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Luiz Felipe DÁvila em O Popular: A corrupção não está nas prioridades do eleitor
“A corrupção não está nas prioridades do eleitor”
Núbia Lobo
Se a corrupção não está nas prioridades do eleitor brasileiro na hora de votar, de acordo com um instituto de pesquisa de São Paulo, os escândalos envolvendo a corrupção devem pelo menos serem aproveitados para mudar esse comportamento da sociedade. A análise é de Luiz Felipe D’Avila, especialista em gestão pública pela Universidade de Harvard e American University in Paris. D’Avila, que participa de seminário sobre gestão pública hoje em Goiânia, trabalha na formação de gestores com capacidade para transformar hábitos e comportamentos da política brasileira.
O especialista também avalia o comportamento de lideranças nas eleições, diz que Meirelles não pode esperar o fim do ano para assumir uma possível candidatura ao governo de Goiás, se realmente for esse o seu projeto político, e afirma que o presidente do Banco Central só ganhará a eleição se tiver propostas concretas para o Estado. Leia abaixo os principais trechos da entrevista.
O que o senhor entende por mudanças políticas transformadoras?
São mudanças comportamentais para aprovar as reformas profundas de que o Brasil necessita. Você não consegue fazer uma grande reforma apenas com soluções técnicas. É preciso renunciar a certos direitos, abrir mão de certos privilégios.
O Senado Federal mostra a resistência de lideranças como José Sarney, Fernando Collor e Renan Calheiros apesar dos escândalos em que se envolveram. Por que?
Os políticos são reflexos da crença da população. Um instituto de pesquisa fez um estudo sobre a cabeça do eleitor que mostrou, no ranking de prioridades do País, a corrupção em nono lugar. A utilização do cargo público para benefício pessoal – como empregar parentes – não é vista como pecado capital pela maioria dos brasileiros.
Então a corrupção é aceita pelo eleitor?
A percepção de corrupção é que é diferente entre as diversas camadas sociais. Usar verba de gabinete para empregar parente não é corrupção na cabeça do eleitor, segundo essa pesquisa. O que temos de pensar agora é como aproveitar esses episódios (escândalos) para impulsionar uma mudança de comportamento.
Sarney, Collor e Renan continuam sendo líderes apesar dos escândalos?
No nosso ponto de vista, não. Porque não estão engajados em promover mudanças transformadoras, estão engajados em ficar no poder.
E na visão da população, eles continuam líderes?
Não acho que o voto automaticamente reverte o candidato ao posto de líder. Muitas escolhas são excludentes: você vota num (candidato) porque não gosta do outro.
Essas figuras políticas seriam o retrato da falta de opção?
Da falta de opção ou de um patrimonialismo brasileiro que faz parte dessa cultura em algumas regiões. Acho que essas lideranças (não transformadoras) estão em extinção. Cada vez mais essas pessoas estão sendo expulsas para a periferia do poder. O Collor foi presidente da república e agora só ganha eleição em Alagoas, porque se disputar em outro Estado, ele perde. O Sarney até no Maranhão já está perdendo, teve de mudar para o Amapá. Aconteceram duas grandes revoluções no Brasil, nos últimos dez anos, além da estabilidade econômica. A primeira foi a aprovação da Lei de Responsabilidade Fiscal (LRF) e a segunda é a noção que descobriram de que boa gestão dá votos.
Mas esse avanço de gestão pública do qual o senhor trata está no Poder Executivo. E o Poder Legislativo?
O avanço já mostra o caminho das reformas. Quando você tem regras e metas claras, começa a disciplinar o processo político. Isso falta um pouco no legislativo.
O que sustenta a liderança do presidente Luiz Inácio Lula da Silva?
A popularidade. Está todo mundo numa zona de conforto e criar o desconforto é fundamental para mudar os hábitos e comportamento das pessoas. Esses escândalos, em parte, são fruto de uma falta de liderança capaz de criar um desconforto para gerar as mudanças necessárias.
Para as eleições de 2010, temos o presidente do Banco Central, Henrique Meirelles, como possível candidato ao governo de Goiás. No entanto, Meirelles adia essa decisão enquanto aliados se preocupam com a construção de sua liderança em nível regional. É uma preocupação pertinente?
Eu não poderia dizer se ele já é reconhecido como um líder local. Para a construção da sua liderança no Estado, são fundamentais as propostas que ele vai apresentar ao povo de Goiás. Não se ganha mais eleição só dizendo que o candidato que está no poder é ruim e você é o bom.
Formar esse vínculo com a região em um ano ou menos que isso é possível?
Sim, se ele estiver inteiramente disposto a abraçar essa causa. Ele não pode esperar até a virada do ano, tem de sair do Banco Central mais cedo. É preciso criar um programa no qual ele acredite genuinamente. O líder pode ser marginalizado porque não tem convencimento no discurso; pode ser neutralizado porque não começa assumindo a campanha e ela passa a não ter importância para o eleitor e pode ainda ser excluído do processo numa hora em que a candidatura não decola e o candidato é derrubado em nome de uma conciliação de forças partidárias em torno de outro nome mais forte. São riscos do processo político.