Superação e amor próprio

Campanha reforça a necessidade de cuidados preventivos, por que quanto mais precoce for o diagnóstico, maiores as chances de cura. Na Alego, deputados projetam leis e promovem ações em reforço ao Outubro Rosa.
A vida pode recomeçar muitas vezes, e a produtora de eventos Cláudia Fernandes é prova disso. Há dois anos, ela descobriu um câncer de mama ainda no início, passou pelo tratamento, retomou sua rotina e seguiu a vida com otimismo. Mas, recentemente, a doença reapareceu, exigindo dela ainda mais força, fé e resiliência.
“Descobri o câncer numa consulta de rotina e, por uma bênção, foi logo no início. Fiz radioterapia, fiquei ótima e segui minha vida normalmente. Mas, num desses retornos,veio a notícia de que o câncer havia voltado na mesma mama. Meu chão se abriu. Tive medo, mas também muita fé. Pedi a Deus que me mostrasse o que eu ainda precisava aprender com tudo isso”, relata Cláudia.
Após duas cirurgias e um período de recuperação de 40 dias bem delicados, ela recebeu o resultado mais esperado: estava curada. “Chorei mais de uma hora de gratidão. Tudo passa, e quando a vida dá essa chance, a gente aprende a valorizar cada instante”, completa.
Mesmo com a produção artística intensa, Cláudia conta que conseguiu lidar com o tratamento e a rotina com tranquilidade, apoiada pelo médico e pela família. “Tive meus filhos comigo, me dando força. Isso faz toda a diferença. O apoio familiar é essencial, assim como confiar na equipe médica que cuida de você com dedicação e profissionalismo”, afirma.
Ela lembra que a experiência trouxe ainda mais valorização à vida e ao cotidiano: “Me vejo de uma forma diferente, valorizando cada momento, minha saúde, meu trabalho, o céu azul. Sempre fui grata, mas aprendi ainda mais a agradecer”.
Cláudia deixa uma mensagem para todas as mulheres: não deixem de se cuidar. “A gente se perde na correria da vida, no trabalho, na família, nos cuidados com os outros. Mas para ajudar alguém, cuidar de quem amamos e trabalhar bem, precisamos estar bem com nossa própria saúde. Então, o recado é: faça seus exames, cuide-se, evite excessos prejudiciais, durma bem, alimente-se corretamente, pratique exercícios. São atitudes simples, mas que fazem toda a diferença. Sempre fui ativa, treinava dança, natação, musculação, e isso ajudou muito na minha recuperação. Com 45 dias após as cirurgias, já estava retomando meus trabalhos e eventos. Cada dia é um aprendizado e uma oportunidade de valorizar o que realmente importa.
Ciência a favor da vida
Essa história reforça o propósito do Outubro Rosa, movimento que estimula o cuidado com a saúde e o diagnóstico precoce do câncer de mama. Em Goiás, entre 2023 e 2025, foram estimados 3,4 mil novos casos, segundo dados da Secretaria de Estado da Saúde (SES). Apesar de ser uma doença associada ao mundo feminino, posto que acomete com muito mais frequência as mulheres, o câncer de mama também pode ocorrer com os homens. São casos raros que representam uma incidência de menos de 1% do total de casos da doença, mas que podem também vitimá-los. Por isso a conscientização deve envolver todos os gêneros.
O médico mastologista Rogério Bizinoto explica que o exame regular permite o diagnóstico de lesões em estágio inicial, o que reduz a necessidade de tratamentos mais agressivos. “Quando a doença é detectada cedo, a cirurgia se torna menor, e a necessidade de quimioterapia diminui, já que seu uso está relacionado ao estágio do câncer. O diagnóstico precoce permite alcançar o mesmo resultado de cura com menor intensidade de tratamento”, informa.
O especialista destaca, ainda, que a taxa de cura do câncer de mama é muito alta, especialmente nos estágios iniciais. “Nos casos de estágio 1 e 2, a chance de a paciente estar viva em cinco anos é de mais de 90%. É importante que o paciente compreenda que o câncer de mama não é uma sentença de morte, e que a medicina baseada em evidências mostra resultados muito positivos.”
Sobre o apoio ao paciente, Bizinoto reforça a importância da equipe multidisciplinar. “O tratamento não depende apenas do cirurgião ou do oncologista. Psicólogos, nutricionistas, enfermeiros e outros profissionais oferecem suporte fundamental, incluindo atenção à família, que também passa pelo impacto do diagnóstico”, diz.
Cirurgião plástico, Paulo Ricardo Rocha reforça a fala do mastologista e destaca que a cirurgia plástica desempenha um papel crucial nesse processo, ajudando a minimizar os estigmas que a doença pode deixar, mesmo após a paciente estar em remissão. Ele explica que, atualmente, é possível planejar reconstruções mamárias imediatas durante a cirurgia oncológica. “Isso permite resgatar a autoestima feminina, reduzir cicatrizes e devolver a dignidade à paciente, que muitas vezes sofre com a perda parcial ou total da mama, órgão que simboliza feminilidade e tem grande significado emocional.”
Rocha acrescenta que a reconstrução contribui não apenas para o aspecto físico, mas também para a saúde emocional. “Ao devolver a confiança e o bem-estar, ajudamos no alinhamento emocional da paciente, que pode até influenciar positivamente na recuperação e no enfrentamento da doença.”
Apoio legislativo e conscientização
Presidente da Comissão de Saúde da Assembleia Legislativa de Goiás, o deputado Gustavo Sebba (PSDB) ressalta a importância de apoiar campanhas como o Outubro Rosa. “O conhecimento salva vidas. Outubro é um mês voltado para a prevenção e o cuidado em todas as fases da vida. Nosso papel é ampliar o alcance dessas ações e garantir que mais mulheres tenham acesso à informação e aos exames necessários”, afirma.
Já o deputado Karlos Cabral (PSB), autor da lei que incluiu oficialmente o Outubro Rosa no calendário estadual, explica que a campanha é um chamado à vida. “Quanto mais discutimos a doença, mais mulheres conseguem se prevenir e enfrentar o câncer com chances reais de cura.”
De autoria do deputado Paulo Cezar Martins (PL), tramita no Parlamento goiano a propositura 6634/24, que institui o Programa Empresa Rosa, destinado a promover a inclusão e a reinserção de mulheres trabalhadoras que foram diagnosticadas, estão em tratamento ou em período de aguardo de remissão do câncer de mama.
O programa será implementado em parceria com os órgãos e entidades da administração pública estadual, concedendo o selo rosa a todas as empresas que aderirem às novas regras. As companhias devem ser recompensadas com o reconhecimento público, incentivos fiscais e creditícios e, ainda, o acesso a programas de capacitação e orientação para a contratação e a reinserção de mulheres com câncer de mama no mercado de trabalho.
Como parte das ações do Outubro Rosa, a Alego, em parceria com a Prefeitura de Goiânia, promove anualmente a Corrida Rosa e Azul, que chega à sua oitava edição em 2025. O evento une esporte, solidariedade e saúde, incentivando não apenas a prevenção do câncer de mama, mas também do câncer de próstata, ampliando o alcance da conscientização para toda a população.
Serviço
Mamografia gratuita pelo Sistema Único de Saúde (SUS)
Mulheres entre 50 e 69 anos podem realizar o exame gratuitamente em unidades públicas de saúde em todo o estado. É necessário apresentar documento de identificação e cartão do SUS. Mais informações: SES – (62) 3201-3700