Gestores e especialistas debatem encerramento dos lixões em Goiás
Na manhã desta terça-feira, 23, a Assembleia Legislativa do Estado de Goiás (Alego) promove audiência pública voltada à gestão de resíduos e ao encerramento dos lixões em Goiás, por iniciativa do deputado Clécio Alves (Republicanos). O encontro, realizado no Auditório 1, reúne autoridades, gestores públicos, representantes de entidades ambientais, juristas e prefeitos, que se manifestaram sobre os desafios e soluções para a destinação correta dos resíduos sólidos urbanos.
O presidente do Instituto Valoriza, João Neto, destacou a gravidade da situação enfrentada pelos municípios goianos e a importância da iniciativa parlamentar. “É um debate de suma importância. Pelo estado que Goiás se encontra, e com essa frente parlamentar atuando firmemente na defesa do meio ambiente, nós não poderíamos deixar de forma nenhuma de participar. Todo mundo sabe que é um crime ambiental o que está acontecendo nesses locais denominados lixões”, afirmou. Para ele, a legislação já prevê instrumentos para viabilizar a erradicação, mas “falta a vocação política de muitos prefeitos e câmaras municipais”.
O coordenador do Grupo de Atuação Especializada do Meio Ambiente do Ministério Público, promotor Juliano de Barros Araújo, elogiou a mobilização da Alego. “Muito proveitosa e válida essa iniciativa da Assembleia Legislativa em criar essa comissão, porque estamos tratando de um problema que atinge todos os goianos e envolve diretamente diversos municípios”, disse. Ele ressaltou que os obstáculos são culturais e políticos, e defendeu a regionalização como caminho para avanços. “Existem alternativas disponíveis, especialmente para municípios pequenos, que podem utilizar aterros privados já existentes em Goiás para a disposição final. Essa é uma tendência nacional e mundial, e precisamos compreendê-la e aplicá-la”, explicou.
O assessor institucional do Crea-GO, engenheiro Antônio de Pádua Teixeira, também reforçou a relevância do movimento. “Esse movimento é fundamental porque percebemos que agora ele está tomando corpo, já que durante muito tempo o tema recebeu pouca atenção. É essencial que os municípios também abracem a causa da erradicação dos lixões”, afirmou. Ele destacou ainda a preocupação com os resíduos da construção civil, que poderiam ser reciclados e reinseridos em novas obras.
Na mesma linha, o diretor técnico da Associação Brasileira de Resíduos e Meio Ambiente (Abrema), engenheiro Antonio Januzzi, enfatizou os impactos do descarte incorreto. “Quando se fala em lixo, a maioria das pessoas pensa apenas em colocar o saco na porta de casa e esperar que ele desapareça. Mas o descarte incorreto traz uma série de problemas”, alertou. Segundo ele, cerca de 58 municípios goianos já poderiam destinar seus resíduos de maneira adequada com medidas rápidas e viáveis economicamente.
O presidente da Comissão de Meio Ambiente da OAB-Goiás, José de Moraes Neto, defendeu maior integração entre os poderes. “Não podemos ficar presos a disputas políticas, porque quem sofre com isso é o meio ambiente e, consequentemente, a população. É necessária uma atuação conjunta da Assembleia Legislativa, das prefeituras, do Ministério Público e de todos os órgãos ambientais para encontrar soluções economicamente viáveis e ambientalmente sustentáveis”, destacou.
O prefeito de Silvânia, Carlos Mayer (UB), relatou a experiência de seu município como exemplo de superação. “Quando o Clécio foi a Silvânia, conversamos sobre o principal componente para erradicar um lixão, que é a vontade política. Esse é o primeiro requisito que qualquer gestor precisa ter”, afirmou. Ele lembrou que, em apenas quatro meses, o município encerrou as atividades do lixão, retirando mais de 450 caminhões de resíduos e iniciando a estruturação de uma central de reciclagem. “Essa experiência mostra que é possível erradicar lixões, mesmo em municípios pequenos, sem grandes investimentos, mas com planejamento, consórcios entre cidades vizinhas e vontade política”, concluiu.
O diretor regional do Instituto Valoriza Resíduos, Carlos Gaudio Fleury, ressaltou o caráter inovador da audiência. “Muitos falam em crise do lixo e costumam associá-la ao momento em que o caminhão de coleta deixa de passar. Mas, na verdade, a crise que vivemos hoje é institucional, é a crise dos lixões”, pontuou. Para ele, o encontro abre novos caminhos, ao reforçar a segregação, valorização e destinação correta dos resíduos. “O que antes chamávamos de lixo, hoje, de forma correta, chamamos de resíduo. A Europa vai além e chama de matéria-prima, porque é riqueza”, destacou.
Já o prefeito de Morrinhos, Maycllyn Carreiro (PL), alertou para a sobrecarga enfrentada pelos municípios. “Estamos tratando de um fardo extremamente pesado, em relação à logística, organização e disposição financeira para a gestão do lixo. Durante muito tempo, os municípios carregaram esse peso sozinhos”, disse. Ele defendeu a concessão regionalizada e a união de esforços com apoio do Estado e da União. “Com a concessão do lixo e a união de esforços entre municípios, Estado e União, passamos a compartilhar esse fardo. Precisamos do apoio da União e do Estado para tornar o processo viável”, reforçou.
A audiência segue com a palavra franqueada aos demais participantes e com a expectativa de reunir contribuições para que Goiás avance na erradicação definitiva dos lixões, transformando uma realidade que hoje compromete a saúde pública e o meio ambiente em todo o Estado.