Pela volta da geral no Serra Dourada
* Humberto Aidar é deputado estadual pelo PT
Nos últimos anos, os estádios de futebol estão ficando cada vez mais vazios, porque ver o time do coração jogar está se tornando uma opção de lazer apenas para a elite. Aqui em Goiás, a situação não é diferente. Vila Nova e Goiás, os times de maior torcida do Centro-Oeste, jogam suas partidas no Campeonato Goiano e até no Brasileirão com as arquibancadas vazias. O Goiás é o 18º colocado na Série A em termos de público pagante em seus jogos, só perdendo para os novatos Barueri e Santo André. O Vila Nova, que no ano passado foi a segunda maior média de público da Série B, com mais de 12 mil pagantes, este ano decepciona com exatos 5.555 torcedores por jogo. De quem é a culpa? Muitos vão dizer que é da televisão, que transmite jogos 24 horas por dia.
Pode até ser. Realmente, assistir a uma partida de futebol no conforto do lar ou na mesa do bar com amigos, vendo replay e sem correr os riscos de ir a um estádio, é um bom motivo sim. Mas acredito que o grande problema que afasta o torcedor do estádio é a elitização do futebol. Perceba como ir ao Serra Dourada está custando quase que “os olhos da cara”. Outro dia, o Goiás cobrou, na partida contra o Corinthians, R$ 30 na arquibancada e R$ 60 na cadeira. Foi um fiasco. Pouco mais de 16 mil torcedores foram ver o jogo, com Ronaldo em campo. O Vila Nova, considerado um time de uma torcida mais “popular”, cobra R$ 20 na arquibancada e R$ 40 na cadeira. Para cerca de 57% dos trabalhadores brasileiros, que ganham até R$ 900 de salário, os preços são absurdamente altos.
Um trabalhador que vai ao Serra Dourada, sozinho, ver quatro partidas do seu time por mês gasta só de ingresso e mais o ônibus R$ 90, ou 10% do salário que recebe. Levar o filho ou a esposa? Não dá. Beber algo, para matar a sede durante o jogo então, é impossível. Um copo de água, de 200 mililitros, custa R$ 2, e um simples refrigerante – no copo – R$ 3. E se este pobre torcedor quiser ir com a camisa oficial de seu time, vai passar fome o resto do mês. A camisa mais barata, de qualquer clube, custa R$ 150, dinheiro suficiente para comprar umas três calças e umas três camisas na Feira Hippie. Resumindo, o futebol de hoje exclui a maioria dos trabalhadores. Ir ao estádio ver o time do coração jogar custa caro.
O futebol de alto nível também custa caro aos clubes. Goiás, Vila Nova e Atlético gastam uma fortuna todo mês para manter as equipes e precisam de dinheiro. Mas isso não significa que é impossível baixar os preços dos ingressos no Serra Dourada. O Atlético-MG e o Cruzeiro estão sabendo fazer isso com sabedoria. Eles reabriram a geral do Mineirão e estão cobrando ingressos populares, trazendo de volta aos estádios aquele torcedor que ganha menos e não ia aos jogos. O Atlético-MG colocou 41 mil pagantes no Mineirão na partida contra o Náutico. Neste dia, a geral estava sendo vendida a R$ 2, o valor de um copo de água pequeno no Serra Dourada. Já o Cruzeiro abriu a geral do Mineirão na partida contra o Grêmio pela Libertadores. Para ver uma semifinal do mais importante torneio de futebol das Américas, o cruzeirense pagou R$ 15, metade do ingresso do jogo entre Goiás e Corinthians pelo Brasileirão.
Já passou da hora de os dirigentes de clubes em Goiás tomarem uma atitude ousada e inteligente, reabrindo a geral, para devolver ao Serra Dourada o torcedor que sempre foi aos jogos, mas, por causa da falta de dinheiro, deixou de ir. O público que hoje vai ao estádio pagando R$ 20 ou R$ 30 continuará indo e pagando este mesmo valor. Ao abrir a geral – cobrando ingressos verdadeiramente populares, R$ 5, por exemplo –, Goiás, Vila e Atlético estarão ampliando o número de torcedores nos estádios e consequentemente a renda direta e indireta. Sem falar que, com o estádio cheio, o jogador se entusiasma e joga mais para agradar a galera. No final, todos saem ganhando. Fica a sugestão para nossos dirigentes. Reabram a geral do Serra Dourada. Não há nenhum impedimento para isso, tanto que o Atlético-MG e o Cruzeiro já reabriram e teve até semifinal de Libertadores com torcedor na geral. E, coincidência ou não, esses dois times, que tiveram a ousadia de baixar preço de ingressos e reabrir a geral, estão muito bem em campo. O Atlético-MG disputa o primeiro lugar no Brasileirão. O Cruzeiro pode ser tricampeão das Américas. Os times mineiros descobriram o óbvio: estádio cheio empurra o time pra cima do adversário.