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Deputado mineiro conclama união por um Legislativo forte

05 de Novembro de 2007 às 21:12
Discurso proferido pelo deputado Alberto Pinto Coelho Filho, presidente da Assembléia Legislativa de Minas Gerais, durante homenagem recebida em Goiás, quando foi agraciado com a Medalha do Mérito Legislativo Pedro Ludovico Teixeira. (05/11/2007).
Senhoras deputadas,
Senhores deputados,

Recebo com emoção profunda esta homenagem da Assembléia Legislativa do Estado de Goiás, não só por ela vir de meu colega, o ilustre Deputado Jardel Sebba, mas por inúmeras razões que tornam esta condecoração, de fato, muito especial para mim.

Deputado Estadual há quatro legislaturas, tenho a honra de presidir a Assembléia Legislativa de Minas Gerais, mas sou, de nascimento, cidadão goiano, natural de Rio Verde.

Meu pai, mineiro de Manhuaçu e de quem herdei o nome e o chamamento para militar pela causa pública, em caminho inverso ao meu, veio viver em Goiás, atuando como advogado e professor.  Foi Deputado à Assembléia Constituinte de 1947, no momento em que a redemocratização abria novos caminhos para a nossa república.

Um perfil de meu pai, o Deputado Alberto Pinto Coelho, que teve a distinção e a responsabilidade de ter sido presidente daquela primeira legislatura, foi publicado no Jornal do Povo de 24 de maio de 1947, como parte das caricaturas em versos dos constituintes goianos.

Em uma linguagem que mistura a pilhéria ao elogio, assim é proposto ao leitor identificar, sem nenhuma referência ao seu nome, o Deputado Pinto Coelho: “Quando chegou de Minas, um canudo/ e o que mais ninguém sabe nem dirá/ constituía todo o conteúdo/ e o continente do seu samburá”.

Mas sua própria voz nos dá uma idéia de seus sentimentos de lealdade política naquele momento histórico da democracia brasileira.

Assim se expressou na Sessão Legislativa do dia 19 de junho de 1950: “Nesta minha modesta atividade política, desde o início de nossos trabalhos parlamentares, sempre fui um ardoroso correligionário e defensor dos eminentes estadistas, Senadores Getúlio Dorneles Vargas e Pedro Ludovico Teixeira (peço a confissão pública, a respeito, de meus dignos pares de todas as correntes políticas nesta Casa), e mantendo essa linha de conduta e coerência política, para não trair a minha consciência e os meus sentimentos de lealdade, os acontecimentos me jogaram onde me encontro, com grande satisfação e honra, no Partido Trabalhista Brasileiro”.

Sessenta anos decorridos, recebi pelas mãos honradas do Governador Alcides Rodrigues a expressiva Comenda Anhangüera em seu grau máximo.

Eis agora a minha vez de receber a medalha que tem como patrono esse grande líder brasileiro, Pedro Ludovico Teixeira, de quem meu pai foi amigo pessoal.

Anhangüera e Pedro Ludovico, a quem me ligam essas duas expressivas homenagens, primeiro pela vocação de meu pai e agora pela minha, são, a meu ver, as mais representativas figuras da história de Goiás.

O primeiro, autor de um dos mais importantes capítulos da história colonial, o bandeirante e desbravador do Brasil Central, de origem paulista como Fernão Dias e Borba Gato, que desbravaram o território mineiro, é o responsável pela revelação ao mundo da existência desta terra.

Seu filho, com o mesmo nome, também Bartolomeu Bueno da Silva, voltou a se embrenhar por estes sertões, fundando o primeiro núcleo urbano que viria dar origem à cidade de Goiás Velho.

Da mesma forma, Pedro Ludovico inaugurou um capítulo importantíssimo na existência de Goiás. Resgatou para a modernidade, com a fundação de Goiânia, a tradição dos velhos tempos inaugurados pelos bandeirantes.

Vejo grande similaridade nos trajetos de Pedro Ludovico e do grande político mineiro Juscelino Kubitschek, ambos médicos, estadistas, fundadores de grandes cidades no Planalto Central.

Com certeza, Pedro Ludovico, homem de Goiás Velho, a Vila Boa de Goiás, influenciou JK.  Goiânia precedeu Brasília.  Atílio Correia Lima, seu arquiteto, precedeu ao projeto urbanístico de Lúcio Costa e de Oscar Niemeyer, sendo que Niemeyer, na Pampulha, já ensaiava a grande revolução da arquitetura moderna.

Assim como os destinos de Goiás e de Minas confluem pelas presenças determinantes de Bartolomeu Bueno e de Fernão Dias Paes Leme ou de Pedro Ludovico e de Juscelino Kubitschek de Oliveira, ser mineiro e ser goiano constituem maneiras bem semelhantes de ser brasileiro.

Os naturais de nossos Estados desfrutam das mesmas três características: bom senso, realismo e centralidade. No fundo, representam a maleabilidade que nos coloca entre o Sul e o Norte, como os povos-síntese de uma nacionalidade tão diversificada nos campos da geografia e da cultura.

Ser mineiro, assim como ser goiano, não bastasse o uso comum dessa expressão tão viva e tão eloqüente – uai –, representa, antes de mais nada, a profunda identificação à terra natal.

Tornou-se a mineiridade, descrita como o espírito do povo e da terra de Minas, fruto de muitas explicações e de muita literatura, objeto de descrições de Guimarães Rosa e de Fernando Sabino, além de glosas advindas do autor anônimo e da sabedoria do povo.

Frei Beto retomou recentemente o tema e dele fez um interessante resumo: “Ser mineiro é venerar o passado como relíquia e falar do futuro como utopia; curtir saudades na aguardente e paixão em serenatas; dormir com um olho fechado e outro aberto; acender vela à santa, e, por via das dúvidas, não conjurar o diabo”.

Assim, retoma a tradicional afirmação de que um bom mineiro não laça boi com embira, não dá rasteira no vento, não pisa no escuro nem anda no molhado, já que suas grandes virtudes identificam-se à prudência e à temperança.

José Mendonça Teles nos dá uma definição do que é ser goiano em suas “Crônicas de Goiânia”, na qual reconheço o goiano como o irmão mais próximo do mineiro.

Ser goiano, diz ele, é amar o passado, a história, as tradições, sem desprezar o moderno. É saber fundar cidades, e, sobretudo, ser justo, honesto, religioso e amante da liberdade.

Poder participar, como fez meu pai, deste estreitamento de laços entre Goiás e Minas, faz-me também cultivar a herança da goianidade.  E principalmente me orgulhar da cultura deste grande Estado, com sua culinária especial, do pequi, da guariroba, do empadão goiano, da pamonha e dos alfenins.

Ou deste grande rio cultural a fecundar a arte, a literatura e a música brasileiras.  Goiás, da modinha de viola e dos ritmos sertanejos, também nos trouxe Bernardo Éllis, José J. Veiga e Siron Franco, grandes referências artísticas de cunho nacional.

Um poeta mineiro, Carlos Drummond de Andrade, soube se encantar com a grande poetisa goiana Cora Coralina.

Sobre ela, afirmou ser rica de poesia e invenção, mulher extraordinária, identificada com a vida, diamante goiano que pode ser contemplado na pureza de seus versos.

Desta noite tão especial para mim, que aqui reúne tantos amigos e parentes, sairei com certeza renovado para lutar, em companhia de todos os presidentes de Assembléias do País, por um Legislativo mais forte, expressão real da democracia e do povo brasileiro.

Tenho orgulho de pertencer a uma instituição fundada na representação popular, acima dos vendavais e das rupturas políticas. Tanto em Minas, quanto em Goiás e em todos os Legislativos brasileiros, nosso maior compromisso é o desenvolvimento social que respeita o ser humano e o ambiente em que vive, incorporando na mesma hierarquia de prioridades as dimensões econômicas e culturais.

Faz parte importante de nossa luta  o estabelecimento de um novo pacto federativo, com o fortalecimento dos Estados no equacionamento de seus problemas e, por conseqüência, dos de todo o País.

A Federação se compõe de Estados e Municípios e, portanto, o autêntico municipalismo deve se integrar, na linha de frente, ao novo pacto federativo.

As atividades legislativas vão também muito além da consagração das leis e se estendem à interlocução constante com a sociedade. O trabalho parlamentar não prescinde de ouvir os movimentos sociais e as entidades da sociedade civil, sendo um espaço importante de mediação e de negociação com toda a coletividade.

Por isso é um poder independente e autônomo em relações de harmonia com os demais Poderes da República.

É como Parlamentar e homem público que recebo esta comenda, que doravante me esforçarei por merecer, caminhando em minhas atividades políticas com o mesmo zelo e a mesma fidelidade às lições que me legou meu pai.

Para terminar, quero retribuir e agradecer a homenagem, fazendo um tributo à terra, terra de Goiás e de Minas, recorrendo aos seus poetas Cora Coralina e Carlos Drummond de Andrade.

Do “Cântico da Terra”, de Coralina, retiro os versos:

“Eu sou a terra, eu sou a vida.
Do meu barro primeiro veio o homem.
De mim veio a mulher e veio o amor.
Veio a árvore, veio a fonte.
Vem o fruto e vem a flor”.
Da “Elegia”, de Drummond, tomo emprestadas as palavras com as quais me despeço:
“Terra a que me inclino sob o frio
de minha testa que se alonga,
e sinto mais presente quanto aspiro
em ti o fumo antigo dos parentes,
minha terra, me tens.”

Muito obrigado.
  
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