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Patrimônio histórico

01 de Agosto de 2025 às 09:16
Patrimônio histórico

Artigo da série sobre o centenário do movimento que produziu o estilo art déco detalha seis edificações do conjunto arquitetônico tombado pelo Iphan e que pertencem ao Poder Executivo do Estado de Goiás.

Os primeiros prédios art déco a serem erguidos em Goiânia, o Palácio das Esmeraldas e a antiga Secretaria-Geral (atual Centro Cultural Marieta Telles), estão na Praça Dr. Pedro Ludovico Teixeira, conhecida como Praça Cívica e considerada o marco zero da construção de Goiânia. Chegou a hora de conhecer mais sobre essas e outras edificações neste segundo texto da série especial sobre o centenário do estilo artístico. 

Entre os 22 bens do conjunto arquitetônico art déco de Goiânia tombados pelo Instituto do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional (Iphan), oito estão sob responsabilidade do Poder Executivo estadual. São eles: Palácio das Esmeraldas; Teatro Goiânia; Museu Zoroastro Artiaga; antiga Secretaria-Geral; antiga Chefatura de Polícia, antigo Fórum e Tribunal de Justiça; Colégio Estadual Lyceu e Museu Pedro Ludovico. 

Além disso, o Estado gere também as sedes do Instituto de Educação em Artes Professor Gustav Ritter e da Secretaria de Estado do Desenvolvimento Social, duas edificações art déco na capital que não estão entre as reconhecidas pelo Iphan. Desde 2019, vêm sendo realizadas obras de restauração em várias delas. 

A preservação do patrimônio art déco de Goiânia, ainda que desafiadora, tem sido uma prioridade, aponta a secretária de Estado da Cultura, Yara Nunes. Segundo ela, o desgaste natural do tempo, aliado à falta de manutenção adequada em gestões anteriores, é um dos principais desafios encontrados. “Muitos dos prédios e monumentos estavam em estado crítico, exigindo intervenções técnicas especializadas, respeitando sempre as diretrizes do Iphan”, explica.

Outra dificuldade apontada por Nunes é a garantia dos recursos necessários para obras tão específicas, que demandam materiais e mão de obra qualificada. “É um trabalho cuidadoso, que exige planejamento, investimento e, principalmente, o comprometimento com a história e a identidade da cidade. Felizmente, com uma equipe técnica dedicada e apoio direto do governador Ronaldo Caiado (UB), temos avançado muito”, arremata. 

Palácio das Esmeraldas

Projetado pelo urbanista Atílio Corrêa Lima e construído entre dezembro de 1933 e 23 de março de 1937, o Palácio das Esmeraldas é a sede do Governo do Estado e a residência oficial do governador. O prédio fica na Praça Cívica, no Centro de Goiânia, e está no ponto exato de confluência das três principais avenidas do traçado original da então nova capital: Araguaia, Goiás e Tocantins. 

O local, onde ocorrem diariamente fatos que impactam a vida de todos os goianos, é muito mais que uma simples sede administrativa. A composição de linhas retas, simétricas e sóbrias de sua fachada foi pensada por Lima como uma forma de representar a modernidade de maneira acessível. Outra característica do art déco é o uso de volumes escalonados em diferentes níveis, os quais criam a aparência de alto relevo na estrutura do prédio. 

O revestimento externo verde do Palácio das Esmeraldas é feito com pó de pedra, também chamado de quartzito, nessa cor, e é uma expressão do rebuscamento do art déco. De acordo com o arquiteto Wolney Nunes, o nome do local é uma referência à pedra preciosa verde em questão, entretanto não se sabe a razão ou quem está por trás dessa escolha. 

O doutor em planejamento urbano, Fred Le Blue Assis, observa a influência local nas construções do estilo parisience, o que pode ser percebida nos vitrais do Palácio das Esmeraldas. Criados pelo artista russo Conrado Sorgenitch, eles retratam a história social, cultural e econômica da região e destacam elementos como cavalos, indígenas, motivos da flora e da fauna, além da atuação dos bandeirantes na exploração do Centro-Oeste brasileiro.

A presença de vitrais e o emprego de linhas geométricas são alguns dos elementos que valorizam o estilo art déco da fachada do Palácio das Esmeraldas (Foto: Carlos Costa)

O Palácio das Esmeraldas tem 9.789,96 metros quadrados de área construída e possui três andares, cada um com uma função específica. O térreo corresponde à parte administrativa, ao gabinete do governador, às recepções e aos salões Verde e Gercina Borges Teixeira, além dos jardins, que foram inspirados no Palácio de Versalhes (França) e contam com fontes ornamentais e postes no estilo art déco. Já os outros dois pisos são ocupados pelos aposentos e dependências sociais da residência oficial da família de quem chefia o Poder Executivo estadual. 

O Palácio das Esmeraldas já foi reformado várias vezes para sua manutenção. Em 2005, foram recuperados os vitrais, painéis, pisos, assoalhos de madeira, revestimentos, banheiros e a fachada, com o objetivo de restaurar a arquitetura original da capital e preservar as características históricas de sua construção. Entre 2013 e 2016, outra iniciativa revitalizou as suas instalações, seguindo as normas do Iphan para manter os traços originais. 

A obra mais recente foi concluída no dia 24 de maio de 2025 e contou com o investimento de R$ 3,8 milhões. A reparação incluiu o reparo de fissuras no prédio, recuperação dos balaústres do guarda-corpo da varanda frontal, além de acabamentos nas paredes externas, impermeabilização com manta asfáltica, execução de ladrilho hidráulico, recomposição de peitoril em granilite e a recuperação das fachadas externas.

Centro Cultural Marieta Telles Machado

Conjugar arquitetura e arte sempre produz uma força simbólica e sensível muito potente. É o que defende a gerente de projetos arquitetônicos do Centro Cultural Marieta Telles, Melissa Alves. O espaço está localizado em um dos prédios que compõem o conjunto arquitetônico art déco de Goiânia, ao lado do Palácio das Esmeraldas. 

Construída em 1933, a edificação foi inicialmente usada como escritório técnico das obras da construção de Goiânia e como sede da Secretaria Geral do Estado. Mais tarde, recebeu o Fórum e, depois, foi casa da Secretaria da Fazenda. Aos que não conhecem o Centro Cultural Marieta Telles ainda, as opções lá reunidas trazem ainda mais potencial à visita: o Museu da Imagem e do Som (MIS), a Biblioteca Estadual Pio Vargas, a Biblioteca Braille José Álvares de Azevedo, a Gibiteca Jorge Braga e o Cine Cultura. Todas no mesmo edifício, que também é onde funciona a Secretaria de Estado da Cultura (Secult). 

A característica mais marcante do prédio é o design geométrico usado simetricamente, com linhas retas e trabalho com volumes, e o emprego de mais de uma cor na fachada, que dá destaque aos frisos e aos ornamentos no exterior. Além disso, as amplas janelas, pisos de taco e azulejos com padrão reticulado. O edifício possui dois andares e tem vista para a Praça Cívica. Atílio Corrêa Lima também foi o responsável por este projeto. 

A reunião de diversas práticas artísticas no mesmo espaço valoriza a relação entre o edifício tombado como patrimônio histórico e a população goiana (Foto: Carlos Costa)

O Centro Cultural foi batizado em homenagem à escritora hidrolandense Marietta Telles Machado, que nasceu em 1934. Ela foi contista e cronista, pesquisadora, memorialista, documentarista, ensaísta, poetisa, escritora de peça teatral, conferencista, produtora de cultura e conhecedora das artes em geral. 

Em uma obra de revitalização concluída em junho de 2024, o local recebeu a manutenção dos pisos, reparos nas rachaduras, marquises e pintura na parte externa e interna. Antes em tons de azul e branco, o prédio foi pintado de salmão e branco, cores escolhidas a partir de um estudo cromático do Iphan. Além disso, o Cine Cultura também foi renovado recentemente e a tradicional sala de cinema ganhou uma decoração no estilo art déco

“Quando um espaço cultural ocupa uma edificação histórica há um diálogo vivo entre o patrimônio material e as práticas artísticas contemporâneas. Essa convivência valoriza tanto a programação cultural quanto a própria arquitetura”, opina a gerente Melissa Alves. 

A profissional ressalta a necessidade de evitar que o edifício, o qual ela afirma estar no coração institucional e cultural da cidade, se esvazie de sentido. “Ao ativar esse espaço com mostras, sessões de cinema, encontros e ações formativas, damos a ele novas camadas de uso e de memória, fortalecendo o vínculo afetivo da população com esse patrimônio”, explica.

Museu Pedro Ludovico

A Rua Dona Gercina Borges Teixeira, no Centro de Goiânia, abriga a construção que já foi residência do responsável por tirar o plano de transferência da capital do papel e, hoje, leva os visitantes em uma viagem no tempo: o Museu Pedro Ludovico. O casarão, construído entre 1934 e 1937, foi projetado por Atílio Corrêa como moradia do interventor federal Pedro Ludovico Teixeira. Em 1987, o então governador do estado, Onofre Quinan, autorizou a compra do imóvel, que no mesmo ano foi implantado como museu.

Na edificação, percebe-se a presença da horizontalidade e volumetria geométrica típicas do estilo. Mas, diferentemente dos demais prédios abordados neste texto da série especial da Alego, a arquitetura art déco no Museu Pedro Ludovico deixa de lado as linhas retas e investe em curvas aerodinâmicas, janelas redondas, detalhes cilíndricos e laterais arredondadas. É uma tendência chamada de streamline, que se inspira em transatlânticos e automóveis modernos, e expressa imponência e modernidade. 

Na fachada da antiga residência de Pedro Ludovico Teixeira, o art déco se expressa com curvas aerodinâmicas e detalhes circulares, sem deixar de lado as linhas retas, a simetria e o uso de platibandas (Foto: Izabella Pavetits)

Hoje, o Museu Pedro Ludovico remonta não apenas à vida do político, mas à história da própria capital goiana em seu período de formação. O acervo conta com todo o mobiliário original da família, desde peças de decoração a objetos pessoais, vestuário, fotos e documentos. Além disso, possui também uma biblioteca para pesquisa e um rico acervo iconográfico. O museu abriga, ainda, eventos artístico-culturais, como lançamentos de livros, shows musicais e encenações teatrais, que visam à integração entre espaço e comunidade.

Antigo Fórum e Tribunal de Justiça do Estado de Goiás 

A primeira sede do Poder Judiciário em Goiânia foi instalada, após a transferência da capital, no prédio ao lado do Palácio das Esmeraldas e à frente da antiga Secretaria-Geral do Estado. Erguido em 1936 e inaugurado em 1942, o Antigo Fórum e Tribunal de Justiça do Estado de Goiás, que também recebeu a Procuradoria-Geral do Estado (PGE) por um tempo, é mais um representante do estilo art déco

O prédio se destaca, principalmente, por traços como as suas linhas horizontais, janelas simétricas e ornamentos em relevo baixo e alto. Percebe-se também o uso de mais de uma cor na fachada e de platibandas, termo usado para designar as faixas verticais que emolduram a parte superior de um edifício e que têm a função de esconder o telhado.

No início do último mês de julho, a gestão de Caiado deu início a obras de restauração e modernização do edifício, que estava desocupado desde janeiro de 2019, após laudos do Corpo de Bombeiros indicarem riscos de incêndio. 

Localizado à frente do Centro Cultural Marieta Telles, o prédio do Antigo Fórum e Tribunal de Justiça do Estado de Goiás atualmente passa por uma restauração completa em sua estrutura interna e externa (Foto: Carlos Costa)

A partir do investimento de R$ 4,9 milhões, prevê-se o total resgate do espaço. A ideia é promover a recuperação da fachada e demais características do estilo parisience, serviços de reforço das fundações e estruturas, além de adaptações voltadas à acessibilidade, da substituição da cobertura, implantação de nova rede hidrossanitária, revisão das instalações elétricas, hidráulicas e de prevenção contra incêndio.

No térreo, o prédio terá salas de exposição do MIS, para abrir espaço à cultura e à arte de Goiás. No segundo andar, ficará a parte administrativa da Secult, o que consolidará o local como um espaço cultural e institucional. A expectativa é que as obras sejam entregues em 2026.

Lyceu de Goiânia

O bloco de entrada da instituição de ensino mais antiga da capital, o Lyceu de Goiânia, também está entre os bens tombados pelo Iphan como parte do conjunto arquitetônico art déco. A edificação, que fica na Rua 21, Setor Central, guarda em suas linhas a elegância do tempo e as marcas de uma história que se entrelaça com a memória da educação goiana. 

A arquitetura do prédio alia o colonialismo à tendência de arquitetura que nasceu em movimento na França, destacando-se pela fachada retilínea, o clássico pórtico na entrada, os robustos pilares e os imponentes portões de ferro que conferem um ar grandioso ao conjunto. O projeto original é de Atílio Corrêa Lima e foi posteriormente modificado pelo escritório dos irmãos Coimbra Bueno.

O então Lyceu de Goyaz foi o 17º a ser criado no país, em 1846, na cidade de Goiás. Com a transferência de capital, a unidade de ensino foi para Goiânia, em 1937. O nome “Lyceu de Goiânia” foi oficializado por uma lei aprovada na Assembleia Legislativa do Estado de Goiás apenas em maio de 1976

A instituição foi uma das pioneiras no ensino secundário no Brasil. Por lá passaram dezenas de personalidades que compõem a elite política e artística de Goiás. São nomes como Iris Rezende, Henrique Meirelles, Nion Albernaz e Pedro Wilson, além de escritores como Bariani Ortêncio e Bernardo Élis.

Hoje, o Lyceu de Goiânia é um Centro de Ensino em Período Integral (Cepi) e está em processo de reforma e revitalização completa desde outubro de 2023. Com um investimento de R$ 13,5 milhões, o Executivo estadual quer deixar o espaço pronto para receber mais de 600 estudantes, do 8º e 9º anos do Ensino Fundamental até o Ensino Médio, a partir do ano letivo de 2026. A ideia é que a unidade de ensino se torne a primeira no sistema público estadual a ofertar o ensino bilíngue em francês. 

Antiga Chefatura de Polícia e Procuradoria-Geral do Estado

Inaugurado em 1937, o prédio, que já foi a primeira sede da Polícia Civil em Goiás, chamado então de Chefatura de Polícia e Cadeia Pública, e da PGE, hoje é casa de um hub de pesquisa, inovação e tecnologia. A construção chama a atenção pela fachada elegante e simples, com elementos ornamentais nas janelas, colunas da entrada com capitéis em formato quadrado e uma porta com frisos de flores.

O local, na Praça Cívica, foi totalmente reformado ao custo de R$ 6,4 milhões. A obra durou 26 meses, foi entregue em 2022 e contou com uma completa intervenção estrutural, sem que fossem perdidas as características art déco originais. Desde então, o prédio sedia a Fundação de Amparo à Pesquisa de Goiás (Fapeg), o Instituto Mauro Borges (IMB), grande parte do Centro de Excelência em Inteligência Artificial (Ceia), um braço da Secretaria-Geral de Governo, além de dedicar um espaço à instalação de um coworking que vai abrigar, temporariamente, startups em desenvolvimento. 

Relembre aqui o primeiro texto da série especial que trouxe informações sobre o art déco (redução do termo francês arts décoratifs) e o contexto sobre a escolha do estilo arquitetônico para a construção dos primeiros prédios de Goiânia, no início dos anos 1930.  Veja aqui a galeria de fotos dos prédios art déco da capital. 

Agência Assembleia de Notícias - Repórter: Izabella Pavetits
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