Um alerta à prevenção

Doença é grave e pode matar em 24 horas. Há esforços do SUS para conscientizar sobre a importância da prevenção, mas o aumento de casos preocupa. Alego integra pacto que visa ampliar a cobertura vacinal de crianças.
O Dia Mundial de Combate à Meningite, 24 de abril, foi criado em 2008 pela Confederation of Meningitis Organisations (CoMO), organização internacional que busca estabelecer um compromisso global para reduzir a doença em todo o mundo. Desde a sua fundação (2004), ela reúne membros da CoMO, organizações, profissionais de saúde, grupos de pacientes, sobreviventes de meningite e suas famílias.
A meningite é uma enfermidade devastadora que causa graves sequelas a longo prazo e tem uma alta taxa de letalidade. Por isso, ela requer uma atenção médica urgente. A doença, que em alguns casos pode ser letal em menos de 24 horas, segue sendo um grande problema de saúde pública, sobretudo na África Subsaariana. Dados revelam que essa região já foi a mais afetada em todo o mundo, especialmente pela falta de acesso às vacinas, mas cinco anos após sua introdução, o continente está perto de eliminar a doença.
Como resposta a essa grave enfermidade, em 2020, a Organização Mundial de Saúde (OMS) colocou em marcha a meta para acabar com a meningite até 2030. Essa foi a primeira resolução com respaldo unânime dos Estados Membros. Para atingir esse objetivo, a OMS pretende eliminar epidemias de meningite bacteriana, reduzir em 50% os casos de meningite bacteriana imunoprevenível e em 70% as mortes, e melhorar a qualidade de vida após a meningite.
Ao situar a meningite no primeiro lugar das prioridades mundiais da saúde pública, a OMS entende que, quando colocada em prática, essa ação tem o poder de salvar mais de 200 mil vidas por ano ao redor do globo, além de reduzir drasticamente a carga de deficiência acarretada pela doença. O diretor-geral da entidade, Tedros Adhanom entende que é urgente ampliar o acesso aos instrumentos já existentes, em especial as vacinas, além de realizar novas pesquisas e inovações para prevenir, detectar e tratar as diferentes causas, além de melhorar os serviços de reabilitação.
Cenário brasileiro
No Brasil, o Ministério da Saúde vem concentrando seus esforços para atingir a meta. As diretrizes propõem ações integradas ao Sistema Único de Saúde (SUS) , abrangendo cinco pilares fundamentais: prevenção e controle de epidemias; diagnóstico e tratamento; vigilância epidemiológica; apoio às pessoas afetadas e comunicação e participação social. Dessa forma, o Brasil se destaca como o primeiro país da região das Américas a estruturar um documento com esse objetivo.
Ainda de acordo com dados mais recentes do Ministério da Saúde, apesar de todo o esforço, a meningite continua ampliando seus números. Em 2024, foram notificados 14.352 casos em todo o país, sendo destes, confirmados 7.706 casos dos quais 974 resultaram em mortes. Em Goiás, a maioria dos casos registrados no ano passado (total de 290 casos) foram de meningite bacteriana, tendo quase 30% deles resultado em morte. Já o tipo de meningite pneumocócica, apesar de ter um número menor de casos, teve uma porcentagem de quase 43% de óbitos dentre os casos registrados, demonstrando ser este o tipo mais letal.
Consciente do seu papel social, a Assembleia Legislativa de Goiás (Alego) integra o Pacto Estadual pela Primeira Infância e intensifica, juntamente com os outros signatários, a campanha de incentivo à vacinação infantil. A Casa conclama especialmente os pais para vacinarem as crianças e ampliarem os índices de cobertura, reconhecendo ser essa a melhor alternativa para prevenir um grande número de doenças, dentre elas, a meningite.
Mas afinal o que é a meningite?
Em entrevista, a equipe de reportagem da Agência Assembleia de Notícias, a médica neurologista Viviene Moraes explicou que a meningite é uma doença considerada endêmica e apresenta casos isolados ao longo de todo o ano, com períodos específicos como o outono e inverno, quando podem ocorrer surtos e epidemias ocasionais da meningite bacteriana. Na primavera e no verão, ficam mais frequentes os tipos virais.
A médica destaca que a doença se caracteriza pela inflamação das meninges, uma espécie de capa que protege o cérebro e a medula espinhal. “Esta enfermidade é considerada uma doença grave. Apesar do tratamento, em alguns casos a meningite pode levar à morte ou deixar graves sequelas, tais como: perda da audição e visão, epilepsia e paralisia cerebral. A meningite ainda tem uma incidência relevante na população.”
A especialista pondera que a meningite pode ser causada por bactéria, vírus e fungos. De acordo com ela, “a medida mais eficaz para prevenir contra as formas bacterianas da doença ainda são as vacinas, que devem ser aplicadas logo no início da vida, mais precisamente no segundo mês. Somente elas podem evitar o contágio, a internação, as sequelas e, por fim, as mortes". Moraes também ressalta o SUS oferece vacinas gratuitas contra os principais agentes bacterianos causadores da doença.
A neurologista aponta que o calendário nacional de vacinação é composto por quatro tipos de vacinas específicas para as meningites, sendo que o ideal é que a criança tenha acesso a todas elas, já que cada uma previne um tipo diferente da doença. Ela esclarece que as crianças, nos primeiros cinco anos, por terem um sistema imunológico que ainda não está totalmente desenvolvido, são mais vulneráveis e podem contrair muito mais facilmente a doença. Outro grupo que também é mais exposto aos contágios são os jovens, especialmente os do sexo masculino. Entretanto, ela alerta que qualquer pessoa, independentemente da idade, pode ter meningite.
Moraes alerta que os principais sinais e sintomas são febre, dor de cabeça intensa, vômitos, confusão ou alteração mental, aumento da sensibilidade à luz, convulsões, rigidez de nuca e erupções cutâneas. Em menores de dois anos, também é importante observar a ocorrência da febre com irritabilidade, choro persistente, sonolência ou abaulamento de fontanela, que é quando a região mole no crânio do bebê fica elevada ou protuberante. Em pessoas de qualquer idade, ao perceber os primeiros sinais ou sintomas é preciso procurar um médico especialista com a máxima urgência.
Por fim, ao tratar das medidas de prevenção que podem contribuir para a redução dos casos de meningite, a médica recomenda evitar aglomerações em ambientes fechados, não compartilhar objetos de uso pessoal, evitar tocar mucosa dos olhos, nariz e boca; cobrir nariz e boca ao respirar, utilizar lenço descartável para higiene nasal e realizar frequentemente a higiene das mãos.