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Proteção dos pacientes renais

15 de Maio de 2024 às 13:20
Crédito: Denise Xavier
Proteção dos pacientes renais
Audiência pública em favor da conscientização e defesa dos direitos dos pacientes que realizam hemodiálise
Cairo Salim conduziu a abordagem dos direitos dos pacientes em hemodiálise no Estado de Goiás. O debate reuniu autoridades e especialistas na sala das comissões do Palácio Maguito Vilela, na manhã de hoje, 15.

O deputado Cairo Salim (PSD) comandou audiência pública para tratar sobre os direitos dos pacientes em hemodiálise no Estado. O debate teve lugar na sala das comissões da Assembleia Legislativa de Goiás (Alego), na manhã desta quarta-feira, 15.

Além do deputado, propositor da iniciativa, a mesa diretiva contou com a participação da deputada Rosângela Rezende (Agir); da diretora de Atenção Secundária, Dayana Pereira Faria, representando o secretário de Saúde de Goiânia, Wilson Modesto Pollara; do vereador por Goiânia, Raphael da Saúde (Solidariedade); além de Clodoaldo Pereira, representando os pacientes renais crônicos em hemodiálise.

Também contribuíram com o debate a vice-presidente da Associação Brasileira dos Centros de Diálise e Transplante (ABCDT), Viviane Elizabete; a coordenadora da Rede Estadual de Nefrologia, enfermeira Helia Alves, representando o secretário Estadual de Saúde de Goiás, Rasível Santos; e o chefe da Divisão de Cuidados do Hospital das Clínicas da Universidade Federal de Goiás (HC/UFG), Johnathan Santana de Freitas.

A íntegra do evento pode ser acompanhada no canal do Youtube da Alego. 

 Panorama

Estima-se que problemas renais sejam a quinta maior causa de mortes no mundo. Dados da Sociedade Brasileira de Nefrologia (SBN) confirmam que as doenças renais crônicas afetam mais de 10 milhões de brasileiros. No mundo, cerca de 850 milhões de pessoas sofrem com enfermidades dessa natureza.

Segundo o Censo Demográfico de 2021, dentro desse universo, existem mais de 148 mil pessoas fazendo hemodiálise no Brasil. Em Goiás, mais de 4,2 mil passam pelo tratamento, a maior parte sendo atendidas pelo Sistema Único de Saúde (SUS) da Capital, Goiânia.

Ao abrir a audiência, Salim chamou atenção para a luta da população que enfrenta cotidianamente o tratamento de hemodiálise. Tratam-se de pessoas que perderam suas funções renais e precisam recorrer a clínicas especializadas para realizarem a filtragem do sangue, um processo que pode demandar, em alguns casos, a realização de até três sessões de 4 horas por semana.

“Imaginem o sacrifício dessas pessoas que enfrentam diariamente uma grande luta pela vida. Enquanto agentes públicos, precisamos estar atentos e cuidar dessa população. Temos um sistema complexo na rede pública, que não consegue ou não se interessa em garantir o tratamento de forma adequada e, por isso, credencia empresas para prestarem o serviço pelo SUS. Agora, estamos recebendo a demanda de pacientes e empresários reclamando dificuldades de lidar com as burocracias da prefeitura”. 

Durante o debate, foram apresentados relatos de experiências de pacientes renais crônicos e de representantes de entidades que militam na área. Além deles, também contribuíram com o evento gestores públicos municipais e estaduais, membros da iniciativa privada e outros profissionais da saúde que atuam no segmento da nefrologia em Goiás.  

“Queremos ouvir a todos para ver o caminho para se resolver essa questão, a fim de minimizar o estresse dos pacientes para terem um atendimento digno. Sei dos desafios da Administração Pública, mas precisamos colocar o dedo na ferida e avançar, para que paciente e familiares não sofram mais do que já sofrem com a doença”, ponderou Salim. 

 

Fragilidades

Dentre as principais fragilidades do sistema, Salim apontou dificuldades de acesso ao tratamento a pacientes que moram nos municípios do interior goiano. “Mesmo com a regionalização, o grosso dos atendimentos ainda segue concentrados em Goiânia e isso reflete em todo o estado. Diversos pacientes se deslocam diariamente à Capital por falta de tratamento em seus locais de origem”. 

A deputada Rosângela Rodrigues fez coro à manifestação do colega. Ex-secretária de Saúde do município de Mineiros, ela expôs, em sua fala, as dificuldades particularmente experimentadas pelos pacientes que moram em regiões mais remotas. “Moradores dos extremos Sudoeste e Nordeste do Estado estão entre os mais afetados pela distância, pois precisam gastar mais horas de transporte”.  

Defensora da regionalização, a parlamentar fez votos pelo avanço do tratamento para os municípios. “É possível realizar hemodiálise por via pública municipal e Mineiros tem grande chance de ser pioneiro. O problema foge ao debate público porque esse tratamento está hoje na mão de clínicas que são da iniciativa privada e precisam de fiscalização para melhor integrar o SUS”.

O vereador por Goiânia, Raphael da Saúde (Solidariedade), trouxe, como exemplo, a experiência pessoal vivenciada com sua filha Luíza, de 6 anos. A criança, que nasceu com insuficiência renal, conviveu com o tratamento em seus primeiros anos de vida até, finalmente, passar por cirurgia para transplante de rins, realizada há dois anos.  

Raphael relatou a luta da família para acompanhar um tratamento que precisava ser realizado cinco vezes por semana e que acabou demandando gastos extras com deslocamentos para a cidade de Curitiba (PR) a cada 40 dias. “Estamos falando de público que precisa de muito apoio político e isso tem sido a principal referência de meu mandato. Pacientes renais crônicos sofrem com tratamentos demorados e famílias menos abastadas têm, muitas vezes, dificuldade de sustentar. Os que vêm do interior ainda sofrem com longos deslocamentos e falta de transporte adequado. Temos também dificuldades para conseguir transplante e medicamentos no Estado”.

O parlamentar divulgou um canal criado para ajudar outras famílias que enfrentam a situação.  O instagram @osrinsdeluisa foi criado em nome da filha para divulgar informações sobre o tema. 

Por fim, foi a vez de Clodoaldo Pereira falar em nome dos pacientes que fazem o tratamento em Goiás. Ele, que saiu de Barreiras, na Bahia, e faz hemodiálise há 20 anos, relatou as dificuldades enfrentadas pelo público que representa. 

 

Vencer o cansaço é, para ele, um desafio constante. “É um tratamento complexo, sofrido, doloroso, que afeta o físico e o emocional. Quando recebi o diagnóstico foi como sentença de morte e, desde então, venho todos os dias lutando pela vida. Viajei por vários Estados e aqui, em Goiás, encontrei as melhores clínicas e acolhimento”. 

 

Emocionado, ele tem se levantado como uma voz incansável na defesa dos pacientes renais crônicos. “Precisamos estar no centro da atenção dos poderes públicos estaduais, municipais e federal. A parte mais difícil dessa trajetória burocrática é perceber que quem tem o dever de resolver é que, muitas vezes, sentencia a morte dessas pessoas”. 

 

Em sua fala, ele destacou a necessidade de conscientização e prevenção nas escolas, de melhorias na qualidade dos insumos e equipamentos, de modernização do tratamento, de regularização dos pagamentos das clínicas terceirizadas, de desburocratizar o transplante e acelerar os processos no Judiciário.  

Prevenção

A deputada Rosângela Rezende foi a primeira a chamar atenção para o assunto. “Não podemos esperar o rim chegar no calcanhar. Devemos garantir uma atuação forte na prevenção, combatendo, inicialmente, condições que levam a diabetes, obesidade e hipertensão. Precisamos ter um olhar sensível para essas doenças crônicas que são consequência de desregulações no modo de vida, decorrentes, especialmente, de alimentação inadequada ou automedicação. Aumentamos a expectativa de vida e esses cuidados precisam ser observados para que o problema não afete a pessoa idosa”. 

A coordenadora da Rede Estadual de Nefrologia, enfermeira Helia Alves, também engrossou esse coro. Ela defendeu a necessidade de que a hemodiálise passe a ser reconhecida como terapia renal substitutiva. “O indivíduo que perde o rim tem o direito à orientação sobre a situação porque não se perde o órgão da do dia para a noite. Comorbidades prévias vão notificando o avanço de uma doença que não retroage, mas que pode ser retardada, caso haja o acompanhamento adequado desde o início”, pontuou.

Agência Assembleia de Notícias
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