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Mobilização pela vida

10 de Setembro de 2025 às 12:00
Mobilização pela vida

Campanha anual é um farol a iluminar a sociedade para as discussões que precisam ser travadas acerca do suicídio. No Parlamento goiano, os deputados promovem eventos para tratar o tema que ainda carrega um forte estigma.

“Não existe no dicionário nenhuma palavra que possa descrever a dor dos pais e familiares em perder um ente querido precocemente, então penso que a palavra que mais se aproxima da realidade é ‘sobreviventes’”, descreveu o empresário Chrystiano Câmara, que há oitos anos perdeu o filho caçula, na época com 13 anos. Ele resolveu romper o silêncio com a intenção de falar sobre um assunto que, segundo ele, só pode mesmo ser superado por meio da fé e da crença em um Deus vivo. 

Quando ocorreu o fato, ele já era catequista da Igreja Menino Jesus, onde ministrava aulas para a primeira comunhão e crisma e, com toda a família, tinha uma rotina de orações. Ele afirma que foi a dedicação à vida espiritual que deu o suporte necessário para que ele, a esposa e filhos pudessem seguir em frente e renovar o propósito de continuar ajudando ainda mais os jovens, já que nesse período da vida, o adolescente carrega muitas incertezas e, ao mesmo tempo, são muito pressionados a tomar decisões. 

O empresário lembra que, se tivesse que voltar no tempo, ele não faria nada diferente, porque estes anos que passaram juntos (ele e o filho) foram simplesmente perfeitos. “Ele sempre foi um garoto alegre, feliz, sorridente, um menino maravilhoso, com muitos amigos, todo mundo adorava ele”. Contrariando a grande maioria dos casos em que as pessoas se deprimem e não querem mais viver, Câmara afirma que não existe nenhum motivo que justifique o que aconteceu, pois seu filho nunca deu nenhum sinal de que pudesse estar insatisfeito com a vida. 

Demonstrando o que muitos consideram ser "evolução", Chrystiano Câmara professa uma fé firme na transcendência do aqui e agora. “A morte não é o fim e o universo tem algo muito maior para todos nós, isso aqui é apenas uma passagem. Todo mundo quer achar o remédio para os problemas na vida terrena, mas a resposta está na vida espiritual. O sentido da vida não deve ser buscado na materialidade.” 

Campanha

Em contemplação a essa temática, o Setembro Amarelo surge como um farol que pode iluminar toda a sociedade para as discussões que precisam ser travadas acerca do suicídio. Pela sua importância, a Campanha de Conscientização sobre a Prevenção ao Suicídio e Pela Preservação da Vida recebe o apoio do Governo Federal e de entidades que buscam tratar sobre um tema que ainda carrega um grande estigma. O objetivo é promover uma reflexão sobre o assunto e apontar possíveis caminhos para a construção de uma sociedade mais acolhedora e consciente, onde a saúde emocional seja prioritária e todos possam impactar positivamente a vida de alguém.  

A campanha é realizada durante todo o mês de setembro, mas o Dia Mundial  de Conscientização sobre a Prevenção ao Suicídio e Pela Preservação da Vida é celebrado no dia 10 deste mês. Nesse contexto, o Governo Federal, por meio do Fundo Nacional de Assistência Social (FNAS) e do Sistema Único de Assistência Social (Suas) têm uma contribuição significativa no fortalecimento da rede de proteção e apoio para aqueles em situação de vulnerabilidade e risco social. 

A rede de assistência social, por meio dos Centros de Referência de Assistência Social (Cras) e dos Centros de Referência Especializados de Assistência Social (Creas) atuam incessantemente na linha de frente no acolhimento de pessoas em situação de vulnerabilidade. As ofertas desses serviços essenciais garantem o encaminhamento adequado de tratamentos especializados, oferecendo suporte psicossocial contínuo em uma unidade de saúde como os Centros de Atenção Psicossocial (Caps).

A atuação do FNAS é essencial para fortalecer as políticas de proteção social e garantir que o apoio chegue às pessoas que mais precisam. Durante o Setembro Amarelo, essas ações são ainda mais intensificadas, com esforços voltados para a conscientização da população sobre a importância de estar atento aos sinais de alerta, como mudanças bruscas de comportamento, isolamento social e mudanças de humor repentinas. 

Fenômeno complexo e multifatorial

Os mais recentes dados da Organização Mundial de Saúde (OMS) apontam que, lamentavelmente, o suicídio é a segunda principal causa de morte entre jovens com idades entre 15 e 29 anos. O principal fator pode estar no fato da adolescência ser considerada uma fase crítica, na qual o jovem ainda está transitando entre a infância e a adultez, passando por uma fase de muitas alterações hormonais e enfrentando mudanças em zonas cerebrais que estão ainda em formação (até os 16 anos). 

Embora os índices de suicídio estejam diminuindo em diversas regiões do mundo, os países das Américas seguem uma tendência oposta, com taxas crescentes. Destes, parte dos casos está relacionada a doenças mentais, principalmente não diagnosticadas ou tratadas de forma inadequada. Entretanto, casos relacionados às doenças mentais não são os únicos. O suicídio é um fenômeno complexo e multifatorial que pode afetar indivíduos de diferentes origens, faixas etárias, condições socioeconômicas, expostos a abusos e violências, falta de rede de apoio, orientações sexuais e identidades de gênero. 

A psicóloga e professora Daniela Zanini discorre sobre o papel da escola e como ela pode auxiliar a família. Ela afirma que esse é um espaço privilegiado onde é possível observar o comportamento da criança e do adolescente “in natura”, ou seja, em seu contexto natural. Nesse ambiente é possível observar o estado emocional da criança diante do que ela está vivendo e como estão suas interações com os colegas e os adultos que fazem parte de sua vida. Dessa forma, a escola pode ser uma aliada importante da criança e da família. 

Avaliando o ambiente escolar, a  professora salienta que o maior desafio é a sobrecarga dos professores e demais profissionais, a falta de treinamento e a própria saúde mental desses trabalhadores. Segundo ela, é difícil estar disponível emocionalmente ou atento a aspectos sensíveis quando o volume de trabalho está exacerbado, quando não se sabe o que e como fazer ou quando se está exaurido ou mesmo com dificuldades pessoais. 

Zanini observa que o cenário aponta uma mudança significativa na percepção dos jovens, considerando a faixa etária entre 18 e 30 anos. Para esse contingente muitas coisas que antes eram estabelecidas como boas ou certas agora são questionadas. Por exemplo, antes o valor estava no trabalho árduo e o reconhecimento social estava associado às coisas significativas que a pessoa fez para a sociedade, em seu trabalho ou no cuidado com os outros. 

Entretanto, com o impacto das novas mudanças, atualmente uma pessoa pode ganhar reconhecimento social e valorização por inventar uma dança que vira trend na internet. Apesar disso, instantes depois de obter muito sucesso já pode cair no esquecimento ou mesmo ser criticado pelo que, no passado, foi avaliado como positivo. Essa transitoriedade das coisas e dos valores traz muitas incertezas. O que é considerado bom e valoroso e está associado a um futuro promissor, pode causar sofrimento e angústia significativa depois.  

A acadêmica avalia que existem muitos motivos para a humanidade ser otimista, sendo o primeiro deles de origem puramente biológica, já que o ser humano nasceu para buscar a vida e enfrentar as adversidades com o intuito de manter a espécie. Segundo ela, quando se avalia a história humana na terra é possível perceber quantos desafios já foram superados, mas agora a realidade nos convoca a lidar com os desafios atuais que existem num planeta superpovoado, com intensas interações sociais e diversas demandas de todas as ordens. 

“Diante dessa nova realidade, é preciso que haja uma reflexão maior acerca de quais valores cada um de nós está disposto a ofertar, entendendo a responsabilidade de todos, pois qualquer mudança não acontecerá a partir do outro ou de uma entidade, mas sim por meio da mudança que cabe a cada um. Somos todos convidados a ser mais ativos e conscientes”, pontua a psicóloga. 

Para concluir, Zanini destaca também o papel da imprensa. Ela pondera que a imprensa pode ajudar a construir uma realidade mais positiva, promovendo discussões que não retratam apenas os aspectos negativos, mas a totalidade da realidade, pois o que vemos atualmente é o uso do medo como produto de venda. A exposição constante a esse tipo de notícia pode gerar angústia e adoecimento nas pessoas. 

No Legislativo goiano

Conscientes do seu papel de legislar atendendo a demandas sociais, o Parlamento goiano todos os anos promove debates acerca dessa temática. Na última sexta-feira, dia 5, o deputado Mauro Rubem (PT) realizou uma sessão solene para homenagear profissionais da área da saúde mental. 

Na solenidade, Rubem destacou que o Estado vive hoje uma grave crise na área da saúde mental, com ocorrência de muitos transtornos, automutilação e suicídio, sendo esses assuntos que, segundo ele, precisam ser tratados com a devida responsabilidade. O parlamentar afirma que é preciso reconhecer o grande esforço dos profissionais que estão na linha de frente nos hospitais e nos Caps.

Também sensível a essas questões, o deputado Virmondes Cruvinel (UB) organizou para esta quinta-feira, 11, uma audiência pública para debater com diversos profissionais as possíveis saídas para ampliar a rede proteção da saúde mental em Goiás. O evento terá lugar no auditório 1, no andar térreo da Casa.

Também apresentou requerimento, para a realização de uma sessão solene extraordinária em alusão ao Setembro Amarelo, o líder do Governo na Casa, deputado Talles Barreto (UB). Na próxima sexta-feira, 12, o parlamentar vai reunir profissionais que trabalham na prevenção às doenças mentais e ao suicídio. 

A Casa segue organizando ainda outros eventos que contemplam todas as discussões que podem contribuir para quebrar tabus, reduzir estigmas, estimular que as pessoas a buscarem e oferecer ajuda, compreendendo que toda a sociedade está convidada a fazer parte da solução.

Agência Assembleia de Notícias
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