nem por isso faltou amor. Meu pai era mais rígido e a minha mãe fazia o papel de conciliadora, sempre. Eles me ensinaram muito. Isso eu comento até hoje com a minha mãe: “vocês nos criaram com excessos, porque às vezes a gente fica preso a comportamentos que nos limitam um pouco”. Há situações, por exemplo, em que acabamos demonstrando muita timidez, do tanto que a educação foi rígida. Mas foi uma educação feita sempre com muito amor, nunca com violência.

Foi essa sua base familiar que te trouxe segurança?

Sim, com toda a certeza. Meus pais sempre fizeram o possível para que nós estudássemos, tanto eu quanto os meus irmãos, mesmo naquela precariedade. Isso é algo que foi marcante para nós. Na época, o ensino público na zona rural só ia até a quarta série. Concluída essa etapa, tinha que se mudar para a cidade, porque onde eu morava ficava a cerca de 12 km de lá [se refere à sede do município de Niquelândia]. Era quase uma viagem para se fazer diariamente, e, como não tínhamos carro próprio, dependíamos de carros de vizinhos. Com muita garra e muita luta, meu pai, mais adiante, adquiriu um imóvel na cidade. Tudo para que a gente pudesse concluir nossos estudos [primários e secundários]. A minha família foi, e continua sendo, realmente a minha base. 

Você começou a sua carreira profissional como professora do Ensino Fundamental. Como foi esse processo? 

Eu acabei me casando antes de concluir o ensino médio. Eu tinha 26 anos, na época. Mas depois conclui minha formação básica junto com o curso técnico do Magistério. Depois eu acabei paralisando minha carreira, porque foi a época em que meu filho nasceu [ela já tinha, então,  29 anos]. Naquela época não havia oferta de ensino superior em Niquelândia. A faculdade mais próxima ficava em Goianésia, distante mais de 100 km. E mesmo isso só surgiria anos depois. 

Foi por isso que a sua formação universitária se deu bem mais tarde, aos 41 anos? Como foi encarar uma formação assim tardiamente, digamos? O que a motivava? A senhora atua na área, hoje?

Verdade. A questão é que na época em que abriram a faculdade em Goianésia, meu filho ainda era muito pequeno e eu trabalhava. E eu não quis abrir mão de me fazer presente na vida dele, em momento algum, o que provavelmente teria acontecido se eu fosse cursar uma faculdade, naquela ocasião. Então, eu preferi adiar um pouco esse plano. Mas acabou dando certo. A oportunidade veio, no futuro. Eu acabei cursando Direito, numa instituição particular, o que foi novidade para mim, visto que toda a minha formação básica havia se dado no contexto de escolas públicas. Por isso tudo, eu considero ter sido, sim, privada, por um tempo, do acesso ao nível superior. Até mesmo por conta das dificuldades que se enfrentava ao morar numa cidade do interior, naquela época. Se ainda hoje enfrentamos situações complicadas nesse sentido, daí você imagina… 

E você começou a trabalhar também muito cedo, não é mesmo?

Sim. Desde os meus 14 anos, quando eu comecei trabalhando como doméstica. Posteriormente, eu acabei arrumando um posto no comércio local, onde permaneci por muitos anos. Mas desde quando eu era bem novinha, eu já tinha o hábito de ajudar o meu pai nas feiras, aos domingos. Porque ele também trabalhava como feirante. 

Vocês tinham um pedacinho de terra?

Sim. Meu pai tinha uma terrinha onde plantava e depois colhia para vender nas feiras da cidade. Então, minha vida foi sempre assim, trabalhando. Primeiro, na feira com o meu pai. Depois fiquei um tempo como doméstica, antes de ir parar no comércio. Eu só entrei no serviço público, como professora, em 1996. Depois veio o trabalho no Fórum de Niquelândia, onde fiquei à disposição por oito anos (nessa época eu já era servidora do município). A primeira metade, como oficial de Justiça [ela respondeu também, por certo período, como secretária do Juizado Especial Cível e Criminal da Comarca de Niquelândia].

Então, você foi concursada do município?

Sim, do Executivo e também do Judiciário. Mas neste último eu acabei não finalizando o período de estágio probatório, porque foi quando meu esposo assumiu como prefeito e fui para a prefeitura ajudá-lo. Acabei abrindo mão do concurso, porque me senti nessa obrigação de contribuir com a gestão dele. 

Você é casada com Ronan Batista, ex-prefeito de Niquelândia. Quando e como se conheceram? O seu marido também é natural de Niquelândia? Quando se conheceram, já existiam planos concretos para entrar na política? 

Eu tinha 24 anos quando nós nos conhecemos e já trabalhava como servidora pública. Na época, ele era sócio de uma transportadora. Ainda não era um político, em tese. Mas já mostrava vocação e interesse para ser, porque ele amava a política e estava sempre no meio dos movimentos. Eu não, detestava. Com tempo é que eu fui entendendo do que se tratava exatamente e fui me afeiçoando ao assunto. Porque eu sempre gostei de promover políticas públicas, e não tem como você ajudar a coletividade se não for por meio da política partidária.

Quando foi que começou a enxergar a política como uma possibilidade? Foi após a candidatura do seu marido a prefeito? Que influências ele teve em sua escolha? Houve outras influências? Quais?

Quando eu assumi a Secretaria Municipal de Assistência Social [durante a gestão do marido como prefeito]. Foi aí que eu busquei conhecer, na verdade, o funcionamento do trabalho técnico e me apaixonei pela área social. E, como eu estava dizendo, consequentemente, você acaba entendendo que não há outro meio de se promover um trabalho voltado para a coletividade senão pela política partidária. Na verdade, até tem como, mas é muito complicado e você acaba, direta ou indiretamente, sempre dependendo dela.  

Interessante essa trajetória, porque você vem justamente de uma realidade social mais vulnerável, digamos e trilha um caminho até chegar à Secretaria Municipal de Assistência Social, onde pôde trabalhar em prol de pessoas que tinham a mesma origem que você…

Para mim, isso foi muito importante. Eu diria até essencial. O que, de fato, alimentou a minha vontade foi esse meu desejo de ajudar o próximo, de entender mais sobre as políticas públicas e de compreender como a ação do Estado pode verdadeiramente transformar a vida de pessoas. Sobretudo, por ser capaz de identificar ali justamente onde se encontrava a origem dos problemas, não ficando só na ponta, na superfície. Digo isso, porque às vezes a política pública é promovida de modo a gerar soluções apenas provisórias, mas não atingem as causas reais do problema. Não que isso seja algo feito propositalmente, mas acontece muito.

Você acredita que a trajetória de vida de um indivíduo é o que o sensibiliza e o desperta para esse olhar mais cuidadoso, como o que você demonstra ter para as questões sociais que presencia?

No meu caso, sim. Eu assumi o serviço social num momento de transição no Brasil: momento em que este deixava de ser meramente um favor aos mais necessitados. Inclusive, isso trouxe implicações até para o próprio perfil do que vinha até então a ser a figura da primeira-dama, que foi se transformando para algo mais voltado para um perfil gestor. Hoje, a ideia que se tem de uma Secretaria Municipal de Assistência Social é totalmente diferente: ela se presta a promover políticas públicas para a melhoria da vida das pessoas, porque isso é um direito do cidadão. E é exatamente isso que precisa ser trabalhado, porque, às vezes, você acaba com um trabalho que está tendo resultados satisfatórios, simplesmente porque se encerrou uma determinada gestão. 

Você se refere ao problema da falta de continuidade das políticas públicas?

Exato. Tem que estar sempre se começando tudo da estaca zero. E isso dificulta, no caso, o resgate de famílias que se encontram em situação de vulnerabilidade social, por exemplo. Porque isso não vai resolver o problema de forma definitiva.

Não dá condições de autonomia a elas, a longo prazo, seria isso?

Sim. São ações de efeito apenas paliativo. Mas é claro que temos também muitos casos de sucesso. No entanto, é preciso que o poder público tenha sempre um olhar muito cuidadoso para com essas questões sociais. Inclusive, eu sempre brinco que uma coisa é você tentar ajudar uma pessoa que está precisando, por dever moral, obrigação pessoal ou até mesmo por amor, sem ter nunca vivenciado situação parecida. Outra coisa é você ter vivenciado aquilo. Sua reação será diferente, com toda a certeza. Você vai se movimentar, se esforçar muito mais para encontrar uma solução.

Nesse caso, você acha que há mesmo diferença entre quem tem vivência numa dada realidade e quem está, digamos, alheio a ela? 

Eu vejo que sim. O que, claro, não desqualifica pessoas que venham de outras condições sociais a liderarem esse tipo de trabalho. Mas ela vai precisar se esforçar muito mais para conhecer, para se colocar no lugar do outro.

Você acha que a sua trajetória facilitou o seu trato com o público que atendia na secretaria? Por haver mais identificação, havia mais empatia entre vocês?

A empatia é uma questão realmente delicada. Veja que ontem mesmo, por exemplo, eu vivenciei uma experiência fortíssima, nesse sentido. Eu estava chegando na minha casa e um senhor me abordou. Como eu estava muito distraída no momento, eu levei um susto. E ele disse: “desculpa, eu não vou assaltar a senhora”. Ele queria apenas me fazer um pedido. E eu fiquei com tanta vergonha de ter tido aquela reação! Embora essa seja uma reação compreensível, dada às circunstâncias, eu, ainda assim, fiquei muito envergonhada, porque fiquei pensando como aquela a pessoa se sente diante dela. Eu senti mesmo que foi uma espécie de agressão que eu fiz a ele, ainda que involuntariamente. Por isso, eu acabei pedindo desculpas a ele e ajudei com o que estava pedindo. Mas eu fiquei surpresa com a minha reação, porque senti que não estava sendo eu mesma.

Você se achou muito reativa, no caso, e isso te fez sentir mal em relação a você mesma? 

Sim. Não que eu seja uma pessoa utópica, que pense que todas as pessoas que estão na rua pedindo, estejam realmente precisando. Mas eu entendo que há sempre uma história por trás, de violência, de vício, de dependência. Por isso que eu não concordo com medidas como a questão da redução da maioridade penal, por exemplo. É um tema que me incomoda muito, porque acho que não é por aí que se resolve. Converso sobre isso com amigos, inclusive, e eles dizem que eu vivo no mundo da utopia, porque acredito que todo mundo é bom. Mas não é bem assim. Eu acredito mesmo é que as pessoas acabam se desviando do caminho por algum motivo. E por isso podem se tornar até mesmo irrecuperáveis, socialmente falando. Mas, sim, eu parto sempre do princípio de que todos nascemos para ser bons. Nós mesmos, inclusive, se não estivermos sempre a nos vigiar, dentro das nossas próprias famílias, por exemplo, podemos acabar nos transformando em pessoas incapazes de cumprir bem com o nosso papel. Então, tudo tem o seu devido contexto. Mas voltando à questão social, eu sempre tive muito desejo de fazer uma formação nessa área. Porém, a paixão pelo Direito acabou sobressaindo, até porque eu acho que vou poder ajudar também a partir daí, seja por meio da política ou não. Mas, o fato é que eu sou mesmo verdadeiramente apaixonada pelo serviço social, pelo ser humano, em si. 

Como você mesmo já pontuou aqui, que o trabalho público não depende apenas de paixão, mas também de qualificação técnica. No seu caso, o Direito te ajudou a ter essas condições, mesmo que tenha vindo após a sua estadia enquanto secretária municipal?

Quando eu assumi a pasta da Assistência Social, eu sabia o que eu queria, que era promover um excelente trabalho. Queria atender, ainda que minimamente, todas as demandas do meu município. Demandas essas que eu já conhecia, porque estive sempre, de certa forma, em contato direto com as pessoas. Primeiro, por conta do contexto social do qual eu vinha. Depois pelas experiências reunidas no período em que estive em sala de aula e no fórum. 

Você tinha uma proximidade com as demandas do povo…

Exatamente. E aí me faltava justamente buscar essa qualificação. E foi o que eu fiz. Na época, o Ministério do Desenvolvimento Social estava passando por uma fase de transformação, oferecia muitos cursos de qualificação, e formamos uma boa equipe na Secretaria de Assistência Social. Contratamos profissionais qualificados: assistentes sociais, psicólogos; em suma, uma equipe técnica diversificada. Eu tinha o interesse, a vontade, de me qualificar no quesito gestão e montamos uma equipe multidisciplinar que trouxe também, claro, essa parte técnica, que eu não tinha adquirido até então, porque tinha uma formação mais teórica, apenas. Foi assim que nós realizamos o nosso trabalho. 

E dentro disso vocês desenvolveram vários programas. Quais foram mais importantes? Como cada um deles era constituído e executado?

Olha, nós tínhamos programas que assistiam desde criança, adolescente, à população carcerária, vítima da criminalidade, e o idoso. Isso não foi sendo feito aos poucos. Nós demos continuidade aos atendimentos existentes na secretaria, à época, que eram mais voltados para crianças, e fomos desenvolvendo, em etapas, todas as demais frentes de trabalho. Com a população carcerária, por exemplo, foi um trabalho que já veio no segundo mandato do meu esposo. Nós criamos [na Secretaria da Assistência Social] um departamento com equipe multidisciplinar para atender a população carcerária. Isso era feito através de parceria com outras secretarias - Educação, Saúde, Cultura. E daí surgiu a necessidade, e até o desejo, de também acolher e atender as vítimas de violência. Porque não dá para você trabalhar um aspecto do problema e negligenciar outro. Em parceria com o Governo federal, através do Ministério do Desenvolvimento Social, levamos para Niquelândia o CREAS [Centro de Referência Especializado de Assistência Social]. Demos uma contrapartida do município, uma incrementada, e fizemos o trabalho. É até difícil escolher algum para destacar. Nós tínhamos também um trabalho com adolescentes, o Projovem [o programa, instituído pelo Governo Federal, com fins à reintegração e permanência destes no sistema educacional - Lei nº 11.692/08, é desenvolvido, no caso, pelos municípios a ele aderentes a partir de recursos advindos de Fundos de Assistência Social da União, dos Estados e dos próprios Municípios]. Eu vejo esse programa como se fosse uma isca, porque com ele a gente conseguia diagnosticar o problema dentro de cada família dos adolescentes assistidos, o que possibilitava que os seus familiares também fossem integrados ao atendimento, cada uma de acordo com a sua respectiva demanda. Nós tentávamos fazer um trabalho mais amplo, personalizado, porque trabalhar o indivíduo isoladamente não adianta. Não adianta você trabalhar um adolescente isoladamente. 

E você conseguiu perceber a importância da família nesses contextos? 

Nossa, demais! Tomando por base as minhas próprias experiências, dentro e fora da Secretaria da Assistência Social, eu vejo que a estrutura familiar, independente de sua composição, é crucial na vida de uma pessoa. Porque a pessoa precisa de uma estrutura. É aquilo que eu estava dizendo: não adianta pegar, por exemplo, um adolescente e trabalhar com ele isoladamente, porque ao chegar em casa, ele vai se deparar com o mesmo ambiente, vai ser vítima da mesma violência. É bem amplo. E nós cuidávamos para que isso não acontecesse. Às vezes, acontecia de a gente atender até família que não tinha necessidade nenhuma desse atendimento tão amplo. Mas, em outros casos, você acabava atendendo todos os membros, por problemas variados. Além disso, tínhamos também o programa habitacional, que foi muito importante. Na época, somente para Niquelândia, conseguimos a construção de mais de 200 unidades habitacionais, incluindo o lote. Essa questão da moradia é séria! Até hoje eu vejo que não é um problema somente em Niquelândia. Depois aqui, como deputada, eu pude perceber que ele afeta ainda muitos outros lugares do estado. É, portanto, uma realidade que ainda precisa ser bastante trabalhada. 

Queria retomar um pouco dessa sua trajetória política. Você assume o seu primeiro cargo político como gestora à frente da Secretaria da Assistência Social, durante a gestão de seu marido. Depois, lança a sua candidatura direto ao Parlamento estadual. Não seria mais natural que você tentasse primeiro uma eleição municipal? Em que circunstâncias se deu esse salto? 

Em política você nunca toma uma decisão sozinha. Há sempre um grupo [político], por trás. E nós acabamos tomando essa decisão coletivamente, por uma vontade que não foi apenas minha. Não que eu não tivesse esse interesse, mas ainda o meu maior interesse, de fato, era na política local, mais do que na estadual. Foi conversando com amigos, inclusive, e com deputados aqui da Casa e da Câmara Federal que chegamos nesse consenso sobre a conveniência da minha participação na disputa. Como eu tinha esse interesse [e tenho até hoje] em contribuir, com o meu trabalho, para a melhoria dos serviços públicos, eu acabei aceitando o desafio e, assim, lançando, em 2010, a minha candidatura à vaga de deputada estadual. Na época, meu esposo ainda estava cumprindo seu mandato como prefeito. Foi uma experiência excelente, porque eu fui muito bem votada. Tive mais de 14 mil votos. Mas, por questões de legenda partidária, eu acabei não alcançando a cota exigida naquele momento. Acabei ficando como suplente, até obter a honra de chegar aqui nessa Casa, onde tive o prazer de permanecer por um ano. Depois, eu voltei o olhar para a minha cidade e, em 2016, concorri à Prefeitura de Niquelândia, tendo ficado como segunda colocada. Mas essa oportunidade na Assembleia foi incrível. Não pude fazer tanto quanto eu gostaria, por causa do curto período. Não dava pra elaborar, desenvolver e executar grandes projetos, mas foi muito bom, mesmo assim. Fiz tudo que estava ao meu alcance e, sinceramente, nós tivemos muitas conquistas para a nossa região. 

O norte goiano é uma região que, sabemos, tem muitos contrastes sociais. Se o compararmos com o sul ou o centro do estado, por exemplo, percebemos que há uma menor destinação de recursos para lá. Mas, ainda assim, Niquelândia se torna um município expoente na economia goiana, muito por conta da questão da mineração. Como ficou, ao final, essa representação regional e que resultados julga ter conquistado nesse um ano de mandato? 

Eu vejo um grande potencial no norte goiano. Mas, temos um problema que compromete muito o desenvolvimento na região e ele se esbarra, exatamente, na esfera política. Há excelentes lideranças locais, mas nós temos muita dificuldade em eleger esses candidatos. Poucas pessoas foram eleitas pelo norte. Isso foi um dos fatores que tornou a minha experiência ainda mais significativa e gratificante. Nós vivenciamos, na época, um período de grande desenvolvimento estadual e, por isso, pudemos somar muito com a nossa região. O que mais lamento, no entanto, é o fato de o nosso Hospital Regional ainda não estar funcionando, infelizmente. Ele é um sonho antigo da nossa região. Precisamos muito do Hospital Regional, porque é gritante ter que fazer um familiar seu rodar, por exemplo, mais 300 km para vir à região metropolitana da capital [de Niquelândia à Goiânia são cerca de 420 km] para receber diversos tipos de tratamentos que poderiam já estar sendo ofertados  na região. 

O Hospital Regional começou a ser construído em Uruaçu?

Sim. A estrutura física está  pronta, mas infelizmente ainda não em funcionamento. O nosso sonho é que funcione. [A estimativa é que Hospital Estadual e Maternidade de Uruaçu (Hemu) Maria Pires Perillo, nome oficial da instituição, atenda mais de um milhão de pessoas em 60 municípios do norte do estado; do Vale do São Patrício; e do Sul do Tocantins nas áreas de gineco-obstetrícia; de urologia, proctologia; clínica médica e cirúrgica; ortopedia; traumatologia; cardiologia; gastroenterologia; pneumologia, neurologia clínica e mastologia, além de realização de exames. Nos primeiros meses de gestão, o novo Governo Eetadual, liderado por Ronaldo Caiado/DEM, anunciou que a inauguração efetiva da obra ocorreria apenas no final deste ano. O custo para que o hospital possa finalmente entrar em operação ficou então orçado em R$ 64 milhões].

Foi uma pauta na qual você se empenhou muito? 

Sim, foi uma pauta que me esforcei muito para acelerar, porque realmente significa muito para a nossa região. Nós temos a GO [rodovia estadual nº 237], que estava praticamente intransitável no sentido Niquelândia-Uruaçu. A pavimentação asfáltica existente estava destruída. Graças à nossa luta, conseguimos o recapeamento. Ela está, até hoje, em condições de tráfego, digamos assim. Então eu acabei buscando solucionar problemas emergenciais, que estavam ali para serem resolvidos. Outro exemplo, foi o caso da balsa que ligava Niquelândia a Barro Alto [localizada GO-080, para travessia do Rio Maranhão], que precisava passar por reforma.  Nós fomos atrás, batalhamos, e a Agetop [hoje Goinfra - Agência Goiana de Infraestrutura e Transportes] viabilizou a reforma. Isso foi uma excelente conquista para nós. Conseguimos ainda uma regional da Delegacia Especializada no Atendimento à Mulher para Niquelândia, que eu vejo como uma mega conquista. Infelizmente hoje ela está desativada, já há algum tempo, porque precisava de um contrapartida do município. Mas este vem passando por uma situação econômica bem complicada, desde que uma das mineradoras paralisou seus serviços no local [em 2016, a Votorantim Metais, atual Nexa Resources, suspendeu as atividades de extração de níquel na região, alegando inviabilidade econômica decorrente da queda do valor do produto no mercado internacional]. Isso acabou trazendo uma série de prejuízos, não só no setor público, mas também em todos os outros. A situação gerou um efeito cascata, que culminou na queda da arrecadação do município. Mas, sim, tivemos grandes conquistas, sobretudo no período anterior, quando estava aqui, como deputada na Alego. Foi uma experiência incrível somar forças junto com outros colegas para a representar essa região, que tanto necessita de socorro até hoje. 

Retomando um pouquinho, seu marido foi prefeito por dois mandatos? Durante todo esse tempo você se manteve à frente da Secretaria de Assistência Social? 

É bom explicar. Na verdade foram sete anos de mandato dele. Desses, eu estive cinco à frente da Secretaria Municipal de Assistência Social. Em 2011, eu assumi um cargo no Governo do estado, aqui em Goiânia. Minha função era acompanhar, na Casa de Apoio, as pessoas de Niquelândia que estavam em tratamento de saúde na capital. Era uma maratona. Todas as sextas-feiras, quando saía do trabalho aqui, eu já seguia para Niquelândia para encontrar meu esposo e ajudar no que fosse possível. Nos últimos dois anos do mandato dele, eu estive acompanhando o trabalho e contribuindo dessa forma [mais aos finais de semana].

Você ficou esse tempo como assessora especial do Governo?

Exatamente, porque ali eu vi uma oportunidade ainda maior de poder ajudar o meu município. 

Isso foi antes da sua entrada aqui na Alego?

Sim. Foi entre 2011 e 2012. Eu assumi aqui [na Alego] em 2013.  

Seu marido terminou a gestão como prefeito, pelo PTB, e você se decidiu pela candidatura à deputada estadual, pelo mesmo partido. Esse foi o primeiro partido político ao qual se filiou? 

Sim. Quando meu esposo foi para a prefeitura, eu me desliguei do Fórum de Niquelândia e acabei me filiando à legenda. Mas, naquela época, eu era apenas uma simples contribuinte. O interesse em me candidatar surgiu mais tarde, só lá em 2010. 

E como foi a escolha desse partido? Ela se deu pelo fato de seu marido já ser filiado a ele? 

Não. Eu escolhi o PTB porque já tinha conhecimento da atuação do partido e, naquele momento, era uma legenda que tinha uma atuação forte na região norte. Posteriormente, eu acabei me identificando mais com o PR. Isso já em 2015, depois do meu mandato na Alego. Fui para o PR e assumi a liderança do PR Mulher no estado. Depois o partido mudou para PL, onde estou até hoje, embora não mais como liderança no PL Mulher. Não mudei muito de partido (risos). Não tenho um histórico muito longo de mudanças nesse sentido (risos).   

Como é que foi a sua candidatura dentro do PTB? Que tipo de apoio o partido te ofereceu? 

Olha… é até difícil dizer, porque fiquei muito mais focada no trabalho para o eleitor do que para o partido em si. Tínhamos um grupo muito grande de parceiros no partido e, por isso, recebi um apoio bem natural. Isso foi fundamental para consolidar a minha maturidade partidária. Considero que o apoio foi normal, pois sempre tivemos um relacionamento muito bom com os colegas de partido, o que perdura até hoje, inclusive mesmo com as lideranças do PTB. A questão é que agora tudo está mudando um pouco. 

O partido tem diminuído as lideranças aqui no estado? É isso? 

Exatamente. De 2015 para cá, eu tenho mais ligações com as pessoas do que com o partido em si. Pessoas que eram do quadro e com as quais preservamos um vínculo de amizade até hoje. Mas a nível de estado, não sei como está o partido hoje e não acompanho de perto. 

O fato de ser mulher te trouxe algum benefício ou algum prejuízo na candidatura?

Benefício, nenhum. Não a meu ver. Vivemos numa sociedade machista. O resultado é que nós ainda temos pouquíssimas mulheres à frente de cargos eletivos. Tivemos uma avanço na esfera do Executivo, temos hoje um número maior de prefeitas [no último pleito municipal, de 2016, Goiás elegeu 32 prefeitas, num universo de 246 municípios goianos, o que representa 13% do total], mas aqui no Legislativo estadual somos poucas [na atual Legislatura, há duas, no universo de 41 deputados; o número de mulheres, neste caso, representa menos de 5% do total, ou seja, uma diferença que não chega sequer à metade da representatividade feminina hoje alcançada na esfera dos Poderes Executivos municipais]. Ora, vou dizer mais: para nós estarmos inseridas no mercado de trabalho já é uma guerra! Vocês sabem.  Porque para nós é bem complicado conciliar a vida privada com esse tipo de carreira pública, por conta da própria natureza das atividades que nos foram socialmente atribuídas. Na política não é diferente. Muito pelo contrário: é ainda mais difícil, daí o fato de termos caído tanto [já houve Legislaturas, como a 15ª, por exemplo, que contou com a participação de nove deputadas eleitas]. Agora, com essas novas políticas [de cotas eleitorais e partidárias], pode ser que consigamos alcançar, na prática, nas próximas eleições, mais êxito, com resultados eleitorais mais favoráveis. Mas é complicado, porque o problema não é só a estrutura financeira ou a obrigatoriedade da cota. Não está só ali, o problema é muito mais amplo... 

É uma conta que não fecha. A gente tem um estado no qual a maioria da população é composta por mulheres, a maioria das eleitoras são mulheres, mas as mulheres continuam, ainda assim, sub-representadas. Mesmo com o aumento no número de candidaturas femininas nas últimas eleições estaduais, elas não conseguem se firmar na hora do voto. A que você credita essa situação? 

É muito complexo, porque se trata de uma situação que necessita ainda de muito apoio e atenção para ser revertida. Eu não estou incluída nesse grupo, mas vejo que até o apoio familiar é importante e, na maioria das vezes, falta. O que inclui até mesmo o apoio do próprio companheiro e, sobretudo dele, na maioria dos casos. Não foi o meu caso, particularmente, porque o meu esposo sempre me incentivou muito. Até porque ele tem esse perfil bem mais político e conciliador mesmo. Inclusive, foi ele quem me ajudou a compreender a importância da política partidária, e sou muito grata a ele por isso. Mas considero que isso seja até uma exceção. Já vivenciei, por exemplo, situações em que o próprio eleitorado me abordou para perguntar o porquê de eu ser candidata e não o meu marido. Quando fui candidata a prefeita, nessas últimas eleições, alguns me perguntavam: “Gracilene, por que você quer ser candidata, o seu marido não poderia ser candidato, ele está impossibilitado?” “Não gente [ela respondia], eu é que tenho o interesse”. Então a gente se esbarra muito nessas questões ainda. Eu vejo que há um problema cultural também. É algo muito complexo e que envolve desde o apoio da família, o apoio da sociedade, até o apoio do partido. Em relação a essa última questão, no entanto, há um problema a ser colocado. Das últimas  eleições para cá, com todas as alterações na legislação, nós tivemos muitos partidos vindo atrás de nós, mulheres, e estimulando as nossas candidaturas apenas para que se cumprisse a cota. O apoio, verdadeiramente, eu tenho esperança e muita fé de que nós ainda iremos conquistar, mas atualmente não é o que vejo acontecer, infelizmente. No meu atual ponto de vista, temos ainda muito a avançar, porque hoje só entra [na vida política] a mulher que tem garra, muita força de vontade e que for guerreira mesmo. A política envolve, em geral, situações complicadas em que os homens, entre si, têm muito mais facilidade em lidar. Eu vou arriscar dizer, inclusive, que, em se tratando de temas como a corrupção, por exemplo, as mulheres tendem, a meu ver, a demonstrar mais dignidade e firmeza de caráter em suas ações. Não que isso seja uma regra, que todos os homens sejam corruptos e as mulheres não. Mas eu vejo que essa postura, de forma geral, mais íntegra das mulheres na política também é algo que acaba incomodando. Nossa sociedade precisa avançar muito ainda nesses quesitos. E eu acho que a mudança começa mesmo por nós, mulheres. Precisamos continuar tendo coragem para enfrentar. Não estou querendo dizer que as mulheres são desanimadas. O que estou dizendo é que precisamos nos sentir capazes e entender que a nossa condição de mulher não nos desqualifica a alcançar espaços na política e em nenhum outro lugar. Sejamos fortes e corajosas, porque a realidade é difícil mesmo, mas nem por isso vamos abaixar a cabeça e deixar que nos falte a legítima representatividade no meio político e social. E isso precisa ser fortemente trabalhado, sobretudo no âmbito do nosso Poder Legislativo. Porque eu vejo que no Executivo, o contato com público acaba criando um vínculo maior e a mulher acaba sendo mais encorajada. Mas, no âmbito do Legislativo, falando da nossa realidade aqui de Goiás, e até do Brasil mesmo, é bem complicado. É algo que nós precisamos trabalhar, principalmente nós mulheres mesmo. Não podemos nos deter diante dos obstáculos, que são sobretudo culturais.

Você já falou sobre as dificuldades enfrentadas por sua origem social e por sua condição de mulher. Uma outra questão igualmente marcante, nesse aspecto, diz respeito à sua identidade racial, enquanto mulher negra. Sua história de vida, as dificuldades que enfrentou (e talvez ainda enfrente), parece ser algo bastante comum a realidade de muitas outras mulheres brasileiras, negras e da periferia. O que foi mais difícil superar em toda a sua trajetória? Você chegou a sentir também, na pele, que essa questão da cor ainda é fator de marginalização forte em Goiás, como temos visto ser no Brasil, de forma geral? Fale um pouco para a gente, como foi para você lidar, com todas as essas questões juntas: ser mulher, negra, filha de pais agricultores, fazer política no nordeste de Goiás.

Vou começar a responder essa pergunta voltando àquela ideia que vínhamos conversando agora há pouco sobre a questão da família, da minha base familiar, que me ajudou muito a ter mais autonomia e autoconfiança. Mas eu passei por diversas situações, bastante complicadas, por sinal, como acontece com qualquer mulher negra, em especial, no Brasil. A realidade que enfrentamos é repleta de preconceitos, de todas as formas.

Mesmo você tendo ocupado um cargo de gestão?

Claro! Pode ser até ignorância da minha parte, mas eu vejo que a mulher negra sofre ainda mais preconceito que o homem negro, porque acaba configurando, justamente, uma dupla situação de opressão. É uma realidade que não dá para fugir e precisa ser trabalhada. Eu vejo que a mulher em geral e também a negra, em particular, já conquistaram muitos espaços aqui em Goiás. Eu já passei por vários movimentos sociais aqui no estado que me ajudaram e me direcionaram muito, inclusive para que eu pudesse ajudar outras mulheres nesse trabalho de resgate, mas é sempre uma situação muito complicada, a gente nota.

E como você costuma se posicionar diante dessas situações de preconceito?

Sempre com a máxima serenidade possível, mas também com muita firmeza. Eu busco sempre mostrar para as pessoas que o racismo, além de ser crime, é algo doentio e abominável. Enquanto secretária da Assistência Social, eu estive, na época, ali entre 2008 e 2009, acompanhando um trabalho muito interessante em Cavalcante, voltado para a promoção da igualdade racial [o município, que também faz parte do nordeste goiano, abriga as mais conhecidas e populosas comunidades do Sítio Histórico e Patrimônio Cultural Kalunga - maior território de remanescentes quilombolas do país]. Era um projeto que envolvia muitas parcerias, inclusive com o Governo federal, e que eu fui conhecer, junto com a minha equipe. Depois nós acabamos levando esse modelo de trabalho para o nosso município, promovendo palestras e outras ações que trabalhavam desde a autoestima, principalmente da mulher, até a conscientização da sociedade sobre esse fato do racismo ser crime. Levamos, inclusive, delegados para promover essas palestras sobre a criminalização da prática de racismo. Mas é um trabalho que precisa ser constante, para que surta, a longo prazo, um efeito mais significativo. De qualquer forma, mesmo hoje, a gente já consegue perceber alguns resultados positivos. As mulheres estão mais empoderadas, por exemplo, que é algo que vem de dentro para fora, mas que acaba tendo reflexos na realidade social cotidiana. E, à medida que a mulher vai alcançando, gradativamente, mais espaço dentro da sociedade, ela vai passando também a ter mais condições de ir promovendo, por conta própria, esse trabalho. Mas, por enquanto, eu vejo que ainda estamos longe de ter conquistas mais impactantes nesse sentido, o que vemos são alguns avanços. 

Se, por um lado, você se depara com essas situações que tentam te jogar para baixo, digamos, que é o fato de ser mulher e ser negra, por outro há muito do que se orgulhar em sua trajetória de alguém que  realmente se empodera e consegue transpor as barreiras culturais e sociais que foram, inicialmente, impostas e que ainda o são em vários aspectos. Para quem ouve a sua história, a sensação é de que, de fato, há uma vitória nítida em sua travessia pela vida. Algo, portanto, de que muito se orgulhar...

Sim, isso é fato. 

Como é para você olhar para trás agora e ver todas essas dificuldades vencidas? Você sente que pode ser uma espécie de exemplo para outras mulheres que partilham de uma história parecida com a sua?

Sinto que sim. Principalmente por toda a dificuldade vivida em relação às oportunidades de acesso ao conhecimento. Eu reconheço, sim, claro, que haja aí uma trajetória, de fato, de muita superação e conquista, sem dúvida. É algo de que a gente tem que se lembrar o tempo todo, porque ainda hoje, mesmo sendo advogada, se eu não estiver muito atenta, estou sujeita a ser vítima de discriminação numa audiência no fórum, por exemplo. Mas isso é algo que hoje, com mais autonomia, eu não permito mesmo! Eu estou aqui citando o meu caso, mas com a certeza absoluta de que toda mulher, em geral, e a negra, em particular, é potencialmente vítima de situações discriminatórias semelhantes a essa que mencionei. O que acho mais importante destacar em minha trajetória é que embora tenha encontrado muitas dificuldades, elas não me impossibilitaram de ter as minhas conquistas. E lembrar que sempre será necessário ter cuidado, porque isso não é algo que passa ou que fica no passado da mulher negra. É uma situação que eu tenho consciência de que vou ter que lidar com ela para o resto da vida.

Podemos defender, nesse caso, que a questão da discriminação estrutural, uma vez historicamente arraigada em nossa cultura, estaria contribuindo para a perpetuação tanto do machismo quanto do racismo na atualidade?

Sim, infelizmente é esse o meu ponto de vista. Como mulher negra, eu percebo que essa é uma realidade difícil de ser superada. Pode ser superada do ponto de vista individual, digamos, ou psicologicamente falando, como o que considero ter acontecido no meu caso, que consigo lidar com essa questão com mais tranquilidade. Mas não dá para pensar que essa questão da discriminação tenha ficado no passado. Tem que se aprender a lidar com o preconceito racial, que está ainda muito presente em nossa sociedade atual. Vejo o caso do meu filho, por exemplo, que é negro e já se mostra bem preparado para acolher, para cuidar, para zelar de sua identidade racial e dos outros iguais a ele. É uma realidade que não pode ser esquecida, e eu acho bacana de ser abordada.

Inclusive porque você é a única deputada mulher negra que já passou por essa Casa. Isso nos faz perceber que, se a representatividade feminina é baixa, a feminina e negra é pior ainda, infelizmente. Você já tinha pensado sobre isso?

Pois é. Muito baixa mesmo essa representatividade, quase nula, estatisticamente falando (riso nervoso).

E você disse que suas referências justamente estariam, em grande parte, associadas a mulheres de sua família. Você falou da sua mãe, mas parece que a sua avó também foi um exemplo marcante, certo? Que outras influências como essas você poderia destacar?

Eu tenho histórias de três mulheres brilhantes em minha vida. A minha mãe e as minhas duas avós. A materna, que se chama Benedita, está viva até hoje, agora com 102 anos (completados em 5 de outubro passado), mas já um pouquinho debilitada. Tanto ela quanto a minha mãe são mulheres negras. E há também a minha avó paterna, que faleceu aos 94 e era branca, mas que foi uma mulher muito forte. A determinação e a força de cada uma delas e os conselhos dados no decorrer da vida (sobretudo os de minha avó paterna, neste último caso) eu não tenho condições sequer de dimensionar o que significam para mim até hoje. Falando ainda especificamente da minha avó paterna, por exemplo, ela, que morou a maior parte da sua vida na zona rural do município de Niquelândia, teve a coragem de pegar os dois filhos mais novos, que ainda estavam, na época, sobre a responsabilidade dela (visto que os outros já eram casados) e se mudar para Uruaçu, fugindo das dificuldades que ela vivia em seu matrimônio. Ela fez isso também porque, na visão dela, era uma cidade onde os meninos teriam mais possibilidades de estudar, de crescer. Cito esses exemplos para vocês compreenderem o quanto elas significam para mim, nessa questão da autonomia, da vontade de ir atrás, ir à luta, mesmo com pouco conhecimento. Isso se tornou parte da minha consciência. Mesmo depois de adulta, já trabalhando no comércio, das 7 às 18 horas, com apenas uma hora de intervalo de almoço, a minha mãe, por exemplo, estava sempre ali me impulsionando a estudar. Eu passava em casa correndo, após o expediente, só para tomar banho e ir para a escola. Isso se dava num curto intervalo de tempo, que ia das 18 às 19 horas. Jantar, àquela hora, é óbvio: nem pensar! E a minha mãe ali, firme, nos dando força para continuar a luta sem abandonar os estudos. "Nós somos pobres, vocês precisam estudar. É o conhecimento que vai te ajudar", dizia ela. Minha mãe, uma pessoa humilde como ela era, tinha baixa escolaridade, mas reconhecia o valor do estudo para a melhoria da vida das pessoas, sobretudo daquelas que se encontravam na mesma condição social que a nossa. E as minhas avós contribuíam com toda história de vida delas. A minha avó materna ficou viúva muito cedo e criou todos filhos dela sozinha, com muita luta, muita garra, e, em momento nenhum, abaixou a cabeça. Se eu hoje estou me queixando de discriminação racial, imaginem vocês o que essa minha avó viveu, há 80 anos, como mulher negra e analfabeta! É por tudo isso que tenho essas três mulheres como exemplos muito fortes de vida. Foram elas que fizeram com que eu chegasse aonde eu cheguei e com a segurança de que eu sou capaz de alcançar muito mais.  

Como você vê hoje essas políticas que, por vezes, acabam por desvalorizar, de alguma forma, a Educação, com corte de verbas, atrasos e redução dos salários dos professores, dentre outras situações?

Isso tudo é, aos meus olhos, muito desesperador. A título de exemplo, eu levei, recentemente, o meu filho, João Pedro, de 17 anos, para fazer a prova do Enem como treineiro, e ao chegarmos, eu e meu marido, na porta do prédio para deixá-lo, nós encontramos um menino, ainda mais jovem, de 15 anos, que comentou conosco: "eu estou aqui fazendo o ENEM como treineiro porque eu preciso passar. Eu quero fazer Educação Física e os meus pais não tem condições de pagar uma faculdade para mim". Isso é muito sério. É muito comum a gente ouvir de todos por aí que a Educação é a base da sociedade. E de fato é. Eu sou um exemplo disso. Eu paralisei os estudos por anos da minha vida, justamente por ter acesso ao ensino superior. Niquelândia é uma cidade média, potencialmente, pelo seu tamanho e população, mas que, na minha época, não havia ali uma faculdade sequer. É necessário que as políticas públicas priorizem a Educação, assim como é necessário priorizar a Saúde. Mas Educação é ainda mais importante, porque tem esse potencial transformador, que se torna ainda maior quando aliada à área social. Quando falo isso, estou pensando na questão do resgate do adolescente, que se encontra na condição de menor infrator. Nós precisamos despertar o interesse dos nossos governantes para que entendam que essas crianças estão em fase de recuperação e que precisam, portanto, do estudo. 

Para que esse processo de recuperação, seja de fato socioeducativo e não fique apenas em medidas punitivas, a menores que já foram, de alguma forma, em sua maioria, punidos pela falta de oportunidade, é isso?

Sim. Se ficamos só no âmbito punitivo, o que torna especial o tratamento dado ao menor em conflito com a lei? Nada! Eles estão todos em presídios! É por isso que não se está resolvendo o problema e nem se vai resolver, se continuarmos insistindo nesse modelo. Eu sei que a situação toda envolve problemas muito difíceis de resolver, mas, em todos os casos, algo que me parece imprescindível, no Brasil como um todo, é a prioridade com a Educação. E não se trata de investir somente nas séries iniciais ou apenas na educação básica, que envolve os ensinos fundamental e médio. Mas também em políticas públicas para para o ensino  superior. Porque se um indivíduo, que vem de uma família em situação de vulnerabilidade social, consegue se formar, alcançar o nível superior, a chance dele transformar as próximas gerações, impactando positivamente o futuro do restante da família, é enorme! É assim que se transforma um país. Enquanto nós, sociedade, junto com os nossos governantes e legisladores não tivermos essa visão mais ampla e trabalharmos a partir dela, vamos continuar vivendo essa realidade extremamente difícil. A política econômica é necessária, sim. Mas esse trabalho de serviço social e educação é vital. Nós não vamos transformar a nossa sociedade se não for pelo caminho da Educação. É impossível!

E como foi conciliar o papel de mãe e esposa na política? 

Não foi fácil, porque a minha prioridade sempre foi o meu filho. Eu me desdobrava. Às vezes ficava sem almoço… Quando eu assumi como deputada estadual, eu trouxe o João para morar aqui [em Goiânia] comigo. Quando estava em Niquelândia, na Secretaria da Assistência Social, o trabalho exigia muito de mim, mas a minha prioridade, como disse e reafirmo, sempre foi o meu filho. Isso também não significa que abria mão do meu trabalho. Muito pelo contrário. Abria mão de uma refeição, de um soninho depois do almoço. Sempre tive muito zelo e muito cuidado como mãe, como esposa, como dona de casa... De certas coisas não dá para se abrir mão. Não adianta você cuidar do mundo, cuidar das pessoas lá fora e deixar sua família sem assistência. Não falo de assistência financeira, mas de afeto e de presença. É importante demais a presença dos pais na vida dos filhos. E o tempo dedicado não precisa ser tanto, mas precisa ter qualidade. Precisa ser o suficiente para que você consiga, naquele momento, expressar o seu amor, carinho, cuidado e zelo. 

Você veio para Alego como suplente do deputado Henrique Arantes, que se licenciou por um ano para ser secretário de estado. Como foi esse tempo em que você esteve aqui como parlamentar? Como era a sua relação com os colegas de Parlamento? Você se sentiu bem acolhida? Com quais bandeiras você mais se identificou? Qual foi o seu foco? Gostaria  que você falasse um pouco dessa atuação. 

Eu fui muito bem acolhida e recebida aqui nesta Casa. Foi muito bom, excelente mesmo, o período em que aqui estive. Eu era da base do Governo [em 2013, Marconi Perillo exercia o terceiro dos quatro mandatos que teve enquanto Governador do estado de Goiás], mas tive ótimo relacionamento também com os deputados da oposição. Voltando para a questão da realização do trabalho, tem um projeto que eu gostaria de citar, de modo especial, porque acompanhei desde o início, desde quando vim para Goiânia, em 2011, e fui trabalhar no Governo do estado. Trata-se de trabalho desenvolvido junto à Superintendência da Juventude: o projeto da criação do Passe Livre Estudantil (PLE), que eu havia acompanhado todo o processo de levantamento, todo o estudo, todo o empenho para a implantação dessa política pública estadual, em todas as instâncias e que resultou de eu ter sido designada, aqui na Alego, a relatora do projeto. Isso, para mim, é motivo de muito orgulho, por ser, a meu ver, um programa que acrescenta muito ao nosso estado [o PLE foi instituído, em 2012, pela Lei estadual nº 17.685 e regulamentado pelo Decreto nº 7.911/13. [Em 2013, ano que Gracilene exerceu seu mandato, tramitaram na Alego dois projeto sobre o tema, ambos propondo alterações à lei em questão. O primeiro, de nº 2505/13, era de autoria da Governadoria. O segundo, nº 4250/13, do deputado Fabio de Souza]. 

Você foi relatora aqui na Comissão de Educação? 

Isso. E foi muito bom e edificante para mim ter participado desse projeto desde o início. Fico feliz, sobretudo porque isso acrescentou muito na vida de alguns jovens estudantes. Muito embora, como já dito, minha prioridade tenha sido os projetos emergenciais da minha região. Devido ao curto espaço de tempo, lamento não ter tido condições de desenvolver outros projetos, de caráter mais estrutural. Mas, mesmo assim, neste caso, fico particularmente feliz de ter tido algumas conquistas como, por exemplo, o caso da Delegacia Especializada de Atendimento à Mulher [Deam], que era uma necessidade gritante em Niquelândia, e o município estava, a priori, fora da lista dos que seriam contemplados na ocasião. E, com muita luta, nós acabamos conseguindo levar esse atendimento para lá. Essa delegacia, enquanto esteve em funcionamento, nos trouxe resultados muito positivos. Acabei mesmo focando muito nas soluções urgentes para o município, porque percebi que não teria tempo hábil para pensar em projetos e desenvolver políticas públicas como eu gostaria, não tive essa oportunidade.

Além da Comissão de Educação, você participou também da Comissão da Criança e do Adolescente, certo? 

Sim, mas como suplente.  

Você já sabia que iria ficar só um ano no Parlamento? 

Sabia, inclusive porque, naquela época, o deputado Hildo do Candango era o suplente anterior do Henrique Arantes [Gracilene era 5ª nessa lista de suplência]. Ele saiu para assumir a Prefeitura de Águas Lindas e eu entrei. Arantes estava como titular da Secretaria da Cidadania [desde 2011] e já demonstrava interesse em construir uma carreira política no estado. Por certo que voltaria. Ele estava na sua primeira eleição e teria que sair da pasta, no ano seguinte, para poder se recandidatar. Entrei ciente disso tudo já. Por isso tentamos cuidar das demandas emergenciais da cidade. 

E como foi o seu relacionamento com as deputadas aqui, na época?

Nossa, foi maravilhoso! A Isaura é queridíssima e a Sônia também. O relacionamento com elas foi excelente. Nós participamos, juntas, de todos os movimentos que aconteceram, na época, em prol da mulher. A Isaura era de uma base diferente, não era da base do Governo, mas isso não foi uma barreira para termos um bom relacionamento. Fui muito bem acolhida aqui na Casa. Muito bem recebida por todos os colegas. Tenho um carinho imenso pela equipe toda de gabinete e da Alego também.

Você chegou a apresentar um projeto da Semana Estadual de Prevenção e Combate à Violência contra a Mulher. Como é que foi esse projeto? Como surgiu a idéia? Foi discutido em Plenário? 

Olha, me lembro que promovemos um evento na Câmara Municipal e aqui na Casa também, com palestras, mas de memória não me lembro de todas as ações. Só sei que eram pautadas na questão da conscientização e tinham, portanto, um foco mais educativo.

O que você acredita que muda quando a mulher participa da política? 

Acho que, de uma forma geral, a mulher tem uma visão mais ampla. Ela olha com mais particularidade, tem uma percepção maior das coisas, uma sensibilidade maior. Eu acho que esses sejam, na política, os principais diferenciais da mulher. Isso me parece especialmente relevante no contexto atual, em que o cenário político carece de credibilidade. A mulher tem um olhar mais afinado, detalhado e cuidadoso. 

Durante o seu mandato você enfrentou algum problema pelo simples fato de ser mulher? 

No mandato não, mas durante a campanha eleitoral, sim. Foram pequenos gestos de assédio. Acho que o fato de haver um número muito pequeno de mulheres nessas condições, acabamos sendo alvo de muitas conversinhas. Por outro lado, recebi também muito cuidado, muito zelo, muita proteção de alguns colegas. Aqui na Casa, especificamente, não tive nenhum problema. Mas, lá fora, especialmente, nas campanhas eleitorais, foram inúmeros. 

Falando um pouco da sua atuação como assessora especial do Governo Marconi, cargo que assumiu antes de entrar aqui. Você acha que esse trabalho te ajudou depois da sua entrada nesta Casa, que estreitando as relações entre o Executivo e o Legislativo? 

Sim, ajudou com certeza. Como eu entrei no início do Governo, quando os projetos chegavam aqui, eu já reconhecia a essência de muitos deles, sabia do que se tratavam. Para mim, facilitou demais os momentos de apreciação e votação. Foi muito importante até para a minha região, porque eu já sabia dos projetos em andamento que estavam destinados ao norte do estado. Isso possibilitou, inclusive, que eu mantivesse o foco em questões emergenciais. Incluindo mesmo, às vezes, um projeto que não contemplava a minha região, mas que eu sabia ser interessante para Niquelândia. E acabava conseguindo inserir o município ali. Vide a questão da delegacia da mulher. Então foi importantíssimo. Aliás, foi excelente a sua pergunta para gente poder abordar isso. 

Depois do seu mandato você assumiu quais outras funções públicas?

Eu continuei um tempo no Governo do estado, em 2014. Posteriormente, voltei para Niquelândia, para me candidatar às eleições municipais de 2016.  No início de 2017, fui para o Tribunal de Contas dos Municípios, onde trabalho até hoje como assessora jurídica. Mas continuo advogando também, visto que não tenho nenhum impedimento quanto a isso. 

E as eleições municipais deste ano de 2020, vai concorrer?

Tenho conversado com os amigos e ainda não temos nada definido. Mas essa não é uma decisão minha, visto que temos um grupo político e essa decisão precisa partir do grupo. Eu tenho interesse, mas isso precisa ser conversado, trabalhado, decidido com as nossas lideranças. 

E voltar ao Parlamento?

Não por agora. Meu interesse seria mais lá no meu município mesmo. Niquelândia está passando por um momento muito complicado e acho que lá eu posso somar mais.

Em se tratando, especificamente, da representatividade feminina no contexto regional, aqui na Alego tivemos, da região norte, além de você, algumas outras deputadas, como a Vanusa Valadares, de Porangatu. Eliane Pinheiro, que, embora seja daqui de Goiânia, conquistou, em Uruaçu, uma base política importante. Dentre as pioneiras, tivemos Ana Braga, que era de Peixes-TO (antes GO), e Almerinda Arantes de Posse-GO. Tudo apontava para a construção de uma certa tradição, que foi sendo quebrada. Tem alguma figura feminina que se destaque hoje e poderia ser um nome importante para dar continuidade a essa representatividade aqui no Parlamento estadual?

Nós temos muito potencial. Mas acaba que, não sei dimensionar exatamente por quais razões, mulheres com potencial de serem deputadas ficam, geralmente, mais voltadas às necessidades do município. Talvez por verem a urgência na sua cidade e tentarem intervir de forma mais imediata para melhorar. Com isso, você acaba ficando meio restrita às ações mais locais. Mas nós temos grandes mulheres, sim, com totais condições de se candidatarem. Com potencial político, e de conhecimento também, para exercer essa representatividade e fazer um excelente trabalho. Embora não tenhamos muitas mulheres trabalhando para isso, pelo menos, não que eu veja [segundo estudo divulgado, por essa Casa de Leis, em números absolutos, o pleito de 2018, em Goiás, contou com 248 candidaturas femininas contra 549 masculinas para o cargo de deputado estadual, ou seja, as mulheres somaram mais de 30% do total; em 1990, elas representavam pouco mais de 5%, apenas]. 

Então elas estão mais voltadas para fazer esse trabalho de base nos municípios? 

Sim. Acho que tem a ver com essas dificuldades que os municípios estão atravessando. Isso acaba despertando muito o nosso olhar para a política local.

E quais são hoje as principais demandas dos municípios, a seu ver? Se você voltar para o Parlamento, quais bandeiras e pautas você levantaria em prol da região norte? Quais problemas você buscaria solucionar? 

Precisamos de um fortalecimento voltado para a Educação e precisamos batalhar pelo funcionamento do Hospital Regional. Essa última pauta, inclusive, é extremamente importante. E, há ainda a questão da segurança pública. Vou citar um exemplo para vocês. Falamos agora há pouco da Educação. Eu sempre defendo essa pauta, não só por se referir à minha cidade. Niquelândia é o maior município em extensão territorial do estado [com área total de quase 10 mil quilômetros quadrados] e precisamos de uma ajuda assim, urgente, para a área da Educação, porque o transporte dos alunos para a cidade onera demais a administração. Essa é uma situação que me preocupa demais. Eu entendo a atuação do estado, mas uma parte ainda muito pesada fica a cargo do município. Vejo que esse socorro para a Educação de Niquelândia é uma demanda gritante. Fora isso, temos uma dificuldade muito grande de escoar a nossa produção, devido à falta da manutenção das estradas. Todas estão em péssimas condições. Os produtores têm essa dificuldade e o estado precisa cumprir com seu papel e fornecer a manutenção adequada. Sozinho, o município não consegue fazer tudo. O estado precisa dar todo incentivo ao desenvolvimento. Já no caso de Uruaçu, a condição geográfica ajuda um pouco mais. Aliás, um pouco não, muito. Assim como acontece com outros municípios vizinhos. Campinorte, Porangatu e Alto Horizonte são municípios que acabam tendo esse privilégio. Mas ali em Niquelândia, e até mesmo em Colinas do Sul, que está já saindo um pouco da região, essas precisam de um olhar urgente por parte do estado, porque estão chegando nessa situação em que o município, sozinho, não consegue arcar com as suas demandas.

Você acha que houve uma evolução com relação a esse cuidado do estado para com a sua região, nesses últimos anos? 

Não, de jeito nenhum, ainda que tenhamos alguns colegas aqui na política estadual. Mas isso não é por falta de atuação deles. É porque é necessário uma atuação diferenciada. A nossa região soma muito para o estado, mas recebe muito pouco em troca [estudo divulgado em 2005 pelo Instituto Mauro Borges já destacava o potencial econômico de Niquelândia ao inseri-la entre os 15 municípios mais competitivos do erstado, por suas riquezas minerais e belezas naturais]. Esse é o meu ponto vista. Acho que é uma região que não tem recebido a atenção merecida do estado. É preciso melhorar isso.

E quanto ao legado das mulheres que passaram pelo Parlamento goiano, você acredita que elas tenham deixado um legado importante para história de Goiás? 

Claro que sim. Cada uma dentro da sua atuação. Cada uma dentro da sua região. Vou citar um exemplo de uma pessoa cujo o trabalho acompanhei de perto, não apenas no ano em que eu estive como deputada, mas também nos anos subsequentes, que é a Sônia Chaves  [atual prefeita de Novo Gama, pelo PSDB]. Ela tanto fez um bom trabalho, que hoje é prefeita do município de onde ela veio. E isso, no meu ponto de vista, é o reflexo da bela atuação dela aqui. Estou citando o nome dela como exemplo, porque a cidade dela é um município enorme. Não tenho acompanhado o trabalho dela como prefeita, mas sei que como a atuação dela aqui foi excelente, não deve estar sendo diferente lá. Eu vejo, sim, que a mulher contribui e muito. No momento em que eu estive aqui, pude contemplar de perto esse olhar diferenciado da mulher, ali durante as defesas, durante as avaliações e votações dos projetos. Por isso, é preciso, sim, aumentar esse número de representantes femininas.

Embora a representatividade seja o pilar da nossa democracia, na realidade, temos ainda hoje um cenário político que é pouco representativo do ponto de vista de gênero, racial e de classe social. Na tentativa de melhorar essa questão da representatividade feminina, especificamente, há um projeto em tramitação no Senado que visa destinar às mulheres cotas de 30% das cadeiras dos Parlamentos, em todas as esferas (federal, estadual e municipal). Você acha que essa é uma medida que pode ser eficiente, para a pauta em questão? Em sua opinião, que outra(s) medida(s) poderia(m) servir para atenuar essa sub-representatividade, não só da mulher, mas também de outras minorias sociais? 

Em relação às cotas, eu vejo que esse é um tipo de lei que ainda carece de mecanismos para que possa, de fato, ser exercida na prática. A cota é importante? É. Mas, no nosso contexto, nem sei se essa cota representou muito, porque a maior parte delas começou a ser preenchida de maneira muito desvirtuada. Na verdade, enquanto não houver uma mudança radical dentro dos partidos, que implique em novas posturas por parte dos seus dirigentes, a medida continuará a não produzir o efeito desejado.  O que precisamos, de fato, são de ações que reflitam um apoio verdadeiro, não apenas para cumprir a legislação, mas para incentivar a mulher filiada ao partido a promover um trabalho decente. Isso passa também por mudarmos, muitas vezes, a nossa própria concepção. Não posso permitir que usem o nosso nome apenas. Não podemos permitir que sejamos usadas como laranjas! Como mulheres, nós precisamos nos impor e reconhecer o nosso papel perante a sociedade. Ao ser candidata, eu mereço ter os meus direitos garantidos dentro do partido. Vocês me perguntaram, antes, que tipo de apoio partidário eu recebi em minha trajetória como candidata.  Só agora eu compreendi exatamente a que vocês se referiam com essa pergunta. Eu não quero ter privilégios, obviamente que não. Eu quero ter os mesmos direitos. Eu tinha um grupo político que me apoiou, mas o partido em si… Infelizmente, essa é uma realidade nossa. Essas ações afirmativas começam de nós, mulheres, passando por toda a sociedade, que precisa aprender a nos incentivar mais, incluindo as nossas mães, irmãs e amigas. A mulher precisa se conscientizar do seu papel na sociedade, do quão importante é a sua participação na vida política. Porque, quando vem um projeto de lei como esse, que você mencionou, que defende os direitos da mulher, essa mulher vai colocar a sua experiência em prol desse projeto. A importância de se garantir a representatividade é muito grande. Para isso, precisamos ter consciência inclusive na hora de avaliar e escolher as nossas candidatas. Eu chamaria ainda atenção sobre a importância de tentar se priorizar as candidaturas femininas, dando mais votos de confianças às mulheres. Mas isso, obviamente, somente se houver alguma dentro de um perfil com o qual eu concordo, porque eu também não votar em alguém com quem eu não concordo apenas porque é mulher. Mas eu vou dar esse voto de confiança a elas primeiro. Por isso, eu defendo que não basta apenas os dirigentes do partido mudarem o comportamento. Isso é algo muito mais amplo. É bem complexo.

Essa é uma questão que demanda mais tempo, pois temos que mudar uma certa consciência que já está estabelecida. Mas, essas ações afirmativas, políticas de cotas servem mais mesmo como medidas emergenciais, colocadas no sentido de se tentar corrigir, de forma mais rápida, digamos, um problema que já está posto. E para que, assim, possamos avançar, de alguma forma. Para você, um projeto como o que estávamos falando, que institui cotas nos Parlamentos, pode realmente significar um avanço em algum sentido? 

Sim. Acho que esse projeto é importantíssimo, porque cobra um resultado, que vai estar, de alguma forma, trabalhando na essência do problema. O estado tem muito para avançar nessa questão das candidaturas femininas. Nós tivemos uma regressão e precisamos melhorar esse índice de mulheres no Parlamento [estadual]. Não podemos permanecer com essa imagem de um estado onde as mulheres têm a pior representatividade. Como já dito, em relação à quantidade de prefeitas, já temos um número bem maior. E essas estatísticas talvez até tenham alguma relação entre si. Porque pode ser que, por alguma razão, as mulheres estejam preferindo candidaturas mais voltadas para o Executivo. Inclusive, muitas são as deputadas que estiveram por aqui e acabaram voltando ao seu município e se candidatando, como aconteceu com o exemplo da Sônia, conforme já mencionado.  

Mas os partidos costumam debater, internamente, essa questão da representatividade feminina?

Eu não consigo vislumbrar essa possibilidade do partido promover debates com a preocupação da inclusão da mulher, visto que até então essa não parece ser uma prioridade. 

Mas esse debate não seria interessante também para os homens, visto que, ter uma mulher forte nos quadros do partido, também seja um fator de fortalecimento da legenda? 

Com total certeza. Quando eu falo que o partido não promove essa discussão, falo em tom de crítica mesmo, porque realmente não há essa noção. Embora eu não acredite que apenas essa ação do partido vá resolver o problema em sua essência... Porque eu acho que nós mulheres também temos que ter essa consciência da importância do nosso papel na política como um todo. Hoje, eu digo, não há essa preocupação do partido, porque, se levarmos em consideração os diretórios, veremos que poucas mulheres fazem parte deles ativamente. Às vezes elas até ficam ali, ocupando um ou outro cargo, mas não se destacam, não ocupam lugares de relevância dentro do partido. Nós, mulheres, também precisamos chamar essa responsabilidade para nós mesmas e trabalhar essa realidade, unindo forças para que possamos ter avanços. Eu vejo que o apoio, o incentivo dos amigos, dos familiares e, principalmente, do companheiro é muito importante. Eu diria até mesmo crucial para as mulheres, nas atuais circunstâncias. Como você vai pleitear uma vaga sem que tenha o apoio em casa? Você não consegue. Cria-se uma dificuldade enorme, uma barreira muito grande. Isso nos traz de volta à questão cultural, ao machismo [estrutural]. Sabemos que já avançamos, mas precisamos avançar muito mais. Não dá para deixar de abrir esse parênteses, mesmo considerando os possíveis avanços alcançados nas últimas décadas.  

Você diria que o protagonismo, a autoconfiança da mulher ainda é algo que faz com que certos homens se sintam, de alguma forma, ameaçados?

Nessa nossa sociedade machista, com certeza. Até porque essa questão do poder mexe muito com a cabeça dos homens. Em alguns casos, infelizmente, a gente percebe que eles se sentem fragilizados, enfraquecidos, e, ao invés de ver a capacidade de liderança de algumas mulheres como uma oportunidade de parceria, acabam por se sentirem ameaçados... Acredito que venha daí a grande dificuldade de se solucionar essa questão.

Que mensagem você deixaria de incentivo para outras mulheres e, especialmente, para as tantas mulheres negras goianas para que elas possam participar mais da política em nosso estado? 

Primeiro, eu diria que é necessário as mulheres entenderem a importância do seu papel na sociedade. Toda mulher, mãe ou não, tem um papel importantíssimo na família, seja como filha, mãe, neta... E ela tem que compreender que isso pode ser muito mais amplo. Aqui, dentro de uma Casa de Leis, ela pode fortalecer, não apenas a si mesma, mas o sistema, possibilitando que as próximas gerações tenham mais espaço, mais condições. É preciso que a mulher levante a cabeça, tenha força, coragem e determinação. Eu sei que é mais difícil, porque eu também vivencio isso, de não ser fácil para uma mãe se candidatar e enfrentar uma campanha eleitoral. Reconheço que haja também outras formas, igualmente nobres, de colaborar com a sociedade. Se você não se identifica com a política de movimentos sociais e partidários, faça um trabalho voluntário na sua comunidade, porque, assim, você também pode ajudar o outro de alguma forma. Mas, pela política partidária isso pode ser mais amplo, embora mais difícil. Por isso, se você acha que pode contribuir nesse sentido, não desanime nem abaixe a cabeça. Nós somos capazes e temos condições de nos qualificar. Quantas histórias existem de mulheres que cuidaram como grandes guerreiras da casa e da família, que é um papel importantíssimo, e que, num dado momento, resolveram entrar no mercado de trabalho e conseguiram. É necessário se ter muita força de vontade, coragem e saber buscar apoio onde você tem. Mas, primeiro, a mulher precisa saber que ela é capaz. Tudo parte daquilo que nós temos aqui dentro de nós mesmas, da nossa vontade e coragem para buscar aquilo que, por vezes, pode parecer impossível alcançar. Porque é a busca, a vontade e o desejo de crescer que nos faz nos sentir diferentes. E sobre a questão da discriminação racial, precisamos atropelar isso. É muito simples falar. Vivenciar não é nada fácil. Mas precisamos entender que as próximas gerações precisam das nossas ações. Se não promovermos ações positivas nesse sentido, as nossas próximas gerações estarão condenadas a passar por momentos tão difíceis quanto os que passamos, correndo inclusive o risco de perder conquistas. Historicamente falando, os negros têm menos acesso à escola. Isso é muito claro. Não precisa nem citar estatística, basta você parar na porta de uma escola particular e olhar quantos negros existem ali. É uma realidade. Mas é uma realidade que nós precisamos reparar. Não podemos cruzar os braços e permitir que alguém seja discriminado bem do nosso lado. Por fim, quero deixar aqui o meu agradecimento à Casa, a vocês pelo carinho e dizer que foi muito bom estar aqui para essa entrevista. Espero ter contribuído.  

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