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“Precisamos livrar o Cerrado da devastação”, afirma Bia de Lima durante audiência pública
Para celebrar e também fazer um alerta sobre o Dia Nacional do Cerrado, a deputada Bia de Lima (PT) realizou nesta segunda-feira, 11, uma audiência pública para debater estratégias de preservação do sistema biogeográfico, que também é conhecido como “berço das águas”, por abrigar três importantes bacias hidrográficas da América do Sul (Platina, Amazônica e São Francisco).
Na ocasião, Bia de Lima falou sobre sua ligação com a terra, bem como sobre sua preocupação com a pauta ambiental. “As minhas raízes estão no Cerrado, eu sou uma pessoa da terra. Lamento não ter conseguido absorver todo o conhecimento que o meu pai tinha sobre o Cerrado. Ele sabia o nome de cada árvore”, disse ela.
“Fizemos esse importante encontro com diversas representações, do ponto de vista da militância, do Parlamento, da academia, da pesquisa, entre outros, para podermos discutir e propor o que podemos fazer a mais para livrar o Cerrado da devastação. Uma coisa é certa: juntos, nós podemos fazer mais”, completou a deputada, que reforçou a necessidade de ter financiamento para a manutenção da fauna e flora do sistema. “Só manteremos o Cerrado de pé, se tivermos financiamento para isso. Precisamos chamar a atenção do mundo inteiro, assim como aconteceu com a Amazônia”, pontuou.
Ainda de acordo com a deputada Bia de Lima, a sua atuação parlamentar se dá no “esforço para ser porta-voz para criar leis que tenham efeito prático, factíveis, surtir efeitos na sociedade com amparo e legalidade”, reforçou.
Discussão e propostas
A audiência pública teve a participação de especialistas, pesquisadores, representantes governamentais, sociedade civil e organizações não governamentais e dividida em eixos que debateram a importância do Cerrado para a biodiversidade, mudanças climáticas e efeito estufa; os desafios para a conservação, como o combate ao desmatamento ilegal e degradação do solo; as estratégias para a conservação do ecossistema, como a criação e implementação de unidades de conservação, o fortalecimento da fiscalização, o estímulo a práticas de agricultura sustentável; a participação da sociedade civil na preservação do Cerrado e educação ambiental; e legislação e políticas públicas para a preservação e proteção efetiva do bioma.
Confira como foram algumas das participações:
“Convivi com pesquisadores no mundo todo e tenho refletido sobre as ações no Cerrado que, apesar da boa vontade, não prosperam. Quando olhamos a terra de determinado ângulo, ela se apresenta plana e, diante disso, surgiram pessoas terraplanistas e isso acontece por falta de visão global do planeta. Ou seja, as pessoas têm uma visão parcial e, por isso, as ações não dão certo. O Cerrado não pode mais ser chamado de bioma, porque essa nomenclatura é limitante e considera apenas a vegetação. O Cerrado é um sistema biogeográfico com aquíferos, fauna, flora, minerais, fatores atmosféricos e tudo isso não teve o olhar adequado da preservação, apenas da produção” - Altair Sales Barbosa - Geólogo e presidente do Instituto Altair Sales.
“A lei que protege os outros biomas não protege o Cerrado. Os biomas não são separados, são inter-relacionados, existe um intercâmbio florístico, faunístico. O Cerrado fica de fora dessa proteção por estar na principal região de atuação do agronegócio. É muito importante, do ponto de vista político, que o Cerrado seja retirado de entraves e fragmentações, para que seja efetivamente protegido. Representantes do agro têm papel fundamental nas ações para evitar a depredação do Cerrado” - João Batista de Deus - Diretor do Instituto de Estudos Socioambientais.
“Parabenizo a iniciativa de saudação da data, porque datas ajudam na reflexão do passado, do presente e também do futuro. Antes de qualquer coisa, as questões ambientais são interdisciplinares. Chamo a atenção para a história natural do Cerrado, que tem mais de 60 milhões de anos e é o mais antigo dos sistemas do mundo. Destaco ainda as assimetrias ecológicas na qual o Cerrado está inserido, já que não há legislação que o proteja” - Sandro Dutra e Silva - Pró-Reitor de Pós-Graduação, Pesquisa, Extensão e Ação Comunitária da Universidade Evangélica de Goiás.
“Estamos celebrando o Dia do Cerrado como deve ser, de forma coletiva, discutindo soluções para a preservação. Só em Goiás, o Cerrado abriga mais de sete milhões de pessoas. No entanto, está sendo sacrificado em nome do progresso econômico. Estudos recentes já apontam a diminuição da vazão dos rios e o aumento da temperatura. Existe um senso comum de que o Cerrado é desértico e improdutivo, o que contribui para justificar a degradação sem comoção de todo o bioma” - Cayo Henrique Ferreira de Alcântara - Fundador da ONG Vida no Cerrado de Brasília.
“A participação popular é uma questão sine qua non na equação que vivemos hoje, ela tem que ser lembrada e praticada. Mas, nesse momento, ressalto o problema da legislação flexibilizadora da proteção ambiental desde 2019. Isso é algo que precisa ser discutido, pois não há amparo constitucional e é questionada pelo STF. É isso que torna o desmatamento mais fácil e legalizado” - Dr. Álvaro Fernando de Angelis – Ambientalista e representante do deputado Antônio Gomide.