Diversidade do Cerrado

O saguão do Palácio Maguito Vilela é o palco de exposição sobre o bioma, que foi aberta na manhã desta segunda-feira, 2, e segue disponível até sexta-feira. Lobo-guará e onça-pintada são alguns dos "animais empalhados" do acervo.
Lobo-guará, onça-pintada, onça-parda, jaguatirica, tatu-canastra, tamanduá-bandeira, veado-mateiro, anta, emas, siriemas, garças, araras azuis, canindés e vermelhas, tucanos, ariranha. Essa pequena e rica representação da diversidade da fauna do Cerrado passa a recepcionar os trabalhadores e visitantes da Assembleia Legislativa do Estado de Goiás (Alego) a partir de hoje, segunda-feira, 2. Trata-se da exposição "Cerrado: Berço das Águas e da Biodiversidade", que foi inaugurada nesta manhã, no saguão de entrada da Casa Legislativa, e segue disponível até o final da semana.
O evento marca a estreia da Semana do Meio Ambiente no Parlamento Goiano. A iniciativa tem como referência o Dia Mundial do Meio Ambiente, celebrado nesta quinta-feira, 5. A data foi criada por ocasião da abertura da Conferência de Estocolmo, em 1972.
Considerada a primeira grande reunião de chefes de Estado organizada pelas Nações Unidas (ONU), para tratar das questões relacionadas à degradação do meio ambiente, a conferência segue como uma referência para as discussões hoje em pauta na agenda ambiental. Essa agenda ganha destaque especial ao longo dessa semana, estendendo-se também pelo restante do mês.
A exposição inaugurada na manhã de hoje integra o acervo do Memorial do Cerrado, sendo fruto do trabalho de taxidermia desenvolvido pelo professor José Hidasi [o ornitólogo, museólogo e taxidermista húngaro foi responsável pela fundação do Museu de Ornitologia de Goiânia, em 1968]. O museu é parte do Instituto do Trópico Subúmido (ITS), que está vinculado à Pontifícia Universidade Católica de Goiás (PUC Goiás).
Já a técnica citada remete ao que ficou popularmente conhecido pelo termo “animais empalhados”. A exposição reproduz um cenário que mostra os animais do Cerrado e em seu habitat natural.
Idealizador da iniciativa, o deputado Antônio Gomide (PT), que atualmente lidera a Comissão de Meio Ambiente, defendeu a importância do evento. “O objetivo é trabalhar, nessa semana, aqui na Assembleia, a questão da educação ambiental. Nós estamos buscando trazer alunos, educadores e a sociedade, em geral, para colocar em pauta, principalmente, a questão da preservação das nossas nascentes, porque Cerrado é o berço das águas, e de uma melhor fiscalização para evitar o desmatamento ilegal no bioma. Essa iniciativa é um pontapé inicial para abertura das discussões sobre o Meio Ambiente neste mês de junho”. O parlamentar também coordena outros dois importantes colegiados com trabalhos relacionados à área ambiental na Casa (Frentes Parlamentares em Defesa do Bioma Cerrado e da Chapada dos Veadeiros).
Educação ambiental e patrimonial
A professora Nicali Bleyer, coordenadora acadêmica do ITS da PUC Goiás, falou sobre a importância da parceria com a Alego.
“A PUC já faz, desde a década de 1990, por meio do instituto, todo um trabalho de educação ambiental e patrimonial voltado para a preservação do Cerrado. Há cinco anos, eu assumi a coordenação do instituto, e a gente tem tentado ampliar esse trabalho para além dos muros da universidade. A parceria com o deputado Gomide é muito importante nesse sentido, para ampliar esse trabalho que historicamente vem sendo desenvolvido internamente na universidade".
Bleyer seguiu destacando os pontos altos do trabalho que coordena. “Quem vai lá [no Memorial do Cerrado] pode vivenciar o bioma em vários sentidos. Lá é bastante sensorial, educativo e científico. Essa é uma das primeiras vezes que a gente sai. A nossa ideia é ampliar mesmo a possibilidade de conhecimento dos acervos que a gente tem e do trabalho que a gente faz, com animais que foram atropelados ou que morreram no zoológico”.
A professora finalizou dando breves detalhes do que o visitante poderá encontrar na exposição. “A ideia de trazer esse cenário, de uma paisagem típica do Cerrado, é estimular esse lado sensorial, para aproximar as pessoas um pouco mais do que é a realidade do bioma”.
O acervo do Memorial do Cerrado reúne atualmente cerca de cinco mil peças, que estão passando por processo de recatalogação. Além de animais taxidermizados de diversas partes do mundo, inclui, também, peças etnográficas indígenas, esse último com cerca de 700 unidades, vindas de comunidades de todo o Brasil.
Preservação do Bioma
A professora Elaine Silva, coordenadora do Laboratório de Sensoriamento Remoto e Geoprocessamento da Universidade Federal de Goiás (LAPIG/UFG), também prestigiou a abertura do evento. A instituição é uma das atuais parceiras da Comissão de Meio Ambiente da Casa, prestando assessoria técnica na área, especialmente na divulgação de dados sobre o desmatamento no Cerrado.
“A gente tem esse compromisso com a sociedade, de produzir dados de confiança e colocar à disposição. A nossa participação hoje vem em prol de pensar a preservação desse bioma. Temos mais de 20 anos de luta e nosso objetivo é sensibilizar a sociedade para o debate sobre o desmatamento, para garantir, por exemplo, que esses animais, daqui a alguns anos, não fiquem só essa memória”, alertou Silva.
A professora informou que, embora relatório recente, divulgado em maio, aponte para uma queda nos índices de desmatamento de todos os biomas brasileiros, o Cerrado segue liderando os rankings do país. “Agora a Amazônia reduziu e, infelizmente, o Cerrado, de dois anos para cá, tem liderado o desmatamento. A sensibilização é importante, porque a gente já tem mais de 50% do Cerrado desmatado e com muita fragmentação. Quanto mais fragmentadas e isoladas são essas vegetações, menos potencial para manter a biodiversidade e, consequentemente, isso vai influenciar no clima e nas águas, que é o nosso bem vital”, arrematou.
Defesa constitucional
A promotora de Justiça Daniela Haun, que coordena a área de meio ambiente do Ministério Público de Goiás (MP-GO), também falou sobre a importância do evento. “Acho relevante a gente trazer essa pauta para inaugurar a semana do meio ambiente, porque ela remete à reflexão sobre o papel que cada um de nós deve desempenhar na defesa ambiental. Ela nos chama a responsabilidade, porque precisamos, cada vez mais, de pessoas engajadas com compromisso, coerência e ação para a defesa dos nossos bens mais caros, que são os nossos recursos naturais”.
Haun seguiu dando detalhes sobre o trabalho que lidera no órgão. “O Ministério Público, por norma constitucional, é tutor do meu ambiente. Ele é o defensor constitucional do meu ambiente, que é um direito difuso. É o protetor e o guardião desses recursos naturais na busca pela sustentabilidade. Nós trabalhamos tanto de forma repressiva quanto também de forma preventiva, no incentivo à construção de políticas públicas para que se tenha melhores resultados, mais resolutividade”.
A promotora finalizou destacando os desafios enfrentados para o alcance dos resultados anunciados. “Nós vivemos momentos de muitos retrocessos legislativos, que impactam demais na defesa do meio ambiente. A gente precisa fazer uma maior integração para construir projetos que sejam conscientes e que sejam conectados com a realidade, com a ciência, com o que é técnico, buscando verdadeiramente o sentido de sustentabilidade”, sustentou.