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Simpósio Politizar discutiu temas atuais durante o final de semana

28 de Setembro de 2020 às 07:30
Crédito: Sérgio Rocha - edição captura de tela
Simpósio Politizar discutiu temas atuais durante o final de semana
Simpósio Politizar - Painel III - Meio Ambiente
O evento debateu os principais temas da atualidade, como saúde, orçamento, meio ambiente, jornalismo, redes sociais e direitos humanos, com focos nas comunidades quilombolas e indígenas de Goiás. O simpósio é uma atividade do projeto Politizar, realizado em parceria entre a Assembleia Legislativa e a UFG, com objetivo de aproximar os estudantes do Poder Legislativo estadual. O presidente da Casa, deputado Lissauer Vieira, participou das atividades de abertura na quinta-feira. Vários parlamentares estiveram presentes nos vários painéis.

Durante três dias, e com vários painéis de discussão, foi realizado no final de semana o I Simpósio Politizar. Esta edição foi resultado da parceria entre a Universidade Federal de Goiás (UFG) e a Assembleia Legislativa de Goiás (Alego), e debateu temáticas como saúde, orçamento, meio ambiente, jornalismo, redes sociais e direitos humanos, com foco nas comunidades tradicionais quilombolas e indígenas de Goiás.

Após intensos debates, no sábado à noite, a programação foi encerrada com o sexto painel sobre "Direitos Humanos e Comunidades tradicionais: quilombos e indígenas em Goiás". 

Abertura

A cerimônia remota de abertura do Simpósio Politizar, edição 2020, foi realizada na noite de quinta-feira, 24, às 19 horas. Todo o simpósio foi transmitido pelo canal oficial da UFG, e também pela TV Assembleia, em seu canal no Youtube, ou pelo canal 3.2, da TV Aberta. 

Ao discursar na abertura do evento, o presidente da Alego, deputado Lissauer Vieira (PSB), destacou a importância do Politizar, que nesta edição recebeu um número recorde de inscritos. Ele lembrou que o projeto visa trazer os estudantes para conhecerem o Poder Legislativo e como se dá o trâmite dos processos na Casa. 

De acordo com o presidente, o projeto tem sido um sucesso, e já alcançou 46 municípios goianos, além de contar com a participação de alunos do Distrito Federal e do Rio Grande do Sul. “O projeto tem dado certo, recebendo reconhecimento em nível de Brasil”, frisou.

Lissauer disse que o Politizar tem cumprido seu papel de aproximação dos estudantes com o Legislativo estadual, o que possibilita uma maior transparência em relação ao trabalho desenvolvido. “É possível mostrar aos jovens como é feito o trabalho parlamentar, a fim de servir às pessoas e dar a elas qualidade de vida”, pontuou. 

Ao parabenizar os organizadores do simpósio, o presidente do Parlamento disse estar satisfeito com os resultados, ressaltou a importância do evento e explicou que em função do sucesso do trabalho, neste ano, a programação comportaria duas edições, o que não foi possível em decorrência da pandemia do novo coronavírus. 

Em discurso, o vice-governador Lincoln Tejota alertou para a importância do Politizar ao citar o momento político pelo qual o Brasil passa, em que a sociedade tem se afastado da política. “O projeto vem como remédio da população. Aos que participam do Politizar, a política é uma ferramenta, para dar resposta aos problemas que nosso País passa. Temos que buscar a linguagem para falar com as pessoas, por que elas querem que a política atenda a vida delas”, disse.

Painel-  Direitos Humanos e comunidades tradicionais

O último painel aconteceu na sexta-feira, a noite. Como moderadora, a professora Jaqueline Oliveira, coordenadora da C
omissão de Extensão e Cultura da Faculdade de Informação e Comunicação (CAEX- FSC/UFG) pontuou a importância que o debate assume no atual momento em que a pandemia tem afetado as comunidades. “Elas sofrem e não contam com políticas públicas que levem em conta suas especificidades”, assinalou. 

Como representante da comunidade quilombola da Vão das Almas, no município de Cavalcante, o estudante de Publicidade e Propaganda da UFG Higor Torres, que também é coordenador de Comunicação do Politizar Goiânia, discorreu sobre a origem dos quilombos no Brasil, em 1722, período marcado pelo ciclo do ouro. “Nossos antepassados, ao sofrerem violência nas minas, fugiram e deram origem às comunidades”, explicou. Presentes em 52 cidades goianas, os kalungas são mais de 5 mil em Goiás. 

“Nossas comunidades têm sábios, anciões, parteiras e raizeiras. E a covid causa preocupação e dificuldades, porque a pandemia afetou o turismo, a principal fonte de renda das famílias, que precisaram se isolar”, assinalou. Mesmo com os cuidados adotados pela própria população como forma de se proteger, houve vários casos de morte nas comunidades. Os bloqueios feitos pelos quilombolas não têm sido respeitados por muitos turistas. “Eles invadiram as comunidades, não temos registro dos doentes, testes, nem acesso a médicos e hospitais”, explicou, ao lamentar o descaso com o qual a população kalunga é tratada pelo poder público.  

Higor, que atualmente está na comunidade, distante 525 quilômetros de Goiânia, ressaltou a importância do Politizar, que tem contribuído com a população, e ainda, por ser um programa que lhe proporcionou um novo olhar sobre a política, que é uma forma de contribuir com a comunidade, que sofre com a falta de acesso à educação, e ainda, não conta com acesso a serviços básicos como energia elétrica e saneamento básico. 

O estudante contou sobre a importância da experiência de participar da elaboração, por intermédio do Politizar, do projeto de lei que institui a Política Estadual Emergencial de Enfrentamento à Covid-19 nos territórios indígenas e quilombolas de Goiás, de autoria do presidente do Parlamento goiano, deputado Lissauer Vieira, aprovado na Casa em primeira votação. "É uma vitória coletiva", comemorou.

Ao contribuir com o painel, Vanessa Karajá, representante da comunidade indígena, participou da comunidade em que vive no município de Tocantínia (TO), ressaltou a perseguição que os povos indígenas têm enfrentado, ao sofrerem ataques e serem responsabilizados pelas queimadas de vegetação no País, além das dificuldades em relação à covid-19.  

Estudante de Pedagogia na UFG, Vanessa denunciou a falta de plano governamental para socorrer as comunidades. “Muitos foram contaminados. Apenas uma pessoa fez o teste. Os números apresentados são mentirosos”, denunciou, e ressaltou o fato de os sábios da comunidade estarem fazendo seu trabalho pela preservação da população no enfrentamento à pandemia. 

Para a indígena, participar do Politizar é fundamental ao proporcionar a oportunidade de expor a indignação dos povos indígenas. “Precisamos de aliança e compreensão de todos”, reafirmou. Vanessa discorreu sobre os desafios ao deixar a comunidade para dar continuidade aos estudos, a dificuldade de adaptação à universidade e a um meio em que as pessoas são individualistas, e a importância do avanço da inclusão das comunidades na UFG, e falou sobre a dificuldade dos estudantes, em decorrência da pandemia, em relação à dificuldade de acesso à internet na comunidade. 

Por sua vez, a diretora do escritório no Brasil da organização internacional de direitos humanos Human Rights Watch, a advogada Maria Laura Canineu discorreu sobre o trabalho da instituição, presente em 90 países, há sete anos em atuação do Brasil. 

Maria Laura reiterou a forma negligente com a qual as comunidades tradicionais têm sido tratadas no decorrer da história. Dentro da área de atuação da organização, a diretora assinalou o trabalho que é realizado no levantamento de questões ambientais, como o uso indiscriminado de agrotóxicos, responsável por problemas de intoxicação nas comunidades. 

A coordenadora lamentou a situação das comunidades atingidas pelas queimadas, que afetam a saúde da população, principalmente com problemas respiratórios. “Muitos evitam procurar assistência médica, porque sobrevivem desses empreendimentos”, disse. 

Segundo Maria Laura, o que a instituição tem apurado é o desmantelamento dos direitos ambientais pelo governo federal, o que dificulta a realização do trabalho dos guardiões da floresta pela preservação, agravado ainda mais pela pandemia. “O Brasil vive uma crise de meio ambiente e de ameaça aos direitos humanos”, frisou. 

Presidente da Comissão de Direitos Humanos da Câmara Municipal de Goiânia, a vereadora Dra. Cristina (PL) salientou a importância do Politizar em prol da formação política, ao contribuir para proporcionar a transformação da prática política, além de ressaltar a necessidade de políticas públicas destinadas às comunidades tradicionais. “No meu mandato, tenho me empenhado para reduzir as desigualdades sociais, a exemplo da falta de acesso dessa população à água potável, energia elétrica e rede de internet, o que agrava de maneira violenta essa desigualdade”, ressaltou ao defender a importância do acesso a tais serviços para que tenham uma vida digna. 

Dra. Cristina elogiou o trabalho realizado pela UFG, a fim de dar oportunidade às comunidades de acessarem os estudos universitários. Na opinião da vereadora, o evento foi um momento importante por ser “a soma de vozes, de ações que podem trazer resultados positivos”, pontuou, ao relembrar a própria história de violência doméstica e ao citar a Lei Maria da Penha. 

A vereadora, ainda, criticou a falta da administração central no que tange à pandemia em relação às comunidades tradicionais, e ressaltou a importância dos organismos internacionais que levam o grito das pessoas excluídas.

Painel - Redes sociais e políticas de gênero

Partindo do princípio que o movimento feminista é um movimento social na luta pela igualdade entre os gêneros e para promover um melhor entendimento sobre as políticas de gênero e sua difusão nas redes sociais, a edição 2020 do Politizar tratou o assunto durante o painel de Direitos Humanos, na tarde de sábado, para discutir o tema Redes Sociais e Políticas de Gênero, com a participação de Marina Barros, diretora do Instituto Alziras; Daniele Kleiner, gerente de Bem-Estar para a América Latina no Facebook; Tatiana Lemos, vereadora do PCdoB de Goiânia; Emília Lucy Nogueira, presidente do Goianas na Urna. A mediação foi da professora de Ciência Política Denise Paiva, da UFG. 

A gerente de bem-estar para a América Latina no Facebook, Daniele Kleiner, falou sobre políticas e práticas de atuação nas redes sociais. Segundo Daniele, o objetivo do Facebook é construir uma plataforma segura e acolhedora para todos, em especial às mulheres. “O bem-estar das pessoas nas plataformas digitais passa pela criação de engenharias de detecção de conteúdos nocivos e desenvolvimento de ferramentas de proteção”, destacou.

Dentre outras ponderações, a palestrante ressaltou a importância de investimento nas gerações futuras, por meio do Programa Cidadão Digital, promovido com especialistas de peso de diversos estados para levar educação sobre cidadania digital, educação midiática e combater desinformação. A ideia é chegar a 30 alunos e 3 mil educadores. "Nossos jovens embaixadores facilitarão a execução desse projeto, e se quiser participar, inscreva-se no site cidadaodigital.org.br”, concluiu.

A economista Emília Nogueira, presidente da ONG Goianas na Urna, lembrou que a organização surgiu no fim de 2018, com a ideia de atrair e formar mulheres a exercer funções políticas. “Mais do que formar mulheres é preciso construir uma rede segura nesse formato de exposição política, essa é nossa maior preocupação para trabalhar uma exposição protegida e acolhedora para moldar as ambições políticas”, enfatizou.

Para finalizar, a convidada fez uma reflexão sobre a conexão dos ambientes políticos e digitais e suas consequências positivas e negativas. “Como ser um cidadão digital? Eu não sei. Mas isso precisa ser discutido nas unidades escolares para gerar filtros e polarizar a atuação nas redes para evitar prejuízos e não silenciar em casos de violência de gênero, bullying, exposição de imagem e acesso de conteúdos”, concluiu.

Na sequência, Marina Barros, diretora e cofundadora do Instituto Alziras, apresentou números que revelam a atual situação política feminina no Brasil. “Noventa anos depois da inserção da mulher na vida pública, ainda temos uma baixa representação feminina na política. De acordo com ranking internacional levantado pela ONG Mulheres, o Brasil ocupa a posição 140 de 191 países. Na América Latina, estamos a frente apenas de Belize e Haiti”, pontuou Marina.

Segundo ela, a representação feminina atual se resume a 12% dos cargos eletivos municipais, geralmente, nos menores e mais pobres municípios. Apenas três capitais têm mulheres no Poder Executivo, 13% das cadeiras municipais, 15% do Legislativo. “Números que não condizem com a realidade de um país que tem mais da metade do eleitorado, estudantes universitários e de postos de trabalho formal e informal ocupados por mulheres. Essa é uma situação, no mínimo, distorcida da representação política das mulheres”, destacou.

A deputada Delegada Adriana Accorsi (PT) reforçou que o tema é de extrema relevância porque a participação das mulheres na política e nos espaços de decisões é um grande desafio. “Acredito que as redes sociais são ferramentas importantíssimas para mudar essa realidade, pois possibilitam que pessoas que pensam igual, que lutam pela garantia dos direitos, por um mundo realmente igualitário e fraterno, possam se conectar e assim criar redes de mobilização. A política só vai ser democrática quando ela representar de fato a sociedade brasileira”, destacou a parlamentar.

Última convidada a explanar, a vereadora Tatiana Lemos também tratou do tema. Segundo ela, é problemático ser mulher com vida pública ativa. "Quando estamos na política assessorando o outro somos tratadas com respeito. Quando passamos a dedicar nossa vida à política e dividir espaço com os homens, passamos a ser um problema e somos alvo de ataques e preconceitos”, afirmou. Em relação aos direitos e posições de acesso à vida pública do universo feminino, a vereadora ressaltou a necessidade de ocupar todos os lugares e espaços pertencentes às mulheres. 

Painel - Meio ambiente em pauta

No primeiro painel realizado manhã do sábado, 26, foi abordada a temática meio ambiente, com a participação de Cássia Moraes, do Youth Climate Leaders; Bruno Taitson da WWF; deputado Talles Barreto (PSDB), membro da Comissão de Meio Ambiente do Legislativo de Goiás; e a vereadora Sabrina Garcês (PSD), membro da Comissão de Meio Ambiente da Câmara de Goiânia. 

Mediado pela professora da UFG Kátia Ribeiro, o encontro foi aberto por Cássia Moraes, do Youth Climate Leaders, ao explicar que, ao criarem o projeto, há dois anos e meio, perceberam a vontade da juventude de fazer algo efetivo para cuidar e prevenir as mudanças climáticas.

“Percebemos essa ansiedade que o jovem tem pelo tema do meio ambiente. Decidimos criar uma organização que fizesse esse processo de atualização, pegar o jovem que está conscientizado de alguma forma e conectá-lo a uma rede de cuidado. É um projeto concreto que leva a iniciar a carreira nessa área”, assinalou Cássia.

Ela disse que a turma do primeiro semestre do programa obteve praticamente o triplo de participantes do ano passado. “Demos bolsa para praticamente 40% dos nossos participantes. Está aumentando muito as inscrições de formações neste ano no Brasil. Os jovens estão muito ansiosos pelo futuro, em melhorar as situações. Nos últimos tempos a questão do clima está sendo colocada como uma temática de esquerda ou de direita, infelizmente. Dois jovens da nossa rede que são pré-candidatos a vereadores começaram esse movimento em suas cidades. Esse movimento passa por qualquer profissão, não importa sua vocação, se é de exatas ou humanas”, ressaltou ainda.

Bruno Taitson discorreu sobre mudanças climáticas e ameaça à fauna. Ele é analista de políticas públicas da World Wide Fund for Nature (WWF) no Brasil, atua como advocacy nos Poderes Legislativo e Executivo e em ações de campo junto a comunidades indígenas na Amazônia.

Bruno afirmou que a problemática ambiental passa por um momento sem precedentes. “As mudanças climáticas existem e acontecem por ação humana. As populações de animais mamíferos, répteis e anfíbios caíram 68% desde 1960. Isso sempre ocorreu, mas agora é algo sem precedentes. A extinção das espécies prejudica todos os ecossistemas, saúde pública. Temos também o aumento do assassinato de ativistas ambientais. Há razões de sobra para lutar pelas políticas públicas ambientais.”

Em relação às questões locais, o analista afirmou que estudos apontam para a possibilidade de o Rio Araguaia secar em 40 anos. “Isso impacta de forma devastadora a população. Além do uso indiscriminado de agrotóxicos por meio de pulverização, o que aumenta sobremaneira os gastos com saúde pública, pois ataca toda a sociedade”, reiterou.

Bruno Taitson falou, ainda, sobre as tentativas de mostrar que pautas socioambientais não são somente da esquerda. “Com essa polarização especialmente no Brasil e nos Estados Unidos, coloca-se muito essa divisão. Isso é abominável, não tem nada pior para um país, para uma sociedade que essa popularização. Temos lideranças de centro-direita na Europa, por exemplo, que têm um consenso e defendem claramente políticas de proteção ambiental. É preciso exigir dos nossos representantes uma abordagem incisiva na promoção de políticas socioambientais.”

“É muito bom quando conseguimos debater com a juventude e incentivá-los a vir para a política. Entrei para a política, pois vi que nesse campo posso impactar efetivamente a vida das pessoas”, com essas palavras a vereadora Sabrina Garcêz (PSD), membro da Comissão de Meio Ambiente da Câmara de Goiânia, iniciou sua participação, elogiando a iniciativa do projeto Politizar.

Sabrina destacou que é um momento de muito debate sobre a Capital. “Vejo que temos que debater a pauta do meio ambiente com a expertise técnica. Não podemos tratar isso baseados no achismo. Quando vamos tratar de políticas públicas efetivas não percebemos essa prioridade. Temos planos de governo maravilhosos, mas quando vai para a ação, execução, aí o meio ambiente fica para depois. Na cidade de Goiânia a gente percebe isso claramente.”

O deputado Talles Barreto, membro da Comissão de Meio Ambiente e Recursos Hídricos da Alego,  também participou do painel. “Hoje o presidente do colegiado, Lucas Calil, acompanha de forma próxima como está a situação do Rio Araguaia. Ele já tem um trabalho forte em relação ao Araguaia. Temos 31 projetos de lei voltados para a pauta do meio ambiente. Um ótimo projeto é o Virada Ambiental, que promove a plantação de mudas em todos os municípios de Goiás. Outro exemplo é o ICMS ecológico”, citou o parlamentar.

Talles contou que conheceu todos os aterros sanitários de Portugal. “Ficamos uma semana lá estudando isso. Houve uma formação cultural muito forte e muito rápida em Portugal, não só na infraestrutura, mas também na consciência das pessoas. Dentro de Lisboa há uns dez ecopontos para você deixar resíduos e você ganha um desconto no seu IPTU, por exemplo. Portanto, aqui precisamos trabalhar nossa sociedade culturalmente para mudar isso, estamos ficando para trás, se não nos atualizarmos vamos perder a nossa qualidade de vida cada vez mais”, explicou.

Painel - Orçamento participativo

O segundo painel do I Simpósio Politizar, realizado na sexta-feira à noite, contou com as participações do deputado estadual e presidente da Comissão de Tributação, Finanças e Orçamento da Alego, Karlos Cabral (PDT), o vereador Lucas Kitão (PSL), além dos professores doutora Ursula Peres (Universidade de São Paulo-USP) e doutor Everton Rosa (UFG). 

O debate, mediado pelo vice-coordenador do Politizar, o professor doutor em ciência política Lucas Okado, abordou o tema orçamento público e participativo. 

Primeira palestrante a fazer uso da palavra, Ursula Peres ressaltou a importância de falar de orçamento participativo, discutir as dificuldades e abrir os debates de forma ampla para a população sobre as receitas e despesas do município. Ela afirmou que é extremamente importante repensar a estrutura de receitas tributárias dos municípios. "Hoje, o que a gente sabe é que a primeira receita em termos de relevância para cidades varia dependendo do Estado, mas alterna entre o fundo de participação dos municípios e a cota parte do ICMS, que é repassada pelo Estado. Essas são as duas principais receitas que as cidades têm para utilizar. Por isso, vejo que é essencial abrir a discussão para tudo que envolve as finanças municipais e repensar a estrutura tributária. Afinal, as pessoas precisam saber o quanto elas pagam de tributos e o que é feito com esses recursos, para onde eles vão. Repensar a estrutura tributária pode ser uma grande aliada na questão do orçamento participativo e que traz transparência para gestão municipal.”  

O professor Everton Rosa também salientou que o orçamento público é uma ferramenta de ação estatal, e é mais necessário nos momentos em que se perde a capacidade de arrecadação, e precisa utilizar o investimento como variável de ajuste. “A questão é como a economia se desenvolve e atende as necessidades de uma população crescente e que está envelhecendo, quando no momento em que mais se precisa do investimento público, os orçamentos estão indicando cada vez menos investimentos? Um dos problemas dos municípios é que parte de suas receitas é imprevisível porque depende da arrecadação do Estado e da União. Se não houver crescimento econômico é um gasto tributário. Com a pandemia da covid-19 a situação se agravou com perdas fiscais tremendas”, ressaltou.  

O deputado Karlos Cabral destacou a experiência que ele tem vivido na Assembleia Legislativa de Goiás. Ele pontuou que para superar as dificuldades orçamentárias há duas saídas: transparência e participação da população. Ele lembrou sua defesa de construção de um orçamento participativo como ferramenta de empoderamento da população e de pertencer ao espaço público.

"Como deputado estadual, quando assumi a presidência da Comissão de Tributação, Finanças e Orçamento, com essa perspectiva da construção de orçamento público mais participativo, eu sempre falei para os parlamentares para levarmos informação para população e deixar o público participar dos debates das principais peças orçamentárias. E assim fizemos. Quando o atual Governo mandou a Lei de Diretrizes Orçamentárias (LDO) realizamos seis audiências públicas nos municípios para debater a LDO. Mas, infelizmente, teve audiência que não tinha dez pessoas. Por mais que a gente tenha divulgado e mostrado para população que ela faz parte do processo democrático, o interesse ainda é baixo”, pontuou Cabral. Ao finalizar o parlamentar reiterou que a democracia ainda é jovem e as pessoas não se conscientizaram sobre qual é o papel ativo de cada cidadão nesse processo.

O vereador Lucas Kitão também abordou a questão do orçamento público. Ele mencionou a falta da participação da população nas discussões das emendas impositivas. “Além disso, atualmente, a despesa dos municípios cresce numa proporção maior do que as receitas, e vejo que para discutir um orçamento justo é preciso ter uma arrecadação maior e isso depende do dia a dia do Executivo e uma boa discussão com o Legislativo. Portanto, temos que despertar na população a vontade de debater esses assuntos e simplificar os discursos para ter mais participação das pessoas em temas que são de interesse e que mudam a vida de todo mundo, como o destino do orçamento público”, concluiu.

Painel - Sistemas de saúde

Na tarde desta sexta-feira, 25, o Politizar realizou seu primeiro painel com o tema: Sistemas  de Saúde e combate à covid-19, e contou com a participação de parlamentares e representantes das Secretarias de Saúde estadual e municipal.

Moderado pela vice-diretora da Faculdade de Enfermagem da UFG Luana Ribeiro, o painel contou com a participação do professor Sandro Rodrigues, da Faculdade de Medicina da UFG; deputado Gustavo Sebba (PSDB), presidente da Comissão de Saúde da Alego; vereadora Priscila Tejota, presidente da Comissão de Saúde da Câmara de Goiânia; e professor Thiago Rangel, da Faculdade de Ciências Biológicas (ICB) da UFG. 

O painel de abertura teve como debatedores: deputado Gustavo Sebba, vereadora Priscilla Tejota, professor Sandro Rodrigues (que é superintendente da Secretaria de Saúde), e do professor Thiago Rangel, que também falou como representante da Secretaria de Saúde do município de Goiânia.

Rodrigues esboçou, por meio de apresentação de slides, como a Secretaria de Estado da Saúde (SES-GO) se estruturou em relação à covid-19, ao pontuar três grandes pilares básicos para o enfrentamento de qualquer pandemia: otimização da rede de saúde, assistência, vigilância e regulação; adoção da ciência em todo o processo; além de transparência e comunicação eficiente.

O superintendente apresentou, ainda, o retrato estatístico do impacto da pandemia do novo coronavírus em Goiás, ao comparar com o cenário no nacional que tem cerca de 4 milhões de casos da doença e mais de 130 mil óbitos. Em Goiás, até o momento foram 184.702 casos, com 174.774 recuperados; 220.100 suspeitos e 140 mil descartados. A estimativa registra 2.622 casos a cada 100 mil habitantes; e 59 óbitos a cada 100 mil habitantes; com letalidade de 2,25%, em Goiás. A covid-19 causou 4.152 óbitos, o que faz o estado ocupar a 19ª posição entre os entes federativos. Em relação ao número de casos comparado à população, Goiás figura na 14ª colocação no País.

Na opinião do superintendente, a pandemia se encontra no pior momento, mas a taxa de ocupação de leitos está sob controle. Para Sandro, um dos maiores legados que a pandemia irá deixar para Goiás é uma melhor articulação entre hospitais públicos e privados.

A fim de enfrentar a pandemia, o Governo estadual tem trabalhado na ampliação da capacidade da rede de saúde, com a regionalização da atenção, o fornecimento de Equipamentos de Proteção Individual (EPIs), o treinamento e a capacitação de servidores e profissionais da saúde, e, ainda, medidas de promoção da saúde mental e de pesquisas na área. Outra importante medida tomada pela SES-GO, conforme explicou o superintendente, foi intensificar vacinação contra a gripe, a fim de evitar eventuais confusões de diagnósticos entre influenza e covid-19.

“Apesar de ser adversário político do governador, penso primeiro no melhor para Goiás, e avalio que a secretaria teve muitos acertos. É um problema que afetou todos os estados, mas aqui estamos em vantagem devido a estruturação feita pela secretaria", afirmou o presidente da Comissão de Saúde e Promoção Social da Casa, o deputado Gustavo Sebba (PSDB), que iniciou sua participação elogiando o trabalho feito pela SES, na gestão do impacto da pandemia, e os esforços do titular da pasta, Ismael Alexandrino. 

Sebba avaliou os diversos debates travados pelas autoridades, médicos e a sociedade, o que entende, em alguns aspectos, provocou perda de tempo. Ele citou as polêmicas travadas entre pandemia e economia, a estrutura do SUS, o uso da hidroxicloroquina, e o relaxamento do isolamento. Afirmou que foi um grande problema de viés ideológico. "Para mim, o enfrentamento da pandemia não existe sem a preocupação com a economia. Sobre a cloroquina, ainda não temos evidências médicas suficientes para que possamos estabelecer uma linha de certeza.”

Sebba disse que agora começou o debate sobre as questões relacionadas à vacina e futuramente será necessário encarar o debate sobre o pós-pandemia. Vai exigir muito dos Poderes. "Ao longo dessa caminhada, tivemos problemas evidenciados, mas evoluímos muito. Medidas precisam aparecer de forma conjunta, depois de muito diálogo”, frisou.

Gustavo Sebba fez questão de reconhecer a participação decisiva da Assembleia na gestão dessa crise de saúde. “O Parlamento estadual elaborou e aprovou leis importantes em auxílio ao Poder Executivo e procurou proteger a população e a iniciativa privada. Realizamos inúmeras sessões virtuais, com agilidade, o que contribuiu para poupar muitas vidas”, lembrou.

A vereadora Priscilla Tejota relatou que a primeira preocupação do Legislativo municipal foi com os profissionais de saúde. “Atuamos de forma a garantir capacitação e treinamento, fornecimento de insumos como EPIs, dar celeridade na aprovação de decretos de calamidade pública e outras medidas urgentes do Paço Municipal. Sou oposição ao prefeito, mas meu lema é não fazer oposição à vida”, declarou.

A vereadora disse ter colaborado de forma intensa, ao usar a sua experiência como gestora, até ser contaminada pelo vírus. “Tive covid-19, pneumonia e cheguei a ter 50% do pulmão comprometido, e ainda tenho sintomas de cansaço, mas pronta para voltar aos desafios da Câmara nessa luta que é do mundo todo”, contou.


O professor Thiago Rangel ecoou as considerações do superintendente Sandro Rodrigues sobre a orientação de se fazer a gestão baseada em evidência desta crise pandêmica. “A interação do mundo acadêmico com a gestão pública da saúde foi uma novidade pra mim, mas com resultados muito profícuos”, disse.

Ele relatou que a pandemia da covid-19 deixa um legado interessante, que une perspectivas científicas diferentes e profissionais que não necessariamente interagiam, ao colocar seus conhecimentos à disposição do gestor público.

Rangel destacou o resultado prático e imediato do que é a ciência produzida em tempo real, ilustrando que a comunidade acadêmica internacional trabalhou com quatro objetivos. “Primeiro, descobrir o agente causador – um processo rápido comparado a outras epidemias e pandemias -, desenvolver testes, práticas clínicas e protocolos, além de medidas para mitigar os efeitos da pandemia”, relatou.

Mesa-redonda com universitários

Dentro da programação do simpósio, as atividades iniciaram na sexta-feira à tarde com uma mesa-redonda entre ex-participantes do Politizar. Eles expuseram suas experiências como deputados estaduais simulandos. 

Os estudantes Júlia Andrade, Wilson Oliveira, Nathan Gabriel Ferreira, Letícia Garces, Matheus Silva, Pietra Fontanezi, Ludimila Rosa contaram como foi simular o papel de um parlamentar do Legislativo de Goiás no plenário e na sala das comissões. Eles também discorreram a respeito da interação e o aprendizado com os pares, a oportunidade de viverem uma eleição da Mesa Diretora da Casa e a elaboração de projetos de lei.

Projeto

O Politizar é fruto de uma proposta feita por estudantes do Curso de Ciências Sociais da UFG com base em experiências semelhantes em outros estados (Politeia UnB, Parlamento Jovem Mineiro, PUC Minas e Parlamento Jovem Tocantinense, IFTO).

O projeto de extensão visa simular as atividades parlamentares adotadas no Parlamento de Goiás, ao proporcionar aos estudantes previamente selecionados, a oportunidade de participarem das atividades legislativas que vinculam o tripé ensino, pesquisa e extensão. As atividades do Politizar ainda simulam o trabalho de jornalistas, fotógrafos e assessores parlamentares.

Agência Assembleia de Notícias
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