Cineasta e ambientalista, Pedro Novaes defende a democracia como grande facilitadora das soluções ambientais
A TV Assembleia Legislativa exibe, nesta terça-feira, 17, entrevista com o diretor de cinema e cientista ambiental Pedro Novaes. Diversos temas foram abordados durante o bate-papo com o especialista, em especial as mudanças climáticas que levaram Goiás e o Brasil a uma seca severa e a um ambiente de queimadas nos últimos meses.
Na entrevista ao programa Visão Política, conduzida pela jornalista Monalisa Carneiro, Novaes avaliou que a situação atual traz às pessoas uma sensação de impotência. “Não está ao nosso alcance, enquanto indivíduos, promover a verdadeira mudança. É algo que envolve todos e que, ao mesmo tempo, envolve forças muito poderosas”, considerou.
Na sequência, ele explicou que vivemos em uma civilização que se construiu em cima do petróleo e que a ideia de se desvencilhar dessa realidade “assusta” as pessoas. “Isso traz uma sensação de impotência, que faz com que as pessoas prefiram negar”.
Pedro, que é filho de uma das maiores referências do jornalismo ambiental, o jornalista Washington Novaes, considerou “difícil”, num tempo tão caótico, tentar profetizar ou fazer previsões de futuro. Mas avaliou que, provavelmente daqui a cinco anos, as coisas serão “bem diferentes de hoje”.
“As mudanças estão acontecendo de forma muito acelerada em todos os sentidos, tanto do ponto de vista da mudança climática quanto da questão tecnológica. Mas o que me assusta, de certa forma, até mais do que as mudanças climáticas, é o quanto esses problemas têm levado as pessoas a desacreditarem da democracia, especialmente quando acham que as coisas que precisam acontecer só vão acontecer por meio de líderes carismáticos ou superpoderosos”.
E continuou: “Se tem uma coisa que já deveríamos ter aprendido é que fora do sistema democrático tudo é sempre pior. Deveríamos ter aprendido que, apesar dos problemas e dificuldades que esse sistema enfrenta, as soluções não poderiam vir de outra forma. No meu entendimento, a falta da democracia é o que, muitas vezes, agrava os problemas ambientais quando, por exemplo, determinados lobbies empresariais se tornam tão fortes que eles conseguem impor suas agendas acima de tudo. Acredito que temos que, juntamente com a questão ambiental, fazer uma defesa muito forte do nosso sistema democrático”, encerrou.
Um problema de todos
Em outro trecho da gravação, que vai ao ar nesta terça-feira, o cientista falou sobre a abordagem que ele, enquanto estudioso da área, prefere adotar para despertar a consciência do indivíduo. “O cinema tem um papel significativo nisso, embora acredito que necessite de alguns cuidados. Pessoalmente, não gosto de documentários que tratam a questão ambiental sobre o viés da denúncia, que culpabiliza as empresas, o agronegócio ou qualquer outro, não vejo isso como muito eficaz”.
E explicou o motivo: “Quando você enquadra esses problemas numa perspectiva de culpados ou de tentar encontrá-los, você permite a quem assiste se deixar de fora do problema. Mas esse é, na verdade, um problema em que todos nós estamos inseridos. Existe, sim, a política de produção agropecuária que tem impacto ambiental significativo, assim como a produção industrial, e outros, mas é importante enxergar que todos fazemos parte, de alguma forma, dessa cadeia de consumo que a agropecuária ou a indústria alimenta. Então, acho mais interessante o cinema falar desse assunto quando encontra um caminho capaz de fazer com que as pessoas se sintam incluídas e não excluídas do problema”.
A entrevista completa com Pedro Novaes pode ser conferida no canal da TV Assembleia Legislativa no YouTube ou no canal 31.2 da TV aberta. O bate-papo, vale lembrar, ocorre em um cenário em que a Assembleia Legislativa promove campanha de combate ao fogo em Goiás.
Deputados na luta contra as queimadas
Conforme mostrado pela Agência Assembleia de Notícias, a Casa de Leis, imbuída pelo propósito de minimizar os danos ambientais sofridos pelo Estado em função das queimadas, e, mais do que isso, da missão de conscientizar e educar a população goiana, lançou uma campanha de combate ao fogo. A iniciativa é resultado de uma parceria com o Corpo de Bombeiros Militar de Goiás (CBMGO) e conta com uma sequência de atividades.
O projeto foi pensado tendo como ponto de partida a realização de palestras itinerantes em escolas de Goiânia. A medida se justifica diante do crescimento das ocorrências de incêndio em vegetação em área urbana registradas em Goiás. Os dados demonstram que, de janeiro a setembro de 2024, o número de ocorrências já supera o total de registros de 2023. São, segundo o CBMGO, 250 atendimentos a mais em comparação a todo período do ano passado.
Só na Capital, foram registradas 1.223 ocorrências e, de acordo com a corporação, as regiões Norte, Noroeste e Oeste de Goiânia são, respectivamente, mais atingidas. Com base nessas informações, as regiões citadas foram escolhidas como ponto de partida das campanhas educativas.
Serão realizadas palestras itinerantes em três unidades de ensino — duas da rede municipal e uma da rede estadual de educação — nos bairros Jardim Guanabara III, Jardim Nova Esperança e Conjunto Vera Cruz. Ao todo, alunos de 31 turmas do 5º ao 9º ano receberão informações e orientações sobre prevenção e cuidados a serem tomados durante a ocorrência de queimadas.
A campanha se traduz como uma resposta do Poder Legislativo ao crescente número de focos de incêndio e visa a demonstrar aos goianos de que forma os parlamentares participam da construção de políticas públicas que melhoram a qualidade de vida da população. Até o dia 30 de setembro, serão divulgados informativos e realizados eventos e debates com o intuito de ampliar a conscientização e fomentar a participação da sociedade.
O aplicativo Deputados Aqui atua como uma ferramenta para que os goianos possam sugerir novas leis e ações voltadas ao combate às queimadas. “Cada cidadão pode e precisa contribuir para a prevenção. O aplicativo está aberto a todos. Trata-se de um espaço democrático, no qual a população pode propor leis para prevenção, combate e fiscalização que evitem, reduzam e amenizem os incêndios", destaca o presidente da Assembleia, deputado Bruno Peixoto (UB), ao comentar as movimentações da Assembleia Legislativa em busca de soluções para esse problema que aflige toda a população brasileira.