Palestras promovidas por Adriana Accorsi chamam atenção para vícios de linguagem que promovem o racismo

Em pleno século XXI, ainda se faz necessário discutir racismo e suas formas de enfrentamento, em busca de respeito, visibilidade e aplicabilidade de políticas públicas que contribua para o fim do racismo e da supremacia branca. Diante da estrutura social brasileira que, segundo a deputada Delegada Adriana Accorsi (PT), se mostra racista e que promove exclusão, exposição à violência, falta de acesso à educação e a saúde, é que ela está promovendo um ciclo de palestras em parceria com a Escola do Legislativo, desta da Assembleia, com o tema “Enfrentamento ao racismo na história e no cotidiano”. A primeira aconteceu hoje, 14, e a segundo está prevista para o dia 17 de fevereiro.
O conteúdo antropológico e histórico das palestras fica a cargo do mestre em antropologia, museólogo e Artista Visual da UFG, Samarone Nunes. Em sua explanação na tarde desta sexta-feira, 14, o professor falou da construção de uma sociedade mais organizada e articulada para combater o racismo institucional. “O racismo institucional é um preconceito velado e está impregnado na rotina de profissões corporativistas como policiais, médicos e políticos, a exemplo das abordagens policiais, violência obstétrica e privilégios políticos e econômicos”, exemplificou.
Outro ponto que merece reflexão, segundo o antropólogo, é o racismo estrutural, aquele que está impregnado na cultura e nos costumes sociais que acabam por normalizar e naturalizar ações e atos preconceituosos, a ponto de não despertar injúria dos “dominados”, por se tratar de uma linguagem cotidiana em tom de deboche ou piada. Samarone citou programas de humor e o setor midiático como mantenedores dos mais variados tipos de racismo velado. “Os nossos costumes e o humor velado elaboram e reforçam os preconceitos, fortalecendo o racismo velado que atua com primazia para reforçar a invisibilidade, a inferiorização e a estigmatização da população negra brasileira nos meios de comunicação. A negação da existência do racismo, que contribui para a sua reprodução, também faz parte da forma de atuação desta grande mídia”, completou.
A historiadora, mestranda em antropologia social e professora dos cursos de medicina na UFG e direito na PUC-GO, Yordanna Lara Rêgo, falou sobre enfrentamento ao racismo no cotidiano, e chamou a atenção dos participantes para atitudes corriqueiras e imperceptíveis que, de forma inconsciente, fomenta e propaga o racismo cultural e o preconceito étnico e racista com os negros brasileiros. “A expressão: [minha avó foi amansada no laço] traz consigo muito peso e muita dor. Significa que a mulher foi estuprada e violentada física e psicologicamente. Mas as pessoas falam isso com tanta naturalidade, que beira a banalização do mal. Isso é racismo cultural”, afirmou.
Yordanna trata a normalização da linguagem cotidiana como idiotização do conhecimento, que constrói uma imagem de controle preconceituosa e inconsciente em relação à desigualdade entre brancos e negros, que até hoje representam papéis subalternos nos enredos; a exposição da mulher negra como mercadoria pela publicidade; revistas e comerciais exaltam o padrão de beleza eurocêntrico e vendem a família branca, urbana de olhos claros e de classe média como ideal de felicidade.
Não à toa, diversas propostas de legislação e políticas públicas vêm surgindo como fruto do aprofundamento dos debates envolvendo a questão racial e a comunicação. O Estatuto da Igualdade Racial conta com um capítulo sobre Comunicação Social. As três edições da Conferência Nacional de Promoção da Igualdade Racial (Conapir) e a 1ª Conferência Nacional de Comunicação (Confecom) aprovaram resoluções que recomendam políticas públicas de comunicação voltadas para o combate ao racismo e a promoção da igualdade racial. Destaca-se também a presença de artigos contemplando a questão racial no projeto de lei de Iniciativa Popular da Mídia Democrática, formulado pelo Fórum Nacional pela Democratização da Comunicação, em conjunto com diversas outras entidades da sociedade civil, diversas diretamente ligadas à pauta racial.
Para finalizar, vale ressaltar dados oficiais do IBGE que revelam a política, o crime, o trabalho e a renda como principal fator de desigualdade social, cultural e econômica entre brancos e negros. Atualmente, 64% dos desempregados brasileiros são negros; 47% dos desempregados que vivem na informalidade também são pretos; os negros representam 75% entre os mais pobres; e 70% dos brancos estão entre os mais ricos. “Esses números são reflexos de uma parcela da sociedade que sofre na pele a precariedade da vida, exposta à violência e sem oportunidade de acesso à educação de qualidade, se tornam protagonistas de um cotidiano reprodutor de negatividade, desgraças, preconceito e violência contra a raça, a cor e a vida”, completou Yordanna.
EXPRESSÕES QUE FOMENTAM E FORTALECEM O PRECONCEITO E QUE DEVEM SER BANIDAS DA LINGUAGEM COTIDIANA DO CIDADÃO BRASILEIRO, DESTACADAS NO CILCO DE PALESTRA:
- “Nasceu com o pé na cozinha”
- “Amanhã é dia de branco”
- “Serviço de preto”
- “A coisa tá preta”
- Mercado negro”
- “Denegrir”
- “Da cor do pecado”
- “Morena – Mulata”
- “Não sou tuas negas”
- “Cabelo Duro – Cabelo bombril – Cabelo ruim”
- “Da cor do pecado”
- “Criado Mudo” = escravos tinham órgãos genitais e língua cortadas e serviam de mesa de apoio para pertences dos senhores feudais durante a noite.