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Defesa do Consumidor

07 de Março de 2016 às 18:47
Crédito: Carlos Costa
Defesa do Consumidor
Audiência pública sobre prática de cartel na revenda de combustíveis
"A prática de cartel na revenda de combustíveis" foi tema de audiência, na Assembleia, nesta segunda-feira, de autoria de José Nelto.

A Assembleia Legislativa do Estado de Goiás promoveu nesta manhã de segunda-feira, 7, uma audiência pública para discutir a prática de cartel na revenda de combustíveis no âmbito estadual. A autoria da propositura foi do líder da bancada do PMDB, deputado José Nelto.

No discurso de abertura dos trabalhos, o líder peemedebista na Casa de Leis declarou que a alta nos preços dos combustíveis deve ser desvendada, pois a população não acredita mais na ação dos órgãos competentes na defesa da comunidade.

“Estou aqui no Parlamento para defender a população e os consumidores, onde sou cobrado. Então, é preciso mostrar a verdade para o povo goiano. Os preços dos combustíveis estão muito altos”, declarou o parlamentar.

Em sequência ao evento,  José Nelto concedeu a palavra para o presidente do Sindiposto, José Batista Neto, que explicou como funciona a tributação nos postos de combustíveis. De acordo com o representante, o imposto de ICMS em Goiás é de 30%, e a Contribuição de Intervenção no Domínio Econômico (Cide), imposto federal, é de R$ 0,50 por litro de gasolina, condições que influenciam diretamente no valor do produto para o consumidor final, justificou o presidente do Sindiposto.

José Batista Neto ainda contestou o fato de que para outros produtos não há o mesmo questionamento. “Apenas os preços dos combustíveis devem ser justificados? Quando a padaria aumenta o preço do pão ninguém fica pedindo justificativa. Tem que se levar em conta que na nossa gasolina tem a adição do etanol, que é um produto sazonal. Neste momento nós estamos na entressafra, não tem como ser diferente”, justificou o presidente do Sindiposto.

Logo após a fala do representante dos empresários no ramo dos combustíveis, o deputado Bruno Peixoto (PMDB) explanou sobre a dificuldade financeira dos empresários diante da tabela tributária.

“Aumentou o preço do combustível e a culpa é do dono do posto? Isso é muito fácil. Acho que está na hora de debatermos e analisar o que está acontecendo por conta do aumento do ICMS, da pauta de cobrança, dos preços das companhias distribuidoras, das usinas. Tem que ouvir todo mundo”, sugeriu Bruno Peixoto.

O parlamentar, que é empresário no ramo de combustíveis, aproveitou o momento para demonstrar sua insatisfação quanto ao fato de apenas os donos de postos serem responsabilizados pelo reajuste dos combustíveis.

“Por que ninguém procura o Estado, os usineiros, as companhias distribuidoras para saber as justificativas dessas altas nos impostos e dos preços?”, indagou o Bruno Peixoto.

Em sequência a discussão, um consumidor informou aos presentes sobre um posto na capital que comercializa a gasolina em um valor menor ao informado nas placas de divulgação. De acordo com o denunciante, o frentista disse que não pode divulgar o preço real com desconto.

Diante desse fato, Bruno Peixoto disse que tem vários casos idênticos a este. Conforme o parlamentar, essa atitude tomada por esta rede de distribuição (sem citá-la) foi em decorrência da determinação judicial imposta pelo STF (Supremo Tribunal Federal,) que inibe a diferenciação nos valores para pagamento à vista e cartão de débito em relação a pagamento em cartão de crédito. O peemedebista ainda disse que estas operações no cartão de crédito custam 5% aos empresários. 

Após a denúncia, o superintendente da receita, Adonídio Neto Vieira Junior, representante da Secretária da Fazenda (Sefaz), disse que a pasta não é a culpada pelos valores dos combustíveis. “Vamos provar com dados que a Sefaz não é a culpada pelos altos preços dos combustíveis. Precisamos falar dos incentivos fiscais. O álcool hidratado nunca supera uma carga de 12%, por conta do incentivo Produzir, que é um programa do Governo de Goiás, que é a menor carga tributária do País”, argumentou o superintendente.

Adonídio Neto aproveitou o momento para explicar que em 2015 o consumo de etanol aumentou cerca de 33% e, devido a esta questão, o preço deste combustível ficou mais caro.

O representante da Sefaz ainda justificou que o aumento do ICMS não pode ser a única justificativa do reajuste do preço nas bombas. “O aumento no imposto foi de 1%, Lei 19.021, sobre o preço da gasolina, que na época era de R$ 0,03, e houve um aumento de R$ 0,40 nas bombas, e sempre que aumenta fala-se no aumento da alíquota.”

Fernando César Ganzer, gerente de combustíveis da Sefaz, endossou os argumentos de Adonídio, ao explicar que o valor do combustível é utilizado para calcular o valor cobrado do ICMS, e que apenas uma média do preço é repassado ao consumidor.

 Alinhamento de preços

O gerente de Pesquisa e Cálculo do Procon Goiás, Gleidson Tomaz, argumentou durante a reunião que o órgão realiza diversos tipos de pesquisas, no sentido de apurar a existência de irregularidades e alinhamento de preços. Ressaltou que a linha é muito tênue para diferenciar alinhamento de preços e livre concorrência.

“Nós levamos em consideração não apenas as notas fiscais de compra e venda nos postos. Nós sabemos que, diferente do que a população imagina, a margem de lucro dos postos não é tão alta, por conta dos grandes custos. Sabemos que o mercado é livre e o Procon não pode interferir nisso,” ressaltou Tomaz.

O gerente de Pesquisa ainda explicou que as ações do Procon têm contribuído para a redução dos preços dos combustíveis na Capital. “Na ação que pediu a volta dos preços nós percebemos que não houve fator externo que justificasse a simultaneidade de aumento dos valores, por isso houve a ordem liminar de voltar ao preço anterior e depois aplicar as regras de livre concorrência. Sempre orientamos os consumidores a fazer uma pesquisa de preços, porque eles têm o poder de forçar a redução dos preços”, destacou.

Também falou na audiência pública o assessor jurídico do Procon Goiânia, Leonardo Ferreira. “Nosso papel é garantir o direito da parte mais frágil que é o consumidor. Verificamos o alinhamento de preços, nosso papel é verificar se existe cartel,” afirmou.

Também declarou: “É preciso que os donos dos postos questionem os produtores e não apenas fazer o consumidor pagar mais caro. Nós constatamos que há normalidade no preço devido às planilhas apresentadas, mas há algo que deve ser verificado:  são as datas em que esses aumentos acontecem, geralmente em véspera de feriados, o que me parece estranho”, afirmou.

Presidente da Comissão de Direito do Consumidor da OAB, Renata Abalém, tomou a palavra e disse que a OAB tem interesse em defender os direitos do consumidor na questão dos combustíveis e  que a intenção da Ordem não é investigar porque não tem essa função e sim acompanhar essa questão e contribuir no que for possível.

O delegado Eduardo Prado, da Decon, disse que não há justificativa para o aumento no preço dos combustíveis na capital. Ele falou no final da audiência pública. “Precisamos inverter a cadeia, o Procon cobra dos postos, mas é necessário a cobrança dos distribuidores. A valor de venda final do combustível não depende apenas dos donos de combustíveis. O valor dos distribuidores é repassado para os postos com valor elevado”, disse o delegado.

Eduardo Prado explicou ainda que é necessário a fiscalização e ir a fundo nas investigações que envolvem diretamente com os distribuidores de combustíveis. “Precisamos resolver o problema do consumidor. Nosso objetivo é trabalhar em favor da sociedade e acabar com esse jogo de empurra-empurra”, concluiu.

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