No "Setembro Amarelo", Alego reuniu estudiosos para informar e alertar sobre a saúde mental da criança e adolescente
A Assembleia Legislativa de Goiás (Alego), através de um grande esforço conjunto entre a Comissão da Criança e do Adolescente e a Escola do Legislativo, promoveu ao longo desta semana um ciclo de palestras denominado “Setembro Amarelo: estratégias para a proteção da saúde mental de crianças e adolescentes”, em que reuniu autoridades goianas e de outros estados para abordar um assunto que vem sendo de grande interesse, especialmente para as áreas da saúde, segurança pública e educação.
Participaram deste evento a presidente da Comissão da Criança e Adolescente da Assembleia, deputada Lêda Borges (PSDB); o também membro do referido colegiado, deputado Jeferson Rodrigues (Republicanos); o diretor da Escola do Legislativo, Teófilo Luiz dos Santos; a chefe da Seção Pedagógica da Escola do Legislativo, Milena Alves Costa; a representante do Conselho Municipal de Educação de Goiânia, Ivonilde Bida Gonçalves, a Presidente da Comissão dos Direitos da Criança e do Adolescente da OAB em Goiás, Roberta Muniz Elias; e ainda, a Conselheira Tutelar da Capital, Érika Reis.
A presidente da Comissão da Criança e Adolescente revelou sua alegria e satisfação em promover um evento desta envergadura na Alego, através do colegiado que representa. Ela advertiu que já vinha sentindo a necessidade de trazer essas discussões, pois “devido à pandemia, a convivência social foi muito prejudicada e isso favoreceu ainda mais o surgimento da depressão, o suicídio e o agravamento das doenças mentais. Hoje temos um quadro alarmante e as famílias estão muito desestruturadas”, ressaltou a deputada tucana que fez questão de participar da abertura do evento.
Por sua vez, também integrante da Comissão da Criança e do Adolescente, o deputado republicano, Jeferson Rodrigues abriu o segundo dia do evento ressaltando que “precisamos debater a tecnologia, a internet, o mundo digital, porque eles promovem muitos benefícios, mas também trazem inúmeras consequências para a construção da saúde mental”, ponderou.
Palestras e organização
A palestra inaugural foi proferida pela professora da Pontifícia Universidade Católica de Goiás (PUC-GO), Daniela Sacramento Zanini, que abordou as “principais causas de comportamento suicida em crianças e adolescentes e fatores de proteção”. Ministrada pela psicóloga da Secretaria Municipal de Saúde de Goiânia, Cida Alves, a segunda palestra falou sobre políticas para a primeira infância e para a promoção da saúde mental e do desenvolvimento saudável.
Dando seguimento ao ciclo de palestras, o terceiro tema trouxe o assunto “Prevenção à violência sexual em crianças e adolescentes por meio da internet” sendo proferida pela professora titular da Universidade Federal do Paraná (UFPR), Elenice Novak.
O convidado, que encerrou a série de debates, foi o coordenador do Programa Criança e Natureza do Instituto Alana, João Paulo Amaral, que destacou “a importância do brincar livre e da conexão com a natureza para o desenvolvimento saudável das crianças e adolescentes”.
Quem auxiliou sobremaneira na programação destas importantes discussões foi a servidora da Alego na Comissão da Criança e do Adolescente, Marcela Miranda. Ela comenta que “existe uma demanda muito grande voltada para capacitações e seminários visando a disseminação de conhecimento acerca do assunto. Agora, no mês de setembro, que é um período de reflexão sobre saúde mental e prevenção ao suicídio, conseguimos reunir palestrantes com conhecimentos diversos relacionados à saúde mental de crianças e adolescentes para trazer mais instrução, informação e, também, para discutirmos estratégias e melhores práticas para os profissionais que atuam na rede de proteção a esse público”.
A ideia do evento surgiu durante as edições do programa Alego Ativa, revela a chefe da Seção Pedagógica da Escola do Legislativo. Ela ressalta que o programa surgiu para “suprir uma demanda de servidores que trabalham no interior do estado e não possuem qualquer oferta de capacitação que auxilie na prestação de serviço público”.
Violência foi apontada como um grande problema para a saúde mental
Ao fazer uso da palavra e abordar as principais causas de comportamento suicida em crianças e adolescentes e fatores de proteção, a também pós-doutora pela Universidade de Barcelona na Espanha, Daniela Zanini, buscou inverter a ordem da discussão e ampliar um pouco mais. De acordo com ela, a sociedade deve se perguntar sobre o que leva as pessoas a serem saudáveis e construir mecanismos que colaborem com isso.
“De nada adianta a gente ficar aqui apontando dados sobre o aumento do suicídio e mostrando como ele ocorre, o mais importante é que possamos juntos, enquanto sociedade, construir alternativas para fortalecer cada um de nós para que estejamos preparados para amparar as crianças e adolescentes”, declarou Zanini.
A estudiosa apresentou diversos dados sobre um estudo desenvolvido por ela, onde foram ouvidos 504 indivíduos entre 12 e 18 anos, estudantes de ensino fundamental e médio de quatro escolas estaduais localizadas em Goiânia. Grande parte dos relatos apresentados por ela estão baseados nestes achados que demonstram o papel da violência para as crianças e adolescentes que pensam em tirar a vida para acabar com a dor que sentem em algum momentos de suas vidas.
Quem também entende que a violência precisa de um basta para que seja possível construir, na primeira infância, o fortalecimento da saúde mental e do desenvolvimento saudável, é a psicóloga da Secretaria Municipal de Saúde de Goiânia, Cida Alves, que destacou a importância de esclarecer a temática à população.
“É um tema que a sociedade deve estar ligada. A gente se preocupa tanto com a educação e o desenvolvimento da criança, mas enquanto nós não interrompermos as experiências de violência na primeira infância não estaremos promovendo saúde mental de verdade, tampouco desenvolvendo o cérebro de forma saudável”, sustentou a estudiosa ao longo da sua narrativa.
A profissional, que atua com pessoas que vivem sofrimentos psíquicos em decorrência de situações de violência, comentou, também, a necessidade de levantar discussões sobre o assunto. Ela afirma que, de acordo com estudos recentes, mesmo que consideradas leves, situações de violência podem impactar o sistema do cérebro, levando a um possível descontrole. “A conexão entre as situações de adoecimento psíquico tem correlação com a origem na primeira infância e com a vivência desses sofrimentos”, enfatizou.
Segurança digital auxilia na construção da saúde mental nos tempos atuais
“Precisamos alertar a sociedade para esse problema e utilizar as ferramentas adequadas para minimizar a situação. A orientação deve começar pela família, mas com a escola sendo parceira. Penso que é possível reduzir sensivelmente o problema através das escolas e da educação”, comentou Elenize Novak da UFPR ao abordar o tema: Prevenção à violência sexual de crianças e adolescentes por meio da internet .
“Entretanto, parece ser necessário a construção de um caminho que elimine a atual falta de comunicação entre os atores responsáveis pela garantia de direitos da criança e do adolescente, dentre eles, a Segurança Pública, a Saúde, a Educação, a Informação - áreas que precisam estar articuladas para que a prevenção de fato possa acontecer”, destacou a palestrante e mestre em administração de empresas.
A segurança digital é um padrão de comportamento que os jovens devem procurar adotar com relação à internet e as redes sociais. A arquitetura do crime é especializada, então as crianças e adolescentes devem ser devidamente orientadas, ensinou Novak.
Por fim, ela comentou que o estado precisa de um sistema integrado que retrate a realidade da violência contra a infância para que os dados possam nortear a construção de políticas públicas mais efetivas, construídas sob informações consistentes que vão sendo armazenadas num banco de dados.
O brincar e a natureza podem salvar as nossas crianças
“A ausência da natureza promove impactos negativos na saúde física e mental das crianças. Vemos uma sociedade cada vez mais urbana, com menos verde e com crianças mais enclausuradas, cultivando a cultura do ter ao invés do ser e precisamos nos perguntar: qual o papel da educação nesse sentido?”, apontou João Paulo Amaral, do Instituto Alana, que trouxe o tema: a importância do brincar livre e a conexão com a natureza para o desenvolvimento saudável das crianças e adolescentes.
Conselheiro do Greenpeace Brasil, cofundador da rede Bike Anjo e do coletivo Ecologia Urbana, Amaral alertou para o fato de que uma parcela das crianças no Brasil, 27%, demonstraram uma regressão comportamental e um aumento no uso de remédios e estimulantes. “O contato com a natureza é importante para o desenvolvimento integral da criança em todas as suas dimensões – cognitiva, emocional, social, espiritual e física. Para isso, precisamos promover a criação de parques mais naturalizados e o desemparedamento das escolas” defendeu.
Por fim, durante sua entrevista final para a Agência Assembleia de Notícias, ele elogiou a iniciativa da Assembleia Legislativa em ter, segundo ele, um olhar, uma visão mais integrada do que seria saúde mental para uma criança e como promover isso. “Não só no lugar de medicalização, de olhar para a questão da saúde, como uma questão de saúde pública, mas que existem vários aspectos para serem levados em conta. O contato com a natureza é um elemento muito importante para o desenvolvimento e para a saúde de nossas crianças. Parabenizo a Casa por ter essa visão transversal de como olhar a questão da saúde mental infantil”, finalizou.