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Agronegócio Projeto Cultivar e Guardar é dinheiro certo no bolso de agropecuarista
As derrubadas e queimadas, práticas tão comuns no meio rural, tiveram um ponto final pelo menos no eixo Luziânia - Cristalina, em decorrência da criação da Aprovale, associação de produtores do Vale do Pamplona, e de sua parceria com a Aliança da Terra, uma ong voltada para o meio ambiente.
O que parecia um casamento inviável, assegurou o futuro dos produtores da região, com a execução do Projeto Cultivar e Guardar. Os primeiros resultados já aparecem numa área de 80 mil hectares, que envolve 21 proprietários.
A produção sem devastar contribui para a preservação ambiental e, veja só, põe dinheiro no bolso do produtor. Quem duvidava disso, começa a perceber que seu produto é mais valorizado e agrega valor por meio de futuras certificações ambientais – os selos verdes. Há os crescentes mercados dispostos a pagar mais por alimentos produzidos com respeito ao meio ambiente.
O presidente da Associação dos Produtores do Vale do Pamplona, Wilson Macedo Gonçalves, viu a realização dos primeiros diagnósticos nas 21 propriedades, realizados pela parceira do Projeto – Aliança da Terra. A Aprovale, fundada em 1986, está vendo frutificar um trabalho que começou há 22 anos.
Esse trabalho consiste, entre outros aspectos, na formação de um viveiro de espécies nativas, que hoje geram renda com a sua exploração e agregação de valor. A escola para crianças de idade acima de cinco anos é o seu despertar para a agropecuária. Um curso de gestão do agronegócio pela Universidade Estadual de Goiás (UEG) em Luziânia envolve 22 alunos no vale do Pamplona. A central de recebimento de embalagem contorna o problema de poluição. A instalação de um posto policial e a presença da viatura contribuem para maior segurança das famílias dos produtores.
Os resultados positivos não param por aí, porque a integração entre a Aprovale e a Aliança da Terra propicia a reciclagem do lixo. Num acordo com a Embrapa, dobrou a área irrigada. Há um reaproveitamento da água com o sistema adotado de instalação de canais, tanques, bacias de decantação e conseqüente preservação da represa. Um terraceador foi disponibilizado para os proprietários fazerem a micro-bacia.
Os dejetos da suinocultura e dos confinamentos resultam em 80% dos fertilizantes consumidos nas fazendas. “O que era problema, tornou-se uma solução”, aponta Wilson Gonçalves. A erosão, sempre um problema devido ao desmatamento das matas ciliares e das regiões ribeirinhas, foi contida no Vale do Pamplona com a sua correção, através de curvas de nível.
John Charlton Lock, da Aliança da Terra, lembra hoje que com a parceria com a Aprovale “começou a solução dos conflitos”. No começo nem tudo eram flores pela desconfiança entre os agropecuaristas e as organizações não governamentais. Charlton ainda vê alguns pontos a serem resolvidos, como as adequações das propriedades às legislações vigentes, custos de recuperação de áreas degradadas e implantação do projeto de conservação ambiental, “mas, nada que não possa ser resolvido”.
Gerson Gonçalves, um fazendeiro pioneiro em Luziânia, cidade do Entorno de Brasília que completa 261 anos, relembra “que não tinha noção nem a dimensão do Projeto”. Mas, hoje, ressalta os resultados positivos para se conter a degradação do meio ambiente e, sobretudo, o comprometimento do produtor com a questão ambiental. O projeto tem um custo que considera alto, em torno de R$4mil por propriedade, mas entende que “vale a pena” no plano econômico, pela valorização da terra e o crescente mercado por produtos mais saudáveis ao consumidor.
Reportagem: Wandell Seixas