Exposição "Fragmentos do Real e do Sonho" traz obras de 4 artistas, refletindo sobre o universo das crianças

A Assembleia Legislativa de Goiás (AlegO recebeu, na noite de sexta-feira, 3, a exposição "Fragmentos do Real e do Sonho", que ficará em cartaz até 31 de outubro no saguão principal da Casa. A mostra reúne quatro artistas que transformam experiências cotidianas, memórias afetivas e espaços urbanos em narrativas visuais marcadas pela diversidade de linguagens.
Durante a abertura, o público pôde conhecer obras que transitam entre o lúdico e o imaginário, ao mesmo tempo em que dialogam com crítica social e afirmação política. Os trabalhos abordam temas como pertencimento, espiritualidade, diversidade e resistência.
O artista Felipe Gatito apresentou personagens poéticos que revelam a espiritualidade criativa por meio de traços simples e acessíveis. Erasmo Gama trouxe telas em cores vibrantes, inspiradas no surrealismo e no expressionismo abstrato. Tio Arte, Rogério Freitas, apresentou "lambe-lambes" e estênceis que retratam o cotidiano popular, aproximando arte e comunidade. Douglas Poderi destacou a força da representatividade negra em murais e telas, celebrando identidade e resistência.
Infância e imaginação
Tio Arte celebrou a oportunidade de expor suas obras no Parlamento e destacou a emoção de levar sua produção das ruas para a Casa de Leis, dividindo espaço com outros artistas da cena cultural goiana. “É muito gratificante levar essa linguagem para um espaço tão importante, especialmente ao lado de amigos e parceiros", afirmou.
O artista observou que seu trabalho também dialoga com a infância e com o futuro que queremos deixar para as próximas gerações. Ele agradeceu à equipe da Casa, em especial à chefe da Assessoria Adjunta de Atividades Culturais da Alego, Emiliana Santos, e reforçou o convite para que o público prestigie a mostra.
Felipe Gatito destacou o papel do imaginário e do lúdico em seu trabalho e na exposição. “Escolhi essas obras pensando muito na minha filha, Rebeca, e na forma como o lúdico nos ajuda a sair da dureza do concreto do dia a dia. Mas não é um lúdico apenas feliz, ele também aponta para o tema central da exposição, dialogando com a realidade de crianças cuja infância, brincadeiras e aprendizado são cerceados."
Gatito disse que seu trabalho é uma reflexão sobre os direitos das crianças e adolescentes e sobre como o lúdico pode trazer esperança. Em algumas obras, crianças aparecem segurando flores ou brincando, convidando o público a revisitar memórias afetivas e refletir sobre a relação entre fantasia e realidade.
Reflexão social
Erasmo Gama, carioca radicado em Goiânia há oito anos, destacou a importância de trazer questões sociais e a visão infantil para a exposição. “Estou muito feliz em participar dessa mostra com três grandes artistas. Percebemos que estávamos produzindo séries que seguem caminhos semelhantes, abordando a criança, o imaginário e inquietações sociais e políticas. É uma oportunidade de trazer essas reflexões para dentro da Casa”, afirmou.
Gama explicou que sua série retrata a infância em contraste com a realidade. “Cresci na Baixada Fluminense, presenciando problemas e injustiças. Ao pintar, imaginei o que ficou para trás dos sonhos daquela criança, o que ela era capaz de imaginar. A criança quer ser astronauta, palhaço, mas se depara com as dificuldades da vida. Alguns sonhos vão ficando para trás, e a obra também retrata o trabalho infantil. É um olhar lúdico, mas crítico, sobre a realidade e as esperanças que permanecem.”
Douglas Poderi explicou que suas obras foram criadas entre 2021 e 2025. “Tenho várias obras e todas seguem uma mesma identidade cromática. Uso uma cor que eu mesmo inventei e batizei, porque ela representa o povo preto. Minha pesquisa é muito sobre isso: representatividade, história e também a minha vivência, além da vivência das pessoas que estão ao meu redor.”
O artista destacou que carrega muito a cor verde nas obras, representando a natureza e o Cerrado de Goiás. “O que eu quero deixar de mensagem nesses espaços é justamente a importância de ocuparmos todos os lugares, de todas as formas e em todos os cargos. Por isso foi tão bacana receber esse convite, porque significa ocupar esse espaço também como artista."
Poderi afirmou que suas obras são sobre representação, e nada mais importante do que estar nesse espaço mostrando essa identidade, trazendo essa voz e reafirmando o lugar que cabe aos criadores de arte.
Visitação
Servidor da Casa de Leis, o jornalista Felipe Cardoso visitou a exposição ao sair do expediente e elogiou a mostra. “Eu estava indo embora quando vi a movimentação no saguão. Gostei muito, achei a exposição bonita e diferente. É bom ter esse tipo de espaço aqui: a gente termina o trabalho e encontra arte logo na saída”, conclui.