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Políticas para o enfrentamento da fibromialgia são pauta de audiência pública realizada na manhã de hoje

13 de Maio de 2024 às 13:30
Crédito: Denise Xavier
Políticas para o enfrentamento da fibromialgia são pauta de audiência pública realizada na manhã de hoje
Audiência pública sobre "Políticas públicas para as pessoas com fibromialgia"

A presidente da Comissão de Assistência Social do Parlamento goiano, deputada Vivian Naves (PP), comandou, na manhã desta segunda-feira, 13, audiência pública para discutir políticas voltadas à restituição da qualidade de vida de pacientes com fibromialgia no Estado. Dados revelam que, em média, 7 milhões de brasileiros sofrem, cotidianamente, com as dores generalizadas e crônicas que caracterizam a síndrome. 

O encontro, que foi realizado na sala das comissões da Assembleia Legislativa do Estado de Goiás (Alego), integra o chamado "Maio Roxo", criado para a conscientização da doença, que acomete especialmente o público feminino em idade economicamente ativa dos 35 aos 60 anos. 

Durante o debate, a deputada Vivian Naves chamou atenção para o recorte de gênero que envolve o assunto. E conclamou a população masculina a ter mais empatia com a situação. “Gostaria de agradecer a sensibilidade dos homens e profissionais aqui presentes para com uma doença que é essencialmente feminina. Nós, mulheres, sofremos com uma sobrecarga e temos vergonha de assumir que sentimos dores. Talvez, se esta fosse uma doença masculina e os homens sentissem ⅓ da dor que sentimos, essa condição já estivesse sendo melhor investigada. Precisamos de um conjunto de políticas eficazes, com atendimento muldisciplinar”.

A programação foi organizada em parceria com a Comissão de Saúde e envolveu um ciclo de palestras sobre o assunto. O líder do colegiado, deputado Gustavo Sebba (PSDB), participou de forma remota e destacou a importância de políticas de descentralização e fortalecimento da atenção básica em todos os municípios do Estado. “Precisamos desafogar os atendimentos em saúde que se acumulam na Capital. Estamos falando de uma doença cujo diagnóstico é basicamente clínico, o que reforça a demanda por uma atenção primária de qualidade, especialmente nas cidades do interior. Isso envolve condição de tratamento e acompanhamento multidisciplinar com profissionais adequados”.  

Entre os palestrantes e integrantes da mesa diretiva, estavam o reumatologista Glaydson Jerônimo, o neurologista Hélio Fernandes, a psicóloga Jordana Ribeiro e a servidora da Alego, Sandra Miranda, esta última representando as pessoas acometidas com a patologia. O evento contou com transmissão simultânea e pode ser acessado no acervo do canal do Youtube da TV Assembleia. 

A programação teve como foco levantar políticas complementares para a implementação da Lei Federal nº 14.233/2021, que institui o Dia Nacional de Conscientização e Enfrentamento da Fibromialgia, celebrado em 12 de maio.

Panorama

Em resumo, as palestras contribuíram para traçar um panorama da fibromialgia, inflamação que afeta os tecidos musculoesqueléticos e que acomete entre 2% a 5% da população brasileira. Em termos epidemiológicos, a patologia está, hoje, entre as três com maior índice de incidência nacional. E seu impacto pode ser ainda maior, dada a possibilidade de subdiagnóstico.  Acredita-se que duas ou três vezes mais pessoas convivem, hoje, com a condição, sem ter um laudo que defina, com clareza, a enfermidade que possuem.

Isso porque os pacientes em geral costumam demorar muito para ter acesso ao diagnóstico da doença. Estima-se que eles passem por 2x mais consultas médicas do que a média geral, antes de ter sua enfermidade reconhecida. Além do tempo, os custos para se obter o diagnóstico e a perda da produtividade são apontados como os principais impactos sociais decorrentes desse cenário.

Primeiramente, antes, há a necessidade de se descartar outras patologias que contam com tratamentos específicos já consolidados. Ao menos 15 enfermidades possuem algum tipo de sintoma similar aos percebidos por pacientes acometidos com a síndrome. Dentre essas, estão doenças como: síndrome miofascial, hipotireoidismo, artrite reumatóide, lúpus eritematoso sistêmico, síndrome de Sjögren, polimiosite, polimialgia reumática, hiperparatireoidismo, LER/DORT, LER lato sensu, mialgias, abstinência ao corticóide, paraneoplasia, reumatismo psicogênico e deficiências de vitamina D e osteomalácia. 

Segundo, porque existe, como pano de fundo, um recorte econômico, visto que o correto diagnóstico da doença acaba gerando 3 vezes mais gastos em consultas, exames e tratamentos. Isso acarreta um custo médio maior tanto para a saúde privada quanto para a pública.

A terceira razão é que, em sua evolução, a doença acaba gerando uma perda significativa de produtividade. Revisão da Revista Nature aponta que quase 25% dos pacientes param de trabalhar (aposentam) nos primeiros 5 anos de sintomas.  “O importante é percebermos que estamos perdendo para a dor uma faixa da população que é altamente produtiva”, alertou o neurologista Hélio Fernandes, em palestra intitulada “Abordagem Neurológica da Fibromialgia: Perspectivas e Tratamentos”. 

Dentre a multiplicidade de tratamentos possíveis, ele elencou aspectos farmacológicos e não-farmacológicos, além de outros não convencionais. No âmbito dos fármacos, ele citou antidepressivos, inibidores de dor, relaxantes musculares e indutores do sono. Na esfera não-farmacológica, inclui-se atividade física, fisioterapia, terapia ocupacional, psicoterapia, manutenção labora, higiene do sono e controle nutricional, incluindo a perda de peso para obesos.

Por fim, como abordagens adicionais, destacam-se a acupuntura, terapias de movimento meditativo, como tai chi, yoga e qigong, a terapia de Spas, mindfulness, hipnose, oxigenoterapia hiperbárica, estimulação cerebral não invasiva e eletroperiférica. Importante destacar que parte desses tratamentos já é ofertada no Sistema Único de Saúde (SUS), por meio do seu Programa de Práticas Integrativas e Complementares (PICs).

 Empatia e acolhimento

Para o reumatologista Glaydson Jerônimo, a empatia e o acolhimento são os ingredientes fundamentais para o atendimento de pacientes com fibromialgia. “Estamos falando de alguém que, muitas vezes, vem pulando de consultório em consultório em busca de um tratamento para as suas dores. Estamos falando de uma condição que pode até não ter cura, mas isso não nos impede de trabalhar para minorar os aspectos negativos da doença, como o mal-estar generalizado, a fadiga, a dor e a dificuldade de convívio social, além de contribuir para melhorar a qualidade de vida das pessoas. A condição requer atendimento e tratamento personalizados, porque a dor é uma experiência subjetiva”. O médico ministrou a palestra “Fibromialgia: Aspectos Clínicos e Diagnóstico”. 

O componente subjetivo da doença foi o tema central da apresentação conduzida pela psicóloga Jordana Ribeiro. Ao palestrar sobre os “Impactos Psicológicos da Fibromialgia e Estratégias para a Vida sem Dores”, ela destacou aspectos que considera fundamentais para mudar o cenário da patologia e que envolvem uma atenção especial com a saúde mental. “Tramas desencadeiam alterações neurológicas e estruturais no corpo, e acabam resultando em rigidez e dor. A melhoria da qualidade de vida envolve basicamente a conexão de 3 princípios, que são o cuidado com o campo mental, emocional e espiritual”.

Especialista em doenças crônicas, Jordana desenvolveu um programa de tratamento que, segundo ela, já teria ajudado mais de 700 mulheres a viver sem dor. O atendimento, intitulado Fibromulheres, é conduzido na modalidade online e já alcança três países (Brasil, Angola e Portugal). 

Agência Assembleia de Notícias
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