Cachoeira e Demóstenes serão convocados a depor na CPI da Assembleia

A Comissão Parlamentar de Inquérito (CPI) criada na Assembleia para investigar possível ligação de autoridades goianas com a contravenção e ainda a atuação das empresas Delta e Gerplan no Estado aprovou na manhã desta terça-feira, 10, requerimento intimando o contraventor Carlos Augusto Ramos, o Carlos Cachoeira, para depor. Os deputados-membros da CPI também aprovaram que o senador Demóstenes Torres (sem partido) seja convidado a prestar informações.
A 11ª reunião da CPI foi aberta pelo presidente Helio de Sousa (DEM), às 8 horas, no Auditório Solon Amaral, com a presença dos deputados titulares Mauro Rubem (PT), vice-presidente; e Tulio Isac (PSDB). Logo a pós a abertura se juntaram aos demais parlamentares o relator Talles Barreto (PTB) e o deputado Wagner Siqueira (PMDB), este em substituição ao deputado Daniel Vilela (PMDB). Os deputados Helder Valin (PSDB), líder do Governo na Assembleia, e Nilo Resende (DEM) também acompanharam a reunião.
Inicialmente, foi aberto espaço para apresentação de requerimentos. O deputado Tulio Isac solicitou a intimação da procuradora-geral da Fazenda Pública do Estado de Goiás, Marta Maia de Menezes Vicentine, e solicitou ao presidente da Junta Comercial do Estado de Goiás (Juceg) o envio à CPI de documentos sobre as empresas Alberto & Pantoja, Gerplan, Qualix e Maestro Publicidade.
Tulio Isac também apresentou requerimento que pede a quebra dos sigilos bancário, fiscal, telefônico e de SMS da GM Comércio de Pneus. O deputado Mauro Rubem apresentou, entre outros requerimentos, o que solicita à Secretaria de Estado de Gestão e Planejamento (Segplan) o envio à CPI, no prazo de dez dias, da relação de nomeações realizadas na Polícia Civil. As propostas serão votadas na próxima reunião da Comissão.
Além de Carlos Cachoeira, foram aprovados ainda na reunião a intimação do coronel Divino Efigênio de Almeida; de Ozenir Pereira Soares, prima do cabo da PM, Marcelo Capinam; e do delegado Natal de Castro Araújo.
Com votação em bloco, foram escolhidos também dois promotores de Justiça para depor - Tito Souza do Amaral e Bernardo Boclin Borges -, entre 11 nomes que constavam da pauta. Também foi aprovado convite a ser feito ao senador Demóstenes Torres para prestar informações à CPI.
Os deputados não aprovaram nenhum dos requerimentos que solicitavam a convocação de secretários e presidentes de órgãos do Governo Estadual.
Por meio de votação em bloco, deputados-membros da CPI, em comum acordo, rejeitaram ainda requerimentos que solicitavam a intimação para depor dos seguintes coronéis da Polícia Militar: Eurípedes José Marques, Paulo Alves, Marciano Basílio de Queiroz e Raimundo Nonato de Araújo Sobrinho. Também foram rejeitadas as intimações dos delegados Cleuzo Omar do Nascimento e Humberto de Jesus Teixeira.
Mauro Rubem pediu ainda o sobrestamento (adiamento) de requerimento de sua própria autoria e do deputado Daniel Vilela, que solicitava a intimação do empresário Pedro Abrão Júnior para depor na CPI.
Depoimentos
Na 11ª reunião da CPI, foram colhidos os depoimentos dos delegados de polícia Aredes Correia Pires, Niteu Chaves Júnior e Juracy José Pereira.
A oitiva com o coronel da Polícia Militar Sergio Katayama também era prevista para a reunião, porém, devido a atraso nas atividades desta terça-feira, o depoimento foi adiado. O coronel se apresentou no horário marcado, mas, por motivos particulares, não pode ser ouvido.
O primeiro a comparecer foi o delegado da Polícia Civil aposentado, Aredes Correia Pires. Em suas considerações iniciais, o delegado falou sobre sua carreira na corporação. Em resposta às perguntas dos parlamentares, ele afirmou que esteve por duas vezes com o empresário Carlos Cachoeira, por causa de inquéritos relativos a atividades com jogos ilegais.
Ele explicou ainda que foi coordenador de campanha do deputado federal João Campos (PSDB) e que participou ativamente da política, por isso, conhecia o ex-vereador Wladmir Garcêz. "O Wladmir me disse várias vezes que Carlos Cachoeira tinha deixado a contravenção e tinha se tornado um empresário bem-sucedido", comenta o delegado.
Aredes Correia admitiu que conversou em rádio Nextel de Wladmir Garcêz quando estava em companhia do ex-vereador. Ele afirmou que não existe comprovação de seu envolvimento com Carlos Cachoeira e que não sabia das atividades ilegais do empresário. Sabia apenas de possível envolvimento de parentes de Cachoeira com a contravenção.
Sobre os diálogos com Cachoeira gravados pela Polícia Federal, Aredes explica que os policiais conversavam com criminosos e contraventores. “Temos diálogos com bandidos de todas as espécies”, afirma.
O delegado reconhece que as conversas que manteve com Carlos Cachoeira são imorais. Quanto às revelações sobre as atividades do serviço de inteligência da Polícia Civil à Cachoeira, Aredes explicou que era apenas “uma forma de se livrar do empresário”. “Em nenhum desses diálogos houve a comprovação de que uma dessas ações se efetivasse”, afirmou.
O delegado explicou ainda que esteve com representantes da Construtora Delta somente por ocasião da assinatura de contrato de locação de veículos para a Secretaria de Segurança Pública, que seriam fornecidos pela referida empresa. Ele afirmou que participou apenas da parte festiva da cerimônia, momento em que os carros foram entregues. Aredes Teixeira revelou também que combateu a contravenção e comandou a maior apreensão de máquinas de bingo da história.
Durante a oitiva, o deputado Wagner Siqueira (PMDB) sugeriu que ele processasse Wladmir Garcêz e o Cachoeira, já que, “como ele mesmo cita, ambos teriam citado seu nome indevidamente em diálogos gravados pela Polícia Federal”.
Aredes disse que foi promovido, pela primeira vez, no governo de Alcides Rodrigues, por indicação do ex-secretário de Segurança Pública, Ernesto Roller, em reconhecimento ao seu trabalho, e afirmou que as promoções políticas na Polícia Civil são muito difíceis de acontecer.
Quanto ao combate ao jogo, o delegado explicou que era um trabalho "desmotivante", pois a polícia fazia a apreensão num dia e, no outro, já existiam novas máquinas funcionando no mesmo lugar. "As máquinas enchiam as delegacias e nada era feito pelas instâncias superiores para solucionar o problema", afirmou.
Por fim, explicou aos presentes que foi o autor da sugestão de equipar a Polícia Civil, em Goiás, com aeronaves, mas não participou do processo de compra das mesmas. "As Polícias Civil e Militar não fazem processo licitatório ou administrativo de um real sequer. O máximo que pode ser feito é pedir a realização da compra", explicou.
O segundo depoente na reunião da CPI foi o delegado de polícia Niteu Chaves Júnior, que, antes de ser afastado de suas funções, era o titular do 2º Distrito Policial da cidade de Luziânia. Em sua oitiva, explicou que era titular em delegacia de Luziânia havia sete anos.
Ele afirmou que teve contato com Washington e Vitorino, proprietários de máquinas caça-níqueis, que lhe foram apresentados por Lenine Araújo de Souza, com quem mantinha contatos casuais e ficou mais próximo durante uma pescaria em Mato Grosso.
Lenine, de acordo com a Polícia Federal, era supostamente o contador do grupo de Cachoeira. Ele conta também que não sabia das atividades ilegais de nenhuma dessas pessoas.
Niteu Chaves Júnior afirmou ao relator Talles Barreto (PTB) que recebeu de Lenine Araújo de Souza uma passagem para a Argentina, para onde viajou de férias com sua mulher. No entanto, ele garante que, posteriormente, ressarciu Lenine, em dólares, que teria trazido da viagem.
Ele contou também que Lenine e empresários da região ajudavam muito a delegacia que comandava na cidade, que é escassa em recursos. O delegado explicou que é candidato a vereador pelo PTB em Luziânia e que, por isso, tem ido em busca de patrocinadores para sua campanha.
O delegado revelou que os R$ 2 mil aos quais Lenine e Washington se referiram, em conversa telefônica grampeada, seriam destinados, na verdade, à delegacia de Luziânia, para reforma do motor de uma viatura. Na conversa, os dois contraventores dizem que a quantia seria entregue a Niteu.
Niteu Chaves Júnior explicou que, diante do seu interesse em ser candidato, não só Lenine Araújo de Souza, mas outros empresários, se disponibilizaram a ajudá-lo em sua campanha.
Segundo ele, a relação dele com empresários na cidade se dá pelo fato de que a delegacia do município sempre precisou de recursos, pois até papel para impressão costumava faltar e que, por reconhecimento ao seu trabalho, a sociedade de Luziânia sempre ajudou no funcionamento do distrito policial.
Por fim, Niteu Chaves reafirmou que não recebia dinheiro do grupo de Cachoeira e que não sabia das atividades ilegais das pessoas com quem convivia em Luziânia, entre elas Lenine.
O último depoente foi o delegado Juracy José Pereira. Lotado em Luziânia, o delegado afirmou que não conhece Lenine, funcionário de Carlos Cachoeira, e que nem sabe de suas atividades ilegais.
Ele contou que a delegacia que comandava realizou 331 apreensões de máquinas caça-níqueis somente no ano de 2010 e que, como delegado regional, desempenhava atividades administrativas e não realizava operações nas ruas. Explicou ainda que a prioridade de seu trabalho era o combate ao tráfico de drogas.
Ele afirmou também que conhecia Sônia Regina, que trabalhava em sua delegacia como telefonista e com quem tinha relação de amizade, mas nunca recebeu nenhuma proposta financeira dela. Ele afirmou que nunca teve apelido de "professor” ou de “índio" e que, como ficou comprovado na quebra do seu sigilo bancário, a pedido da Polícia Federal, sua movimentação financeira é compatível com seus ganhos.
Ele explicou também que não responde a nenhuma sindicância e que nunca trabalhou em campanha eleitoral. O delegado disse acreditar que as promoções na Polícia Civil se dão por critérios objetivos, porém o fim da escolha é político. O delegado afirmou ainda não conhece Carlos Cachoeira e nem Wladmir Garcêz.
Ao fim do depoimento, o deputado Mauro Rubem solicitou à presidência da CPI cópias de inquéritos citados pelo delegado Juracy durante a oitiva.
Com o fim da reunião, o presidente Helio de Sousa (DEM) encerrou as atividades do primeiro semestre e convocou a próxima sessão para o dia 1º de agosto, às 8 horas, quando a CPI retoma atividades externas. Enquanto isso, os trabalhos internos, o acesso à sala da CPI e a análise de documentos prosseguem normalmente.