Data visa conscientizar sobre o diabetes e os seus riscos e a importância da prevenção e tratamento para o controle da doença
Caracterizada pela elevação dos níveis de açúcar no sangue, o Diabetes Mellitus é uma doença crônica causada pela falta de insulina (hormônio produzido pelo pâncreas, responsável pelo controle dos níveis de açúcar no sangue) no corpo ou pela incapacidade do seu emprego adequado no organismo. A patologia é diferenciada por três tipos, sendo eles I, II e gestacional.
De acordo com o Ministério da Saúde, se não tratada, a diabetes pode levar o paciente a diversas complicações, como problemas neurológicos, na visão, rins, pés e pernas, além de Acidente Vascular Cerebral (AVC) e infarto do miocárdio. Para conscientizar a população a respeito da patologia, é celebrado, em 14 de novembro, o Dia Mundial do Diabetes. A data foi instituída pela Organização Mundial de Saúde (OMS) e Federação Internacional de Diabetes (IDF).
Conforme informações da pasta ministerial, no primeiro caso, o próprio sistema imunológico da pessoa ataca e destrói as células produtoras de insulina. Mais frequente na infância e adolescência, concentra cerca de 5 a 10% do total de pessoas com diabetes. Ocorre quando, conforme a Sociedade Brasileira de Diabetes (SBD), o sistema imunológico ataca as células beta de forma equivocada, causando a liberação de pouca ou nenhuma insulina ao corpo. Dessa forma, a glicose fica armazenada no sangue, em vez de ser usada como energia. A variedade costuma ser tratada com insulina, medicamentos, alimentação adequada e atividades físicas.
Mais comum em adultos, pessoas sedentárias, acima do peso ou sem hábitos saudáveis de alimentação, o Tipo II abrange cerca de 90% das pessoas com diabetes e resulta, segundo o Ministério da Saúde, da resistência à insulina, quando o corpo não produz uma quantidade suficiente do hormônio ou existe uma incapacidade de absorção das células musculares e adiposas. Em casos menos graves, a condição pode ser controlada com atividade física e planejamento alimentar ou com o uso de insulina e outros medicamentos utilizados para controlar a glicose.
Já a diabetes gestacional, como o nome já diz, ocorre durante a gestação, em decorrência das mudanças hormonais, que podem reduzir a ação da insulina no organismo da mulher grávida. Para compensar, o pâncreas aumenta a produção de insulina no organismo, condição que, segundo o Ministério da Saúde, pode ou não persistir após o parto. A variedade exige acompanhamento médico específico, com avaliações regulares da curva glicêmica e controle alimentar.
Há, ainda, o pré-diabetes, onde o nível de açúcar no sangue é detectado acima do normal, mas não o suficiente para ser diagnosticado como diabetes. A condição serve de alerta para que o paciente evite o desenvolvimento da doença, que tem como sintomas mais comuns: fome frequente, sede intensa, desânimo, fraqueza, sonolência, tontura, perda de peso, urina em excesso, dificuldade na cicatrização de feridas e infecções frequentes.
Conscientização
Diagnosticada com diabetes Tipo I em 2015, aos 19 anos, a jornalista Izabella Pavetits, servidora efetiva da Alego, avalia a data como de grande importância para a divulgação de informações precisas a respeito da doença, bem como as suas causas, os riscos e o tratamento adequado. “Tem muita informação falsa na internet e as pessoas não conseguem filtrar o que faz realmente sentido”, enfatiza. “Alguns clássicos da desinformação são o ‘ficou diabético porque comeu muito doce’ e ‘diabético nenhum pode comer absolutamente nada doce’. Não é por aí. Esse tipo de coisa só aumenta o estigma e desestimula a busca por ajuda profissional”, observa.
A jornalista compartilha, inclusive, situações vividas a respeito. “Já passei pelo constrangimento de tirarem um pedaço de bolo da minha mão porque sou diabética e, na cabeça das pessoas, eu não deveria comer bolo. Perdi a conta de quantas vezes já me indicaram tratamentos alternativos para uma suposta cura. A lista vai desde tomar água com quiabo até chás milagrosos e remédios proibidos pela indústria da saúde. Diabetes ainda não tem cura, mas sim controle. Espalhar esse tipo de mentira é prejudicial para a sociedade toda e, principalmente, para os que precisam de tratamento médico”.
Pavetits deixa, ainda, uma mensagem voltada às pessoas diagnosticadas com diabetes e para as que convivem com um diabético. “Para os diabéticos, quero dizer que, apesar dos desafios que enfrentamos, os problemas de saúde que virão decorrentes da falta de tratamento são bem piores, então, não deixe de cuidar do seu. Para os não diabéticos, quando você descobrir que alguém tem diabetes, não responda, imediatamente, com ‘conheço um fulano que morreu de diabetes, perdeu a perna ou ficou cego’. Não é legal”, recomenda.
Convivendo com a patologia
De acordo com Izabella Pavetits, o diagnóstico da diabete influenciou e mudou a vida dela em diversos aspectos. O principal, voltado ao tratamento para o controle da doença. “O tratamento é realizado para manter a taxa de açúcar no sangue dentro de um intervalo considerado bom pelo médico. O pâncreas, nas pessoas sem diabetes, faz esse trabalho sozinho. No meu caso, para conseguir isso é necessário o uso de duas insulinas diferentes: a basal, utilizada pela manhã e à noite, e de ‘correção’, sempre que vou comer ou quando a glicemia se altera por algum outro motivo. Então são, pelo menos, cinco aplicações por dia. Isso só para lidar com as alterações provocadas pela alimentação”, conta.
A paciente relata que outros fatores, como o estresse, podem afetar a taxa glicêmica de um diabético. “É bastante desafiador”, frisa, ao destacar, ainda, os valores dos medicamentos e as condições utilizadas para a medição da glicose no sangue. “Para medir a glicemia tem que furar o dedo, o que, apesar de acabarmos acostumando com o tempo, é bem chato. Hoje em dia eu uso um sensor que permite que eu reduza, consideravelmente, a quantidade de medições tradicionais, mas ele custa o valor de R$289,90 e dura só 14 dias. Então, não é todo mundo que tem condições de pagar. Todo o tratamento tem alto custo. As insulinas, os insumos para os aparelhos de medição de glicemia, as consultas. E isso dificulta e inviabiliza o tratamento para muita gente”, pontua.
Com relação ao tratamento gratuito oferecido pelo Sistema Único de Saúde (SUS), Pavetits explica tratar-se de algo burocrático. “Eu já precisei contar com essa política pública e a demora para conseguir consulta com endocrinologista é enorme, o processo para receber os medicamentos é confuso e as informações não são claras. Sou muito privilegiada de, hoje, conseguir custear o que preciso, mas sei que não é a realidade da maioria das pessoas”, pondera. “Outra coisa complicada é que, por ser um tratamento crônico e cheio de especificidades, precisamos de acompanhamento de outros profissionais, como, por exemplo, nutricionista, psicólogo, oftalmologista e cardiologista”, ressalta.
Atuação parlamentar
O presidente da Comissão de Saúde do Legislativo goiano, Gustavo Sebba (PSDB), destaca a necessidade de políticas públicas para a manutenção da saúde, de forma a evitar patologias como a diabetes. “Muito se fala sobre a importância de uma vida saudável nos dias de hoje. Tem crescido a preocupação com uma rotina de exercícios e boa alimentação, seja por questões de bem-estar ou por vaidade, mas nem toda a população tem condições de incluir essas preocupações no seu dia a dia, seja por falta de tempo, dinheiro ou informação. A consequência é o aumento dos índices de obesidade, situação que acarreta inúmeras complicações a nível de saúde”, frisa.
“A insegurança alimentar compromete a saúde, principalmente da população mais vulnerável, como crianças pobres. São elas que mais sofrem com a desnutrição que, muitas vezes, vem acompanhada do sobrepeso. Apesar de conseguir a demanda calórica necessária, essas pessoas sofrem com a precariedade da alimentação, acumulando gordura em excesso pelo consumo de alimentos ultraprocessados. E como são pessoas em vulnerabilidade social, é essencial que o poder público dê o amparo, seja pelo acompanhamento multidisciplinar na educação, dando suporte nutricional e psicológico, seja por meio das ações de saúde preventiva”, salienta o parlamentar.
Na atual Legislatura do Parlamento goiano, tramitam ou já passaram pela análise da Casa diversas proposituras voltadas à promoção da saúde pública. Dentre elas, destaque para a protocolada sob o nº 4758/20, de autoria do deputado Helio de Sousa (PSDB), cuja a finalidade foi alterar a Lei nº 20.253, de 1° de agosto de 2018, que institui o Estatuto do Portador de Diabetes no Estado de Goiás. Aprovada pelo Plenário e já sancionada pela Governadoria do Estado, a iniciativa assegura ao portador de diabetes o direito de monitorar sua glicemia e realizar aplicação de insulina em locais públicos ou privados de uso coletivo.
Desse modo, desde 11 de outubro do presente ano, por meio da Lei Estadual nº 21.609, a lei que trata do Estatuto do Portador de Diabetes no Estado de Goiás passou a vigorar, também, com a garantia do direito de ingresso e permanência nos locais citados portando insulina, insumos, aparelhos de monitoração de glicemia, pequenas porções de alimentos e bebidas não alcoólicas necessárias à proteção de sua saúde.