Palácio Maguito Vilela recebe exposição "Visualidades - Cultura Ballroom Goiana", que fica aberta ao público até o dia 18
A Assembleia Legislativa do Estado de Goiás (Alego) realizou, na noite desta quarta-feira, 10, a solenidade em homenagem à Comunidade Ballroom e, em seguida, a abertura da exposição "Visualidades - Cultura Ballroom Goiana", ambos de iniciativa do deputado Mauro Rubem (PT). O tributo foi realizado no Auditório Francisco Gedda, do Palácio Maguito Vilela, com a entrega de certificados de homenagem em reconhecimento aos serviços prestados à cultura de Goiás. A exposição está instalada no Bloco A do Palácio Maguito Vilela e reúne obras de artistas da cena, ressaltando sua relevância cultural, social e política e permanecerá aberta para visitação até o dia 18 de dezembro.
Preta, latina e LGBTQIAPN+ a Cultura Ballroom é um movimento político que celebra a diversidade de gênero, sexualidade e raça. A solenidade tem como objetivo homenagear as pessoas que constroem e fortalecem essa cultura em Goiás, reconhecendo sua importância na promoção do acolhimento, na afirmação de identidades e na criação de espaços de resistência, arte e liberdade.
Fizeram parte da mesa dos trabalhos do evento, além de Mauro Rubem, a mãe da Casa de Arapo, Andreza Batista Santos; Ana Gabriela de Oliveira de Almeida Santos, mãe da Casa de Rattura; a engenheira ambiental e sanitária Caiene Reinier Freitas Alvarenga; a representante do Coletivo Atrois, Gleyde Lopes de Souza; a mãe da Casa Mamba Negra, Alessandra Pires dos Santos Silva; e Flávys Guimarães Silva, representante do Coletivo Atrois.
Rubem, ao início dos trabalhos, reforçou a importância de ocupação dos espaços da Assembleia em prol da diversidade e da cultura, enfatizando o papel do seu mandato em construir um mundo baseado na inclusão, na alegria e na cor. “Esse espaço de poder é um lugar que precisa ser usado para mostrar todas as realidades. Precisamos fortalecer todos os coletivos e todas as formas de viver, relacionar e se entender. Fico muito feliz em realizar esse evento no dia em que se comemora a Declaração Universal dos Direitos Humanos.”
O parlamentar frisou que é preciso combater as imposições, os enquadramentos e as intolerâncias. “O Brasil tem dois projetos em disputa: um projeto que quer construir um país com liberdade e inclusão, usando a inteligência e a capacidade de combater abusos e erros; outro projeto que engana a sociedade, oprime e usa da violência como forma de trato. Vamos seguir juntos para melhorar esse mundo”, finalizou.
Sofrimento e luta
Caiene Reinier Freitas Alvarenga leu o Manifesto Travesti por Reparação e Bem Viver, enfatizando a importância da participação popular na Marcha de Mulheres Negras. “Sou uma travesti negra neste país que insiste, a séculos, em tentar nos apagar. Tenho 31 anos e nossa expectativa é de 35 anos. Somos filhas daquelas que a história tentou enterrar, mas que retornam como raiz que arrebenta o asfalto. Estamos hoje na Alego para dizer o óbvio: nós existimos, resistimos e exigimos reparação”, frisou.
Alvarenga lembrou que o Brasil é o país que mais mata travestis no mundo, que as empurram para a prostituição e para a violência. “Quando uma travesti negra cai, não é um acaso, é um projeto. É a necropolítica que escolhe quem morre, um estado ausente nos direitos que deveriam ser nossos. Mas hoje, aqui, dizemos basta. Reparação não é favor.”
Em seguida, Acássia da Casa de Arapô explicou que a Cultura de Ballrom é, antes de mais nada, um local de acolhimento e reforço da ancestralidade; é um locar de busca pela sobrevivência. “A ballroom não é um lugar de procura de status, mas um lugar onde podemos realizar sonhos, como o meu, de ser mãe, sonho antigo de menina: ser uma mulher travesti que tem filhas, mesmo em meio a tanta dor. É um caminho de se desfazer lugares de violência.”
Representante do Coletivo Atrois, Gleyde Lopes de Souza agradeceu ao deputado Mauro Rubem pela oportunidade de estabelecer diálogo, através da realização da sessão. “Estou muito emocionada, a cultura ballroom vem de uma trajetória de mais de dez anos em Goiânia. Essa sessão serve de memória e celebração. Agradeço pelo processo de cura.”
Por fim, Andreza Batista Santos afirmou que, ao celebrar memórias, é preciso lembrar que a cultura ballroom é, também, um mecanismo de sobrevivência e necessidade. “Para muitos corpos não é trivial nem ir ao mercado de dia, para muitos corpos não é trivial procurar um emprego. Esse evento é muito importante, estamos na Assembleia Legislativa de Goiás, que fica numa cidade onde vereadores querem nos proibir de usar banheiro. Uma cidade que nos violenta e nos cerceia espaços. Já chegamos longe, mas ainda falta muito; o Estado nos falta”, lamentou.