Todos contra o marketing do vício

Desde 1987, a OMS faz do dia 31 de maio uma oportunidade para alertar sobre os riscos do tabagismo. A campanha deste ano escolheu um tema que chama atenção para novas estratégias da indústria tabagista.
"Desmascarando a indústria do tabaco: expondo as táticas das empresas para deixar os produtos de tabaco e nicotina mais atrativos". Com esse slogan, a campanha da Organização Mundial da Saúde (OMS) para o Dia Mundial sem Tabaco 2025 denuncia a ofensiva de marketing que mira no público jovem.
Para tornar mais palatáveis os produtos de nicotina, estão sendo acrescentados agentes químicos que mascaram o cheiro e o sabor do tabaco. A Organização Pan-Americana de Saúde (Opas) compartilha a preocupação de que esse conjunto de táticas contribua para a iniciação precoce do consumo de nicotina, conduzindo à dependência um número crescente de adolescentes e jovens. "Ao apresentar estes produtos de uma forma mais atrativa, a indústria não só expande seu mercado atual de consumidores, como também torna mais difícil deixar de fumar, prolongando a exposição a substâncias nocivas", expõe o material de divulgação da Opas.
O deputado Gustavo Sebba (PSDB), que é médico e preside a Comissão de Saúde da Assembleia Legislativa de Goiás (Alego), destaca que o tabagismo ainda é uma das principais causas de morte evitável no Brasil e no mundo. "O cigarro mata cerca de 8 milhões de pessoas por ano em todo o mundo. Precisamos continuar investindo em campanhas de prevenção, em apoio para quem quer parar de fumar e em ações que conscientizem a população, principalmente os mais jovens", aponta o parlamentar.
Vaper
O médico Túlio Sardinha adverte que os cigarros eletrônicos, os chamados vapers, são ainda mais perigosos que os cigarros convencionais, dada sua composição e elevado risco de vício. "Um único pod contém nicotina equivalente a três maços de cigarros tradicionais. As pesquisas têm demonstrado que 70% dos usuários desenvolvem dependência química em menos de um mês de uso regular", elenca o médico.
Tramita na Assembleia Legislativa de Goiás (Alego) um projeto do deputado Clécio Alves (Republicanos) que pretende conscientizar crianças e adolescentes sobre os prejuízos causados por cigarros eletrônicos. O processo nº 10488/24, que está apto para inclusão na Ordem do Dia, sugere que sejam realizadas campanhas preventivas nas escolas públicas goianas.
"Muitos jovens acreditam que esses dispositivos são menos prejudiciais que o tabagismo convencional. Ao fornecer conhecimento e recursos educacionais adequados, os estudantes estarão mais bem preparados para resistir à pressão dos colegas e das propagandas que promovem o uso desses dispositivos", argumenta o parlamentar na justificativa da proposta.
A comercialização, importação e propaganda de todos os tipos de dispositivos eletrônicos para fumar são proibidas no Brasil desde 2009. Após diversas consultas públicas, no ano passado, uma nova normativa endossou esse posicionamento (RDC n° 855/2024) e reforçou, ainda, a proibição de seu uso em recintos coletivos fechados. Por causa dessa regulamentação rígida, o país tem se destacado como uma das lideranças mundiais na redução do apelo comercial dos produtos de tabaco e na proibição de aditivos e aromatizantes.
No último dia 19, a Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa) foi uma das seis instituições que receberam o Prêmio do Dia Mundial Sem Tabaco (DMST) 2025, da OMS. A premiação foi realizada durante a 78ª Assembleia Mundial da Saúde, em Genebra, Suíça.
Vida sem tabaco
O publicitário Kaio Costa, coordenador de marketing do gabinete do deputado José Machado (PSDB), tem muito a acrescentar nessa reflexão. Ele fumou desde a adolescência e, durante 14 anos, foi escravo desse hábito. Em entrevista à Agência Assembleia de Notícias, o ex-fumante conta como foi sua relação com o vício e os benefícios de estar longe do cigarro.
Por que você começou a fumar?
O cigarro entrou na minha vida por volta dos 17 anos, para socializar com as pessoas e com o ambiente de festas em que eu vivia na época. Sem que eu percebesse, virou um vício que durou 14 anos.
Como foi seu processo para deixar o vício?
O ponto definitivo foi no início da pandemia de covid19. Quando foi confirmado o primeiro óbito por covid no Brasil, e as causas eram deficiência pulmonar, senti medo de morrer. Mal sabia que eu já estava me matando com o fumo, só que de forma lenta.
Quais são os efeitos positivos dessa decisão?
Já são mais de 5 anos longe do vício e posso garantir que foi a melhor decisão de todas. O cigarro afasta as pessoas, pois incomoda quem não fuma: o cheiro na pele, nas roupas, no ambiente. Fácil não é, mas hoje vejo a mudança, principalmente física, por ter parado de fumar. Tenho mais fôlego e mais ânimo para fazer qualquer atividade que demande um pouco mais de esforço físico.
A socialização com outras pessoas se tornou algo confortável, pois não existe mais aquela necessidade de sair para fumar. A pele é outra, a cicatrização do corpo responde muito mais rápido sem a nicotina no organismo.
Há pesquisas que mostram que homens fumantes têm uma expectativa de vida até 12 anos menor. Ou seja, para dizer sim à vida, eu tive que dizer não ao cigarro. Essa foi, sem dúvida, minha melhor escolha, e eu aconselho que todos façam o mesmo.