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Notícias dos Gabinetes
Em O Popular, Thiago Peixoto analisa a crise da Celg

03 de Março de 2009 às 13:13
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Em artigo publicado nesta terça-feira em O Popular, o deputado Thiago Peixoto (PMDB) faz uma análise sobre a atual crise da Celg. Ele compara dados da estatal de 2005 pra cá e aponta as inconsistências das contas da empresa. Confira, abaixo, o artigo na íntegra:

A maquiagem da Celg

Sexta-feira, 19 de agosto de 2005: a Celg completava seus 50 anos e aproveitava a data para anunciar sua recuperação financeira, lucros, superávit e tudo mais que pudesse traduzir a “eficiente” gestão da empresa. A Celg havia superado até a polêmica venda da Usina de Cachoeira Dourada. Estava tudo no azul, cor preferida do governo da época. Ou pelo menos queriam nos fazer crer que estava.

Mais de três anos se passaram e fomos todos surpreendidos com notícias contrárias às que nos foram apresentadas sob o clima festivo de 2005. O atual governo, controlador da Celg, revelou um quadro bem diferente. As contas tão azuis do passado tornaram-se vermelhas. Lucros viraram prejuízos.

Esta mudança repentina de “empresa-modelo” para “empresa-problema” gera uma série de questionamentos. Mas cada número encontrado nos balanços e relatórios administrativos e financeiros da Celg aponta uma certeza: fomos todos vítimas de um jogo contábil. A cada dado descoberto nos documentos referentes à Celg nota-se, ao mesmo tempo, o desaparecimento da maquiagem azul e as evidências de um lado negro.

Em 2005 – o fatídico ano de aniversário, ressalte-se – a Celg fez uma reavaliação de seu Ativo Imobilizado. A empresa contratada apresentou um relatório onde estes ativos saltavam de R$ 842,9 milhões (cifra do ano anterior, 2004) para R$ 2,5 bilhões. Um salto triplo. Argumento fácil para explicar o bom desempenho da empresa, não com base em uma gestão profissional mas sim com uma manobra contábil.

O problema é que a maquiagem não conseguiu sobreviver à realidade de uma administração incompetente. Os anos posteriores revelaram uma gestão ineficiente e de governança equivocada. As provas disso estão disponíveis nos relatórios da empresa. A começar pelo fato de a Celg ter um gasto bem maior com serviços terceirizados (R$ 244,8 milhões) do que com seu quadro de pessoal (R$ 136,5 milhões). Esta exagerada terceirização gerou duas ações civis públicas movidas pelo Ministério Público do Trabalho (MPT): o órgão acusa de improbidade administrativa o atual presidente e seu antecessor.

Um gestor responsável faz o máximo para fortalecer seus colaboradores. Se o principal patrimônio de uma empresa é seu quadro funcional, no caso da Celg este não vem sendo valorizado. A dívida da estatal com o fundo de pensão dos funcionários é de mais de R$ 200 milhões, dinheiro descontado dos servidores e não repassado ao fundo.

Outro destaque são os empréstimos tomados pela companhia com bancos considerados de segunda linha a juros altíssimos – mais de 30% ao ano de taxa de juros mais correção. Do R$ 1 bilhão de créditos bancários que a empresa utilizou em 2007, R$ 800 milhões são oriundos de instituições desconhecidas.

Há muito mais a ser revelado: até setembro de 2008 a Celg gastou quase R$ 1,2 bilhão entre Despesas Financeiras (R$ 650,3 milhões) e encargos da dívida (R$ 537,1 milhões). Este mesmo valor compromete 88% da Receita Líquida de Vendas e Serviços (R$ 1,3 bilhão) e praticamente o total da Receita Obtida com Fornecimento de Energia (R$ 1,2 bilhão). Trocando cifras e porcentuais por uma conclusão óbvia: este valor representa muito mais do que o tolerável – e aceitável – com esse tipo de despesa.

Relatórios de mercado mostram que empresas com perfil semelhante ao da Celg são altamente rentáveis. Destaco a Celesc (Santa Catarina), com rentabilidade de 11,8%. A Coelce (Ceará), com rentabilidade de 20,2%, é similar à Celg no faturamento e na capacidade de geração. Esses exemplos, retirados do Balanço Anuário da Gazeta Mercantil, mostram que uma administração séria e profissional pode fazer da Celg uma empresa viável.

Mesmo com tantas evidências de uma gestão inábil – e aqui se faz necessário incluir o governo do Estado, como responsável direto –, a desculpa política usada por aqueles que não querem assumir suas responsabilidades recai sobre a venda da Usina de Cachoeira Dourada. Fazem questão de esquecer que no meio dos diversos milagres contábeis anunciados em 2005 também anunciaram a superação de dificuldades decorrentes desta negociação.

Na verdade a cachoeira que atrapalha a Celg é uma cachoeira de irresponsabilidade e incompetência: algo incontestável quando a maquiagem azul é removida.

Thiago Peixoto é deputado estadual (PMDB) e economista

Publicado no jornal O Popular do dia 03/03/2009.
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