Secretário de Relações Internacionais da Assembleia, Michel Magul analisa impacto das taxações de Trump para o Brasil

Desde a vitória do empresário Donald Trump nas eleições americanas, analistas já previam que o mundo enfrentaria reviravoltas significativas. Com a posse do então ex-presidente, muitas dessas previsões começaram a se concretizar, trazendo à tona questionamentos sobre os rumos do Brasil nesse novo cenário geopolítico e econômico. Para discutir o tema, o Programa Visão da Política, da Assembleia Legislativa de Goiás, recebeu Michel Magul, secretário de Relações Internacionais da Casa, que analisou os impactos das políticas de Trump e as oportunidades que podem surgir para o país.
No quesito da taxação, recentemente o presidente estadunidense impôs uma tarifa de 10% sobre produtos brasileiros importados, uma medida considerada "amena" se comparada aos 25% aplicados a países da União Europeia ou às taxas anteriores sobre aço e alumínio brasileiros, que chegavam a 25%. "O Brasil conseguiu amenizar esse impacto graças à articulação eficiente do Itamaraty", destacou o secretário, enfatizando a proatividade da diplomacia brasileira em negociações com os Estados Unidos.
Magul explica que as taxações de Trump seguem uma lógica protecionista, baseada em uma narrativa de que os EUA estariam sendo "saqueados" por parceiros comerciais. Contudo, ele questiona essa visão: "Como se saqueia a maior economia do mundo? No curto prazo, pode parecer que fortalece a indústria interna, mas, a longo prazo, isso não se sustenta e pode levar a uma recessão." Ele aponta sinais preocupantes, como a queda na Bolsa de Valores estadunidense — com empresas como a Nike perdendo 12% de valor — e a instabilidade do dólar, que indicam um possível enfraquecimento econômico global.
Apesar dos desafios, segundo ele, o novo contexto também abre portas. Um exemplo é a aceleração do acordo entre Mercosul e União Europeia, que, após 20 anos de negociações, ganhou impulso com as taxações. "Processos estagnados estão sendo acelerados", observa Magul. Além disso, mercados antes fechados, como o Japão — recentemente visitado pelo presidente Lula —, começam a se abrir ao Brasil, enquanto a parceria com a China, já consolidada, tem potencial para crescer ainda mais.
O agronegócio brasileiro, um dos pilares da economia nacional, também pode se beneficiar diretamente. "A China, que pode reduzir compras dos EUA devido às tarifas, tende a aumentar a demanda por produtos brasileiros", afirma o secretário. Ele ressalta a capacidade produtiva do país, que combina tecnologia e inovação, mas alerta: "Precisamos equilibrar essa exportação com a oferta no mercado interno para evitar desabastecimento".
Nova ordem
As mudanças vão além da economia. Para Magul, o mundo vive o surgimento de uma nova ordem geopolítica. "Trump trata aliados e adversários de forma diferente do que se via antes", diz, citando a aproximação com a Rússia e o questionamento à legitimidade da defesa ucraniana como exemplos. Na União Europeia, o discurso estadunidense contraria a paz estabelecida pós-Segunda Guerra Mundial, incentivando países como Polônia e Irã a considerarem o desenvolvimento de armas nucleares.
Nesse cenário, o Brasil se destaca pela atuação do Itamaraty, que mantém uma postura técnica e conectada à realidade global. "Somos exemplo na América do Sul e no mundo", avalia Magul, lembrando feitos históricos como a presidência de Oswaldo Aranha na ONU após a Segunda Guerra Mundial.
Goiás em foco
Recém-empossado como secretário de Relações Internacionais da Assembleia Legislativa de Goiás, Michel Magul vê a pasta como uma ponte para inserir o estado nesse tabuleiro global. A convite do presidente da Casa, deputado Bruno Peixoto (UB), a secretaria busca preparar os deputados para legislar de forma inovadora, aproveitando as oportunidades do novo cenário. "Queremos atrair investimentos, fortalecer a indústria e o agronegócio goiano, conectando nossa legislação às demandas internacionais", explica.
Ao final do programa, Magul compartilhou visão dele sobre a política: "É um espaço de transformação social, econômico e cultural, que deve servir ao interesse público." Para ele, a política deve ser cosmopolita, coletiva e ética, sempre em sintonia com os anseios da população. A entrevista completa vai ao ar a partir das 15h desta terça-feira, 8. O bate-papo pode ser acompanhado no perfil da TV Assembleia Legislativa no YouTube ou por meio do canal 31.2 da TV aberta.