Parlamento goiano debateu, na manhã desta 3ª-feira, 6, as formas de prevenção e diagnóstico do infarto agudo do miocárdio
O presidente da Comissão de Saúde da Assembleia Legislativa do Estado de Goiás (Alego), deputado Gustavo Sebba (PSDB), comandou nesta terça-feira, 6, audiência pública para discutir estratégias de prevenção, diagnóstico e tratamento de ataques cardíacos. A enfermidade, tecnicamente identificada como infarto agudo do miocárdio, é uma das principais causas de mortalidade no Brasil e no mundo.
Ao abrir o debate, Sebba destacou o papel do Parlamento goiano no aprimoramento das políticas de atenção e controle da enfermidade. “A Alego é uma caixa de ressonância do povo de Goiás. Devemos usar a nossa representatividade para levar informações e aprimorar leis que tragam melhores garantias a profissionais e municípios”.
O parlamentar ressaltou os impactos positivos das audiências promovidas pela Comissão de Saúde, que preside. “Temos relatos de casos de pessoas que acompanharam esses debates e isso fez a diferença na mobilização pela busca do tratamento”.
Como resultado do debate, foram apontados a necessidade de se aprimorar as políticas de atendimento à atenção primária, com diagnóstico adequado, incluindo a teleconsulta, e melhorias no transporte e na regulação. Adequações na política de regionalização e gestão tripartite, com financiamentos proporcionais à arrecadação, foram identificadas como fundamentais à descentralização adequada.
Na mesa de debate, estavam presentes a superintendente de Políticas e Atenção Integral à Saúde, Patrícia Paula dos Santos, representando o secretário de Estado da Saúde, Rasível dos Reis Santos; a presidente do Conselho de Secretarias Municipais de Saúde do Estado de Goiás (Cosems-GO), Patrícia Palmeira de Brito Fleury; o diretor de Saúde e Meio Ambiente do Trabalho da Alego, Fernando Curado; e o presidente da Sociedade Goiana de Cardiologia, Alberto Las Casas Junior.
O presidente do Conselho Nacional dos Secretários Municipais de Saúde, Geraldo Sobrinho, participou de forma remota. O deputado Jamil Calife (PP) também contribuiu com as discussões.
Qualificação dos atendimentos
A superintendente de Políticas e Atenção Integral à Saúde do Estado de Goiás, médica Paula Santos, chamou atenção para a necessidade de implementação de uma linha de cuidado mais qualificada para evitar óbitos e sequelas decorrentes de infarto agudo do miocárdio (IAM). Ela disse que a qualificação depende da atuação conjunta de vários atores especializados e de melhorias nos atendimentos da rede de urgência e emergência do Estado.
Ela informou que a má assistência acaba resultando em agravos, mortes e em muitas aposentadorias precoces. “As doenças cardiovasculares são a principal causa de morbidade e o IAM é uma condição patológica emergencial. Temos no Brasil 300 a 400 mil casos por ano, com o registro de um óbito a cada 5 a 7 casos. Nos últimos 3 anos, Goiás registrou um aumento de 25% de enfermidades relacionadas ao IAM”.
Santos revelou dados que mostram um volume de mais de 2 mil internações decorrentes de IAM em 2023, em Goiás. Somente neste ano, o montante já chega a quase 1,5 mil. Goiás conta com 23 unidades de internação, sendo o Hugol a principal delas.
A especialista defendeu a regulação de fluxos e protocolos para cada nível de atenção na linha de cuidado. Eles envolvem a busca ativa e prevenção nas Unidades Básicas de Saúde (UBS); o diagnóstico e estabilização de pacientes, após a realização de eletrocardiograma, nas Unidades de Pronto Atendimento (UPAs); o transporte do SAMU (Serviço de Atendimento Móvel de Urgência), acessado pelo número 192; e a adequação dos atendimentos hospitalares, com os devidos equipamentos, capacidade técnica e qualificação profissional.
Ela também destacou a importância da implementação das políticas de boas práticas cardiovasculares.
Aumento dos investimentos
A presidente do Conselho de Secretarias Municipais de Saúde do Estado de Goiás, Patrícia Fleury, defendeu aumento de investimentos e uma melhor distribuição dos recursos para os municípios. “São os municípios que executam as políticas de cuidados. Os recursos hoje disponíveis não dão conta de atender toda a rede, que vai da atenção primária até a urgência e emergência”.
Ela denunciou lacunas que dificultam as políticas de regionalização de saúde. “80% dos pacientes com dor torácica aguda não têm acesso aos serviços no tempo correto, que está dentro de uma janela terapêutica de até duas horas, e 30% dos que têm acesso não são encaminhados para o local correto para atendimento”.
E apresentou sugestões para a efetiva implementação dessas políticas. Elas incluem a monitorização e financiamento adequados, a separação da demanda por necessidade e a melhoria da organização tripartite, de modo a aliviar os 70% cobrados dos municípios para manter os atendimentos nas unidades básicas.
Foco na prevenção
O presidente da Sociedade Goiana de Cardiologia, Alberto Las Casas, destacou a necessidade de ajustes importantes a serem feitos nos atendimentos. A rapidez no diagnóstico foi apontada como ponto fundamental para redução dos riscos de óbitos e sequelas incapacitantes. “Tivemos até agora 241 mil óbitos por infarto. Parte significativa deles poderiam ter sido evitados com atendimentos de emergência adequados. Precisamos trabalhar para reduzir o tempo do paciente com sintomas”.
Ele informou que a identificação dos sintomas não envolve apenas dores na região torácica. “Infartos podem estar relacionados por dores que vão do umbigo até a ponta do nariz, incluindo as costas, e ambos os lados. Há também os casos silenciosos”, alertou.
Por fim, encerrou sua fala dedicando foco especial ao trabalho de prevenção, reiterando a importância do fortalecimento de políticas de incentivo à adoção de hábitos de vida saudáveis.
Dentre os fatores de risco de doença coronariana, onde se inclui o IAM, elencou condições já amplamente divulgadas, como a diabetes não controlada, o tabagismo (incluindo todas as modalidades, como o uso da cannabis, narguiles e cigarros eletrônicos), a obesidade, o sedentarismo, hábitos alimentares prejudiciais com abuso do consumo de ultraprocessados e açúcar, o descontrole da pressão arterial e do colesterol.
Las Casas apresentou dados de referência para o controle de alguns hábitos, como o consumo de bebidas alcoólica, que deve ser restrito à 100g de álcool por semana (o correspondente a 3 latinhas de cerveja, por exemplo); e a prática regular de atividade física, que deve somar de 150 a 300 minutos por semana (ou 5 dias de 60 minutos). Reduzir a ingestão de sal, carne vermelha e alimentos gordurosos e investir na saúde mental também estiveram entre as recomendações listadas.