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Notícias dos Gabinetes
Abolição da escravatura: Para Marlúcio 13 de maio é uma data reflexiva

13 de Maio de 2009 às 10:42
"O13 de Maio se repetirá infinitamente, sempre da mesma maneira, mas precisamos para refletir sobre o papel do negro na sociedade"

   Neste 13 de maio devemos parar para fazermos uma profunda reflexão sobre os avanços sociais no intuito de quebrar o preconceito e contabilizar as vitórias do negro nos mais variados seguimentos. Destacamos por exemplo a eleição do presidente do Estados Unidos, Barak Obama. Considero uma vitória para o mundo porque demostra que as pessoas mudaram, que o universo está mudando e mais do que nunca de que o negro é a aposta costumas de que podemos transformar a sociedade independente de cor, raça ou credo religioso.

 

Temos vitória, mas precisamos avançar mais. Cito como exemplo pensamentos de historiadores como José Apostolo Netto e comungo com ele de que o Brasil, ainda que pese a aparente atmosfera de democracia racial , nesse tempo todo não conseguiu resolver o problema da degradação sistemática e institucionalizada da população negra, que, a despeito de compor 45% da população do país, está colocada compulsoriamente na marginalizada.

 

Mas de lá pra cá, algumas coisas aconteceram, trazendo ganhos políticos, democráticos e pedagógicos significativos para a sociedade brasileira. É desses acontecimentos que gostaria de falar agora. Isso menos para esfriar o debate em torno do 13 de Maio que para ampliar o leque de discussão, inserindo no seu interior novos elementos.

 

É certo que o 13 de Maio deixou o povo negro recém liberto no sereno. Não há dúvida. Por outro lado, permitiu-lhe também ampliar um pouco mais a estreita faixa de ação libertária que lançara mão desde a chegada no Brasil dos primeiros africanos escravizados. O negro soube, desde os capoeiras e quilombolas da Colônia e do Império, passando pelos malandros e tias ciatas da Primeira República até as escolas de samba da década de 1930, com muita competência e habilidade, agenciar esse espaço, não só para o seu benefício imediato, como para o amadurecimento de uma consciência de orientação racial e de africanidade do povo brasileiro.

 

Os resultados, hoje, são evidentes. Nunca a mídia e a tevê brasileira tiveram tantos profissionais negros atrás e na frente dos bastidores quanto agora. Claro que podemos discutir a qualidade dessa presença. Se é estereotipada ou mistificada, por exemplo. Mas uma coisa é certa: o aumento quantitativo já por si só levou a um deslocamento de olhar do público, que estava culturalmente acostumado a ver apenas atores, atrizes, diretores, apresentadores e produtores brancos.

 

Mas não pára por aí. Vejamos a articulação da juventude negra das periferias, que consegue conjugar cultura estético-musical – hip hop, soul music, samba rock e samba velha guarda – com máquinas de comunicação social e aptidão empresarial.

 

Do ponto de vista governamental e institucional, algumas novidades também emergiram. Pena que muitas delas concentraram-se nas áreas da educação e do trabalho.

 

Aqui não podemos deixar de falar da cotas nas universidades públicas, política que vem causando constrangimento em alguns setores da sociedade, mas que vem dando resultados positivos nos lugares que foram aplicadas. Constrangimento até compreensível historicamente, mas não tolerável moral e legalmente, pois das duas uma: ou a elite branca e educada não quer os seus filhos compartilhem os mesmos bancos escolares com os negros e periféricos ou, então, não quer ceder para este segmento social o precioso filão do ensino brasileiro, que foi até então reservado quase exclusivamente para os seus herdeiros.

 

No primeiro caso, a situação se resolveria com a força da lei e do seu cumprimento, uma vez que a nossa Constituição não permite segregação de tipo algum. No segundo, penso que passou da hora do Brasil popularizar a universidade pública, ampliando o seu número e as suas vagas. Sem perder de vista a qualidade, claro.

 

 

Também na esteira das propostas de afirmação da diversidade educacional, marca presença a faculdade Zumbi dos Palmares. Mantida pela Afrobrás, tem o mérito de ser a primeira faculdade de administração de empresas de São Paulo direcionada para comunidade negra. Pensar uma elite negra brasileira intelectualizada, a partir de experiências educacionais e pedagógicas diferenciadas, é hoje a ponta-de-lança do movimento negro contemporâneo do Brasil.

 

Do ponto de vista do calendário, o 13 de Maio se repetirá infinitamente, sempre da mesma maneira. Agora, cabe aos sujeitos históricos fornece-lhe um conteúdo diferente a cada repetição, até o ponto em que a repetição, pelo jogo da afirmação da postura interessada diante da vida, produza novas e múltiplas diferenças.

 

Somente assim os 13 de Maio vindouros serão diferentes dos seus antecessores; e cada vez mais distantes do de 1888. Na História, tudo está em permanente mudança, tudo é transitório; e nem mesmo as datas conseguem cristalizar o seu sentido primeiro. Afinal, nada consegue escapar do poder transformador da palavra e da ação humana no tempo.

 

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