Um hábito que só faz mal
A Organização Mundial de Saúde (OMS) afirma que estudos científicos mostraram que os fumantes têm maior risco de desenvolver doença grave e morte pela covid-19 do que não fumantes. A boa notícia é que o número de pessoas que deixam o vício vêm aumentando e o Brasil lidera o ranking da redução. Mesmo assim, o número de fumantes no Planeta Terra passa da casa de 1 bilhão de pessoas e de quase 8 milhões de mortes a cada ano causadas pelo cigarro, o que reforça a necessidade de campanhas como essa.
Os números relacionados ao tabaco são todos superlativos e, por isso, impressionantes: segundo estudo divulgado há pouco pela revista científica Lancet, em 2019, 1,14 bilhão de pessoas em todo o mundo consumiram 7,41 trilhões de cigarros ou produtos similares, como charutos e cachimbos. A pesquisa também revelou que, no mesmo ano, 7,6 milhões de pessoas morreram em decorrência do consumo de tabaco. E mesmo quem não é fumante, também pode ser vítima do cigarro. A OMS estima em 1,2 milhão de mortes de não fumantes que são expostos ao fumo passivo.
No Brasil, o Instituto Nacional do Câncer (Inca), o Centro Colaborador da OMS para o Controle do Tabaco, calcula em 22 milhões o número de fumantes, cerca de 12,6% da população. A conta mortífera do cigarro contabiliza mais de 160 mil mortes evitáveis a cada ano, cerca de 438 óbitos todos os dias, causados pelo cigarro. O tabagismo, reconhecido como uma doença crônica causada pela dependência à nicotina, atinge ainda o bolso de todos os cidadãos brasileiros, fumantes e não fumantes: são cerca de R$ 125 bilhões os custos dos danos produzidos pelo cigarro no sistema de saúde e na economia.
Mas o grande impacto é mesmo na saúde. O Inca detalha os horrores causados pela doença: “O tabaco fumado em qualquer uma de suas formas causa a maior parte de todos os cânceres de pulmão e contribui, de forma significativa para acidentes cerebrovasculares e ataques cardíacos mortais. Os produtos de tabaco que não produzem fumaça também estão associados ou são fator de risco para o desenvolvimento de câncer de cabeça, pescoço, esôfago e pâncreas, assim como para muitas patologias buco-dentais. Quanto às mortes anuais atribuíveis ao tabagismo: 37.686 correspondem à Doença Pulmonar Obstrutiva Crônica (DPOC), 33.179 à doenças cardíacas, 25.683 a outros cânceres, 24.443 ao câncer de pulmão, 18.620 ao tabagismo passivo e outras causas, 12.201 à pneumonia e 10.041 ao acidente vascular cerebral (AVC)”, revela o site do Instituto.
Dia de alertar a população
O poder devastador da dependência do tabaco levou à OMS a eleger, em 1987, o 31 de maio como o Dia Mundial Sem Tabaco, para alertar sobre as doenças e mortes evitáveis relacionadas ao tabagismo. Seguindo o exemplo, governos, pelo mundo afora, começaram a adotar medidas de combate ao cigarro.
No Brasil, a adoção da Política Nacional de Controle do Tabaco foi determinante para a redução gradual no número de fumantes. De acordo com dados do Inca, em 1989 o porcentual de adultos fumantes era quase o triplo do atual: 34,8% da população acima de 18 anos se declarava fumante, de acordo com a Pesquisa Nacional sobre Saúde e Nutrição (PNSN). Já em 2003 a Pesquisa Mundial de Saúde (PMS) registrou uma queda expressiva nesses números, quando o porcentual observado foi de 22,4 %.
Em 2008 o porcentual caiu para 18,5 %. E chegou, em 2019, aos atuais 12,6%. As ações implementadas pela Política de Controle do Tabagismo resultaram numa queda de 46% no porcentual de fumantes no Brasil, entre 1989 e 2010. E a estimativa é de que um total de cerca de 420 mil mortes foram evitadas nesse período.
Os números nos fazem pensar no tamanho da tragédia, caso as medidas de combate ao tabagismo não tivessem sido implementadas, num cenário de crescimento populacional brasileiro e um índice de mais de 30% de fumantes.
Mortes
Apesar da redução significativa, as estatísticas relacionadas ao tabaco no Brasil, ainda são aviltantes, já que não é possível aceitar que 160 mil mortes ao ano seja um número razoável, ainda mais se tratando de óbitos evitáveis.
Com tanta informação sobre todos esses males causados pelo cigarro, trazidos pelas campanhas antitabagistas, podemos nos perguntar: porque as pessoas ainda começam a fumar?
Para a pneumologista Fernanda Miranda, a resposta está na imaturidade dos jovens. “Geralmente, as pessoas começam a fumar antes dos 18 anos. Os jovens têm a característica de querer experimentar de tudo e a nicotina vicia rápido” explica a médica.
A nicotina, citada pela pneumologista, é o princípio ativo das folhas do tabaco. Essa substância é psicoativa, ou seja, produz sensação de prazer e é a responsável pela dependência química. E está presente em todos os produtos derivados do tabaco: cigarro, charuto, cachimbo, cigarro de palha, cigarrilha, bidi, rapé, fumo-de-rolo, entre outros.
A pneumologista chama a atenção, principalmente, para duas “modinhas”, que tem atraído os jovens: o narguilé e os cigarros eletrônicos. A profissional explica que os dispositivos eletrônicos têm sido apresentados como uma alternativa “mais saudável” que o cigarro comum, mas alerta que essa propaganda é enganosa, já que os cigarros eletrônicos também são compostos de nicotina e causam dependência da mesma maneira.
Quanto ao narguilé, a médica é taxativa: “Cada sessão de narguilé corresponde a 100 cigarros fumados. É tão ou muito mais prejudicial que o cigarro convencional”, sintetiza.
Como acontece com qualquer outra doença, para ser curado, o tabagismo precisa ser tratado. E como envolve uma dependência química, a médica orienta que o tratamento deve ser multiprofissional aliando várias terapias. “Suporte psicológico, terapia cognitivo comportamental e tratamento medicamentoso são importantes aliados no tratamento do tabagismo. Adesivo e goma de mascar, derivados da nicotina, e medicamentos como bupropiona e vareniclina, aumentam a taxa de sucesso”, explica Fernanda Miranda.
Coronavírus
Além de todos os problemas já conhecidos, relacionados ao consumo frequente do tabaco, a chegada da pandemia da covid-19 trouxe uma preocupação a mais para os profissionais de saúde. Pesquisas recentes comprovaram que os fumantes têm maior risco de desenvolver doença grave e morte pela covid-19 do que não fumantes. Condição confirmada pela médica Fernanda Miranda: “Fumantes são grupo de risco para maior gravidade”.
Os riscos do tabagismo também estão relacionados ao contágio, já que o cigarro fica entre os dedos, que levam o cigarro aos lábios, aumentando a possibilidade da transmissão do vírus para a boca. O uso de produtos que envolvem compartilhamento de bocais para inalar a fumaça — como narguilé e dispositivos eletrônicos para fumar — também podem facilitar a transmissão do coronavírus. E mais uma vez o fumante passivo é atingido, já que o ambiente que contém fumaça de cigarro aumenta o risco de infecções respiratórias agudas.
A situação é tão preocupante que a campanha da Organização Mundial da Saúde para o Dia Mundial Sem Tabaco 2021 é no sentido de alertar para o perigo da associação entre o cigarro e a covid-19. O tema da campanha é um chamado à responsabilidade de cada um no enfrentamento à doença. E para ajudar e encorajar a tomada de decisão, a OMS listou mais de 100 motivos para o fumante deixar o vício.
Confira parte deles abaixo, atenda ao pedido da OMS e “Comprometa-se a parar de fumar.”
* O tabaco afeta sua aparência imediatamente.
* Quando você usa produtos de tabaco e nicotina, coloca em risco a saúde de seus amigos e familiares - não apenas a sua.
* Fumar cigarros eletrônicos perto de crianças compromete a saúde e a segurança delas.
* O uso de tabaco traz consequências sociais negativas.
* É caro - você pode usar seu dinheiro em coisas mais importantes.
* Fumar reduz sua fertilidade.
* Todas as formas de tabaco são letais
* Quando você compra tabaco, está apoiando financeiramente uma indústria que explora agricultores e crianças e estimula doenças e morte.
* Produtos de tabaco aquecido são prejudiciais à saúde.
* Os cigarros eletrônicos são prejudiciais à saúde e não são seguros.
*O uso de tabaco, principalmente o fumo, tira o fôlego.
* O tabaco destrói o seu coração.
* Tabaco causa mais de 20 tipos de câncer.
*Os fumantes têm maior probabilidade de perder a visão e a audição.
* O tabaco afeta praticamente todos os órgãos do corpo.
* O uso de tabaco e nicotina prejudica seu bebê.
* O tabaco polui o ambiente.