Parlamento goiano lembrou os 37 anos do acidente com o Césio-137, em sessão solene na noite dessa segunda-feira
Em lembrança aos 37 anos do acidente radioativo com o Césio-137, ocorrido em Goiânia, em setembro de 1987, o Legislativo goiano realizou, na noite dessa segunda-feira, 30, solenidade para homenagear as vítimas da tragédia. A sessão foi proposta pelo presidente da Assembleia Legislativa de Goiás (Alego), deputado Bruno Peixoto (UB). O coordenador do Centro Regional de Ciências Nucleares do Centro-Oeste da Comissão Nacional de Energia Nuclear (CNEN), Walter Mendes Ferreira, e a ex-presidente da Fundação Leide das Neves (Funleide), a médica Maria Paula Curado, receberam a Medalha do Mérito Legislativo Pedro Ludovico Teixeira.
Bruno Peixoto teve ao seu lado na mesa diretiva: o subsecretário de Vigilância e Atenção Integral à Saúde, Luciano de Moura Carvalho, no ato representando o secretário de Estado da Saúde, Rasível dos Reis; a subprocuradora-geral de Assuntos Administrativos da Procuradoria-Geral do Estado de Goiás (PGE), Luciana Benvinda Bettini, no ato representando o procurador-geral, Rafael Arruda Oliveira; o desembargador do Tribunal de Justiça de Goiás, Itaney Francisco Campos, e a esposa, Leila Regina da Costa. Também tiveram assento à mesa, a diretora-geral do Centro Estadual de Assistência aos Radioacidentados (Cara), Glauciene Umbelina de Freitas Esteves; o coordenador do Centro Regional de Ciências Nucleares do Centro-Oeste da CNEN, Walter Mendes Ferreira; e a ex-presidente da Funleide, Maria Paula Curado.
A sessão foi aberta com a exibição de um vídeo mostrando o trabalho do Centro Estadual de Assistência aos Radioacidentados. Na sequência, Bruno Peixoto se solidarizou com todas as vítimas do acidente.
Ele lembrou que tinha 13 anos quando aconteceu a tragédia causada pelo Césio-137 e contou um episódio ocorrido com a turma do colégio em que estudava que, na época, foi para São Paulo participar de um festival interno promovido pela instituição escolar. “Quando chegamos lá, cerca de 30 jovens, todos se afastaram de nós. Diziam: olha os goianos do Césio. Todos se afastaram e ficamos isolados inclusive durante o show. Naquele dia, nós entendemos o que cada um de vocês passou e muitos ainda passam”.
Peixoto ressaltou que os radioacidentados podem contar com o apoio da presidência da Assembleia Legislativa. Ele lembrou de projetos que já apresentou em benefício das vítimas. “Eu apresentei o projeto em relação aos policiais e bombeiros militares, que está em fase de segunda votação, para trazer o benefício para os servidores públicos, porque muitos receberam seu soldo, mas não tiveram reajuste e ficaram defasados ao longo do tempo. São homens e mulheres que enfrentaram o desconhecido e ficaram com sequelas.”
Em seguida, Bruno Peixoto entregou ao coordenador do Centro Regional de Ciências Nucleares do Centro-Oeste da Cnem, Walter Mendes Ferreira, e à ex-presidente da Funleide, Maria Paula Curado, a Medalha do Mérito Legislativo Pedro Ludovico Teixeira.
No discurso, representando os homenageados, Walter Mendes Ferreira afirmou que o acidente radiológico foi uma verdadeira “pandemia”. Ele ainda sublinhou a participação de Maria Paula Curado e do então governador do Estado, Henrique Santillo, chamando-os de corajosos e audaciosos pela decisão de isolar os pacientes contaminados pelo elemento radioativo no Estádio Olímpico.
O físico afirmou que o acidente em Goiânia foi um verdadeiro aprendizado de como lidar com uma situação desconhecida. O que foi feito aqui se tornou referência mundial na prevenção de outras ocorrências do tipo. Ele lembrou que o fato é considerado o maior acidente radiológico do mundo. "O que nós aprendemos aqui, estamos transmitindo a uma geração para que nunca mais isso volte a ocorrer. A Comissão Nacional de Energia Nuclear teve seu aprendizado aqui em Goiânia. Muita gente pergunta: vocês estavam preparados para essa situação? Evidentemente que nós tínhamos dificuldade de trabalhar e foi aqui que aprendemos”.
Ele revelou que, após o Césio-137, todos os arcabouços legais e normativos da CNEN foram modificados e o Brasil se tornou referência mundial principalmente para a Agência Internacional de Energia Atômica, que é o centro de referência das Nações Unidas para assuntos nucelares e acidentes radiológicos.
Antes da entrega dos Certificados do Mérito Legislativo aos outros homenageados da noite, o poeta Adalberto Monteiro recitou o poema “Superar as dores sim, esquecer jamais”, feito em homenagem às vítimas do acidente radiológico.
Antes do encerramento do ato solene, Maria Paula Curado, que atuou na linha de frente de atendimento aos radioacidentados, também fez uso da palavra. A médica recitou um poema de Carlos Drummond de Andrade para dizer que todos os envolvidos no acidente ficaram com um pedaço dela, assim como um pouco dela ficou com todos.