Registro histórico
Há 80 anos, em 1945, acabava em Goiás o 1º período de poder de Pedro Ludovico Teixeira, interventor nomeado por Vargas. O político renunciou ao cargo de governador, depois de 15 anos seguidos à frente do Executivo estadual.
Há 80 anos, em 1945, acabava no Brasil o período do Estado Novo, liderado no Brasil por Getúlio Vargas e comandado em Goiás pelo então interventor Pedro Ludovico Teixeira.
A eleição presidencial de 1930 trouxe dois principais nomes para duelarem na arena política: Júlio Prestes e Getúlio Vargas. Getúlio vira presidente, mesmo derrotado (de 59% a 41%), por ter o apoio militar que possibilitou sua assunção à Presidência do Brasil com um golpe de estado no mesmo ano.
Em 24 de outubro de 1930, foi determinada a prisão de Pedro Ludovico para o presídio da cidade de Goiás, mas, durante o percurso, veio a notícia da vitória do golpe (também chamada revolução, por alguns). Assim, Ludovico chegou ao destino não mais como prisioneiro, mas para assumir a liderança de um movimento vitorioso e o governo provisório do Estado. Em 21 de novembro de 1930, foi nomeado interventor em Goiás.
A tentativa de rompimento com o passado sempre esteve presente nos discursos de Getúlio e Pedro Ludovico. A própria nomenclatura “novo” (presente no "Estado Novo", espécie de golpe dentro do golpe, em 1937) nos remonta a essa construção ideológica de ruptura com o passado político, nomeado pelo mesmo governo como “República Velha”, e a inauguração de uma pauta político-ideológica para o país que abarcava desde a economia até a cultura nacional.
O então Estado Novo começou em 1937 após um golpe de estado, derivado do fechamento do Congresso Nacional e que como produto teve a escrita de uma nova Constituição, se encerrando apenas em 1945.
No dia 29 de outubro de 1945, Getúlio Vargas, como o próprio ressaltou depois em sua carta-testamento (escrita pouco antes de seu suicídio, dez anos depois), renunciou ante a iminência de ser deposto por um golpe militar, sendo conduzido ao exílio na sua cidade natal, São Borja (RS).
No dia seguinte, Pedro Ludovico fala ao jornal Folha de Goyaz e avalia que “o Brasil está passando novamente por uma radical transformação”. De forma enigmática, diz ainda que “o jogo de interesses e de paixões de ordem personalística, tão comum em momentos como este, não deve de nenhum modo influir nas decisões de cada cidadão no tocante à sua conduta para com os reclamos da pátria". O jornal, prevendo a sua iminente queda, dizia que "Pedro Ludovico recebia de seus amigos e correligionários as maiores demonstrações de amizade e apoio político".
Quatro dias depois, era a vez de Pedro Ludovico renunciar ao cargo de governador em Goiás, depois de 15 anos seguidos à frente do Executivo estadual. A Folha de Goyaz registra, em 4 de novembro de 1945, a carta-renúncia de Pedro Ludovico, por meio de telegrama: “Exmo Sr. Dr. José Linhares, presidente da República, felicitando vossa excelência pela honra de haver substituído o maior presidente da República que já teve no Brasil. Malgrado alguns erros cometidos, aproveito oportunidade para depor em suas mãos o cargo de interventor federal neste Estado, cuja administração venho modestamente exercendo há quinze anos. Atenciosas saudações”.
O presidente José Linhares aceita a renúncia de Pedro Ludovico e empossa o então presidente do Tribunal de Justiça do Estado de Goiás como interventor federal: Eládio de Amorim. Ele ficaria no cargo até fevereiro de 1946.
No dia 2 de dezembro de 1945, foram realizadas eleições livres para o Parlamento e Presidência, nas quais Getúlio seria eleito senador pela maior votação da época no Rio Grande do Sul e Pedro Ludovico seria eleito senador por Goiás, também com votação expressiva.
Era o fim da Era Vargas, mas não o fim de Getúlio Vargas nem de Pedro Ludovico. Em 1951 Getúlio retornaria à presidência pelo voto popular, assim como Pedro Ludovico voltaria a ser governador em Goiás, ambos vitoriosos nas eleições gerais de 1950.