Taxa Selic em debate
Idealizada por Bruno Peixoto (PMDB), a audiência pública realizada na tarde da última sexta-feira, 1°, no Auditório Solon Amaral, discutiu a taxa Selic e sua influência na Economia brasileira. O deputado afirmou ter promovido o debate por entender, como economista, a importância de uma economia forte para a geração de emprego.
Primeiro a discursar, o presidente da Associação Pró-desenvolvimento Industrial do Estado de Goiás, José Alves Filho, condenou a relação entre o aumento da taxa básica de juros e a queda da inflação.
O estudioso acredita que essa forma de combate à inflação, que corta os créditos ao aumentar a taxa de juros e travar o consumo, forçando os preços a cair, representa um modelo ultrapassado, fadado ao fracasso, pois funcionaria somente em um curto espaço de tempo, gerando novas crises a longo prazo. Sem consumidores com poder de compra as empresas brasileiras entrariam em colapso e o Brasil desaceleraria novamente economicamente, e com milhões de desempregados.
Baseado em estudos de caso de economias de diversos países, José Alves acredita que a solução para a recessão deve passar pela retirada da taxa da inflação de dentro da taxa básica de juros, pelo achatamento da Selic para 3% ao ano (hoje ela está estabelecida em 14,25%) e pela irrigação de crédito ao consumidor.
Com políticas econômicas diferentes da política econômica brasileira, 35 países, entre eles todos que fazem parte da Zona do Euro e os G8, teriam taxas de juros menores que 1%. Outros 50 países manteriam a taxa abaixo dos 3%. Os percentuais baixos provariam que o Brasil, para ser internacionalmente competitivo para empresas, consumidores e para o próprio governo, deveria fazer os ajustes acima propostos.
A Selic de até 3% desindexaria o Brasil ao transferir a aplicação do Overnight (CDI) para o Mercado de Ações, fazendo com que o dinheiro fosse investido no sistema produtivo, ou seja, nas empresas, que são quem gera a riqueza de um país. “Em alguns países, como a Alemanha e o Japão, os bancos não geram renda para os trabalhadores, não aumentam o PIB da nação. Quem faz isso são as empresas, as indústrias, que têm sofrido com uma taxa Selic selvagem, de 14,25%”, afirmou José Alves.
Ao apresentar dados sobre os juros cobrados pelos bancos, que podem chegar a 470% ao ano, o economista pontuou a necessidade de a política econômica brasileira facilitar a circulação do crédito ao consumidor. “Temos que cobrar do Governo, do Banco Central, um posicionamento diferente. Não podemos ser escravos do Mercado Financeiro. Quem gera e quem sustenta os empregos no Brasil são as empresas”, alertou.
Goiás
Referente à economia goiana, o palestrante apresentou uma simulação de impacto da Selic frente à dívida bruta do Estado de Goiás. De acordo com José Alves, passando essa taxa para 3%, Goiás sairia de um déficit de 9,26% e passaria ao superávit de 1.75%. O economista também questionou a estratégia dos governos estaduais de solicitar o alongamento da dívida junto à União. “Isso é tampar o sol com a peneira. A revisão dos juros para 3% traria para o Estado uma economia mensal de 935 milhões de reais, entre encargos e amortizações”, explicou.
Composição e contribuições da Mesa
Além do deputado Bruno Peixoto, que a presidiu, compuseram a Mesa dos trabalhos o presidente da Associação Pró-desenvolvimento Industrial do Estado de Goiás, José Alves Filho; o presidente do Conselho Regional de Contabilidade do Estado de Goiás, Edson Bento dos Santos; o representante do Sebrae Goiás e do Conselho Federal da OAB, Fernando de Paula Gomes Ferreira; o presidente do Conselho Regional de Economia da 18ª Região Geraldo Almeida Silva; e o vice-presidente da Federação das Indústrias do Estado de Goiás, Antônio de Sousa Almeida.
Geraldo Almeida Silva disse concordar plenamente com o raciocínio do palestrante. “Aumentar a taxa de juros causa inadimplência e desemprego, e mostra que essa fórmula que o Governo utiliza não dá certo”, afirmou.
Edson Bento, que falou em seguida, concordou com a perspectiva apresentada e demonstrou otimismo quanto ao alcance da meta. “Temos que continuar buscando a redução dos juros no país, que é aquilo que a sociedade almeja”, declarou.
O terceiro a falar foi Fernando de Paula Gomes, que destacou a relevância da temática para a sobrevivência das micro e pequenas empresas brasileiras. “Nessas teses aqui defendidas, vejo o início da solução para a retomada do crescimento econômico”, disse.
Antônio de Sousa Almeida ainda acrescentou que, em caso de dívidas junto ao bancos, a taxa praticada pode chegar a 611%. “Nós temos mesmo que nos mobilizar para acabar com esse cenário”, finalizou.
Encerramento
Ao encerrar a reunião o deputado Bruno Peixoto insinuou que a dependência eleitoral seria o motivo pelo qual os governantes continuariam insistindo nessa política econômica, considerada pelos presentes na audiência pública, prejudicial aos consumidores e às empresas por gerarem lucro somente aos bancos.