Frente parlamentar Goiás–China forma grupo de trabalho para ampliar cooperação

A Frente Parlamentar de Integração Goiás–República Popular da China (FPIGOCHI) realizou, na manhã desta quarta-feira, 10, reunião de trabalho na Sala das Comissões Júlio da Retífica, para alinhar ações, instituir um grupo de trabalho e avançar na elaboração de um relatório estratégico sobre oportunidades de cooperação entre o Estado e o país asiático.
O encontro foi conduzido pelo coordenador da frente, deputado Mauro Rubem (PT), que abriu os trabalhos com a apresentação dos objetivos e da pauta, agradecendo a presença dos participantes e registrando o apoio de parlamentares que integram o grupo. “Agradeço a presença de todos e o diálogo que estamos construindo com os deputados desta Casa. Mesmo sem a participação da Embaixada, nesta manhã, em razão de agenda, ajustamos pontos importantes para aprofundar os trabalhos e aproveitar esse momento ímpar de estreitar as relações entre Goiás, Brasil e China”, disse.
O parlamentar destacou o papel institucional da Secretaria de Relações Internacionais da Alego e o incentivo do presidente da Casa, deputado Bruno Peixoto (UB). “Ele é um entusiasta desta frente e foi quem primeiro pensou a sua criação”. A reunião foi transmitida pela TV Assembleia e pelo veículo da Associação de Egressos e Egressas da UFG.
Participaram Ana Lúcia Vaz Simão, secretária de Relações Internacionais da Alego; Juliano Mioto, diretor da Associação Comercial, Industrial e de Serviços do Estado de Goiás (Acieg); o professor Francisco Quaresma, do Instituto Confúcio da Universidade Federal de Goiás; o médico Lyu Junchao, do Instituto Confúcio; o engenheiro Antônio de Pádua, representante do Conselho Regional de Engenharia e Agronomia de Goiás (Crea-GO); Vitor Escher e Eliomar Pires Martins, da Associação de Egressos e Egressas da UFG; Marcelo Gomes, da Fecomércio-GO; Cláudio Curado, assessor da frente parlamentar; e Max Lu, embaixador da amizade Catalão–Goiás–China, que também representará o grupo em evento de turismo na China, nos próximos dias.
Instituída em maio de 2025, a FPIGOCHI nasceu com a missão de mapear possibilidades econômicas e produzir um relatório de investimentos com foco em logística e fomento à agricultura familiar. Para esta etapa de trabalho, a frente convidou a Embaixada da China, cujo embaixador esteve na Alego, na semana passada, em reunião com Rubem, entidades do setor produtivo, instituições de ensino superior, representações sindicais da agricultura familiar e todos os parlamentares da Casa.
O grupo de trabalho a ser formalizado reunirá a assessoria da presidência da frente, entidades representativas da sociedade goiana, órgãos do governo federal e interlocutores da sociedade chinesa, com tarefas de diagnóstico da atual relação Goiás–China; avaliação do potencial logístico do Estado, a partir de sua posição central e da malha ferroviária e rodoviária; análise do potencial da agricultura familiar em Goiás e no Brasil; e identificação de investimentos estruturantes capazes de gerar empregos e agregar valor à produção local.
Ao contextualizar a agenda, Mauro Rubem ressaltou que a integração deve articular comércio, cultura e ciência. “Queremos uma relação solidária e construtiva com a China, unindo cooperação tecnológica, cultural e oportunidades para os nossos produtores e empresas. Goiás é estratégico, e o grupo deve trazer o máximo de atores, deputados, vereadores, universidades e sociedade civil, para uma agenda de resultados”. O deputado citou o recente avanço de projetos de energia renovável que conectam o Nordeste a Goiás, com participação de empresas chinesas, e propôs que a frente parlamentar organize, com apoio da Embaixada, uma visita oficial e a construção de uma agenda com o Governo Federal. Ele adiantou, ainda, que 2026 será o Ano Cultural Brasil–China e defendeu que Goiás se antecipe. “Pela cultura, intensificamos relações comerciais. A UFG pode nos ajudar muito. Vamos criar uma agenda de trabalho ouvindo todos e definindo entregas”.
Logística
Na sequência, o assessor Cláudio Curado apresentou um panorama logístico e os gargalos que limitam o pleno uso da Ferrovia Norte-Sul (FNS) e das conexões com os portos, destacando a incompatibilidade de bitolas entre trechos, 1,60 m na Norte-Sul e 1,00 m em ramais operados pela antiga FCA, e a ausência de terminais de transbordo à altura das necessidades em Anápolis. Ele defendeu um plano que transforme Goiás em hub logístico nacional, a partir de Anápolis e Catalão, e propôs cronograma para entrega de um relatório “substantivo” entre dezembro e janeiro, a ser encaminhado à Embaixada da China, aos ministérios brasileiros de Relações Exteriores e do Desenvolvimento, ao presidente do novo banco de desenvolvimento (Banco do BRICS) e às entidades empresariais. “Se mostrarmos que investir tantos bilhões traz retorno mensurável e geração de empregos, criamos um negócio de ganha-ganha para Goiás, para o Brasil e para a China”, pontuou.
O engenheiro Antônio de Pádua reforçou as críticas aos entraves ferroviários, lembrando que, apesar da existência de terminais e da posição privilegiada de Brasília, Anápolis e Goiânia, parte relevante da produção agrícola e de fertilizantes segue no modal rodoviário. Ele alertou para riscos na renovação de concessões ferroviárias sem contrapartidas de investimento em Goiás e em Minas Gerais, citando propostas apresentadas pela concessionária e a falta de transparência sobre versões mais recentes. “Precisamos de um terminal de transbordo eficaz em Anápolis, de investimentos que elevem a velocidade operacional e a capacidade, e de uma estratégia que inclua o transporte de passageiros. Não dá para aceitar projeções que nos deixem, em 2056, com trens a 18 km/h”, frisou, ao defender que a Assembleia Legislativa de Goiás obtenha cópias das minutas encaminhadas ao Ministério dos Transportes e ao Tribunal de Contas da União e atue para corrigi-las.
Diante dos apontamentos, Rubem propôs a realização imediata de uma audiência pública sobre ferrovias, com a presença do Ministério dos Transportes, da Agência Nacional de Transportes Terrestres, e de representantes das concessionárias. “É estratégico discutir o que é interesse de Goiás e as oportunidades que a China apresenta. Precisamos construir uma unidade política que sustente projetos estruturantes para além de governos. O eixo Goiânia–Anápolis–Distrito Federal já é um dos mais populosos do país e exige respostas à altura”, pontuou. Para o petista, a frente deve articular empresários, parlamentares e governos na formatação de um anel logístico que integre alta velocidade, cargas e cadeias de valor, do campo à indústria de transformação.
Cultura
No eixo acadêmico e cultural, o professor Francisco Quaresma apresentou as frentes de cooperação da UFG com universidades chinesas. “A UFG tem todo interesse em participar deste projeto. Fomos a primeira universidade do Brasil a criar o curso de Inteligência Artificial e mantemos parceria com uma universidade em Guangdong nessa área. Temos cooperação com a Universidade de Medicina Chinesa de Hebei e com a Universidade de Estudos Estrangeiros de Tianjin. Assinamos, recentemente, acordo com a Universidade Agrícola da China para iniciativas ligadas à agricultura familiar”, relatou. Ele lembrou que o Instituto Confúcio da UFG é o único da América Latina dedicado à medicina chinesa e oferece, além de mandarim, cursos de acupuntura, tui-ná e tai chi, muitos em formato on-line. “Com o estreitamento das relações, as pessoas precisarão aprender a língua, e estamos prontos para apoiar a formação”, disse, observando o crescente interesse de alunos chineses em cursar português no Brasil.
O médico Lyu Junchao enfatizou o papel da língua e da formação de tradutores na cooperação prática entre os dois países. “Para aprofundar a cooperação entre chineses e brasileiros, a prioridade é o idioma. O Instituto Confúcio oferece turmas de mandarim e quer atender, de forma cada vez mais ampla, essa demanda. Hoje, muitos grandes eventos contam com tradutores chineses, porém, esperamos que mais brasileiros ocupem esse mercado’”, observou, ao citar o espírito de parceria da Iniciativa Cinturão e Rota, de “interesses compartilhados e ganhos mútuos”.
Mauro Rubem propôs, então, um passo operacional imediato com apoio da Escola do Legislativo: “Podemos, em relação direta com o Instituto Confúcio e a UFG, ofertar uma turma de mandarim para os membros da frente e servidores. Assim que terminar a reunião, iniciaremos a organização da lista de interessados, porque a procura será grande”. Em complemento, Cláudio Curado reforçou que a o grupo, já nesta semana, iniciará tratativas formais para obter documentos sobre as concessões ferroviárias em análise, alertando para os impactos de longo prazo: “Estamos falando de prejuízo de 30 anos, se nada for revisto. É hora de agir”.
Exportações
Ao longo da reunião, foram consolidados dados que embasam a estratégia. Goiás ocupa posição geográfica central e integra o eixo Goiânia–Anápolis–Distrito Federal, com cerca de 6 milhões de habitantes e forte poder de consumo. A Ferrovia Norte-Sul chega a Anápolis, conectando o estado ao Porto do Itaqui, no Maranhão, um dos maiores calados do mundo para escoamento de soja e ligas metálicas, e a ramais que ligam Goiás a São Paulo e, futuramente, ao Mato Grosso, além de cinco rodovias que cruzam Anápolis, duas delas federais.
O Estado abriga duas montadoras chinesas de veículos e negocia a instalação de uma terceira. Na base produtiva, são cerca de 80 mil pequenos produtores rurais. Em 2024, o Estado exportou US$ 12,2 bilhões, com superávit de US$ 6,6 bilhões; a pauta foi liderada por soja (55%), carnes (18,8%), minérios (7,67%) e complexo do milho (7,57%). A China respondeu por 50% das exportações goianas, seguida pela América do Sul (10%) e Estados Unidos (5%). Entre as principais cidades exportadoras figuram Rio Verde, Jataí, Luziânia, Barro Alto e Palmeiras de Goiás. Nas importações, China (19%), Rússia (10%) e Estados Unidos (9,5%) lideram a origem, com destaque para adubos (33%), fármacos (21%), veículos (8,8%) e químicos (6,7%). Catalão, Anápolis e Aparecida de Goiânia lideram as compras externas.
Com base nesses indicadores, a FPIGOCHI elencou frentes de ação que incluem atração de indústrias de máquinas agrícolas voltadas a pequenas produções, agregação de valor com plantas de transformação de commodities, investimentos para tornar Anápolis ponto central de contêineres conectado ao Porto do Itaqui e uma agenda de incentivos via BNDES e Banco do BRICS.
O cronograma a ser desenhado contemplará três eixos: potencial econômico estadual com entidades como Faeg, Fieg, OCB, Fetaeg, Fetraf, Crea-GO e Governo de Goiás; potencial logístico e uso integrado da Ferrovia Norte-Sul e do porto seco, com participação do DNIT, Goinfra, Porto do Itaqui, seguradoras e federações empresariais; e modelagem de incentivos fiscais e financiamento envolvendo o Ministério do Desenvolvimento, Indústria, Comércio e Serviços, BNDES, Governo de Goiás e entidades do cooperativismo e da agricultura familiar. O relatório final será apresentado aos membros da frente e encaminhado às instâncias parceiras.
Ações futuras
Nos encaminhamentos, Mauro Rubem propôs, além da audiência pública sobre ferrovias e a turma de mandarim, a construção de uma agenda cultural e turística para celebrar os 50 anos das relações Brasil–China, com possibilidade de documentário e participação de missão parlamentar, articulada com Embaixada, Instituto Confúcio, UFG, Prefeitura de Goiânia e entidades do setor produtivo. “Podemos ser ousados, abrir um diálogo intenso e trazer atividades para Goiás e levar o Estado à China. O embaixador já se comprometeu em construir essa agenda. Vamos formar o grupo de trabalho com a Embaixada e com todos, para entregar resultados”, concluiu.
A Frente Parlamentar de Integração Goiás–República Popular da China conta, além do coordenador Mauro Rubem, com o engajamento de parlamentares da Casa, entre eles Lineu Olímpio (MDB), José Machado (PSDB), Clécio Alves (Republicanos), Karlos Cabral (PSB), Antônio Gomide (PT), Bruno Peixoto (UB), Talles Barreto (UB), Lincoln Tejota (UB), Virmondes Cruvinel (UB), Cairo Salim (PSD), Veter Martins (UB) e Bia de Lima (PT), bem como Issy Quinan (MDB). A próxima etapa será a formalização do grupo de trabalho e a divulgação do cronograma das reuniões temáticas.