Pela saúde do coração
Entre os versículos bíblicos, o coração se faz presente em milhares deles. Ele também faz parte de muitas discussões filosóficas, poéticas, científicas, sendo objeto de estudo e motivo de inspiração para muitos. Ao longo da história, o coração já foi identificado em diferentes culturas como a sede da alma, do intelecto, da vida e do próprio ser. Pela importância desse órgão e dos profissionais que cuidam dele, desde 2007 a Sociedade Brasileira de Cardiologia (SBC), celebra todo ano, 14 de agosto, o Dia do Cardiologista.
A escolha dessa data tem a pretensão de reforçar a importância do trabalho desses profissionais, além de alertar a população sobre os cuidados que devem ter com a saúde do coração. Nesses tempos de muitas emoções, onde nesse rol incluímos o desgastante estresse da vida moderna, verificamos que as doenças que acometem o coração são as maiores responsáveis pelas mortes de homens e mulheres, especialmente, após os quarenta anos de idade.
Dentre essas patologias, aquelas consideradas mais prevalentes são a hipertensão arterial, a doença coronariana (doença isquêmica do coração), a doença cerebrovascular, a doença arterial periférica, a doença cardíaca reumática (doença valvar) e a cardiopatia congênita. É extremamente importante lembrar que essas doenças cardíacas não impactam somente a saúde, mas também a economia.
De acordo com dados de um estudo denominado ‘O ônus econômico das condições cardíacas no Brasil´, publicado nos Arquivos Brasileiros de Cardiologia da SBC, em parceria com a Deloitte Access Economics, da Austrália, não bastasse o drama enfrentado pelas famílias que perdem ou têm parentes afetados por doenças cardíacas, as despesas associadas a essas patologias podem comprometer a renda do portador de doença coronária.
Essas perdas financeiras podem ocorrer por vários motivos, como faltas ao trabalho, perda de emprego e mesmo mortalidade prematura, além de custos com os cuidados formais e informais de saúde. Segundo o estudo, as doenças cardíacas ainda causam perdas financeiras consideráveis ao País: 63% de custos do sistema de saúde, 37% de redução da produtividade e 5% menos impostos com a redução da renda dos indivíduos com problemas cardíacos e seus cuidadores.
O estudo se debruçou sobre a carga econômica de quatro principais doenças cardíacas no Brasil: hipertensão, insuficiência cardíaca, infarto do miocárdio e fibrilação atrial. Não é segredo para ninguém que as doenças cardiovasculares estão entre as mais perigosas do mundo, alcançando o primeiro lugar em causa de mortes, de acordo com dados da Organização Mundial de Saúde (OMS).
A situação do Brasil ilustra esse cenário alarmante, onde 14 milhões de brasileiros possuem alguma doença cardíaca e cerca de 400 mil morrem por ano em decorrência dessas enfermidades, o que corresponde a 30% de todas as mortes no País. Soma-se a isso, o fato da pandemia da covid-19 ter colaborado para o aumento dos problemas cardíacos, agravando ainda mais a situação, demonstrando que esse deve ser um assunto de extrema relevância.
Consultas rotineiras diminuem risco cardíaco
Antes de uma ocorrência grave, o corpo nem sempre manda sinais evidentes, por isso, as doenças cardíacas são consideradas silenciosas. É o caso do colesterol e da pressão alta constante (hipertensão) e, ainda, das alterações no padrão dos batimentos cardíacos (arritmias), que dificilmente vêm acompanhadas de sintomas. Daí a necessidade de consultar um cardiologista regularmente, alerta o médico cardiologista e ecocardiografista pela Universidade Federal de São Paulo (USP), Roberto Nogueira Filho.
O especialista, membro da SBC, destaca que todas as pessoas devem agir de maneira preventiva, pois “o mais indicado é detectar patologias de modo precoce, antes dessas doenças comprometerem o bom funcionamento do coração e dos vasos sanguíneos”.
Prioritariamente, aqueles que compõem o grupo com fatores de risco mais alto para as doenças cardíacas devem estabelecer consultas rotineiras ao médico cardiologista, preferencialmente ao menos uma vez ao ano até os 40 anos e, após, pelo menos uma vez no semestre. Ele ensina que esses fatores de risco podem ser classificados na literatura médica como mutáveis e imutáveis.
De acordo com o cardiologista, “os fatores imutáveis são aqueles que não podemos mudar e por isso não podemos tratar, tais como idade, sexo, raça, hereditariedade. Todavia, os fatores mutáveis são fatores nos quais podemos influir, mudando, prevenindo ou tratando, sendo eles: álcool, fumo, colesterol, pressão arterial, sedentarismo, obesidade, diabetes, estresse excessivo”, explica.
"Os mais recentes dados da OMS mostram que cerca de 80% das doenças cardiovasculares (o que inclui ataques do coração, doenças cardíacas e infartos) podem ser prevenidas apenas com acompanhamento médico adequado e mudanças no estilo de vida", reitera Nogueira Filho. Através das visitas ao médico, o paciente consegue monitorar a pressão arterial e o colesterol, evitando que os altos índices possam prejudicar o coração e provocar as doenças cardiovasculares.
Entretanto, muitos problemas cardíacos somente se manifestam em estágios avançados, por isso, dependendo da intensidade dos sintomas é preciso buscar ajuda no pronto socorro mais próximo. Nesses casos, inclusive, esses sintomas mais clássicos podem vir acompanhados de outros, tais como: dor no peito mais prolongada (irradiando para pescoço, costas, mandíbula e braço), suor frio, palidez, enjoo, tontura, sensação de desmaio, inchaço nos pés e tornozelos, sendo que a associação entre dois ou mais sintomas deve reforçar o alerta para que sejam tomadas medidas emergenciais.
Covid-19 pode agravar saúde do coração
Como já é sabido, a covid-19 é uma doença infecciosa causada pelo vírus SARS-CoV-2 que se espalhou por todo o mundo acometendo as pessoas via transmissão respiratória. A doença trouxe mortalidade, morbidade e disrupção a um nível global. Apesar de ser considerada inicialmente uma infecção do trato respiratório, sendo os maiores efeitos esperados para órgãos como traqueia e pulmão, a doença demonstrou ter impactos significativos para outros órgãos do corpo.
Segundo estudiosos, os achados foram atribuídos ao aumento do estado de inflamação sistêmica gerado durante a infecção envolvendo múltiplos sistemas, afetando pessoas de todas as idades. Esse quadro se complica devido ao sistema cardíaco estar intimamente ligado ao sistema respiratório. Portanto, quando o vírus da covid-19 agrava a saúde do paciente, ele também pode estar fazendo um estrago no coração, comprometendo sobremaneira as estruturas cardíacas.
Após uma série de investigações, os cientistas puderam observar que os mecanismos pelos quais o vírus pode afetar o coração resultam numa ação direta exercida em especial nos capilares, considerados os menores vasos sanguíneos do corpo, exercendo impacto profundo no tecido cardíaco, deteriorando sua estrutura. Pós-pandemia, segundo relatos médicos divulgados pela National Geografic, houve aumento nos casos de ataques cardíacos e derrames.
De acordo com Nogueira Filho, médico entrevistado pela Agência de Notícias, "os estudos publicados mostram que as pessoas que tiveram covid-19 correm maior risco de desenvolver complicações cardiovasculares entre o primeiro mês até um ano após a infecção. Os problemas ocorrem mesmo nos indivíduos considerados saudáveis antes de serem acometidos pelo SARS-CoV-2, bem como naqueles que tiveram covid-19 leve”.
Esses resultados mostram a necessidade de pacientes buscarem um diagnóstico mais minucioso após a contaminação, pois a bagagem deflagrada pelo vírus pode ter consequências importantes, mas sem que a pessoa perceba a gravidade. As complicações cardiovasculares incluem arritmias cardíacas, insuficiência cardíaca, tromboses, acidente vascular cerebral, infarto, insuficiência cardíaca, miocardites e até mesmo morte.
Eliminar o estresse pode fazer muito bem ao coração
Quando surge uma situação de ameaça ou risco iminente, o cérebro reage enviando mensagem para que haja a liberação imediata de diversos hormônios e substâncias químicas. O intuito dessa descarga hormonal é ativar o sistema motor para que a pessoa possa, dessa forma, sair de uma situação de perigo. Ao longo da história humana esse mecanismo foi sendo usado buscando a auto-preservação.
“Juntos, entretanto, esses hormônios agem diretamente no sistema cardiovascular: desencadeiam a vasoconstrição das artérias, diminuindo, assim, a oferta de sangue no coração, aumentando a pressão arterial e a frequência cardíaca”, ensina Nogueira Filho.
Se passar por isso pode ser prejudicial à saúde, imagine enfrentar frequentemente essa situação advinda do efeito causado pelo estresse. Para piorar o quadro, estudos mostram que 15% dos infartos podem acontecer em situações de estresse repentino ou muito forte, que simplesmente fecham as artérias coronárias.
Diante disso, em uma sociedade com estilo de vida cada vez mais acelerado, existe por parte de uma parcela da população um esforço para combater o estresse. “O médico cardiologista pode ser um grande aliado e desempenhar um papel muito importante no processo de redução do estresse, pois ele conhece a história de vida do paciente e pode sugerir alternativas para a redução do estresse, além de tomar todos os cuidados necessários para a manutenção da sua saúde”, finaliza Nogueira Filho.