A notícia pela imagem
Se um fotógrafo tem a função de eternizar momentos, o papel de um repórter fotográfico vai além. Paralelamente ao jornalismo, seu trabalho é voltado ao registro dos fatos que serão apresentados ao público, com um contexto existente nas imagens, capaz de contar histórias e, até mesmo, expressar sentimentos.
Seja voltado para assuntos históricos, políticos, sociais, econômicos ou culturais, o fotojornalismo representa a credibilidade de uma notícia. Mais do que isso, uma captura realizada com um olhar técnico, no momento correto, pode não apenas complementar uma informação, como transmitir além do relatado. É quando utilizamos a famosa expressão popular de autoria do filósofo chinês Confúcio, em que diz que “uma imagem vale mais que mil palavras”.
Como forma de homenagear esses profissionais que se dedicam à profissão, é celebrado de forma nacional, em 2 de setembro, o Dia do Repórter Fotográfico. Mais do que profissionalismo, a função requer coragem para ser desenvolvida. Exemplos disso são descritos pelo repórter fotográfico Carlos Costa.
Lotado na Agência de Notícias da Assembleia Legislativa de Goiás, o profissional trabalha com fotojornalismo há mais de 40 anos. Com passagem por diversos veículos goianos de comunicação, o repórter fotográfico, que iniciou sua carreira no Jornal O Popular, do Grupo Jaime Câmara, possui em seu currículo registros de fatos históricos, como o acidente do césio-137, a rebelião de Leonardo Pareja e até mesmo a Guerra Civil da Angola.
Ele relata, com detalhes, a emoção vivida em cada momento. "Vi muita pobreza, muita dor, muitos mutilados”, disse, com relação à cobertura de cunho internacional durante a Guerra Civil da Angola, no ano de 1997. “Aprendi muito com o sofrimento daquele povo”, salientou.
No entanto, um dos fatos mais marcantes na vida de Costa foi relacionado ao maior acidente radioativo do Brasil, o césio-137, em 1987. O profissional acompanhou de perto o período da tragédia e guarda consigo não somente imagens dos momentos, como, também, lembranças que ficarão para sempre em sua memória. “Esse foi um fato que mexeu muito comigo, assim como com toda a população goiana e do Brasil."
Pelo olhar de Carlos Costa também foram capturadas cenas exclusivas da rebelião comandada por Leonardo Pareja, ocorrida no Centro Penitenciário de Goiás (Cepaigo), em 1996, quando várias pessoas foram feitas refém, dentre elas o diretor do presídio à época, Nicola Limongi. “Nós da imprensa não podíamos entrar, mas a coisa estava acontecendo lá dentro. Foram momentos de terror e adrenalina”, conta o fotógrafo.
“Em um determinado momento, toda a imprensa saiu para almoço e eu senti de ficar. Estava lanchando, quando ouvi um barulho e uma correria no lado do muro. Peguei meu equipamento e corri. Chegando lá, até eu fiquei pasmo. Em cima do muro estavam o coronel Limongi de braços levantados e o Pareja com a arma. O que achei interessante nessa foto, que correu o mundo, foi que, ao invés de colocar o revólver na cabeça do Limongi, o Pareja estava com a arma apontada para o próprio ouvido”, relata Costa.
Olhar atento e sensível
Diante dos fatos descritos, o repórter refere-se à profissão como algo que deve ser feito de coração, com vontade e amor. “O fotojornalismo tem que estar à frente, tem que estar buscando aquilo que ninguém vê. O papel do repórter fotográfico é passar para as pessoas o que está acontecendo, o que é a notícia”, pontua o especialista, que afirma ser apaixonado pelo que faz. “O fotojornalismo, para mim, significa muito. Desejo permanecer na área até mesmo depois de me aposentar."
A teoria de que o resultado de uma boa foto jornalística parte do olhar diferenciado do profissional é compartilhada por Ruber Couto. Colega de Carlos Costa, o fotógrafo e repórter fotográfico, também lotado na Agência de Notícias da Assembleia Legislativa de Goiás, acumula prêmios recebidos durante o período em que atuou em veículos goianos de comunicação.
Ele afirma tratar-se de um trabalho capaz de levar, por meio de uma imagem, diversas informações. “A diferença entre uma coisa e aquela mesma coisa é a maneira com que cada um olha para ela. Por meio do olhar do fotógrafo, é possível levar diferentes informações ao público”, enfatiza o profissional, que ingressou na área como fotógrafo de casamento.
Morando nos Estados Unidos da América (EUA), recebeu uma proposta para prestar serviços para um jornal da Rede Bandeirantes (Band), em Recife. Foi quando Ruber começou a fazer os primeiros registros fotojornalísticos, como correspondente freelancer, que levava à população do Brasil registros de atividades realizadas por brasileiros que residiam no exterior.
Já de volta ao Brasil, Ruber ingressou de cabeça no fotojornalismo, com atuação nos jornais Diário da Manhã e O Hoje e, também, no Juizado da Infância e da Juventude. No período, conquistou por duas vezes consecutivas, nos anos de 2015 e 2016, o primeiro lugar no Prêmio Detran de Jornalismo, além de premiações concedidas por outras entidades, por meio de concursos, como da Organização das Cooperativas Brasileiras (OCB), Federação das Indústrias do Estado de Goiás (Fieg), Serviço Social do Comércio (Sesc), Câmara dos Dirigentes Lojistas (CDL) e Federação do Comércio de Bens, Serviços e Turismo (Fecomércio).
Para ele, no entanto, os trabalhos mais marcantes foram aqueles que envolveram a figura de crianças em seu contexto, como uma de menores que pediam dinheiro no trânsito. “O que vi foi a exploração, onde os pais utilizavam os filhos para comover as pessoas. Enquanto os pais estavam sentados, tranquilos, na sombra, as crianças estavam debaixo do sol quente pedindo dinheiro”, relata.
Pandemia
Com a chegada da pandemia, a Casa de Leis instituiu um concurso fotográfico voltado para profissionais e amadores. Com o isolamento social, a internet se tornou o principal meio de comunicação em todo o mundo. Diante disso, a Alego buscou incentivar o olho criativo dos goianos através da arte. Foi quando surgiu o Concurso Fotográfico Yocihar Maeda, promovido pela Diretoria de Comunicação da Alego.
Com a temática “Um olhar pela janela", a primeira edição do campeonato aconteceu no ano de 2020 e contou com a inscrição de mais de 300 fotógrafos profissionais e amadores, que concorreram a uma premiação no valor de até R$ 2 mil. Já em 2021, a segunda edição do concurso teve como tema os “Desafios da Educação em Tempos de Pandemia”, e contou com o valor total da premiação em R$ 2,5 mil. As fotos foram avaliadas por profissionais renomados da área e podem ser conferidas no site oficial do concurso, por meio deste link.
O concurso fotográfico Yocihar Maeda foi assim nomeado em homenagem ao fotógrafo, servidor da Casa, falecido em janeiro de 2020, aos 66 anos, e que por mais de 30 anos foi um dos profissionais de fotografia mais requisitados pelos deputados, diretores e colegas da Casa.
“Maedinha”, como era chamado pelos amigos, sempre atendeu a todos com presteza e dedicação e era uma referência aos colegas de profissão, além de um profissional respeitado por todos os parlamentares e profissionais da área.
Era um funcionário extremamente organizado e metódico, amante da leitura, gostava de desenhar, apesar de não ter feito curso na área, atuante na igreja que frequentava, adorava passeios com a família, além de dedicar parte do seu tempo aos netos. Muito prestativo, estava sempre pronto para ajudar a quem a ele recorria.
Antes de ser contratado pela Assembleia Legislativa, trabalhou no Fujioka e na Companhia Industrial Farmacêutica. Atuou como fotógrafo na Assembleia Legislativa por 31 anos e meio, tendo sido contratado em 1º de junho de 1988, no cargo gratificado de fotógrafo parlamentar, sendo lotado na, então, seção de Imprensa. A partir de 1º de fevereiro de 2003, passou a integrar o cargo de assistente legislativo, com lotação na seção de Jornalismo, hoje Agência Assembleia de Notícias, onde permaneceu até 25 de janeiro de 2020, quando veio a falecer.