Propostas parlamentares buscam reforçar a fiscalização a bebidas adulteradas e propõem ações para proteger consumidores

Diante da constatação de comercialização de bebidas adulteradas no país, que têm provocado contaminações aos consumidores, parlamentares apresentaram, na Assembleia Legislativa, projetos visando adotar medidas de combate a esses crimes.
O deputado Lucas do Vale (MDB) foi o primeiro a apresentar uma proposta. O projeto de nº 25465/25 prevê sanções administrativas aplicáveis aos estabelecimentos comerciais que armazenarem, expuserem à venda, venderem ou distribuírem bebidas adulteradas, deterioradas, alteradas, avariadas, falsificadas, corrompidas, ou fraudadas com metanol ou outras substâncias nocivas à saúde.
Por sua vez, o deputado Cristóvão Tormin (PRD) protocolou, nesta semana, duas propostas. Uma prevê a aplicação de sanções administrativas aos estabelecimentos comerciais que armazenarem, comercializarem ou distribuírem bebidas adulteradas, falsificadas ou fraudadas com metanol ou outras substâncias nocivas à saúde. Essa matéria, de nº 25470/25 apresenta semelhante teor à proposta de Lucas do Vale, portanto, tramitará apensada a esse projeto (25465/25). O outro projeto de iniciativa de Cristóvão Tormim cria o Grupo Estadual de Fiscalização e Controle de Bebidas Adulteradas. Todas as matérias tramitam na Comissão de Constituição, Justiça e Redação.
O projeto de Cristóvão Tormim define que a multa aplicada aos estabelecimentos infratores poderá variar de 100 a 10 mil unidades Padrão Fiscal do Estado de Goiás (UPF-GO), sendo duplicada a cobrança em caso de reincidência. Além disso, ocorrerá a suspensão das atividades pelo prazo de 30 a 180 dias ou intervenção definitivo do estabelecimento com cassação do alvará de funcionamento.
A fiscalização dos estabelecimentos ficará a cargo da Vigilância Sanitária Estadual e Municipal, do Programa de Proteção e Defesa do Consumidor (Procon Goiás), das Polícia Militar e Polícia Civil e do Ministério Público do Estado de Goiás (MP-GO). Ademais, todo o estoque adulterado apreendido será destruído e o nome do estabelecimento infrator será divulgado nos canais de comunicação oficial e nas plataformas de defesa do consumidor.
Para fim de evitar as sanções, a proposta ainda estabelece que os estabelecimentos deverão adotar medidas rigorosas de controle e rastreabilidade na aquisição de bebidas alcoólicas, incluindo: adquirir produtos exclusivamente de fornecedores formais, com CNPJ ativo e regularidade fiscal; exigir nota fiscal válida em todas as compras, conferindo a autenticidade da chave de acesso no portal da Secretaria de Estado da Economia e realizar, no ato da compra, a conferencia de informações. Por fim, em caso de suspeita da compra de produtos adulterados o estabelecimento deverá interromper imediatamente a venda do produto, isolá-lo fisicamente, comunicar os órgãos fiscalizadores e preservar amostras para fins de perícia.
Em justificativa, Cristóvão Tormin destaca que casos recentes envolvendo intoxicações e mortes em decorrência do consumo de bebidas adulteradas com metanol expõem a gravidade do problema e os riscos associados à ausência de controle rigoroso na cadeia de produção e comercialização. “A adulteração de bebidas, especialmente as alcoólicas, configura não apenas uma grave infração sanitária e econômica, mas representa uma verdadeira ameaça à saúde pública, com impactos diretos sobre os sistemas de saúde e segurança pública, exigindo resposta rápida e eficaz por parte do Estado”, observou.
Ainda em tempo, Tormin aponta que a medida é “necessária e urgente, diante do alarmante crescimento de ocorrências relacionadas à comercialização de bebidas contaminadas ou com composição fraudada no país”. Ao citar dados do Ministério da Justiça e Segurança Pública, o parlamentar apontou que entre 2020 e 2023, foram apreendidas mais de 8 milhões de garrafas de bebidas alcoólicas adulteradas em operações realizadas em diversos estados brasileiros, com destaque para a região Centro-Oeste, que concentra grande parte das rotas logísticas utilizadas por organizações criminosas.
Por fim, ele destacou os prejuízos comerciais que a adulteração de bebidas ocasiona. “Além do grave prejuízo à saúde da população, tais práticas ilícitas comprometem o equilíbrio do mercado formal e fomentam a concorrência desleal contra comerciantes e distribuidores que atuam dentro da legalidade. A venda de bebidas falsificadas cause uma perda superior a R$ 10 bilhões por ano em arrecadação tributária no Brasil”, afirmou o parlamentar.
Lucas do Vale, em sua justificativa, ressalta o Ministério da Saúde tem alertado no sentido de reforçar a vigilância, bem como quais ações devem ser tomadas caso haja suspeita de consumo de bebida contaminada por essa substância, visto a ocorrência de casos de intoxicação por metanol.
Além disso, o parlamentar pontua que “as bebidas adulteradas com metanol podem parecer inofensivas, contudo, pode evoluir rapidamente para cegueira e morte”, sobretudo pelas reações químicas que ocorrem no organismo.
Risco à saúde
O metanol, ou álcool metílico, é um composto químico incolor e altamente inflamável, com aplicações industriais variadas. Contudo, é extremamente tóxico para seres humanos, podendo causar cegueira, coma e até a morte em caso de ingestão. A toxicidade do metanol se deve ao modo como o corpo o metaboliza. Diferente do etanol (álcool das bebidas comuns), a metabolização do metanol no fígado produz substâncias ainda mais tóxicas, como o formaldeído e o ácido fórmico. A ingestão de metanol pode causar sintomas iniciais semelhantes aos de uma ressaca, como dor abdominal, náusea e confusão mental. No entanto, os sinais mais graves incluem problemas de visão que podem levar à cegueira permanente.
Lucas do Vale esclarece, ainda em justificativa, "que o ácido fórmico é altamente tóxico no corpo humano, porque inibe a produção de energia
das mitocôndrias das células. Tecidos que demandam mais energia, como é o caso dos nervos e a retina, são os primeiros a serem atacados. O nervo óptico, por sua vez, sofre duplamente tanto pela falta de energia das mitocôndrias quanto pela degeneração das fibras nervosas e da bainha protetora, podendo ocasionar na perda irreversível da visão" e completa que esta condição é chamada acidose metabólica, ocasião em que o sangue fica extremamente ácido, levando a sintomas como respiração acelerada, fraqueza, confusão mental e sobrecarga no coração e nos pulmões.
Grupo de fiscalização
O outro projeto de Cristóvão Tormin (nº 25472/25) cria o Grupo Estadual de Fiscalização e Controle de Bebidas Adulteradas. A proposta tem como finalidade proteger a saúde pública, garantir os direitos do consumidor e combater a produção, distribuição e venda de bebidas adulteradas. O Grupo será composto por representantes dos seguintes órgãos: Secretaria de Estado da Economia; Secretaria de Estado da Segurança Pública, Vigilância Sanitária Estadual e Programa de Proteção e Defesa do Consumidor (Procon Goiás).
O grupo terá como competência a coordenação integral de ações integradas de fiscalização e inteligência, realização de inspeções em comércios e distribuidoras, promoção do controle e rastreabilidade da procedência das bebidas e elaboração de relatórios anuais a serem enviados à Assembleia Legislativa.
O parlamentar destaca, em justificativa, que a adulteração de bebidas, além de configurar conduta criminosa, representa uma séria ameaça à vida e à integridade física da população, podendo provocar intoxicações severas, lesões permanentes e, em casos extremos, levar ao óbito.
Assim, “a proposta se impõe como medida urgente e eficaz, visando ao fortalecimento dos mecanismos de fiscalização, à ampliação da proteção ao consumidor e à garantia da integridade do mercado de bebidas no Estado de Goiás”, salientou o legislador.