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Saúde do trabalhador

28 de Abril de 2023 às 08:30
Saúde do trabalhador
A data foi criada com objetivo de alertar sobre a importância da prevenção de acidentes e de doenças relacionados ao trabalho, principalmente a saúde mental, terceira maior causa de afastamento do trabalho no Brasil.

Em lembrança da morte de 78 pessoas, na explosão de uma mina no estado norte-americano da Virginia, ocorrida em 28 de abril de 1969, a Organização Internacional do Trabalho (OIT) instituiu a data como o Dia Mundial da Segurança e Saúde no Trabalho. A campanha visa conscientizar empregados e empregadores com relação à importância da prevenção de acidentes e de doenças ocupacionais. Preocupação com doenças mentais vem aumentando.

Durante 4 anos, a então bancária Lígia Maria de Sousa viveu, diariamente, uma situação angustiante. Funcionária de uma instituição bancária multinacional, tinha um salário razoável e benefícios, como um bom plano de saúde e, auxílio refeição e alimentação. Duas vezes por ano, os ganhos aumentavam com o recebimento de uma participação nos lucros. Além disso, havia recebido duas promoções em um curto espaço de tempo. Financeiramente, não podia reclamar.

Por outro lado, emocionalmente, estava cada vez mais exausta. Havia uma grande pressão da instituição pelo alcance de metas, quase inatingíveis. Por causa disso, o ambiente de trabalho era pesado.

Em um certo momento, o fechamento do caixa começou a apresentar diferença. De repente, as contas não batiam. E a situação, antes muito rara, começou a ficar frequente. Ela não conseguia entender o motivo das diferenças. A pressão aumentou e a bancária começou a ter episódios de náuseas, dores diversas, tremores, crises de choro, entre outros sintomas. Ela não sabia, mas era a síndrome do pânico que começava a dar sinais.

Preocupada, Lígia foi a vários especialistas médicos, que fizeram vários exames e nenhuma doença física foi detectada. Um dos profissionais visitados deu o diagnóstico. Depois de seis meses de afastamento do trabalho, duas tentativas de retorno e a recaída dos sintomas, ela pediu demissão. Foi trabalhar como maquiadora e está feliz da vida. “Eu ganhava bem, tinha carro novo, roupas caras, mas eu fui adoecendo, sem perceber. As diferenças no caixa eram por causa do cansaço e da pressão. Eu não conseguia achar. Uma tarefa que eu fazia todo dia e por meses e meses, nunca deu erro. Depois vieram os sintomas físicos”.  E conclui: “Nada paga nossa saúde”.

O que aconteceu com a bancária é uma situação cada vez mais comum. De acordo com o Observatório de Segurança e Saúde do Trabalho, em 2021 os transtornos mentais foram a terceira maior causa de afastamento do trabalho no Brasil. Mais de 13 mil brasileiros tiveram como motivos para a concessão de benefícios previdenciários acidentários as causas mentais, comportamentais e nervosas.

O crescimento das doenças mentais com causa no ambiente de trabalho é uma das preocupações a serem debatidas no Dia Mundial da Segurança e Saúde no Trabalho. Segundo engenheiro e doutor em segurança e saúde ocupacional pela Universidade do Porto (Portugal), Francisco Edison Sampaio, o adoecimento físico ainda é preponderante no ambiente laboral, mas cada vez mais está sendo substituído pelos transtornos mentais.

Para ele, isso se deve a vários fatores, entre eles a precariedade das relações de trabalho, que causa insegurança com relação à permanência no emprego, o home office, que muitas vezes exige do trabalhador mais horas à disposição da empresa e até a internet, especialmente, os aplicativos de conversa, como o WhatsApp, já que muitas vezes os empregados são acionados mesmo fora do seu horário de trabalho.

Ele ainda destaca que algumas funções, como os cargos de liderança e áreas específicas, a exemplo da saúde, da educação e a financeira, apresentam mais fatores de risco psicossocial. Sampaio alerta: “É bom lembrar que a saúde mental afeta a saúde física, um transtorno de ansiedade, por exemplo, pode causar uma doença física. Outra coisa: os períodos de afastamento do trabalho por doenças emocionais são bem maiores, mais duradouros. As empresas deveriam olhar para esse aspecto”.

Quando se juntam as doenças ocupacionais físicas e mentais e os acidentes no ambiente de trabalho, as estatísticas assustam. Segundo a Organização Internacional do Trabalho (OIT), cerca de dois milhões de pessoas perdem a vida anualmente em todo o mundo por acidentes e doenças relacionadas ao ambiente laboral.

No Brasil, são cerca de 500 mil acidentes a cada ano, com 4 mil mortes, contabilizadas apenas as ocorrências com registro de Comunicação de Acidente de Trabalho (CAT). Estima-se que o número seja bem maior. 

Segundo a cartilha “Adoecimento Ocupacional - Um mal invisível e silencioso”, lançada pelo Ministério do Trabalho em 2020, toda a sociedade é atingida pelo alto índice de acidentes. “Para o empregador, compreende perda de produtividade, aumento de absenteísmo (faltas), ações judiciais, perdas financeiras e perda de imagem. Para o trabalhador, significa perda da saúde (e até da vida), de convívio social e familiar e de renda. Para o país, resulta em aumento de gastos públicos e perda de competitividade internacional. Essas perdas decorrentes de acidentes e doenças do trabalho são estimadas pela OIT em 4% do PIB mundial, o que pode ultrapassar a cifra de R$ 200 bilhões de reais anualmente no Brasil”, adverte a publicação.

Para o engenheiro, a cultura organizacional, no Brasil, é frágil no que tange à segurança e bem-estar no trabalho. Ele observa que as empresas se limitam a oferecer o que determina a legislação e que não atentam para a criação de um ambiente saudável e seguro, com valorização e reconhecimento do funcionário.

Apesar das críticas que faz à maioria das empresas brasileiras, o estudioso é otimista em relação ao futuro. Ele acredita que as mudanças estão acontecendo, ainda que lentamente. “É difícil mudar valores, mudar uma cultura, mas se você olhar para trás, você vai ver que avançamos. É possível vislumbrar um futuro melhor nessa questão”.   

Agência Assembleia de Notícias
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