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Especialista defende fortalecimento e conservação do Cerrado goiano

29 de Junho de 2023 às 11:30

Na manhã desta quinta-feira, 29, a Assembleia Legislativa do Estado de Goiás (Alego) está promovendo a instalação da Frente Parlamentar em Defesa do Cerrado. Entre os palestrantes do evento está a professora Elaine Barbosa da Silva, Coordenadora do Laboratório de Processamento de Imagens e Geoprocessamento (Lapig) do Instituto de Estudos Socioambientais da Universidade Federal de Goiás (UFG).

A especialista iniciou sua fala agradecendo aos membros da mesa e destacando a importância do Cerrado. “É uma imensa satisfação estar aqui falando sobre o Cerrado que para mim, e acredito que para todos nós, é nossa casa”, afirmou. Ela apresentou uma retrospectiva de sua trajetória como pesquisadora, que começou há 16 anos e abordou a complexidade do bioma do Cerrado e a problemática do desmatamento. “Eu tenho feito o que é possível na minha área para entender a complexidade do bioma e da problemática do desmatamento”, disse ela.

Ao falar sobre o Lapig, a professora Elaine enfatizou a relevância do laboratório no mapeamento e monitoramento do Cerrado. “Nossas atividades se iniciaram em 1994 e, em especial em 2004, iniciamos o mapeamento no estado de Goiás. Desde então, além de Goiás, começamos a fazer os dados de desmatamento para todo o bioma cerrado”, explicou. Ela também destacou que o laboratório “despertou o olhar da sociedade para o nosso bioma, para o que vinha acontecendo”.

A palestrante também ressaltou a riqueza do Cerrado, mencionando que ele é o segundo maior bioma da América do Sul, possui grande diversidade de fauna e flora, e contribui significativamente para a formação de bacias hidrográficas importantes no Brasil. “O nosso cerrado contribui para o abastecimento do Brasil e também de parte da América Latina”, observou.

No entanto, a professora também destacou o lado sombrio da situação atual do Cerrado. “Esse bioma tão importante, com esse ritmo de ocupação instaurado principalmente a partir da década de 1970, levou a uma grande perda de biodiversidade”, alertou. Ela também mencionou que a região foi classificada como um "hotspot de biodiversidade", uma área extremamente rica, mas com rápida perda de biodiversidade.

Durante sua intervenção, a professora Elaine Barbosa da Silva ressaltou, portanto, sobre a expansão alarmante do desmatamento no Cerrado, não apenas em Goiás, mas também em outras regiões do bioma. Ela apresentou dados que mostram um declínio no desmatamento na Serra do Norte, em Goiás, a partir dos anos 2000, porém, alertou que o problema persiste em outras áreas, principalmente no norte do Cerrado.

"A queda no desmatamento é positiva, mas quando consideramos o Cerrado goiano, percebemos que mais da metade da área já foi desmatada. Qualquer desmatamento é grave, independentemente das taxas anteriores. E agora, com uma tendência de aumento, isso começa a nos preocupar", afirmou a professora.

A palestrante também destacou que o freio no desmatamento ocorrido até meados da década de 2000 foi resultado da expansão da fronteira agrícola em outras regiões do bioma, onde as áreas mais planas e com maior infraestrutura já haviam sido desmatadas. No entanto, ela observou uma tendência de expansão para áreas que antes estavam mais preservadas, como a região da Chapada.

Elaine Barbosa da Silva enfatizou que a fragmentação da vegetação traz prejuízos significativos para a biodiversidade e comparou os dados de cobertura vegetal de diferentes regiões em 2000 e 2021, evidenciando uma perda expressiva de vegetação, principalmente em áreas como a Chapada e o sul e sudoeste goiano.

A professora apresentou ainda dados recentes do INPE e da rede MapBiomas, que indicam um aumento preocupante do desmatamento em Goiás em 2023. Segundo ela, os municípios de Niquelândia e Cristalina são áreas com alto índice de desmatamento neste ano. Ela ressaltou a necessidade de ação por parte dos parlamentares, enfatizando a importância da criação da Frente Parlamentar em Defesa do Cerrado.

De acordo com os relatórios apresentados pela professora Elaine Barbosa da Silva, entre 2009 e 2023, foram registrados mais de 5.400 alertas de desmatamento no Cerrado goiano, totalizando mais de 162.000 hectares de área desmatada. Isso representa uma média diária de 102 hectares desmatados. Ela destacou que a maioria desses desmatamentos ocorreu em imóveis rurais e ressaltou a falta de autorizações para essas áreas, caracterizando-os como ilegais.

Além disso, a professora Elaine Barbosa da Silva evidenciou que áreas como as quilombolas, as terras indígenas, as unidades de conservação e os assentamentos também foram afetadas pelo desmatamento, ressaltando a necessidade de medidas efetivas para proteger essas áreas.

Ela enfatizou que, por meio das geotecnologias e do mapeamento com imagens de satélite, é possível obter um perfil detalhado do desmatamento, o que contribui para a elaboração de ações estratégicas de preservação. A palestrante também falou da necessidade de um equilíbrio entre desenvolvimento e preservação, levando em consideração as áreas mais ricas em biodiversidade e as regiões socialmente vulneráveis. Ela questionou se essas áreas mais ricas estão enfrentando um maior desmatamento e como é possível compensar essa situação para garantir um desenvolvimento sustentável.

Ela também expressou sua satisfação ao ver a participação de representantes municipais na reunião, ressaltando que somente com a união dos municípios será possível avançar na proteção do Cerrado, não apenas em Goiás, mas em todo o país.

Por fim destacou a necessidade da efetivação da fiscalização e mencionou os desafios enfrentados pela Secretaria de Meio Ambiente (Semad) devido ao baixo efetivo de fiscalização. Ela falou que, atualmente, a fiscalização tem priorizado os desmatamentos acima de 50 hectares, mas ressaltou a necessidade de também abordar os desmatamentos menores, que ocorrem em áreas já fragmentadas.

Foi levantado também a necessidade de disseminar conhecimento sobre as ferramentas disponíveis para a preservação do Cerrado, especialmente nas escolas e destacada as ações da Secretaria de Educação nesse sentido para fortalecer e ampliar essas iniciativas trabalhando para a conscientização da sociedade sobre a importância do Cerrado e da necessidade de avançar na preservação. “É preciso ir além do conhecimento técnico e levar essa consciência para todos os segmentos sociais, a fim de promover avanços significativos na proteção do bioma”, finalizou Elaine.

Agência Assembleia de Notícias
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