Helio de Sousa anuncia reabertura dos trabalhos da CPI do Transporte
Logo após o período de apresentação de matérias da sessão ordinária desta quarta-feira, 17, o presidente Helio de Sousa (DEM) anunciou em plenário que a Mesa Diretora não vai recorrer de liminar concedida pelo Justiça para a reabertura dos trabalhos da Comissão Parlamentar de Inquérito (CPI) que investiga possíveis irregularidades nas empresas que realizam transporte intermunicipal de passageiros em Goiás.
O presidente da CPI do Transporte Intermunicipal, deputado Humberto Aidar (PT), havia solicitado uma posição da Mesa Diretora sobre recente decisão do desembargador do Tribunal de Justiça de Goiás (TJ-GO), Francisco Vildon, autorizando a volta das investigações.
Diante da decisão do desembargador do Tribunal de Justiça de Goiás (TJ-GO), Francisco Vildon, autorizando reinstalação da CPI do Transporte Intermunicipal na Assembleia Legislativa, seu idealizador e presidente, deputado Humberto Aidar (PT), informou que a primeira reunião da CPI será realizada na próxima semana.
A decisão do desembargador foi publicada no Diário da Justiça e já foi notificada ao presidente da Assembleia, Helio de Sousa (DEM). De acordo com Aidar, não restava outra alternativa ao presidente senão oficializar a reinstalação da Comissão, já que a liminar obtida pela Mesa Diretora de suspender os trabalhos foi derrubada por agravo concedido ao deputado.
“O desembargador concluiu que os trabalhos da CPI não trariam prejuízo a ninguém, nem ao Governo e nem muito mesmo à sociedade, sendo que os próprios empresários poderão atuar com mais tranquilidade dentro das regras”, disse.
O deputado afirmou que o maior objetivo da CPI é forçar o Governo a realizar licitação para empresas operarem no transporte coletivo, e que é respaldada pelo Ministério Público, a Agência Goiana de Regulação e o Tribunal de Contas do Estado.
“Toda esta situação começou a partir de articulações de homens poderosos que operam no transporte coletivo e que são influentes em todos os Poderes”, acrescentou.
O presidente da Agência Goiana de Regulação, Controle e Fiscalização de Serviços Públicos (AGR), Ridoval Darci Chiareloto, deve ser o primeiro a depor, já que antes da suspensão da Comissão ele já havia aceitado o convite. Em um segundo momento os donos das empresas responsáveis pelo transporte intermunicipal de passageiros em Goiás devem vir à Casa. “Queremos que as planilhas sejam apresentadas para que possamos entender como essas empresas operam. Temos como objetivo desmistificar que elas levam prejuízo como alegam, até porque não faria sentido, após décadas, elas continuarem insistindo em permanecer controlando as linhas se estivessem realmente perdendo dinheiro”, explica Aidar.
O foco da Comissão Parlamentar de Inquérito continuará sendo o mesmo: lutar pela realização de licitações e melhorar a qualidade do serviço prestado. As licitações deveriam ser feitas porque, além de serem exigidas pela Lei Federal nº 8.666/93, gerariam aos cofres do Estado uma arrecadação de cerca de 2 bilhões de reais com o leilão das linhas, de acordo com o deputado. A melhora da qualidade do serviço seria uma consequência, já que juntamente com a licitação viriam as exigências, como compra de novos ônibus, climatização, higienização adequada, proibição de transportar passageiros em pé, entre outras.
Com a reabertura da CPI do Transporte Intermunicipal, Humberto Aidar tem ainda uma preocupação: derrubar na Justiça, com uma Ação Direta de Inconstitucionalidade (Adin), a Lei nº 18.673, aprovada na Assembleia Legislativa de Goiás e sancionada pelo governador Marconi Perillo (PSDB) em 2014. Ela permite que empresas operem no transporte intermunicipal de passageiros sem passar por processo licitatório.
Vai e volta
A CPI do Transporte Intermunicipal foi criada em agosto de 2015 mediante liminar da Justiça concedida pelo desembargador Geraldo Gonçalves da Costa. O magistrado acatou o pedido do deputado Humberto Aidar, que havia tentado, sem sucesso, instaurar a CPI na Casa pelo trâmite normal. Apesar de ter entregado à Presidência um requerimento com 34 assinaturas de colegas, 22 deles retiraram seus nomes do documento dias depois, fazendo com que as assinaturas restantes não fossem suficientes.
Após cumprir a determinação da Justiça e declarar a abertura da Comissão, o presidente da Assembleia, Helio de Sousa (DEM), recorreu da decisão liminar alegando ausência de provas e a impossibilidade de o Poder Judiciário adentrar em matéria interna do Poder Legislativo. No final de outubro o desembargador em substituição, Itamar de Lima, acatou o pedido de Helio de Sousa e suspendeu o funcionamento da CPI, paralisando também as investigações.
Determinado a continuar os trabalhos, Humberto Aidar recorreu dessa decisão e conseguiu, no último dia 14, o acolhimento de seu agravo regimental pelo desembargador Francisco Vildon, que autorizou o retorno da Comissão. O magistrado entendeu que a desistência de 22 dos 34 deputados que assinaram o requerimento de abertura não teve validade e que o tema é de interesse da população goiana.
Primeiros resultados
Entre agosto e outubro do ano passado a CPI do Transporte Intermunicipal esteve em funcionamento, com o objetivo de investigar possíveis irregularidades no transporte intermunicipal de passageiros no estado de Goiás.
Autoridades e especialistas foram ouvidos nas reuniões da Comissão, como o promotor de Contas do Ministério Público junto ao Tribunal de Contas do Estado (TCE), Fernando dos Santos Carneiro; a titular da 78ª Promotoria de Justiça, de Defesa do Patrimônio Público, Villis Marra; o conselheiro do Tribunal de Contas do Estado e ex-deputado estadual, Sebastião Tejota; o ex-presidente da AGR, Humberto Tanus; e o técnico do TCE, Rafael Rodrigues Gonçalves.
A maioria se posicionou favoravelmente às investigações, reconhecendo irregularidades na contratação das empresas que atuam no transporte intermunicipal de passageiros em Goiás. Para Fernando dos Santos, a Lei nº 18.673 contraria o interesse público e favorece particulares do setor dos transportes, que gozariam de vantagens e acabariam por prejudicar os usuários. Villis Marra também enxerga os atuais contratos como ilegais. Lincoln Tejota reconheceu em seu depoimento que essa lei permite às empresas operar sem licitação.