Saúde mental é o foco

O Dia do Psiquiatra, 13 de agosto, remete à necessidade de refletir sobre a importância do profissional no mundo atual, onde ansiedade, depressão e resquícios do isolamento social provocado pela pandemia afetam a população.
Profissional da medicina que por muito tempo teve seu papel reduzido a “médico de loucos”, o psiquiatra hoje é reconhecido por cuidar de um amplo espectro de transtornos mentais e alterações no comportamento, nas emoções e na cognição, promovendo e ajudando a manter a saúde mental. A Assembleia Legislativa do Estado de Goiás (Alego) oferece atendimento com médico psiquiatra aos servidores e seus familiares.
Desde 2016, o 13 de agosto, é dedicado a celebrar e refletir sobre a importância do profissional. A instituição da data coincidiu com a celebração dos 50 anos da Associação Brasileira de Psiquiatria (ABP). Além do reconhecimento ao profissional, a entidade pretendeu mostrar à sociedade essa amplitude da atuação do psiquiatra e reduzir o preconceito.
Em 2020, com a chegada da pandemia de covid-19 e todas as alterações na rotina, especialmente, o isolamento social, aliado ao medo e ao luto, os transtornos mentais, como a ansiedade e a depressão ajudaram a dar evidência à importância do psiquiatra e a quebrar o estigma.
No ano anterior ao início da pandemia, dados da Organização Mundial da Saúde (OMS) já apontavam o Brasil como o país com o maior número de pessoas ansiosas do mundo. Na época, segundo a OMS, 9,3% dos brasileiros, o que correspondia a 18,6 milhões de pessoas, conviviam com o transtorno.
Mas se houve o arrefecimento da crise pandêmica, com a aplicação das vacinas e a consequente redução do número e da gravidade dos casos, a ansiedade seguiu no ritmo contrário. A Pesquisa Covitel (Inquérito Telefônico de Fatores de Risco para Doenças Crônicas não Transmissíveis), de 2024, contou 56 milhões de pessoas (ou 26,8% da população) sofrendo de ansiedade em algum grau no país.
Outro número trazido pelo relatório global World Mental Health Day 2024, mostra que a saúde mental do brasileiro não vai muito bem. Segundo o levantamento, o Brasil está na quarta posição na lista de países com maior nível de estresse. Dos 1,5 mil brasileiros entrevistados, apenas 26% relataram não ter sofrido nenhum pico de estresse que atrapalhasse o seu dia ao longo de um ano.
Atendimento na Alego
Desde 2018, portanto, antes desse aumento nos casos de transtornos mentais provocado pela covid-19, o Parlamento goiano disponibiliza um médico psiquiatra para atendimento prioritário, dos servidores e seus familiares. Segundo o secretário de Saúde e Meio Ambiente do Trabalho da Casa, Eduardo Bernardes, a manutenção de um psiquiatra como servidor efetivo vem justamente atender essa demanda crescente de pessoas com necessidade de um atendimento especializado em saúde mental.
Ele informa que o médico atende de segunda a sexta-feira em turnos diferentes, dependendo do dia, para que os servidores consigam agendar no horário que for mais adequado. O agendamento é feito presencialmente, no balcão da Diretoria de Saúde e Meio Ambiente do Trabalho.
Além disso, a diretoria faz uma busca ativa entre os servidores. “A vida moderna nos traz isso. Hoje nós temos tido tantas síndromes: Burnout, Síndrome do Pânico, o estresse da vida diária... então a vida moderna, faz necessário ter o acompanhamento do médico psiquiatra. E aqui na Casa a gente faz isso bem de perto. Temos uma enfermeira que visita os gabinetes e que faz a aferição de pressão, faz o acompanhamento dos trabalhadores e nos traz essa informação e nós agendamos para quem necessita.”
O perfil do atendimento é ambulatorial: o especialista faz uma avaliação do paciente e sugere o tratamento, que pode incluir a atenção de outros profissionais, como o psicólogo. Se houver necessidade, o próprio médico agenda o retorno. Dependendo da avaliação o psiquiatra também pode encaminhar os casos mais complexos para serviços especializados.
Bernardes ressalta que, apesar do perfil ambulatorial, pacientes com crises leves, podem ter atendimento na Casa, mas caso seja uma crise mais grave, ele deve ser encaminhado para um atendimento específico. “A gente tem que lembrar que uma crise, por exemplo, de ansiedade, é diferente de um surto. Se a pessoa chega em surto, agitado, que precisa ser contido, não é nosso perfil. Nesse caso ele tem que ser encaminhado para um pronto-socorro psiquiátrico.”
Apesar do atendimento médico da Casa ser voltado para servidores e familiares, por determinação do presidente Bruno Peixoto (UB), as vagas excedentes podem ser preenchidas pela população em geral. “As vagas ociosas, aquelas que sobram, que não completam a agenda dele, a gente abre para a população em geral, porque o presidente orienta que aqui é a Casa do Povo, então precisamos fazer jus a isso, e atendemos a população.”
Porta de entrada
Segundo a médica psiquiatra Gabriela Jamaluddin, a porta de entrada para pacientes psiquiátricos na rede pública de saúde são os Centros de Atenção Psicossocial (Caps), que, geralmente, são de gestão das prefeituras. Os pacientes podem buscar o atendimento por conta própria ou serem encaminhados por unidades de saúde.
Alguns municípios, especialmente os maiores e mais populosos, também mantêm prontos-socorros psiquiátricos, unidades especializadas em casos mais graves, que exigem atendimento emergencial. “Crises mais fortes, mais agudas, de depressão, de ansiedade, síndrome do pânico, em surtos psicóticos ou suicidas precisam desse tipo de atendimento”, ensina a psiquiatra.
Em Goiânia, o Pronto Socorro Psiquiátrico Professor Wassily Chuc faz esse atendimento e em Aparecida de Goiânia, a emergência psiquiátrica funciona na Unidade de Pronto- Atendimento (UPA) Flamboyant.
Gabriela Jamaluddin explica ainda que, normalmente, o paciente psiquiátrico, precisa de um acompanhamento mais prolongado. E isso vale tanto para quem se consultou nos Caps ou passou por uma crise e foi atendido em uma emergência. Ela detalha, ainda, que muitas vezes uma internação temporária é necessária, até que o paciente consiga sair da crise, mas que a hospitalização deve ser a mais breve possível. “Aquele modelo manicomial, em que o paciente é abandonado lá, somos contra, está totalmente ultrapassado, mas alguns pacientes precisam de internação, em alguns momentos, só que elas devem ser pontuais. Depois o tratamento segue com a convivência e a responsabilidade da família, até porque o vínculo familiar ajuda o paciente. Esse modelo é uma forma de o Estado e a família compartilharem a responsabilidade.”
Mesmo com algumas falhas, a psiquiatra, que atendeu por muitos anos em Caps da capital, acredita que o acompanhamento feito nessas unidades é de boa qualidade e apresenta resultados satisfatórios. “O atendimento que o paciente tem nos Caps, mesmo se ele quiser, não vai conseguir na rede privada, porque é um acompanhamento multiprofissional. Além do médico, ele tem a socialização, atendimento de psicologia, educação física, terapia ocupacional, fisioterapia, farmacêutico... é completo.”
A atuação do profissional
Gabriela Jamaluddin lembra que o psiquiatra tem muitas atribuições, sendo o médico responsável pelo diagnóstico de transtornos como o autismo, o transtorno do déficit de atenção com hiperatividade (TDAH), a bipolaridade, a esquizofrenia, entre outros.
Ela orienta ainda que mesmo as pessoas que não apresentam sintomas de transtornos, devem ficar atentas para alguns sinais que o corpo emite que podem indicar que algo não vai bem com a saúde mental: ansiedade prolongada por mais de duas semanas, tristeza constante, que atrapalha o dia a dia, insônia ou sonolência, falta de memória, atenção prejudicada, irritação por qualquer motivo, aumento ou redução do apetite. Tudo isso deve ser observado e, se possível, um profissional deve ser consultado. “Ele vai investigar, vai pedir exames, vai avaliar e, se for preciso, indicar um tratamento, que pode ser com medicamentos, com terapia, enfim, vai proporcionar qualidade de vida.”
A profissional reitera que a sociedade precisa entender, de vez, que o psiquiatra é um médico especialista, que lida com questões genéticas e biológicas, capaz de avaliar as condições do sistema nervoso central e que atua com embasamento científico, como qualquer outro médico. “Nós precisamos ser vistos como profissionais que lidam com o corpo humano, com uma parte do corpo humano, como outras especialidades cuidam de outras partes. Lidamos com a loucura também, mas não de uma forma metafísica, é de forma científica, com exames médicos e muito conhecimento”, sintetiza.
Por fim, ela chama a atenção para mais um aspecto, que acredita ainda ser negligenciado: a falta de abertura da sociedade para outros transtornos. “Essa visibilidade que estamos tendo para o autismo, não se vê para outros transtornos, como a esquizofrenia, por exemplo. Não vemos falar nada, não asseguramos direito para essas pessoas. E todos merecem respeito e atenção”.